Folha 8, 26 de Fevereiro de 2011
O desnorte, definitivamente, tomou conta de alguns dirigentes do regime e com isso o estalar do verniz. Ainda vai no adro a procissão no norte de África e Médio Oriente e já aqui, num despropósito (será), o secretário-geral do MPLA revisita uma frase dantesca de Oliveira Salazar: “EM ANGOLA E EM FORÇA”, disse-o em 1961, mandando avançar militares e canhões com objectivo de atirar a matar, contra quem se lhes opunha, por falta de liberdade. Resultado: após os levantamentos de 4 de Fevereiro, em Luanda e o 15 de Março de 1961, no norte de Angola, que marcam o início da guerra de libertação, abriu-se o caminho para a Liberdade.
Hoje, meio século depois (50 anos), a história se repete, mas agora com um dirigente negro e angolano, Dino Matross, que tal como Salazar, acredita que o seu regime está predestinado a perpetuar-se no poder, ao ameaçar, desalmadamente o derramar de sangue dos autóctones: “QUEM SE MANIFESTAR, VAI APANHAR!”. Isso, conhecendo bem a natureza deste MPLA, só tem uma interpretação: estes dirigentes não têm sentimento em relação ao nosso sofrido povo, porque para eles as nossas vidas valem menos do que a de um dos seus cães de estimação.
Dino Matross esqueceu-se de dizer porquê o actual MPLA quer violar de forma flagrante o artigo 47.º da Constituição da República de Angola (CRA) (liberdade de reunião e de manifestação), cujo texto o próprio partido no poder aprovou, impedindo que os cidadãos possam exigir mais LIBERDADE, DEMOCRACIA, MELHOR DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA, FIM DA LUTA CONTRA OS POBRES, FIM DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DOS GOVERNANTES E COMBATE CERRADO A CORRUPÇÃO.
Disse o segundo homem do MPLA, não acredito que Roberto de Almeida o faria, não haver razões para as pessoas se manifestarem, por termos saído recentemente da guerra e estar-se a reconstruir o país. MENTIRA.
Uma esmagadora maioria tem razões suficientes para se manifestar. Eu tenho razões para o fazer, porque à pala da reconstrução existe muita discriminação e enriquecimento ilícito de uns poucos. A maioria não tem justiça, pois esta está ao serviço do partido no poder. A maioria não tem uma educação e saúde condigna, enquanto os filhos do Presidente da República e dos dirigentes não estudam nem se tratam no território. Ora ao abrigo do art.º 47.º da CRA, eu e os meus filhos, com os vizinhos, alguns dos meus colegas, alunos, amigos e consofredores podemos, desarmados e pacificamente, manifestar, reivindicando MUDANÇA, face à actual política de discriminatória do regime. Este acto é legítimo, por estar constitucionalmente consagrado. Pelo contrário, o inverso: MANDAR BATER (ASSASSINAR), soltar os assassinos para investir contra populares que acreditam ou têm de se subjugar às leis que o próprio MPLA aprova, não é verdadeiro.
É um mau exemplo Dino Matross estar a seguir o exemplo do filho e de Muamar Kadafhi de terem contratado bandidos e mercenários, bem como a aviação para atirar a matar contra o seu próprio povo. Quando assim se age, não estamos na presença de dirigentes, mas de assassinos, pois é o que se diz hoje serem o líder líbio e o filho, que se querem manter no poder, pelo sangue do próprio povo.
Este MPLA tem o marco do fim da guerra, disse-o Dino Matross, como início de uma nova era, esquecendo-se que os países democráticos fazem-se ou renovam-se, a nível das projecções das suas políticas em quatro anos, período, geralmente, de um mandato eleitoral. Compare-se o que fez o Presidente da República de Angola em 8 anos e Luís Inácio Lula da Silva, em igual período no Brasil. São muitas as diferenças, para além de Lula ter realizado e disputado duas eleições, sem batotas e fraudes grosseiras, ter pago a dívida externa do Brasil ao FMI, ter aumentado o salário mínimo, reduzido o desemprego, não ter feito com dinheiro público os seus filhos e amigos do Partido dos Trabalhadores milionários e por isso saiu e bem, com uma taxa de popularidade de cerca de 80 por cento.
Por tudo isso e mais, com a sombrinha da Constituição, tenho razões para manifestar-me publicamente e reivindicar direitos que me são surripiados todos os dias, com a agravante de, desde o fim da guerra, este MPLA não ter combatido a pobreza. O MPLA COMBATE OS POBRES, partindo as suas casas, retirando os seus terrenos, afastando-os das cidades, para dar aos novos ricos, na generalidade os filhos da corte. Uma grande diferença do que fazia Robin dos Bosques, que roubava aos ricos para dar aos pobres.
Tenho razões, para me manifestar, por o regime não pagar as dívidas aos empresários angolanos, muitos, os discriminados do próprio regime, pois só eles podem ser bem sucedidos, levando-os à falência ou ao suicídio, mas beneficiar os estrangeiros ou os mais bajuladores.
Isso foi dito por alguns militantes na reunião do MPLA com os empresários do MPLA, realizada no dia 22.02, em que muitos apontaram o dedo à direcção por ela lhes ter inclusive dado dinheiro por debaixo da mesa, entenda-se, corrompido e, depois, nikles de negócio... Como não se manifestar, quando os empresários de sucesso só têm uma cor política e na maioria o seu êxito está relacionado com a locupletação do erário público? Os actuais dirigentes, que se consideravam desde o início da revolução como socialistas e proletários, enganaram todo um povo, pois transformaram-se da noite para o dia em milionários proprietários, sem terem mesmo uma lojeca para justificar os milhões nas suas contas bancárias.
E quando alguém os questiona, sob esta postura ou a dificuldade, não sendo do sistema de ter acesso a financiamentos e oportunidades o caminho é uma campanha de diabolização, a abertura de processos dos mais escabrosos, a prisão e o assassinato, uma postura, muito parecida com a recorrida por regimes declaradamente ditadores, que acreditam que a exibição da força seja a melhor receita, para se travar com as mãos, os ventos da mudança, que inevitavelmente chegarão a Angola.
Dino Matross, até chegou a ser uma referências no início da revolução, eu mesmo ao longo da minha caminhada tive-o como exemplo, mas tenho de reconhecer e confessar-lhe que esta sua declaração decepcionou-me, por ser uma ORDEM DE MORTE aos esquadrões assassinos que por 50 dólares, não se importam de atirar contra cidadãos inocentes. E é para mim mais preocupante, porque me recordo da minha estúpida prisão em 27 de Maio de 1977, por não saber se a decisão partiu só do Cajó, meu canoa do campo de São Nicolau ou de algum dirigente superior a si ligado. Esta é infelizmente parte da história negra da actual direcção do MPLA, que se mantém no poder, subindo pelos corpos de cadáveres de muitos dos seus camaradas e restante povo, inocente.
Em momentos sensíveis as grandes orientações têm de ser dadas por pessoas ponderadamente responsáveis, para não se incendiar ainda mais a pradaria. Ninguém mais, diante da pobreza e do desemprego a que está votada a maioria se deixa iludir por um “simpático dirigente”. Há quem diga mesmo que exaltar, por estas alturas, o dicionário da mentira da vigarice e da imbecilidade é mais um rastilho nos corações discriminados das grandes massas populacionais. A política tem de saber afastar os governantes incompetentes e ouvir o clamor popular ao invés de os ameaçar de morte, contrariando o refrão comunista de: O MPLA É O POVO E O POVO É O MPLA”, se assim é como mandar o povo ser batido pelas tropas? É esta postura arrogante e ameaçadora que está a destruir um país que tinha tudo para dar certo, com base nas suas populações e povos generosos e sacrificados, pese as riquezas de vária ordem no seu solo e subsolo, apenas confiados a um pequeno grupo do poder, que alimenta a corrupção, na mesma proporção que aumenta o número dos pobres. Se realmente há justiça, devem ser rigorosamente julgados todos os culpados sem omitir os governantes que se aliaram nesta senda de agravar a vida dos autóctones angolanos que não vêm outra vida de resgatar a esperança manifestando-se contra os crimes cometidos todos os dias contra os cidadãos dos nossos povos.
Angola só será um país de todos autóctones, quando novas lideranças tiverem capacidade, diante do seu mapa-vivendis, malhado por vários povos Bantus, que o habitam, discutir um PROJECTO PAÍS: saber o que somos, o que queremos e para onde vamos.
Estes pressupostos são importantes para se definir o rumo a seguir. O contrário é trilhar os mesmos carreiros do colonialismo português, que ousadamente, acreditou que seria perpétuo o seu consulado por estas terras de Nzinga e Mandume.
Estamos a viver sob novos tempos, temos uma nova ditadura no mundo a DEMOCRACIA DO PETRÓLEO. Ela é pobre, mas é a que alimenta regimes que se perpetuam no poder com a força do fuzil e que resistem a mudar o sistema político.
Por tudo isso, quando a verdadeira manifestação sair, eu vou estar lá a gritar com todas as minhas energias ciente ser um DIREITO CONSTITUCIONAL, art.º 47.º, mas sem a ingenuidade de não estar preparado para receber a bala de um dos tropas, polícias ou bandido, que recebeu bem o recado do secretário-geral do MPLA, Julião Paulo Dino Matross. Foi assim em 27 de Maio de 1977, mas no século XXI, o resultado pode não ser o mesmo. Seguramente.
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