Holanda - Com o objectivo de tentar convidar o compatriota Feliciano Cangüe a um debate mais concreto sobre o tema “Angola, olhe para frente e esqueça as tristezas do passado”, eu, J. K. Ticonenco, decidi escrever uma carta aberta ao senhor professor doutor.
Carta aberta
Exmo Senhor F. Cangüe,
Não há a menor dúvida de que quando ouvimos ou lemos o seu nome, as nossas mentes associam, automaticamente, a sua imagem a um homem extremamente inteligente, moderado, de boa base familiar e bons princípios. Enfim, o senhor é visto como um grande exemplo para a nova geração angolana e não só. Esta é pelo menos a imagem que muitos têm de sí.
Compatriota, o senhor publica com bastante regularidade na internet, sendo que não é difícil notar-se que as suas intenções são quase sempre positivas, pois estas estão constantemente viradas para o bem de Angola e do angolano. Desde já, retiro o meu chapéu diante de sí.
Porém, senhor Cangüe, eu tenho um grande “defeito”. É verdade, um grande “defeito”. Eu sou um indivíduo que gosta de olhar de forma crítica para as coisas, sobretudo quando o assunto envolve angolanos. Esta é uma das formas que eu encontrei para contribuir em algo, pois penso que deve também haver aquele que olha friamente para as coisas, sem se deixar envolver facilmente em emoções.
Até mesmo em relação à Deus, Bíblia, catolicismo, Islão, etc., nem sempre acredito em tudo o que leio ou oiço. Gosto de duvidar, porque gosto que as pessoas me provem as coisas. Em relação a sí, excelentíssimo senhor Cangüe, também sou crítico, pois o senhor é alguém falível como qualquer um, e, com todo o respeito e consideração, os títulos de doutor ou professor das pessoas nunca me assustam.
Umas vezes sim, mas outras vezes não vejo com bons olhos quando quase todos os comentários a muitos dos seus artigos não passam de “oh! Grande artigo!” ou “parabéns, cota cangüe!”, dando a impressão de que tudo o que o senhor escreve não precisa de ser profundamente analisado. Onde estará o olhar crítico do leitor? Onde estará a coragem do leitor em dizer “não concordo com este ou aquele ponto” ou ainda em exigir mais diversificação no que o senhor escreve?
UNITA
Justamente no ponto relativo à diversificação é onde eu queria chegar. O senhor já escreveu enúmeras vezes sobre MPLA, JES e seu governo. Sobre a miséria e educação no nosso país, mas, por incrível que pareça, nunca se atreveu a escrever sobre a UNITA e Samakuva. Será que o senhor não o faz com uma certa intenção pouco clara por detrás disso?
A minha chamada de atenção a este respeito vem como uma forma de tentar rogar ao senhor professor doutor para não caír na parcialidade ao fazer as sua análises. O senhor sabe muito melhor do que eu que UNITA e MPLA não são santos, mas, quer queiramos quer não, precisamos de ambos (inevitavelmente) para a normalização política em Angola. Esta é uma das razões pela qual deverão haver eleições em 2008. Concorda, senhor?
REGRESSO A ANGOLA
O senhor Cangüe é um engenheiro com tudo quanto é diploma e algo mais. Não é assim, compatriota? Sendo assim, não consigo entender uma coisa: levando em conta que Angola precisa de pelo menos seis mil engenheiros para um crescimento adequado, porque é que o senhor não toma a coragem de criar um plano prático e concreto para o seu regresso a Angola, fazendo com que um engenheiro estrangeiro a menos ocupe um cargo de chefia nas terras de Ekukui II? Tenho a certeza de que isso seria algo mais efectivo do que ficar apenas pelo debate político e não ir mais adiante. Também compreendo que o senhor já tem uma vida formada no Brasil, o que quer dizer que não precisaria instalar-se definitivamente em Angola.
OS DESAFIOS
Em jeito de remate final, na qualidade de uma pessoa crítica que sou e que pretende voltar a Angola tão logo formado, lanço dois desafios ao senhor professor Cangüe:
O senhor seria capaz de escrever um artigo crítico sobre as posturas da UNITA e do passivo Samakuva de 2003 (nono congresso) até os dias de hoje?
O senhor, tendo em conta que já não é nenhum aspirante a licenciatura como eu, seria capaz de ser mais prático, traçando planos concretos de regresso a Angola ao invés de ser somente mais um que comenta aqui e acolá no mundo digital (internet)?
Compatriota, os desafios a sí estão lançados.
Aguardo ansiosamente por sua reacção.
Cordiais saudações,
*J. K. Ticonenco
Jose_ticonenco@yahoo.com.br
Fonte: Club-k.net (comentários de leitores)
Dois desfios a sí, ‘mestre’ Cangüe (José Kosciureski Ticonenco)
Olhe para frente e esqueça as tristezas do passado (I)
Olhe para frente e esqueça as tristezas do passado (II)
O valor da crítica - Paz (parteII) - J.K. Ticonenco