Alguém precisa, urgentemente, de dizer a alguns analistas que fazem a apologia do MPLA e do presidente da República, que precisam de melhorar o seu discurso. Fazendo-o, ficarão em condições de prestar um melhor serviço a quem defendem.
Dói ouvir esses analistas a repetir, aos microfones da Rádio Nacional de Angola, sobretudo, sábado sim, sábado não, de cor e salteado, as posições do presidente da República, sem que alguma coisa de valioso consigam acrescentar.
É confrangedor concluir que pessoas que tenham estudado no estrangeiro, particularmente em Portugal, onde não tiveram que aprender outra língua, não sejam capazes de ir além dos «ensinamentos do camarada presidente».
Embora seja razoável que os ‹‹nossos›› analistas façam a apologia das teses do presidente da República - afinal são pessoas do mesmo partido - parece-nos, todavia, pobre, muito pobre aliás, que eles não consigam apoiar as mesmas teses usando palavras próprias. Pior do que isso é recorrerem, com demasiada frequência, de forma velada ao argumento do exercício de uma maioria parlamentar. De resto, também seria bom que esses analistas não perdessem de vista que apesar de governar com a maioria que o MPLA conseguiu em 2008, o presidente José Eduardo dos Santos tem um compromisso com todos os angolanos. Na verdade tem obrigações.
Pensar que a maioria parlamentar justifica tudo, como alguns analistas têm sugerido, ajuda a perceber algumas coisas neste país. É exactamente esta forma de pensar que faz com que a distribuição da riqueza em Angola seja feita nos termos que todos conhecemos, isto é, para uma minoria, que até já exclui filhos do próprio MPLA.
Estando quase todos eles ligados ao sistema, os nossos analistas dispõem de mais tempo de antena na comunicação social pública. Mas isso tem custos. O maior dos quais é a sua exposição ao crivo de quem se preocupa com o debate politico ou de quem procuram influenciar.
O desencanto relativamente aos ‹‹nossos›› analistas aumenta quando alguns deles se atrevem a pôr no papel o que lhes vai na cabeça.
Sendo pessoas que se vangloriam dos seus títulos académicos seria bom que se esmerassem um pouco nesta arte. Mas, sobretudo, que dependessem menos dos lugares comuns.
Finalmente, seria bom que os analistas ‹‹oficiais›› se libertassem da tentação de pretenderem dominar todas as matérias.
Não vemos que alguém consiga falar com substância sobre o que se passa em Angola, no Congo ou na Rússia. Mesmo confinando a conversa ao caso angolano, não nos parece razoável - e os debates na Rádio Nacional de Angola, sobretudo, têm provado isso - que alguém que tenha feito universidade a estudar relações internacionais possa argumentar com propriedade sobre questões constitucionais. Lamentavelmente, alguns dos analistas ‹‹oficiais›› se julgam a reincarnação do italiano Leonardi Da Vinci, que dava cartas em matérias como pintura, escultura, arquitectura, engenharia e outras.
Quando percebem que são incapazes de tocar vários instrumentos, os analistas ‹‹oficiais›› recorrem, então, ao (estafado) argumento da maioria e da razão da força. Infelizmente e em claro prejuízo de quem os ouve, esses analistas contam com o apoio de moderadores.■
SA, EDIÇÃO 355 · ANO VII, 20 de Fevereiro de 2009
2 comentários:
Infelizmente é o problema de toda a África onde os recursos financeiros ainda estam sob controlo do poder político!... os acadêmicos, intelectuais enfim, a massa crítica (oficiosa) em geral é coptada a favor de poderes vitalícios e absolutistas.
A solução é alargar a base da comunicação social independente de modo a fazer frente os meios que fazem ressonância ao poder do dia e, claro aumentar a população média através da educação, só assim as pessoas poderam pensar não de forma normativa mas racional como Humanos que somos.
É incrível a alienação desta classa nos países Áfricanos! não que podem pertencer a nenhum partido mas sejam capazes de não se abdicarem da razão assim estarão a contribuir para alimitação dos poderes, iram monstrar a desvantagem do poder vitalício e as vantagem da alternância no mesmo.
Abraços.
Bem comentado. agradeço à participação.
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