Entre os factores em razão dos quais JES deu por ora primazia a FP Dias dos Santos, sobressai a origem umbundu (bailundo, na gíria) de P Cassoma; a sensibilidade-padrão de grupos, famílias e interesses influentes no MPLA, ainda não tolera a ideia de uma ascensão dos umbundus aos mais elevados escalões do poder.
A atitude dos referidos grupos, em geral de extracção quimbundu ou crioula, consiste em promover/demonstrar vontade de boa convivência os umbundus, mas sem enjeitar o direito que julgam seu de dominar o poder. É uma atitude alimentada por noções como as de que os umbundus são maioritários (c 40% da população) e mais solidários entre si; ainda é considerada, embora menos, a sua identificação com a UNITA.
2 . A JES é atribuída uma visão mais aberta do assunto; no seu entendimento, manifestado em ambientes recatados, a formação da nação deve ser fomentada por via de uma “harmonia sã e igual” entre quimbundus e umbundus, as duas únicas grandes tribos genuinamente nacionais (habitat situado apenas no território de Angola).
Julga, também, que as reservas/preconceitos ainda existentes em relação aos umbundus, incluindo sequelas de antigos sentimentos de desconfiança decorrentes da sua condição de “inimigos” (ligados à UNITA), são “fenómenos datados”, com tendência para se diluirem.
Um exemplo elucidativo da atitude de JES é a sua convicção pessoal, antiga, de que o Gen Sachipengo Nunda reúne predicados ideais para ser CEMG. Mas só agora (AM 417), aparenta estar de facto inclinado a nomeá-lo; julga que as reservas antes alimentadas pela sua origem umbundu e ex-UNITA já se esbateram suficientemente.
3 . A nomeação de Paulo Cassoma para o cargo de presidente da Assembleia Nacional é interpretada como sinal concludente de que JES o tem em conta como seu eventual substituto – até por ver nele um indivíduo cuja identidade combina traços de matriz umbundu e quimbundu (nascido em Luanda/progenitores umbundus).
São conhecidas a JES manifestações de nítida confiança pessoal e política em FP Dias dos Santos e em P Cassoma; conjectura-se, porém, que é a Paulo Cassoma que reconhece mais apuradas qualidades/garantias para o vir a substituir – incluindo melhor preparação geral e grande lealdade pessoal.
A nomeação de FP Dias dos Santos como vice-PR não significa, taxativamente, que será ele o substituto de JES. É agora claro que apenas em 2012 se realizarão eleições – organizadas de acordo com o modelo recém-aprovado. A personalidade a indicar então como candidato a vice-PR não é necessariamente FP Dias dos Santos – pelo facto de agora ter sido provido no cargo.
P Cassoma está apontado para um cargo de primeiro plano na hierarquia do Estado e de correspondente dignidade política e protocolar, o de presidente da Assembleia Nacional, que apresenta a vantagem de não o expor ao desgaste público – uma vantagem sobre FP Dias dos Santos, ao qual, como vice-PR caberão funções executivas mais escrutinadas.
A arrumação de poder agora encontrada para FP Dias dos Santos e P.Cassoma, reflecte também um procedimento típico em JES: alimentar rivalidades, tensões e sobreposições entre titulares do poder e instituições. No caso, perfilou ambos como seus virtuais substitutos, abrindo entre eles uma competição considerada do seu interesse.
Fonte: AfricaMonitor, nº 444, 04.Fev.2010
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1 comentários:
Muito pertinente e de profunda reflexao, este artigo.
Kandandu
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