Tudo começou quando o líder espiritual de uma igreja cristã, de origem lusa, mandou o ministro da Cultura de Angola a “calar a boca” e pediu que ele tivesse “mais juízo”. Se o "apóstolo" Jorge Tadeu parasse por aí, ainda poderíamos chorar calados. A cruzada de insultos mais cínicos e desrespeitadores estavam por vir. Ele afirmou “é muita corrupção em Angola. Muita podridão. É só pagar e os macacos mexem as caudas, abrem as pernas e nós passamos”. Como sobremesa afirmou que “Angola é um país de bananas”.
O líder da igreja Maná deve ter seus motivos para o insulto, mas foi muito longe. Ele generalizou muito a sua falta de respeito. Nem mesmo respeitou aos fiéis que doam tudo que têm para que eles possam erguer a multinacional da fé quando também os chamou de “malcheirosos” e “pés-descalços”. Acredito que ninguém é miserável porque quer. Agora só falta um pé “descalço” desse ainda achar que tudo é uma obra do diabo que persegue o seu líder.
Entretanto, o incrível é a progressiva incapacidade dos poderes públicos de reagirem. Chegou ao clímax. A preguiça do poder público vai muito além do absurdo. Dá uma sensação de que o pessoal está tanto tempo no poder que perdeu a capacidade de reação. Os homens estão tão devagar, quase parando, de acordo com o princípio da inércia. Eles fecharam as vistas e os ouvidos. Não apareceu, até agora, nenhuma alma vivente, como aconteceu quando o presidente Samakuva falou em Salazar, para peitar esse homem.
A minha pergunta é a seguinte: ninguém vai falar grosso contra esse provocador? Primeiro ensaiou, ninguém berrou. Agora ele deita e rola, com toda falta de respeito, e todo mundo vai ficar calado? Até quando ficaremos impotentes? (Vou louvar aqui o Celso Malavoloneke e a Paulinha da Costa Neto, esses angolanos de valor e outros comentaristas que se manifestaram solitariamente). Mas onde andam os que nos governam? Nas negociatas?
Eu gostaria muito que o apóstolo se retratasse de três (triângulo das bermudas) inconvenientes verbais indigestos: “abrem as pernas”, "bananas" e “malcheirosos”. Esse cardápio é fatal. Esses termos dão margem a muitas interpretações. Não creio que o povo angolano, com princípios, mesmo mergulhado na pobreza e a ignorância, mesmo com todas as dificuldades, tope qualquer coisa por um prato de couves mal passadas. Nem todos angolanos jogaram a honra no abismo. Seja como for, o "apóstolo" deveria ter a palavra do mestre que diz: “respeitai-vos uns aos outros".
Além disso, deveria pedir perdão a Deus por ter usado uma linguagem tão suja que deve ter envergonhadao até o diabo. A certeza de impunidade é que deve ter levado este senhor a essa afronta.
Aproveitando a oportunidade, ainda acho que o nosso maior terror é a paralisia do governo. Não será possível que o presidente não tem um amigo para lhe aconselhar... Parece que ele está cercado de pessoas que mais dão trabalho que trabalham, além da impunidade eterna. Em todos os lugares as coisas mudam. As pessoas mudam, os governos mudam. Está todo mundo correndo para estancar o mal que assola suas populações.
Porém, eles não ligam para urgência dos problemas nacionais. Vamos dar um exemplo: as eleições. Niguém mais fala nisso. Não vai demorar para que alguém diga: "olha não podemos realizar as eleições em 2008" e todos dirão: amén.
As pessoas só pensam no poder pelo poder. Manobram, adiam e evitam que as coisas aconteçam. A corrupção não acabará com as mesmas pessoas no poder. Dessa forma, seremos candidatos a ouvir eternamente disparates "apostólicos". (espero que a próxima sobremesa seja um pouco pouco mais doce. Vamos dizer, um maná).
O país está parado. Se ainda encontramos alguma coisa que funciona devemos dar graças à esperteza do presidente que preservou a estrutura deixada por Agostinho Neto. Se o poeta ressuscitasse hoje e dirigisse uma reunião com a presença de todos embaixadores e ministros ele começaria perguntando: - ministro “X”(estamos em que ano?) como estamos de reservas de petróleo?
Nós vivemos o início de um século de constantes mudanças. Mas na “República das bananas” ninguém assume a urgência de mudanças. O poder político está alienado. Hoje tudo esta virando motivo de chacota. Essa corrupção um dia vai virar um chiqueiro.
Até quando nós poderemos dizer: este governo acertou? Será que o Tadeu vai ter que soltar mais uma frase venenosa de forma crua e nua e termos que engolir seco?
Em pleno século 21 ainda trabalhamos com administração do século 15. O que fascina este governo é o fato de termos pessoas muito espertas. Eles vivem num país paralelo, sem pensar no povo. Só nos envergonham. Eles “progridem” enquanto o país dorme. País de verdade suja. Gente que não faz nada, agora não fala mais. Têm pavor de mudanças. O impressionante é que, mesmo com tantas cascas de bananas, ninguém cai. Dá vontade de chorar deste país de decepções.
Não vai demorar muito para que o "país de bananas" nos mate de tanto rir.
Reproduzido pelo " Uma Angola para Todos", em 01 de Agosto de 2007
Reproduzido pelo Ngingão Cultural (03/08/07)
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Reproduzido pelo portal Mazungue