Preço da arrogância
Por Silva Candembo
O ataque perpetrado e reivindicado sexta-feira da semana passada, 8, em Cabinda, por tropas da FLEC contra a delegação do Togo, que participaria na 27.a edição do CAN´2010, tem todos os traços de um atentado terrorista. Disso sequer pode haver um pingo de dúvida, pois os supostos guerrilheiros – dois deles capturados pelas forças da ordem – deixaram passar todo o mundo e atacaram unicamente o autocarro em que se fazia transportar jogadores e oficiais da selecção do Togo.
O resultado desse deste ataque cobarde cifrou-se em dois mortos (o oficial de imprensa e o técnico adjunto, este de nacionalidade francesa). Na sequência e por ordem do seu governo, a delegação do Togo abandonou a competição contra a sua vontade, visto que jogadores e oficiais pretendiam jogar, quanto mais não fosse em memória das vítimas.
É bom, contudo, dizer que independentemente do condenável atentado, as autoridades angolanas têm um grande quinhão de culpa, na medida em que a opção da Cabinda para sede do CAN foi da todo desastrosa. Primeiro porque aquela parcela do país não tem grande tradição futebolística, além de que por altura da indicação das cidades-sedes não tinha nenhuma equipa na I Divisão nacional, o que quer dizer que em termos de futebol Cabinda era pouco mais do que um anão.
Na verdade, a quarta sede deveria ser a cidade do Huambo por tudo o que representa para o futebol nacional e até para a história recente do país – não nos esqueçamos que foi lá também onde se consolidou a parte da soberania de Angola. Além do clima ameno para a prática do futebol, o Huambo, que já na época colônia tinha “fornecido” vários emblemas campeões de Angola e no pós independência sempre deu jogadores – muitos, diga-se – à selecção nacional, sendo mesmo o terceiro maior centro desportivo do país logo depois de Luanda e de Benguela.
Por isso, nada mais natural que a cidade do Huambo fosse escolhida em detrimento do Huambo fosse escolhida em detrimento de Cabinda, que em duas ocasiões acolheu o “Afrobasbet” e numa os “Africanos” de andebol, em masculinos e femininos. De resto, a cidade-vida, como também é conhecida, dispõe de melhores infra-estruturas sociais e desportivas do que Cabinda, sendo que, por exemplo, na época colonial tinha mais campos relvados do que Luanda, a capital da província de Angola.
Quem, aliás, nos tem acompanhado desde que Angola foi indicada para acolher o CAN, sabe que essa é a nossa posição desde o princípio. Ou seja, o Huambo que no último campeonato da época colonial tinha uma equipa a liderar o campeonato de Angola – o Recreativo da Caála, ex-aequo com o os Dinizes de Salazar – deveria ser naturalmente uma das sedes do CAN, eventualmente mais até do que a própria cidade do Lubango.
Porém, “iluminadíssimas” mentes dos sistema optaram por colocar Cabinda no mapa do CAN , num critério claramente político que subjugou a vertente desportiva. Ou seja para mostrarem que todos país está sob “controlo” e que está tudo pacificado de Cabinda ao Cunene, as autoridades governamentais angolanas escolheram Cabinda para sede, deixando de fora não só o Huambo como cidade futebolisticamente mais avançadas como Namibe ou mesmo o Dundo. Só que esse lance de marketing político entrou pelo ralo e o resultado é todo desastroso, o que coloca o CAN de Angola como o único “amputado” na história de toda a competição, o que não deixa de ser vergonhoso para quem dizia a plenos pulmões que organizaria um CAN “exemplar”.
Ao levar o CAN de Cabinda, as autoridades angolanas – políticas e não desportivas – não só foram arrogantes como menosprezaram o orgulho do povo de Cabinda. Era como se o futebol resolvesse todos os problemas de cabinda,
Futebolisticamente falando, Cabinda é pouco mais do que um anão no cenário desportivo angolano. Com um estádio de apenas 20 mil lugares – número mínimo exigido pela Confederação Africana de Futebol (CAF) para estádios do CAN – e tendo o privilégio de ver dos maiores “astros” do futebol mundial, tais como Didier Drogba (Chelsea), Yaya Touré (Barcelona) e Michael Essien (Chelsea), o recinto não lotou.
Ou seja, mesmo em se tratando da ronda inaugural, aquela que geralmente desperta mais interesse aos adeptos por todo o simbolismo que encerra em si, só pouco mais de metade dos assentos do estádio do Tchiaze é que foram preenchidos.
Em contraponto, em Benguela, onde se bateram Egipto e Nigéria, todos os lugares tinham gente. 35 mil almas deram cor a uma festa que também lhes pertencia por ser efectivamente a do futebol africano, algo que Cabinda não entendeu da mesma forma.
Está, pois, claro que interesse de Cabinda é quase nenhum, visto que muitos dos que apareceram no primeiro jogo tiveram bilhetes de borla comprados pelo governo para encher o estádio.
Fonte: Semanário angolense: Edição 350, ano VII, 16 de janeiro de 2010
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