Análises de DNA revelam que austríaco era principal doador de centro de fertilização que funcionou por 30 anos em Londres
LONDRES. Nos anos 1940, Bertold Wiesner fundou uma clínica de fertilização em Londres com a controversa política de ser seletivo na escolha dos doadores. Apenas pessoas próximas à família, com nível de inteligência alto e os padrões físicos considerados por ele adequados estariam aptas. O que não se sabia, no entanto, era que ele levava a diretriz ao extremo: o biólogo de origem austríaca era ele próprio um doador de esperma frequente e pode ser pai de até 600 das 1.500 crianças geradas na clínica, que funcionou até os anos 1970.
A suspeita foi levantada por David Gollanez. Em 1965, então com 12 anos, seus pais lhe revelaram que ele fora concebido por inseminação artificial na clínica de fertilização Lon-don Barton, mas não disseram quem era seu pai biológico. Já adulto, o advogado londrino percebeu ter grande semelhança com Wiesner e decidiu investigar.
— Uma estimativa conservadora é de que ele fazia cerca de 20 doações por ano. Usando números padrões de quantos nascimentos cada doação gera, estimo que ele seja responsável por entre 300 e 600 crianças — disse Gollancz ao jornal "The Sunday Times".
Até agora, foram feitos testes de DNA em 18 pessoas nascidas entre 1943 e 1962 graças ao tratamento na clínica London Barton, que ficava na elegante região de Portiand Place. E os resultados apontaram que 12 dos examinados, entre eles Gollancz, eram filhos de Wiesner, que morreu em 1972 com 70 anos.
Gollancz já localizou 11 meio-irmãos, entre eles o documentarista e cineasta canadense Bary Stevens. É difícil saber quantos filhos exatamente o médico concebeu e quem são eles, porque sua mulher, Mary Barton, que morreu há 11 anos, destruiu todos os arquivos da cUnica. O estabelecimento era procurado sobretudo por clientes de classe média e alta, incluindo um lorde.
— Ele era o responsável por encontrar os doadores. Então, é possível que não tenha contado à mulher e que ela acreditasse que as doações vinham de diferentes homens — disse Stevens.
Em debates sobre inseminação artificial organizados pelo governo britânico em 1959, Mary Barton contou que fazia as escolhas por raça, cor e estatura. Todos os doadores, disse na época, eram escolhidos entre pessoas inteligentes.
— Eu não aceitaria um doador que não estivesse acima da média. Se é para conceber uma criança de forma deliberada, as exigências têm que estar acima da média—afirmou então Mary, segundo o jornal "Daily Mail".
Risco de que fílhos do biólogo tenham se casado
O caso levanta a possibilidade, ainda que pequena, de que alguns desses 600 filhos tenham se casado e tenham tido bebês, que carregariam os riscos habituais decorrentes de casais consanguíneos.
Hoje é mais difícil que algo semelhante ocorra. No Reino Unido, a lei determina que cada doador de esperma só pode fertilizar um máximo de dez famílias — uma mesma família pode ter vários filhos de um mesmo doador. Além disso, é obrigatória a manutenção de dados para o caso de uma pessoa nascida por inseminação artificial eventualmente querer descobrir quem é seu pai biológico. David GoUancz acredita que não é o suficiente:
— Eu queria que constasse nas certidões de nascimento o nome do doador do esperma ou dos óvulos. Muitos pais que os recebem nunca dizem a seus filhos que foram concebidos dessa forma, o que significa que eles nunca vão saber como encontrar o doador — lamenta.
Nascido na Áustria, mas naturalizado britânico, o cientista Bertold Wiesner morreu aos 70 anos, em 1972.
O Globo / O Mundo , 10 / 04 / 2012
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