Por Justino Pinto de Andrade
1 – Nesta altura em que estamos a entrar no período da campanha eleitoral, com vista à escolha dos futuros deputados para o nosso Parlamento, eu julgo dever uma explicação a todos quantos lêem os meus artigos de opinião. Faço-o pelo respeito que todos vocês me merecem, já porque, seguramente, o meu posicionamento face à escolha que se realizará em 5 de Setembro não terá passado desapercebida. Resumo, pois, aqui, algumas das razões que me impulsionaram a fazer uma opção política, tomando-a publicamente.
2 – Acompanhei, ou engajei-me precocemente nos movimentos sociais, cívicos e políticos com que deparei na época da minha juventude. Foi assim que assisti a diversas sessões de teatro e dança na Liga Nacional Africana, onde também se realizaram, com certa regularidade, outros actos de afirmação cultural e identitária, como a declamação das poesias mais belas dos nossos poetas mais aclamados, muitos deles já no exílio.
3 – Fui ainda contemporâneo dos derradeiros desenvolvimentos da Associação dos Naturais de Angola, ANANGOLA, onde se afirmaram nomes grandes da nossa cultura e nacionalismo, de que guardo boa memória. Acompanhei também a evolução de grupos culturais de matriz nacionalista, como o Fogo Negro e o Botafogo, símbolos de uma postura de afirmação cultural e de identidade da nação que queríamos ver edificada. Sou, como vêem, desde cedo um indivíduo atento.
4 – Participei na luta de libertação nacional, à qual me dediquei com um profundo idealismo. Estava então movido pelo desejo de ver não apenas uma Angola de progresso, mas também de justiça social. Tornei-me, depois, um dissidente do MPLA, muito embora tenha continuado a acompanhar a sua trajectória. Dessa observação, fui detectando aquilo a que poderemos chamar, as suas sucessivas refundações. Infelizmente, tais refundações não constituíram uma evolução. Houve, sim, uma profunda descaracterização dos objectivos que nortearam a sua criação.
5 – Conquistada a independência, o drama da nossa terra prolongou-se por dezenas de anos, durante os quais se perderam inúmeras vidas, desvirtuaram-se valores e apagaram-se princípios.
6 – Em 1990, juntamente com alguns companheiros provenientes dos mesmos percursos que eu, ou outros percursos, criámos a ACA, a Associação Cívica Angolana. A ACA constituiu, pois, um verdadeiro marco do movimento cívico nacional moderno, um desafi o ao carácter monolítico e totalitário do regime de então. Sob a direcção do já falecido Dr. Joaquim Pinto de Andrade, nós escrevemos páginas de luta pelos nossos direitos cívicos, tornando-nos protagonistas de episódios que um dia a história registará.
7 – Muitos dos actuais integrantes da Frente para a Democracia, a FpD, são actores e dos principais dinamizadores dessas batalhas. Foram batalhas pacíficas, mas arriscadas, porque a cultura da intolerância dominava o espírito daqueles que refundaram o MPLA. Em conjunto, desenvolvemos actos para a mobilização e a organização da sociedade civil que hoje temos.
8 – A minha opção por apoiar a FpD decorre da sensibilidade que ela possui para as questões sociais. Vejo na FpD a firme vontade de ver reduzido o nível de sofrimento do nosso povo. É ela que melhor interpreta a necessidade de se promover a igualdade do género, a busca de melhores oportunidades para a juventude, os direitos dos trabalhadores, o desejo que vermos Angola crescer com o contributo de empresários laboriosos e honestos. Por isso, temos denunciado todas as violações dos direitos humanos e todos os actos de enriquecimento ilícito. Anima-nos, em conjunto, a vontade de termos um país forte e respeitado, como parte activa deste nosso mundo cada vez mais globalizado.
9 – São estas algumas das razões que me animam a participar de forma activa na criação de um amplo movimento político que atenda aos desígnios mais profundos da nossa sociedade civil. Não vejo outra força política que se bata com mais determinação pelos direitos dos excluídos, que se preocupe mais com aqueles que estão debilitados ou incapacitados. Não vejo outra força política
que se tenha inquietado mais com os desalojamentos forçados e, quantas vezes, injustos daqueles que só têm uma palhota para viver.
10 – Tem sido sempre a FpD a denunciar as atrocidades cometidas em Cabinda, o garimpo desenfreado nas Lundas, feito com a cumplicidade de gente da nomenklatura. A FpD tem-se mostrado solidária com os professores que se batem por melhores salários e melhores condições de trabalho, com os enfermeiros e médicos que lutam por um atendimento mais eficaz aos doentes. A FpD sempre esteve do lado dos que perderam os seus empregos devido à ganância dos patrões. A FpD manifestou sempre cuidado com a nossa identidade cultural e a nossa história, batendo-se pela preservação disso como um património.
11 – Foi, portanto, por gostar da liberdade que decidi partilhar o meu tempo e a minha vontade para ajudar a criar um Grupo Parlamentar que se bata por causas, pela justiça, pelo equilíbrio e inclusão social. Por vos dever uma explicação, resolvi traçar estas linhas. Espero que me entendam e que sejam indulgentes.
Fonte: Semanário Angolense ( 02 a 09 de Agosto/2008)
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