terça-feira, 31 de julho de 2007

País de bananas


Estava demorando ocorrer uma cena inimaginável, mas aconteceu. A falta de respeito agora transpôs a fronteira nacional. Um líder espiritual esculhambou tudo que tinha sobrado de honra nacional. Pois é. Foram palavras que doem. Será que ele começou a abrir as portas do prostíbulo político angolano? O pior é que foi dito por um gringo. Num país sério, essas palavras causariam AVC (acidente vascular cerebral) em muitas pessoas. Agora devemos nos preparar, porque daqui em diante esse deverá o tom se alguma coisa não for feita.

Tudo começou quando o líder espiritual de uma igreja cristã, de origem lusa, mandou o ministro da Cultura de Angola a “calar a boca” e pediu que ele tivesse “mais juízo”. Se o "apóstolo" Jorge Tadeu parasse por aí, ainda poderíamos chorar calados. A cruzada de insultos mais cínicos e desrespeitadores estavam por vir. Ele afirmou “é muita corrupção em Angola. Muita podridão. É só pagar e os macacos mexem as caudas, abrem as pernas e nós passamos”. Como sobremesa afirmou que “Angola é um país de bananas”.

O líder da igreja Maná deve ter seus motivos para o insulto, mas foi muito longe. Ele generalizou muito a sua falta de respeito. Nem mesmo respeitou aos fiéis que doam tudo que têm para que eles possam erguer a multinacional da fé quando também os chamou de “malcheirosos” e “pés-descalços”. Acredito que ninguém é miserável porque quer. Agora só falta um pé “descalço” desse ainda achar que tudo é uma obra do diabo que persegue o seu líder.

Entretanto, o incrível é a progressiva incapacidade dos poderes públicos de reagirem. Chegou ao clímax. A preguiça do poder público vai muito além do absurdo. Dá uma sensação de que o pessoal está tanto tempo no poder que perdeu a capacidade de reação. Os homens estão tão devagar, quase parando, de acordo com o princípio da inércia. Eles fecharam as vistas e os ouvidos. Não apareceu, até agora, nenhuma alma vivente, como aconteceu quando o presidente Samakuva falou em Salazar, para peitar esse homem.

A minha pergunta é a seguinte: ninguém vai falar grosso contra esse provocador? Primeiro ensaiou, ninguém berrou. Agora ele deita e rola, com toda falta de respeito, e todo mundo vai ficar calado? Até quando ficaremos impotentes? (Vou louvar aqui o Celso Malavoloneke e a Paulinha da Costa Neto, esses angolanos de valor e outros comentaristas que se manifestaram solitariamente). Mas onde andam os que nos governam? Nas negociatas?

Eu gostaria muito que o apóstolo se retratasse de três (triângulo das bermudas) inconvenientes verbais indigestos: “abrem as pernas”, "bananas" e “malcheirosos”. Esse cardápio é fatal. Esses termos dão margem a muitas interpretações. Não creio que o povo angolano, com princípios, mesmo mergulhado na pobreza e a ignorância, mesmo com todas as dificuldades, tope qualquer coisa por um prato de couves mal passadas. Nem todos angolanos jogaram a honra no abismo. Seja como for, o "apóstolo" deveria ter a palavra do mestre que diz: “respeitai-vos uns aos outros".

Além disso, deveria pedir perdão a Deus por ter usado uma linguagem tão suja que deve ter envergonhadao até o diabo. A certeza de impunidade é que deve ter levado este senhor a essa afronta.

Aproveitando a oportunidade, ainda acho que o nosso maior terror é a paralisia do governo. Não será possível que o presidente não tem um amigo para lhe aconselhar... Parece que ele está cercado de pessoas que mais dão trabalho que trabalham, além da impunidade eterna. Em todos os lugares as coisas mudam. As pessoas mudam, os governos mudam. Está todo mundo correndo para estancar o mal que assola suas populações.

Porém, eles não ligam para urgência dos problemas nacionais. Vamos dar um exemplo: as eleições. Niguém mais fala nisso. Não vai demorar para que alguém diga: "olha não podemos realizar as eleições em 2008" e todos dirão: amén.

As pessoas só pensam no poder pelo poder. Manobram, adiam e evitam que as coisas aconteçam. A corrupção não acabará com as mesmas pessoas no poder. Dessa forma, seremos candidatos a ouvir eternamente disparates "apostólicos". (espero que a próxima sobremesa seja um pouco pouco mais doce. Vamos dizer, um maná).

O país está parado. Se ainda encontramos alguma coisa que funciona devemos dar graças à esperteza do presidente que preservou a estrutura deixada por Agostinho Neto. Se o poeta ressuscitasse hoje e dirigisse uma reunião com a presença de todos embaixadores e ministros ele começaria perguntando: - ministro “X”(estamos em que ano?) como estamos de reservas de petróleo?

Nós vivemos o início de um século de constantes mudanças. Mas na “República das bananas” ninguém assume a urgência de mudanças. O poder político está alienado. Hoje tudo esta virando motivo de chacota. Essa corrupção um dia vai virar um chiqueiro.

Até quando nós poderemos dizer: este governo acertou? Será que o Tadeu vai ter que soltar mais uma frase venenosa de forma crua e nua e termos que engolir seco?

Em pleno século 21 ainda trabalhamos com administração do século 15. O que fascina este governo é o fato de termos pessoas muito espertas. Eles vivem num país paralelo, sem pensar no povo. Só nos envergonham. Eles “progridem” enquanto o país dorme. País de verdade suja. Gente que não faz nada, agora não fala mais. Têm pavor de mudanças. O impressionante é que, mesmo com tantas cascas de bananas, ninguém cai. Dá vontade de chorar deste país de decepções.

Não vai demorar muito para que o "país de bananas" nos mate de tanto rir.




Reproduzido pelo Club-k.net em 01 de Agosto de 2007 - 06:45 em 11 de Agosto de 2007 - 11:00

Reproduzido pelo " Uma Angola para Todos", em 01 de Agosto de 2007

Reproduzido pelo Ngingão Cultural (03/08/07)

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Reproduzido pelo portal Mazungue

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Miala é jóio ou trigo? (I)


Uma das notícias de grande destaque na imprensa nacional e internacional, desde o passado dia 13 de Julho, (sexta-feira 13), é a “prisão” do General Fernando Garcia Miala e de seus colaboradores. Ele foi, por muito tempo, diretor-geral do Serviço de Inteligência Externa (SIE). Pesa sobre ele a responsabilidade de um plano que estaria em curso, descoberto a tempo, que culminaria com um golpe de Estado e com a morte do presidente.

Fernando Miala conquistou a alta posição seguindo uma função exponencial. O seu futuro parecia estar definitivamente traçado e escrito nas estrelas. Entretanto, a ascensão de uma outra ala dentro do governo interrompeu uma carreira esplendorosamente gloriosa, "mais do que prometia a força humana".

Pouco se conhece sobre repercussão entre os membros do governo angolano da prisão do, por enquanto, general. O assunto está a ser tratado com tanto segredo como “secreto” era o agente. No entanto, a grande pergunta que se faz neste momento é a seguinte: Miala tentou dar golpe ou não? E se não, qual é o real motivo de sua destituição e por que está a ver todos os dias sol nascer quadrado?

Se nos basearmos nos motivos apresentados pela imprensa é possível argumentarmos tanto a favor quanto contra o golpe. É fácil constatarmos que todos puxam a brasa para sua sardinha, ou melhor, caviar. O fato é que, se encaminharmos a discussão aceitando esses motivos apresentados como verdadeiros, é contraproducente, pois não nos faz avançar no entendimento do real problema.

Neste momento o caminho mais seguro é nos apoiarmos na macro-metodologia acadêmica. A ciência não faz especulação. Ela trabalha com fatos e na sua ausência, com modelamento “matemático” dos fatos, uma vez que na natureza nada se cria, mas tudo se copia.

O primeiro passo seria descobrirmos onde está a verdade. Ela pode ser encontrada nas provas dos autos do processo. A prova constitui a demonstração dos fatos em que se assenta a acusação e tudo aquilo que o réu alega em sua defesa. No entanto, as informações disponíveis dão conta que Miala, o réu, teria dito que “não foi ouvido no âmbito da sindicância ao SIE ordenada pelo Presidente da República”. Sendo verdade, estamos diante de uma violação de um direito fundamental mais relevante.

Se levarmos em consideração que o processo não foi instruído por cientistas, há uma probabilidade de estar contaminada com provas ilícitas e ilegítima, seguindo a máxima: “os números não mentem, mas os mentirosos fabricam os números”. Uma outra fonte da verdade seria interrogar as pessoas envolvidas no “trumuno”. No entanto, o princípio do Direito retrata que ninguém pode produzir a prova contra si.

Ainda, quando nos remetemos a Aristóteles, de acordo com o seu projeto de busca da verdade, essa interrogação não apresentaria resultados que se sustentem. Ele encontrou limite na impossibilidade de tomar o ser enquanto objeto de estudo e colocá-lo por sobre as lentes da ciência, algo que escapa à apreensão. Consultando Heidegger, na sua discussão em busca da essência da verdade, ele concluiu que a verdade é a essência do ser e esta aparece apontar para uma parcialidade. Portanto, é impossível apreender a verdade em sua totalidade, uma vez que o próprio velar faz parte de sua estrutura.

Para Nietzsche a verdade é um ponto de vista. Por exemplo, o ponto de vista sobre o processo, o próprio Miala afirmou: "Quanto aos crimes de que sou acusado, mais parecem uma peça de fantoches em que alguém tem de ser a marioneta para dançar uma música desconhecida". Para Agostinho Neto, informar com verdade é fazer a revolução. Fazer revolução envolve movimento, mudanças, alternância do poder, enfim.

A verdade, para Freud, pai da psicanálise, é singular de cada sujeito. Para Lacan a verdade não está para ser construída, mas para ser revelada. Ela é limitada pela impossibilidade do real e de suas conseqüências. Como vimos, tanto a Filosofia quanto Psicanálise deparam-se com algo que escapa em se tratando da questão da verdade.

Poderíamos encontrar a verdade no saber. No entanto Lacan entende que o saber e a verdade não têm nenhuma relação entre si. Ele entende que a verdade é metafórica, sintomática e não-toda, já o saber remete à impossibilidade do encanto por meio da fantasia.

Jonas Savimbi talvez tenha definido a verdade como aquela voz que vem à consciência quando a pessoa se encontra só, aliada à lição aprendida na escola. Quantos escutam a voz da consciência? Hoje, porém, poucos têm o privilégio de ficarem sós. Pessoas andam com cinco seguranças. Ainda, em nossos dias, já não existem mais escolas. Quando as encontramos, elas são freqüentadas por uma minoria eleita. Escola que emburrece, que adestra adestram as pessoas.

Além disso, a escola estimula e fortalece a diferenciação social em vez da homogeneização da sociedade. É isso que afirmou Durkhein e destacou que as sociedades, em geral, utilizam-se do sistema educacional como mecanismo de conservação do sistema social existente. Ela, essencialmente, teria como função fundamental a socialização das gerações mais novas. Como estamos vendo, estamos diante de um problema muito complexo.

Assim, em relação à pergunta feita, podemos encontrar três verdades possíveis. A primeira, é que Miala tentou dar o golpe; a segunda é não tentou e a terceira, talvez.

A partir deste momento analisemos tudo à luz de artifícios científicos (modelamento matemático), tendo como hipótese: Miala não tentou dar o golpe. A metodologia utilizada é análise de informações divulgadas pela grande mídia, nomeadamente club-k, N´gola livre, Angonotícias, Multipress, uma mensagem que circula pela internet assinada por “Alguns dos Membros do clã e da “nomenklatura”, entre outras.

Vamos supor que Miala trabalhou em prol do golpe de Estado. Nesse caso ele tem que ser preso. A África tem que acabar com essa mania feia de derrubar governos à base da força, mesmo que sejam ditaduras. A maneira mais elegante de tomar o poder é pelo voto limpo, preferencialmente, lá permanecer por um mandato e no máximo dois, haja chuva ou sol, como fez até o regime militar brasileiro, por exemplo.

Precisamos também acabar com o pensamento eivado de vaidades segundo o qual o general está acima da lei e, portanto, não pode ser preso. Não é nenhuma humilhação a prisão de um general. No Paraguai, por exemplo, o ex-general Lino César Oviedo, cumpre, atualmente, uma pena de dez anos pela intentona golpista. Podemos aqui lembrar o general ditador Augusto Pinochet que ficou os últimos dias de sua vida entre a prisão e sua casa.

Por outro lado, isso serve de alerta aos governantes maratonistas que insistem em permanência no poder, mesmo sem forças para tal. Conservar-se muito tempo no poder gera sempre conspirações silenciosas. Pior que isso, é quando o mandatário passa a ser visto como um “deus” eterno com direito a seguidores (bajuladores), de uma religião oficial cujos fiéis rezam com muito fervor: Ave Presidente, santo, todo poderoso, cheio da graça, criador do céu e da terra. Coincidência ou não, o resultado disso pode ser facilmente constatado nos nomes de pessoas que são promovidas. Elas têm sempre ou quase sempre os seguintes nomes: de Deus, dos Anjos, Silva, Santos e do Espírito Santo (amén). Isso num país de mais de 850 religiões é um caso sério.

Analisando de um ângulo obtuso, a possibilidade de golpe apresenta lacunas. Por exemplo, como consentir um golpe num país onde muitos controlam a muitos para que ninguém faça aquilo que muitos gostariam de fazer? Segundo: as feridas da insurreição de Nito Alves ainda não foram curadas. Abrir outras novas? Quem é maior, Fernando Pessoa ou Vaz de Camões?

Essa possibilidade mostraria que Fernando Miala é louco. No entanto, até o presente momento, ele mantém níveis saudáveis de insanidade mental. Isso está de acordo com Descartes que afirma que não pode haver loucura na razão. Essas duas experiências são absolutamente inconciliáveis. O pensar pressupõe a razão e, como quem possui razão não pode estar louco, então a loucura é o não pensar. Ou seja, se Miala existe é porque pensa, logo se conclui que o não pensar, a loucura, não podem existir para o Miala de razão, que foi diretor geral Serviço de Inteligência Externa (SIE).

Se Miala não pensasse, por exemplo, não desapareceria o fórum de discussão da portugal.net, nos idos da década de 90. Quem não sente saudades daquelas discussões acaloradas, de um lado comandadas pelo Maka (UNITA) e do outro o Lito Capitalista (MPLA), digamos o atual Kabazuka do Club-k? Poderia citar aqui o canal de informação ebonet, pioneira em notícia comentada que depois desapareceu. Por que não falar de outros portais que publicavam artigos de opinião e de um momento não mais o fazem, exceto o heróico portal club-k.net (o canal da verdade), que por ironia do destino, hoje é que mais veicula notícias sobre ele. (Isso talvez serva de alerta para muitos).

Do exposto até aqui, devido a algumas contradições ainda encontradas, cientificamente ainda não nos permite concluir se Miala tentou o golpe ou não. Por enquanto concluímos que talvez. O importante é que nesta primeira parte conseguimos varrer a loucura para a região do não ser. Uma vez isso feito, na segunda parte faremos o modelamento, ponto a ponto, de todas as acusações que pesam sobre ele à luz do pensamento científico e tirarmos as conclusões finais, uma vez que nesta primeira parte o jogo terminou empatado.
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Reproduzido pelo Club-k.net em 04 de Agosto de 2007 - 12:50
Para ler
Vídeos de Miala

domingo, 22 de julho de 2007

O engima Hélder

Boa tarde camarada,

Eu pensei fazer um artigo sobre você. Mas achei que ficaria muito chato. Teria que fazer introdução, colocar na terceira pessoa, desenvolvimento e depois as conclusões. Prefiro fazer uma carta. Entrei em todos sites de busca na esperança de encontrar um "blog" ou um "e-mail" seu, mas isso não os encontrei. Dessa forma, esta carta acabará sendo aberta. Mas pode ficar tranqüilo porque ninguém ficará interessado em lê-la na íntegra uma vez que eu não sei escrever de forma brilhante.

Eu tenho acompanhado os feitos inéditos que você tem protagonizado nas ruas de Luanda e a sociedade não tem entendido seus gestos, mas eu sim (Eu tenho certeza que você deve estar pensando: "até que enfim que alguém está me entendendo"). Eu sou solidário à sua luta. Só tenho uma ressalva a fazer: acho que você tem nocauteado pessoas erradas. O objetivo da minha carta é mostrar a você as pessoas certas que precisam ser nocauteadas já no primeiro "round", aproveitando a sua imunidade por tabela.

Na sua última magnífica aparição pública, ao mesmo tempo feia porque em professor nem em mulher não se deve bater, eu vi várias manifestações de repúdio e muitos chegaram a lhe dar o ultimato. Eu sou contra ultimatos, mesmo que partam de muitas pessoas. Quando todos falam a mesma coisa é bom desconfiar. A maioria pode estar errada. Se todo mundo está falando a mesma coisa, isso não é garantia de que essa coisa é verdadeira. Ultimatum é coisa que os ingleses gostam de impor aos portugueses e isso, quase sempre, gera sentimento de vingança. Nós somos angolanos. Não há necessidade de começarmos a desenhar uma vingança. Precisamos trabalhar para que nada de pior ocorra.

Antes de mostrar as pessoas certas para você, não vou dizer surrar, ter uma "conversa" com elas, eu gostaria fazer dois comentários importantíssimos.

Primeiro. Você é considerado o “ondjaki” da nossa sociedade. A propósito, no início deste ano, assisti a uma entrevista do nosso escritor Ondjaki ao programa Roda Viva da TV Cultura do Brasil (Este canal de televisão só passa programas educativos. Eles não passam telenovelas, por exemplo). Ele foi brilhante. Não me lembro ter visto um angolano a ser sabatinado como ele na televisão brasileira. Num determinado momento um dos entrevistadores perguntou-lhe o que significa “ondjaki”. Ele afirmou: “guerreiro”.

Guerreiro, na verdade, é a forma clássica. Esse seria, por exemplo, o caso de Agamémnon, Aquiles, Heitor, Ajax, Menelau, Ulisses, Eneias e outros. Mas na linguagem coloquial, significa “confusionista” ou algo parecido. Por exemplo, quando numa aldeia há um menino "ondjaki", sempre que há uma confusão entre crianças, é certo que ele é uma das partes envolvidas. É aquela pessoa que gosta de se envolver em brigas etc.

A experiência mostra que não se resolve o problema de um “ondjaki” levá-lo a um psicólogo para um acompanhamento psicológico. Não acredito que essa seja a solução das inquietudes de um “guerreiro”. Há sério risco de ter o seu cérebro anestesiado. O mundo nosso nivela as pessoas por baixo. Não explora as potencialidades das pessoas. Eu sei que essas têm sido as fugas para mil problemas que vivemos. Viver dentro de uma panela de pressão é muito complicado.

Segundo: a imprensa gosta de enfatizar ou associar o seu nome ao de seu pai. Qualquer coisa que acontece, lá vem a Manchete: "Hélder Piedade dos Santos, filho do Primeiro Ministro de Angola". Por que isso não é feito com um "João Ninguém"? Não acho isso correto. Nenhum pai instrui seu filho para se meter em confusões e, por que quando isso ocorre ele passa a ser citado? Por outro lado, por ventura algum filho teve a oportunidade de pedir qual o pai que gostaria de ter? Ainda, nenhum pai cria o filho para ser confusionista. Normalmente todos pais procuram amigos saudáveis para seus filhos. Pai é pai, filho é filho e cada um deve ser responsável pelos seus atos. Quando isso não ocorre, eu acho que é uma falta de respeito.

Prezado camarada.

Vivemos numa época em que o respeito está em baixa. Jornalistas não respeitam seus leitores, pessoas com elevada escolaridade não respeitam pessoas com baixa escolaridade, os ricos não respeitam os pobres, os corruptos não respeitam os honestos, os vivos não respeitam mais os mortos, homens não respeitam mulheres, filhos não respeitam pais, taxistas andam com som ligado no volume máximo e se o passageiro solicitar a gentileza para baixá-lo, ele é posto, imediatamente, para fora da viatura, enfim.

Analisando com calma a atual situação, é fácil concluir que nós perdemos referências. Perdemos o sentido da verdadeira educação. Vemos pessoas carentes de estrutura familiar, pessoas de espírito mesquinho. As pessoas andam vazias, estressadas, frustradas, atropelam a todos e a tudo. Em vez de aprenderem com os erros dos outros, preferem errar para depois consertar.

Em muito, a televisão é responsável por tudo isso. Jovens são expostos exaustivamente a programas de TV. Normalmente eles não possuem um senso crítico. Dessa forma, elas são influenciáveis. Como conseqüência dão valor exagerado ao modismo e aos gastos fora dos padrões de vida, incluindo no produto o sentimento de prazer e de sucesso. As pessoas, hoje, são escravas dos meios de comunicação social. Elas vêem TV e nem discutem a informação. Recebem passivamente as mensagens sem analisar profundamente o que estão assistindo. São bombardeadas com mensagens e poucos analisam profundamente o que estão assistindo. Os especialistas recomendam que a televisão não seja assistida mais que uma ou duas horas quando é de boa qualidade por dia, desligar durante as refeições, etc. Para complicar ainda temos que carregar a novela, essa mala sem alça, que influencia a erotização prematura de crianças.

Se não bastasse, a escola deturpa a verdade sobre o sexo. Em vez da educação sexual (a beleza e a importância do sexo e o seu uso no momento certo), a escola transmite a técnica sexual (uso da camisinha, como fazer sexo). O problema não é só a escola, até a rádio. Há poucos dias escutei uma peça publicitária na qual, duas supostas adolescentes, uma perguntava a outra adoslecente se está última tinha levado a camisinha e a outra respondeu que não. (- Como vai se encontrar com o namorado sem camisinha?). A primeira emprestou uma e pediu para que a amiga levasse sempre pelo menos uma consigo. Por favor, vá até a TV e procure quem cuida do Departamento de telenovelas para “uma conversa”.

Em nossos dias muitos jornalistas perderam criatividade. Depois de um jogo fazem sempre aquela pergunta: “a quem você dedica a vitória ou o título?”. Essa pergunta é muito problemática. É encurralar o coitado. Não adianta dizer que não. Eu nem vou entrar no mérito da questão. A próxima vez que você estiver assistindo a um jogo e alguém fizer essa pergunta, não perca tempo. Se puder, saia logo ao estádio do jogo. Caso não seja possível, no dia seguinte marque um encontro com ele, para “uma conversa”.

Se um jogador goleador tiver a infelicidade de alguém lhe fazer a pergunta anterior e não dedicar o título à sua família, você pode também “conversar com ele”.

Eu tenho imaginado você na Assembléia. Imagina como ficaria bonito ser chamado deputado Hélder? Acho que o ambiente ficaria mais alegre. Mais animado. Você poderia aproveitar olhar junto dos partidos qual o aceitaria sair candidato. Não acredito que venha a ter dificuldades. Caso não logre sucesso, não se preocupe, porque tenho um amigo que está formalizando um partido. Ele teve dificuldades de criar a sigla do partido uma vez que quase todas as combinações possíveis já estavam tomadas. Com muita dificuldade apenas encontrou quatro letras disponíveis e formou o PFDP (Partido do Fórum Democrático da Porrada). Acho que ficando na Assembléia, a sua luta ganhariam outras dimensões, mais visibilidade e mais honra.

Ainda, nós vivemos num mundo de cultura meritocrática. Muitos estão sendo adestrados em escolas da vaidade em vez da humildade. A busca pelo título está muito desenfreada. Qualquer pessoa que você pergunte o nome ela enche o peito, empina o nariz e responde com aquele ar de superioridade que é "doutor, por exmplo, Melo" ( só para melar a situação). A corrida aos títulos está cegando muitas pessoas e estão a esquecer o princípio maior o de respeitar aos outros. Muitos “doutores” usam o título para burlar pessoas. Se algum dia você perguntar o nome de alguém e ela responder: eu sou "doutor" Venerado, você já sabe o que fazer (reveja alguns "tapes" do Mike Tyson dos bons tempos).

Você já pensou, por acaso ser "apóstolo"? Ah, eu estava esquecendo. Você poderia olhar a questão de pessoas que não gostam de pedir demissão, mesmo que tudo caia dos céus. Eu não quero cansá-lo mais. A lista não terminou, mas hoje fico por aqui. Agora ficarei na expectativa de boas notícias. Tenha coragem.

Recomendo que evite ser protegido. Os problemas nos preparam para a vida. O importante é sempre bom sabermos selecionar as nossas amizades. O antigo provérbio diz que o homem deve evitar dois tipos de pessoas: "os tolos com sorte e os néscios com iniciativa".

Tenha sucessos.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

O mundo vai de mal a pior


Não é difícil entender as razões que levam certos países a se revezarem na lanterninha da corrida global pelo progresso. É alarmente o fato de vermos países ricos, produtores de petróleo, por exemplo, a fraquejar diante de um Japão, formado por arquipélago de mais de 3.000 ilhas, com área de 377.835 km2 (área equivalente a de Moxico e Kuando Kubango) de terrenos acidentados e sem recursos naturais, que ainda vira e mexe sofre aqueles terríveis terremotos, como o que ocorreu ontem (15/07), na cidade de Kashiwazaki, de 6,8 graus na escala Richter .

Na tentativa de explicar essa situação, eu já ouvi várias desculpas esfarrapadas, aquelas que servem para anestesiar os cérebros, de que há, nos países mancos, escassez de recursos humanos ou recursos materiais inadequados e insuficientes, grandes distâncias entre o centro urbano e cidades do interior, acentuado êxodo rural etc.

Se analisarmos um pouco a história do Japão, por exemplo, facilmente podemos descobrir que, o que fez a grandeza daquela nação, foi o sonho de seus avôs, o de amadurecer suas instituições. A busca da consolidação institucional tem como conseqüência o desenvolvimento cultural, social, econômico, político etc. Isso foi possível porque eles aproveitam a força criativa de seus filhos. E uma das conseqüências disso é o rigor e respeito que as autoridades têm no trato de coisas públicas. E lá chega a assustar. Por exemplo, se um jornalista denunciar que um ministro comprou 5 litros de água mineral usando o dinheiro público de forma irregular, no dia seguinte ele, sem precisar recorrer no subterfúgio “apresentem as provas”, renuncia e pede desculpas à nação e nenhum subordinado vai pedí-lo para permanecer no cargo com temor de ficar “órfão”.

No entanto, nos países de dirigentes orgulhos e cínicos, os sonhos são outros. Há um contínuo retrocesso institucional. Alguns estão muito além do absurdo. Na semana passada, o jornal “Gazeta do povo”, na sua edição de domingo (08/072007) apresentou a entrevista de um jornalista nigeriano que fugiu da morte por ter feito uma reportagem abordando a corrupção no país dele. Três de seus colegas tiveram morte misteriosa.

Se esse comportamento se limitasse à turma do “velho do Restelo”, não seria tão preocupante assim, porque o tempo cuidaria de resolver o problema. Na semana passada tive a oportunidade de conversar com um jovem universitário de um dos países africanos. Perguntei-lhe o que iria fazer assim que terminasse o seu curso. A resposta foi rápida: ser político. Eu perguntei-lhe por quê? A resposta foi curta e grossa: - “para eu pegar o meu”. – e o que fará com o seu?
Aí veio a pior parte:
– para eu conseguir umas 5 mulheres.
– O quê? você é mulçumano?
– não, graças a Jesus Cristo. Eu sou muito cristão.
– você acha que alguma mulher hoje aceitaria ser a quinta?
– é só dar uma casa e um carro que ela larga o namorado, marido, seja lá quem for. Se precisar até a família.
– uhmm....

O ser humano precisa sonhar. É bom que persiga um sonho. Todos precisamos viver motivados por um alvo. Precisamos persistir, insistir e nunca desanimarmos, embora, muitas vezes, isso exige que passemos em caminhos dolorosos. Quem não sonha, vegeta. Só respira. Todavia, trata-se de sonhos sadios: estudar para ter um diploma universitário, para o exercício pleno de cidadania, ser útil à humanidade e quem sabe, ter uma boa colocação profissional, trabalhar para oferecer um conforto para a família, por exemplo. Ainda, o século 20 nos ensinou também a sonharmos em grupo como forma de defesa e de sobrevivência.

Mas, foram as inefáveis forças do mal se apressaram e perceberam que é desnecessário o esforço solitário. Eles se associaram em bandos. Essas quadrilhas deram origem em organizações grandiosas e sofisticadas, em muitos lugares tomaram o poder, tornando-se num desafio para os ordenamentos modernos.

É um desafio porque eles agem de acordo com as leis. Só que são leis instrumentalizadas. Eles mudam as leis para atender interesses particulares. Uma característica mais relevante do grupo, segundo um trabalho de Andreza de Oliveira (2004) é a acumulação de riquezas indevida. Para que prevaleçam, impõem alto poder de intimidação, empresas de fachada e uma disciplina rígida aos subalternos que fazem o chamado “trabalho sujo”.

Estudos mostram que os dirigentes de países da poeira, são chefes sem noção daquilo que dirigem. Têm sim é o gosto de mandar. Adoram reuniões. Têm muita paciência de ficarem horas escutando abobrinhas. As decisões que tomam dependem de um coitado assistente. Pior que isso é que eles não mais respeitam nada nem a mentira. Praticam mentiras corrosivas.

Por isso, falar em honestidade está ficando meio fora de moda nesses países. Para breve, a honestidade poderá se transformar numa raridade, numa notícia de primeira página. Essa situação cria enormes dificuldades para pessoas honestas e humildes. Cria uma confusão na identidade de um povo. Como explicar, por exemplo, que uma pessoa venda sua honra por um prato de couves? Hoje, infelizmente, vemos muitas pessoas do bem com baixa auto-estima, se rastejando, que se conformam em ser cauda, enfim.

Em muitos países, a mentira se assenta nas instituições. Diferentemente do Japão, se lá descobrirem uma mentira de um “velho do Restelo”, ele se mata de vergonha. A corrupção noutros países é tão grande, que se um velho desse fosse condenado à morte, ele daria um jeito de molhar a mão do carrasco com uma “gasosa” e tudo acabaria num silencio. O interesse nesses países é a ocultação. No Japão nunca se pede a demissão de ninguém. Isso é desmoralizar a democracia deles. Enquanto isso, noutros países, os políticos praticam crimes na cara do povo, sem nenhum temor de punição nem remorso. Ainda, acham ruim se alguém pedir demissão deles. (e nem adianta, porque ninguém é demitido, no máximo é removido). Esses levam a democracia deles a ficar anêmica.

Além disso, no Japão os chefes são seguros. Pressionam seus colaboradores por resultados; eles criticam e também os elogiam em público. Nos outros países, os chefes pressionam os seus subordinados para elogiá-los em público. E os subordinados, contudo, são apenas criticados ou desautorizados em público.

Por isso que as instituições são banalizadas e em cascata. A honestidade está sendo arrastada para a lama. Diversos bandos têm surgido por aí. Partidos políticos e empresas são criadas com essa finalidade. Quem diria, não respeitam mais nem Jesus Cristo? Cristo agora é uma marca comercial. Não se fala mais em valores morais. A cada dia, inúmeras crenças que criam confusão, surgem. São mais de 2000 denominações que reclamam possuir a verdadeira a bandeira de Cristo. Antigamente o sonho de um cristão era a esperança de um mundo melhor. Hoje, é ganhar muito dinheiro. A teologia da prosperidade. As igrejas estão de plantão. Começam a pedir mais cedo o dinheiro. Hoje tudo é de Cristo: atletas de Cristo, Rock'n'Roll para Cristo, Associação de “bêbados de Cristo”. (Jesus, lá nos céus deve estar muito triste com a obra do Diabo). Uma oração poderosa precisa ser feita para expulsar esses demônios.

A confusão não pára por aí. A astrologia está em franca ascensão depois que vênus entrou na casa de Sagitarius. O "exoterismo" está a mandar mudar o nome de muitas pessoas. “ou você muda o nome ou não ficará rico”. Aumenta o número de pessoas que bem cedo se abraçam em árvores para fazer meditação. “esta árvore tem uma energia que me fará rico”. Nunca se publicou tanto livros sobre QI e Quociente emocional (QE) para se encontrar boas desculpas da situação que o mundo se encontra. Há pessoas que não saem de casa sem consultar primeiro o horóscopo “se um gato preto cruzar o seu caminho, volte para casa porque um político cruzará seu caminho” . E por que não falar de auto ajuda? “ todos dias olhe-se no espelho e diga: eu ficarei rico. Se dentro de 30 dias não conseguir, troque o espelho”.

No passado o mundo foi protagonizado pelos homens gigantes, valentes, altruístas, homens de palavras, pessoas que sonharam com um mundo melhor e próspero. Pessoas que não confundiam felicidade com prazer. As crianças de hoje, infelizmente, já não sonham mais. Quando sonham.... hummm... O mundo realmente vai de mal a pior. Se alguma coisa não for feita, brevemente, muitos países serão governados por “minhocas”, o povo e as instituições a geléia e o país um arquipélago de cacos.


"Dedico ao técnico Dunga, da seleção brasileira de futebol, que dedicou o título da copa América conquistado na Venezuela frente à seleção da Argentina pelo Brasil de Robinho às crianças angolanas, em vez de dedicá-lo ao Presidente Lula."




Publicado no Club-k.net em 17 de Julho de 2007