Diz o velho pensamento" Não triste aquele que muda de idéias, mas aquele que não tem idéias para mudar".
O Almirante AG Mendes de Carvalho “Miau” e seu irmão General Manuel Paulo “Pakas” filhos do “grande patriarca” Mendes de Carvalho (Uanhenga Xitu), que não é do MPLA, mas ele é o "próprio MPLA", uma espécie de monumento histórico, precursor do nacionalismo angolano e reserva moral do Partido, mudaram de idéias, arrumaram as malas e foram alojar-se na CASA-CE, abandonando assim a tradição familiar.
A "conversão" dos dois irmãos ao forte concorrente, deve ter sido um duro golpe para as hostes do “M” que devem ter sentido seu orgulho ferido, já que os “camaradas” vangloriavam-se de ser o único partido em Angola que seus membros não evadiam, mesmo não concordando com o partido, como é o caso de Marcolino Moco e muitos outros por ai.
Às vésperas de eleições isso deve ter afetado também a orientação da linha propagandística do MPLA, uma vez que o “Miau” que já foi o Director Nacional para Relações Internacionais do Ministério da Defesa, é nada mais e nada menos o segundo da lista da "mansão" ou melhor do "casarão" de Abel Chivukuvuku, o que quer dizer que se a legende vencer o próximo pleito ele será o Vice-Presidente da República. O General Pakas apresenta-se como cabeça de lista da CASA-CE pela província do Bengo.
Em meio a toda essa discussão, o professor Justino Pinto de Andrade fez um artigo publicado no semanário angolense Edição 470 • Ano VII, de sábado, 16 de Junho de 2012 e põe fim a essa discussão toda.
Quem comeu a carne terá também que comer os ossos?
Por Justino Pinto de Andrade
1. Recentemente, o panorama político angolano foi abalado com a notícia de que dois dos filhos do velho nacionalista Agostinho André Mendes de Carvalho se teriam «bandeado» para a CASA-CE, uma coligação política que emergiu há muito pouco tempo e que tem como principais animadores figuras provenientes da UNITA, que se juntaram a outros elementos que militavam em partidos da oposição.
2. O fluxo de caminhantes do sentido do partido no poder para as oposições não é habitual, uma vez que, como é voz corrente, quem detém o poder possui instrumentos suficientemente dissuasores, tais como a «secagem» de eventuais negócios que estejam a ser realizados pelos «desertores», a inviabilização de futuros negócios, a paralisação da ascensão nas suas carreiras, mesmo até a votação desses «desertores» a uma longa e dolorosa penúria social.
3. A nossa sociedade habituou-se, sim, à publicitação de «deserções» em sentido contrário, onde, por regra, se abre o espaço público para a exaltação do «sentimento patriótico» dos «desertores». Eles, os «desertores» de sentido habitual, deixam automaticamente a velha condição de «malfeitores» e «terroristas» e passam à nova condição de gente de bem, sem mácula, sem história que os envergonhe.
4. A política vista nesta perspectiva passa a ser não propriamente uma questão de livre escolha, mas, sim, uma adesão com base numa espécie de fé, numa fé inabalável. E quando se adere a algo por fé, imediatamente se coloca no dicionário a expressão contrária, o «herege».
5. Assim, para os mais radicais detractores dos irmãos Mendes de Carvalho, o «MIAU» e o «PAKAS», ao aderirem a um projecto político da oposição, terão cometido uma verdadeira «apostasia», mais ou menos nos moldes do cristianismo antigo, quando os «renegados» eram condenados por supostamente terem violado dogmas da Igreja. Um pouco à semelhança do actual islamismo radical, que se dá ao luxo de condenar à morte mais atroz quem não se identifica com os seus preceitos.
6. O facto de o Velho Mendes de Carvalho ter sido um valioso combatente pela liberdade da Pátria e de os seus filhos se terem inserido nesse trajecto depois da viragem histórica que foi o 25 de Abril, não os obriga a terem que pactuar com tudo quanto vem sucedendo nos últimos anos no nosso país. Cabe-lhes a liberdade de optar, como a qualquer cidadão, escolhendo o rumo que queiram seguir. Isso evidencia, inclusive, uma capacidade de discernimento que, em vez de ser criticável, deveria, sim, ser louvável, demonstrativo de maturidade política.
7. Assim como certas pessoas aderiram ao processo de luta de libertação nacional porque perceberam que o sistema colonial era injusto e insustentável, no momento actual, também se exige aos mais lúcidos que percebam como é necessário realizarem-se mudanças de fundo para que não se desvirtue o sentido real da libertação nacional que, para muitos de nós, constituía um verdadeiro compromisso com o povo e não a entrega pura e simples dos destinos do país a um leque de indivíduos «que comem tudo e não deixam nada».
8. Acredito que existe, no seio de algumas famílias, alguma tradição política, um certo compromisso histórico, mas será errado pensar que esse compromisso histórico é suficiente para fazer esquecer os comportamentos actuais e as responsabilidades presentes. 9. Vejo o acto de «rebeldia» dos manos Mendes de Carvalho como a expressão da sua evolução política e do seu desencanto com o modo como o país está a ser conduzido por alguns com os quais eles se identificaram até determinado momento. Isso de modo algum é traição.
10. A existência de pluralidade de opções políticas numa mesma família permite até a reeducação política do nosso povo que foi habituado a ver os partidos políticos quase como igrejas. No mundo actual exige-se adaptações e soluções que nem sempre os partidos tradicionais conseguem imprimir. Daí que estes choques psicológicos tenham o condão de despertar as consciências mais adormecidas, chamando-as para outros rumos, para outras perspectivas.
11. A pluralidade partidária é uma marca das democracias e a mobilidade política deve ser encarada sem drama. Deveríamos, sim, estar preocupados com o conformismo daqueles que dizem que «quem me comeu a carne que me coma também os ossos».
Fonte: SA
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