domingo, 27 de maio de 2012

O 28 e o 31 de Agosto – eis a questão



Por Justino Pinto de Andrade


1. Na sua última reunião, os conselheiros da República aconselharam o Chefe de Estado a marcar as eleições gerais para o dia 31 de Agosto, no respeito pelos “timings” definidos na actual Constituição. Recordo que este Parlamento emergiu das eleições legislativas de 2008 e os Deputados tomaram posse no dia 1 de Outubro.

2. De acordo com o Artigo 112 da Constituição, as eleições gerais deverão ter lugar até 30 dias antes de expirar o prazo do mandato do Presidente da República e dos Deputados à Assembleia Nacional, devendo ser convocadas até 90 dias antes do termo do mandato do Presidente da República e dos Deputados.

3. De um ponto de vista meramente formal, os conselheiros da República estiveram bem na sua interpretação da Lei. Porém, do ponto de vista político, desvalorizaram certas circunstâncias que acompanharam os últimos momentos políticos e que mancharam a imagem do nosso Estado, pois não levaram em conta o facto de o Conselho Superior da Magistratura Judicial ter colocado a dirigir o principal órgão de administração eleitoral – a Comissão Nacional Eleitoral – quem não reunia as condições julgadas essenciais para o ser, a Dr.ª Susana Inglês.

4. A impugnação da eleição da Dr.ª Susana Inglês, suscitada por alguns partidos políticos, foi julgada procedente pelo Tribunal Supremo, órgão de justiça que não só a invalidou como também anulou o próprio concurso público. Ficou daí subjacente a ideia de que os actos administrativos (talvez apenas alguns) praticados pelo órgão dirigido Dr.ª Susana Inglês seriam nulos ou, no mínimo, anuláveis. A verificar-se tal situação, criar-se-ia uma clara situação de excepção capaz de justificar uma concertação que pudesse relativizar os limites temporais traçados na Lei Fundamental.

5. É que a Lei Fundamental foi desenhada supondo circunstâncias normais, mas o momento que o país vive não é normal. Como vimos, ocorreu, claramente, uma circunstância extraordinária no nosso processo político.

6. Por isso, houve quem admitisse um protelamento das eleições gerais, dando-se, assim, tempo para que os actos administrativos praticados e julgados ilegais fossem expurgados e o processo político passasse a decorrer com normalidade, sem serem susceptível de suscitar suspeitas de estarmos perante uma manobra capciosa de quem detém epretende a todo o custo preservar o poder. Mas, não foi isso o que sucedeu – optou-se por seguir em frente, deixando transparecer dúvidas sobre a sinceridade política do principal actor político nacional.

7. O MPLA tomou a iniciativa de se conformar publicamente com o resultado do Acórdão do Tribunal Supremo. Quem ouviu ou leu as suas declarações ficou com a impressão de que se tratava apenas de uma questão de substituição de uma pessoa e não de uma eventual ilegitimidade dos actos praticados sob a direcção da Dr.ª Susana Inglês.

8. Ao assumir como inelutável a decisão do Supremo, o MPLA ficou logo com imagem de entidade cumpridora das leis (sobretudo, da Constituição), porém, o seu maior ganho já vinha de trás, pois já estava praticamente tudo feito e conforme ele pretendia: terminara o registo eleitoral sob o seu controlo (Ministério da Administração do Território); não se cumpriram determinadas obrigações respeitantes a esse mesmo registo; afectou-se a uma empresaconveniente a tarefa da auditoria ao ficheiro; disseminou-se «militantes certos» pelas estruturas eleitorais provinciais, municipais e comunais. Assim, seguramente e também em consequência teremos, dentro de 3 meses, e de novo, mais do mesmo …

9. Por quase coincidência, as eleições gerais terão lugar no dia 31 de Agosto, o mês dos quase carnavalescos festejos públicos para saudar o aniversário do Chefe de Estado que é também, por uma coincidência que já dura há 33 anos, presidente do MPLA.

10. É habitual que, antes e depois da data natalícia de José Eduardo dos Santos, o país fique praticamente refém de um conjunto de actos públicos alusivos e que lançam para a obscuridade mediática tudo o resto. Tem sido sempre assim, e ninguém pode dizer que estou errado.

11. Durante todo o mês de Agosto, proliferam torneios de futebol e de outras modalidades desportivas em saudação ao evento natalício, são passeadas coloridas e engalanadas, clubes desportivos que deveriam ter grande postura cívica, séria e idónea, rendem-se facilmente aos encantos do momento. Fazem mesmo lembrar os parâmetros culturais, sociais e políticos da Coreia do Norte, onde já se improvisam choros...

12. O êxtase é atingido pelos órgãos de comunicação públicos que se portam simplesmente como instrumentos de mera propaganda pessoal. Nem mesmo conseguem escapar ao ridículo alguns dignitários estrangeiros que se colocam também na fila do invariável séquito bajulador. Todos exaltam copiosamente, e de forma grandíloqua, os feitos, assim como os factos do aniversariante. Ele torna-se o «alfa» e o «beta» do princípio do mundo. Se não fosse o aniversariante com a sua sapiência e clarividência, o país seria uma aldeia e andaríamos todos de tanga ou pendurados nas árvores… É o fartai vilanagem…

13. Se nas últimas eleições legislativas era impossível distinguir quem estava a falar, se o Chefe de Estado, se o líder partidário, desta vez teremos ainda uma maior dificuldade para distinguir o aniversariante do dia 28 de Agosto do candidato do dia 31 de Agosto. Os dois dias desse mesmo mês confundir-se-ão num só e numa só pessoa. Será o milagre do tempo, em versão eduardina…

14. Eu penso que na vida tudo deve ter limites. Um dos principais limites para a política deve ser a moral e a ética. Pelo menos deveria ser assim. Mas, há quem assim não pense e muito menos pratique, pois acha que a política é o campo do vale tudo…

15. Os próximos anos, tenho a certeza, reservarão bastantes surpresas para todos os falsos democratas. E nada me espanta pois eles, afinal, mais não são do que meros sucedâneos dos grandes ditadores. ■

Semanário Angolense edição 467, 26 de maio de 2012

"27 de maio": Eunice Baptista filha de Nito Alves sai do anonimato









Trinta e cinco anos se passaram desde aquele triste, mas histórico, dia 27 de Maio de 1977. Para muitos o que ocorreu foi tentativa de golpe de Estado e para outros um contra-golpe.

Já se escreveu quase tudo sobre o "27 de maio". O que falta agora é passar a limpo esta história de forma corajosa para que se ultrapasse esse capítulo.

A grande novidade, na passagem dos 35 anos do "27 de maio" é a entrada em campo de uma das filhas de Nito Alves que ao lado de José Van-Dunem foram considerados os líderes do movimento.

Eunice Alves Bernardo Baptista concedeu uma entrevista ao Semanário Angolense edição 467, 26 de maio de 2012 e nela faz revelações interessantes sobre o que custou à família o desaparecimento do pai.

Eunice, que se o pai não desaparecesse fisicamente provavelmente seria hoje uma empresária de sucesso, confessou que desde 1977 os herdeiros e outros parentes diretos de Nito Alves têm comido do pão que o Diabo amassou.

Eunice, que está desempregada, fez também uma revelação espantosa: "a família recebe desde 2006 apenas 47 mil kwanzas (USD 470,00) do Fundo de Pensões em nome de Nito Alves, que tem a patente de brigadeiro. E mais: que alguém na caixa social das FAA chegou a dizer que até isto pode ser retirado".

Eunice, 39, foi obrigada a desistir dos estudos em 1987 (ao fim da 8.ª classe) em face dos extremos problemas financeiros por que passava a família mais directa, então constituída por ela, a mãe e a irmã mais velha.

Neste momento a "princesa" Eunice Baptista está a estudar a 10.ª classe, com «inspiração» bastante para vir a acabar o ensino «médio», após o qual espera ingressar numa faculdade de Direito, que sonha terminar, custe o que custar."

O sonho da família, segundo Eunice é saber «muito de saber onde o pai deles está enterrado, para terem o ‘privilégio’ de lá ir também depositar uma coroa de flores como acontece com os outros», principalmente no dia 2 de novembro.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Regulador anônimo de trânsito perde emprego



Há poucos dias este blog mostrou o problema que o engarramento causava num dos cruzamentos de nossa capital. >>
"Reguladores de trânsito Anônimos"<< , como mostra a foto acima.

Felizmente os problemas acabaram. Agora lá estão dois agentes regulares e o engarrafamento ficou grandemente reduzido como mostra as fotos abaixo. Parabéns.



terça-feira, 22 de maio de 2012

Torneio "giraldeia" taça de risco





Viajava de Luanda ao Sumbe um dia desses. Assim que faltavam alguns quilômetros para chegar ao Porto Amboim vi uma cena que me chamou atenção e não resisti em registrá-la: jovens (não sei quantos mas eram muitos) montados numa trimoto.

Eles fazem parte de uma equipa de futebol que participava de um torneio "giraldeia" uma réplica de "girabairro - taça do Presidente" de grandes cidades. Mas lá deve ser "giraldeia - taça de risco".

Esses jovens tinham acabado de passar por uma barreira policial numa estrada nacional que pode ser considerada "estrada da morte".

Há poucos dias um acidente numa de nossas estradas nacionais ceifou a vida de uma só vez de meia centena de almas viventes.

domingo, 20 de maio de 2012

Fim de semana marcado por manifestações

O fim de semana passado foi marcado pelas manifestações dos dois maiores partidos de Angola.




O MPLA, partido de situação (duas primeiras fotos) manifestou-se para apoiar as medidas de impacto social do executivo angolano” onde compareceram poucas centenas de populares.




A UNITA (maior partido da oposição em Angola) que reuniu milhares de cidadãos pelas ruas de Luanda e em outras cidades do país manifestou-se pela transparência eleitoral em Angola, sem maratonas de cervejas (Duas últimas fotos). Isaías Samakuva, líder da UNITA, alertou os angolanos para não se deixarem enganar nas próximas eleições.

Quem ganhou mesmo nestas manifestações foi a TPA (Televisão Pública de Angola) pela forma como cobriu as duas manifestações, simplesmente ignorou a segunda,da oposição. Parabéns !

Fonte :
1- Club-k, Imagens da actividade do MPLA na cidadela
2- Club-k Primeiras imagens da manifestação da UNITA em Luanda

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Motorista fecha a rua ao descarregar areia e complica o trânsito




Normalmente um local destinado à descarga de material de construção de um edifício que se encontra em obras é devidamente sinalizado para evitar que outras viaturas parem ou esbocem movimentos perigosos nesses locais.

Esses cuidados não foram observados numa das obras da nossa capital Luanda. O motorista carregado de areia, ao encontrar o local tomado de viaturas, incialmente conseguiu manobrar o seu caminhão até posicioná-lo onde deveria ser feito o descarregamento.

Um detalhe ele não considerou: para descarregar toda areia o caminhão precisa mover-se alguns metros para frente. E foi isso que aconteceu. Nesse caso, o esperado "aconteceu": o caminhão ficou preso entre viaturas e areia descarregada causando um enorme congestionamento por muitas horas.

Parece que há coisas que só acontecem tipicamente ou atipicamente em países com quatro estação do ano.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Os 10 anos de Mwaikibakismo no Quênia e os 10 anos de paz em Angola


Por Mário Cumandala (Economista)
15 de Maio de 2012 (Nova Iorque)

Falar de 10 anos de progresso no Quênia, sem falar da nossa década de paz, é sem dúvidas uma falta de rigor acadêmico.

Sem tentar equiparar laranja com limão, o contexto angolano, conforme postulou o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, ao assinalar no dia 4 de Abril de 2012, os 10 anos dos Acordos de Paz e da Reconciliação Nacional, rubricados solenemente em 2002 e que se pode dizer que poderiam ter permitido ao país trilhar o início de um caminho de crescimento e progressos, para uma grande maioria, isto não reflecte seu dia a dia.

Passada uma década desde a assinatura do Memorando de Paz, o Presidente da República lembrou ainda que foi no Luena que o Executivo traçou as linhas de orientação para o Programa de Reconstrução Nacional e se comprometeu com a implementação descentralizada do Orçamento Geral do Estado, através da execução dos Programas Provinciais. De resto é conversa para boi dormir, já dizia o adágio popular.

Este ano, em Agosto, o Quênia fecha as portas aos 10 anos de governacão de Kibaki. Este político que dedicou meio século de sua vida ao serviço público, irá para casa, para gozar de uma reforma bem merecida. O presidente Kibaki passará à reforma depois de servir dois termos conforme estipula a constituição do Quênia sem tentar prolongar ou mudar a constituição – que exemplo para alguns presidentes em África.

Que lições Angola e África podem aprender com saída dignificante do Presidente Kibaki? Quando em 1950, o jovem Kibaki de 19 anos, terminou o ensino médio, pretendia ingressar no King,s African Rifles ( KAR) parte do exército Britânico de elite, já que Quênia era na altura, uma colónia. Por causa da revolta dos Mau Maus, e por ser proveniente da tribo dos Kikuyus que junto os Embus, e Merus foram proibidos por Walter Coutts, governador Britânico da época para ingressarem no exército colonial, assim seus préstimos foram rejeitados.

Em 2002, 50 anos depois, este jovem, conseguiu realizar seu sonho de servir a sua pátria. Constam de sua biografia as seguintes conquistas:

1. 2007. Segundas eleições que Kibaki disputou. Os resultados foram seriamente contestados e levaram a violência política. Para satisfação de Kofi Annan que foi o mediador, os acordos de paz foram assinados e um governo de coligação foi formado com Raila Odinga como Primeiro Ministro.

2. 2005. Um referendum sobre a Carta Magna da Nação foi rejeitado, e como resultado, Kibaki dissolveu o Cabinete.

3. 2002. O partido Democrático de Kibaki forma aliança com outras forças da oposição e forma a National Rainbow Coalition e vence as eleições de Dezembro daquele ano. Mwai Kibaki inaugurado assim como o Terceiro Presidente do Quênia.

4. 1997. Kibaki foi derrotado nas eleições gerais pelo veterano Presidente Daniel Arap Moi.

5. 1991. Kibaki demite-se do seu partido KANU para formar o Partido Democrático que o possibilitou concorrer as primeiras eleições multipartidárias de 1992.

6. 1988. Kibaki foi sem explicação exonerado do posto de Vice-Presidente por Daniel Arap Moi.

7. 1978. Kenyatta morre e foi sucedido por Daniel Arap Moi e nomeia Kibaki seu Vice-Presidente.

8. 1974. Representa sua terra natal de Othaya no Parlamento.

9. 1969. Indicado como Ministro das Finanças e Comércio, posto que ocupou até 1982.

10. 1966. Serve por um tempo como Vice-Ministro das Finanças em simultâneo como presidente da Comissão de Planeamento Econômico e indicado para Ministro do Comércio.

11. 1963. Deixa a vida académica como professor da prestigiosa Universidade de Makerere em Kampala, Uganda

Este homem que se tornou no terceiro presidente do Quênia, Mwai Kibaki, o homem que assumiu a presidência em 2003 não é o mesmo homem prestes a se aposentar.

Em 2003, Mwai Kibaki, era visto como o "senhor supremo da política do Quênia". Ele era a figura do pai calmante que era esperado para gerenciar a transição do país de uma época longa e difícil dos dois primeiros presidentes para um período mais calmo da democracia e Estado de Direito. Mas pelo contrário, este tornou-se em um perito e astuto em truques políticos sujos. Hoje todo mundo concorda que ele é e foi um grande maquiavélico e mestre político. Pergunte o seu primeiro-ministro, Raila Odinga.

Agora, a corrida para o sucessor de Kibaki ja está a tomar proporções sujas. O envolvimento da "comunidade internacional" não é mais camuflada na etiqueta diplomática.

A realidade porém, sugere que a política do Quénia sempre foi caracterizada, desde a independência, em 1963 por um regime presidencialista altamente centralizado, apesar da constituição democrática multipartidária ser nominalmente respeitada. Na realidade, a KANU (sigla do nome em língua inglesa da União Nacional Africana do Quénia) foi o partido maioritário e, em 1982, a Assembléia Nacional emendou a Constituição, tornando o país monopartidário.

Este estado de coisas durou até 1991, quando a Assembléia revogou aquela disposição, mas nas eleições de 1992 e 1997, o presidente Daniel Arap Moi e a KANU mantiveram, respectivamente as posições presidencial e de maioria no Parlamento.

Em 2002, Mwai Kibaki - apoiado pela coligação NARC - tornou-se no primeiro candidato presidencial da oposição a vencer uma eleição no país desde a independência. A sua coligação manteve-se coesa graças às promessas de reformas constitucionais e às garantias de Kibaki de que iria nomear representantes de todos os grupos étnicos principais do Quénia para lugares importantes.

A sua negligência em cumprir estas promessas depois das eleições causaram vários focos de tensão, incluindo a saída do LDP da coligação. Além disso, vozes importantes do KANU - e em particular Uhuru Kenyatta, filho do primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta - ganharam popularidade. (Tudo é possível sem Kibaki, era o slogan desse descontentamento, mas o partido ganhou apenas 29% do voto popular e Kenyatta apenas 31% dos votos para o cargo de Presidente.

A seguir a esta derrota, a KANU dividiu-se em duas facções, uma delas, liderada por Uhuru Kenyatta, uniu-se ao Partido Liberal Democrático do Quénia (PLD), para formar o ODM-Kenya (sigla de Movimento Democrático Laranja), enquanto a KANU ficou numericamente enfraquecida. Em Setembro de 2007, Kenyatta anunciou que não iria candidatar-se de novo à presidência e apoiaria a reeleição de Kibaki provocando nova cisão no ODM. O novo Movimento Laranja, ou Orange Democratic Movement Party of Kenya, agora liderado por Raila Odinga, anteriormente do PLD, concorreu às eleições de Dezembro de 2007, tendo ganho a maior bancada do Parlamento, mas não vendo o seu lugar na presidência confirmado pelas autoridades do escrutínio .

Apesar das eleições terem sido consideradas fraudulentas por muitos observadores e os resultados mostrarem uma divisão étnica do voto, Kibaki negou as alegações de fraude e, a 8 de Janeiro de 2008, nomeou o seu novo gabinete que, surpreendentemente, inclui Uhuru Kenyatta como “Minister for Local Government” (Ministro para o Governo Local). Odinga, convocou manifestações que levaram a um banho de sangue, com mais de 1000 mortos e 250 mil deslocados.

Depois de uma longa campanha de mediação presidida pelo antigo Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan (na qual também participou Graça Machel) e duma visita-relâmpago do actual, Ban Ki-Moon, Kibaki e Odinga concordaram em assinar, a 28 de Fevereiro de 2008, um acordo denominado “National Accord and Reconciliation Act” ("Acordo sobre a Nação e a Reconciliação"), que inclui a formação dum governo de coligação e a nomeação de Odinga como Primeiro-Ministro, com poderes executivos.

A Acta de Aposentadoria e Benefícios do Presidente.

Para muitos Quenianos, o terceiro presidente do país lhes deixa com muitas memórias. Até porque o pacote de sua reforma demonstra este carinho.

Depois de 10 anos como Presidente, ele vai para sua reforma como verdadeiro pai da nação. Para recompensar os 50 anos de serviço a nação e de acordo com a Acta dos benefícios aprovada em 2003, Kibaki passa a reforma com 38 staff, 12 entre eles parte de sua segurança pessoal, um palácio de 6 milhões de dólares com uma pista e helipade.

Ainda de acordo com a mesma acta, o ex-presidente ainda tem direito a espaço de escritório pago pelo estado e que não passe de 1000 m2 com toda mobília e equipamentos, entretenimento mês, usd 2,500, manutenção da casa usd 3,600, 3,600 agua e luz, 2,500 combustível. Para cuidar de sua saúde, esposa, um seguro local e internacional será pago pelo estado a uma empresa provedora de seguro de saúde. Ele tera um passaporte diplomático automático, ajuda de custos para viajar no exterior 4 vezes por ano desde que não passe de 14 dias cada.

Terá 4 carros novos, divididos entre dois SUVs e dois limusines a serem substituídos em cada 3 anos. Receberá um pagamento único de gratidão de usd 201,000 e um pagamento anual de usd 144,000 para o resto de sua vida. O catch – um ex-presidente nunca poderá liderar um partido político por mais de 6 meses. Finalmente, espera-se que o ex-presidente exerça um papel de Consultor e Conselheiro do Governo e do povo Queniano. Com tudo isso, o Presidente Kibaki poderá sim acordar no dia depois da saída do palácio como um homem realizado. Que exemplo a seguir...

Kibabikinomics, e o novo termo léxico no dicionário Queniano, que descreve as políticas econômicas de Kibaki. Alguns créditos a sua política econômica:

1. Kibaki durante os 10 anos de seu governo, deixa para futuras gerações o projecto Nairobi- Thika superhigway que liga a capital e a cidade industrial de Thika e que considerado o primeiro passo para se ligar a Grande estrada do Norte para a Etiópia.

2. Tambem durante estes 10 anos Kibaki ampliou Mombosa- Nairobi Highway, aumentou as fronteiras da Capital, Nairobi, aumentou a presença de instituições diplomáticas na capital, O PIB melhorou consideravelmente, o FDI também aumentou com mais de uma dezena de multinacionais a tornarem Nairobi seu HQ.

Kibaki como Acadêmico, surpreendeu a todos, mesmo quando seus conselheiros duvidavam de sua determinação, ele conseguiu fazer com a provisão da educação primaria fosse gratuita em todo pais. Esta decisão significou um acréscimo de mais 1 milhão de alunos novos entre eles o a falecido Kimani Maruge, o estudante primário mais velho do mundo que se matriculou na primeira classe na idade de 84 anos. Assim as matriculas do ensino primário com esta nova política de Kibaki, subiram para 6 milhões de novos alunos em 2002 para 10 milhões em 2011. Mesmo para aqueles que não vivem de números como eu, estes são comida para qualquer pessoa ainda com humanidade nela--. Hoje no Quênia, as matriculas para o ensino secundário já rondam na casa dos 72%.

Foi por causa deste feito extra-ordinário, que Bil Clinton, um outro ex-presidente de dois termos, quando foi interpelado numa entrevista televisiva em 2004 sobre quem é a pessoa que ele gostaria de conhecer pessoalmente, ele disse sem reservas, Kibaki, e ele acrescentou: “Eu gostaria de encontrar-me com o novo Presidente de Quênia, porque ele acabou com o pagamento de propinas para crianças pobres e 1 milhão de extra de alunos apresentou-se a escola”.

Kibaki como Diplomata

Um dos grandes desafios que seu governo experimenta ainda até hoje, e a segurança marítima, que ameaçam os sectores de turismo e comercio marítimo. Kibaki tornou-se assim no primeiro Presidente a mandar as Forças de Defesa Queniana ( KDF) além fronteiras para a Somália.

Ainda outro feito de grande relevância foi o facto de ser ele a defender a implementação do EAC Common Market Protocol, para facilitar a livre circulação de mao de obra, bens, serviços e pessoas.

Finalmente, se notou, nada disse para contrastar os 10 de Kibaki no Quênia e os 10 de paz em Angola. Isto porque acredito que existe uma grande oportunidade para os historiadores olharem para os arquivos do Governo angolano nos passados 10 anos, para melhor compreensão do fenômeno Eduadismo.

Esta apreciação passa por analises profundas como argumentado recentemente pelo Dr. Abel Chivukuvuku, Presidente do CASA-CE ao criticar a estrutura do relatório do governo que qualificou de “propositadamente atabalhoada”, acrescentando que a desarrumação tem por propósito , “ confundir a opinião pública e esconder insuficiências”.

Estas insuficiências do Eduardismo, a meu ver, devem e precisarão ser desafiadas em Setembro, para também mandarmos o Eduardismo para uma reforma condigna a exemplo do Quênia.

Nota final: a aposentadoria do Presidente Kibaki é Constitucional, mas a derrota nas urnas não significa aposentadoria do presidente cessante (por isso em África ninguém quer esta via de deixar o poder), como tal não esperem por um Setembro sem maquiavelismo.

Aqui a esta a semelhança principal entre Quênia e Angola.

Intolerância gratuita

Um curioso acidente de viação, que serviria de estopim a um sério caso de intolerância, manchou neste último fim-de-semana o nosso panorama político, tendo como palco a província de Benguela, onde o sangue voltou a jorrar de forma gratuita, havendo a lamentar a morte de um cidadão, ferimentos de outros e prejuízos materiais nada desprezíveis.

A fazer fé em distintos relatos da comunicação social, o incidente teve lugar no troço Lobito- Bocoio, depois de uma viatura pertencente à empresa de telefonia móvel UNITEL ter colidido mortalmente com um motociclista que participava numa marcha política de apoio ao partido do Galo Negro.

Indignados, ao que consta, alguns militantes do maior partido da oposição decidiram, em jeito de retaliação, fazer justiça pelas próprias mãos, incendiando o veículo envolvido no sinistro e agredido o condutor do referido meio rolante, assim como a sua esposa.

Há relatos de que dois padres que passavam pelo e que nada tinham a ver com o assunto acabaram também por ser alvos de agressão por parte dos irados manifestantes.

Correram também notícias tristes de um recontro entre os manifestantes e dois agentes da polícia que se deslocaram ao local do sinistro, tendo disso resultado o ferimento destes, assim como a detenção de populares e responsáveis do partido liderado por Isaías Samakuva.

À primeira vista, pareceu tratar-se de um mero acidente rodoviário, mais um dos muitos que acontecem um pouco por todo país. Mas, no fundo, o contexto em que ele ocorreu, embora não envolvesse directamentemilitantes ou apoiantes das duas principais formações políticas do país, força-nos a concluir que foi a latente rivalidade entre uns e outros que acabou por induzir à violência que se seguiu, com laivos de intolerância política, se bem que por culpas dos apoiantes do Galo Negro, agora não mais na pele de vítimas, como gostam de se apresentar, mas sim como os iniciadores.

Uma análise aos acontecimentos permite-nos afirmar que os militantes do Galo Negro tiveram uma reacção a quente, sem medirem bem as consequências das suas acções, numa altura em que deviam primar pela ponderação e pelo pragmatismo, porque, em socorro da verdade, nenhum direito lhes assistia para fazerem justiça pelas próprias mãos, mesmo partindo do hipotético pressuposto de que o motorista envolvido no acidente fosse militante de uma outra formação política que não a UNITA. Ninguém, seja ele quem for, está autorizado a ser juiz em causa própria, salvo nos casos tipificados por lei, como sendo os de legítima defesa e do estado de necessidade.

Se a reacção dos militantes do Galo Negro é condenável, não menos condenável é a postura de alguns órgãos de comunicação social, sobretudo públicos, que, ao reportarem os acontecimentos, focalizaram as suas atenções sobre a viatura queimada, ignorando pura e simplesmente a existência de um morto que, afinal, esteve na origem dos tristes acontecimentos.

Daí a necessidade dos actores políticos, militantes e simpatizantes dos partidos políticos, órgãos de comunicação social, quer públicos quer privados, privilegiarem, em vésperas de mais um pleito eleitoral, a cultura da tolerância, do respeito mútuo e da convivência na diferença.

A não ser assim, corre-se o risco de se assistir a uma espiral de violência, quando a campanha eleitoral atingir o rubro, da qual se pode esperar consequências trágicas para todos, o que é, desde já, indesejável por todas as pessoas de bem, que, acreditamos, serão a maioria deste povo. Por isso, há que se conter os ânimos mais exacerbados, não importa de que partido venha.

Fonte: SA, EDIÇÃO 465 · ANO VII, Sábado, 05 de Maio de 2012. (Carta ao leitor)

Os perigos de conduzir em estado de fadiga

Conduzir uma viatura em estado de fadiga (cansaço) pode ser fatal, porque o motorista pode adormecer mesmo estando com os olhos abertos. Um exemplo disso é o que ocorre com frequência nas madrugadas de domingo em Luanda onde acidentes incríveis têm-se registrado.

É verdade que alguns são motivados pelo efeito do álcool; entretanto outros têm as digitais da fadiga, principalmente depois de uma “noitada” ou de um dia de trabalho.

Normalmente os horários críticos para acidentes por fadiga são as madrugadas ou meio da tarde quando os motoristas perdem concentração devido ao “efeito hipnótico”, prestam pouca atenção nas condições do tráfego, têm pouco tempo de reacção tornando-se em motoristas perigosos, podendo despistar-se com facilidade principalmente em longas jornadas.

Os especialistas recomendam que o motorista não use remédios, não tome bebida alcoólica nem café porque os seus os efeitos, que põem o motorista em estado de alerta, são efêmeros. O melhor mesmo é passar o bastão adiante ou melhor o volante e ficar no banco de trás ou parar e descansar.

Para minimizar os efeitos da fadiga o motorista deve garantir a circulação do ar no interior da viatura ou ligar o ar condicionado, não conduzir em horários que normalmente deveria estar descansando e, finalmente, parar por alguns minutos para esticar as pernas a cada duas horas.

Ref.
Healthbridge

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Reguladores de trânsito anônimos

O engarrafamento causa estresse e poluição. Há poucos dias um desses congestinamentos monstruoso aconteceu numa das ruas de Luanda que possui grande quantidade de veículos. Uma solução caseira surgiu naturalmente em Luanda para minimizar os engarrafamentos: agentes reguladores anônimos.

Normalmente um cidadão qualquer, muitas vezes com sua garrafa de cerveja na mão, põe-se a orientar os motoristas para que desfaçam o "nó" por eles feito.

A sequência mostra de um desses agentes reguladores anônimos.

O autocarro (onibus) tenta avançar para fechar por completo o cruzamento.
De repente... surge o nosso corajoso agente regulador anônimo.
Convence o motorista do autocarro a recuar um pouco. Consegue uma pequena abertura. Sinaliza para que os veículos passem rapidamente.
E lá vamos todos atravessando. São pessoas que não são remuneradas para tal e curioso é que suas orientações são respeitadas e obedecidas por todos. Notem que ele se posiciona bem diante do autocarro. Parece disposto a dar a vida pela causa que defende. Se cada um der o seu melhor construiremos um grande país.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Os efeitos das propagandas de cervejas e outras bebidas alcoólicas em Angola





O número de usuários de bebidas alcoólicas vem crescendo assustadoramente em Angola. Por exemplo, em 1994 Angola produzia 180 mil hectolitros de cerveja por ano e hoje produz mais de 7,5 milhões, além da importada.

Os adolescentes, jovens, mulheres e velhos, segundo Wagner Paulon, “encontraram no álcool um passaporte para a alegria, a felicidade, o sucesso, a conquista, uma forma de relaxar, de se divertir, de amar melhor, de se relacionar e ser super-homem”. No entanto, isso já vem preocupando a muitos educadores.

Há poucos dias, o sociólogo angolano Adérito Manuel alertou “para a urgente necessidade das autoridades do país fazerem um estudo profundo, a fim de se apurar em que nível a juventude angolana se encontra no tocante ao consumo de álcool”.

A cervejaria Cuca justifica o aumento exponencial da bebida afirmando que se deve ao elevado calor que se registra em nosso país e por ser constituído, essencialmente, de jovens. As bebidas, que têm venda livre em Angola, estão presentes em todas ocasiões até em velórios. Ficar bêbado entre nós está a ficar na moda, principalmente entre os jovens e mulheres seguindo ao pé da letra a música dos Kalibrados: "Bebo na minha custa (dinheiro é meu, é meu (... ) O verdadeiro angolano é aquele que sabe beber...(eu chupo até perder as pernas...não bebo gasosa fechei contrato com alcool... Vou continuar a chupar, vou continuar a chilar. O limite é o chão”.

Enquanto esperamos pelos resultados de estudos para se entender esse fenómeno, eu saí a campo e identifiquei um dos incentivadores do consumo de bebidas alcoólicas: a propaganda.




As peças publicitárias relacionam insistentemente a cerveja com lindas mulheres, atletas ou erotismo. Tudo indica que as pessoas se identificam com este marketing da indústria de bebidas mesmo sabendo que estimula comportamento de risco como: dependência, suicídios, homicídios, acidentes rodoviários, vandalismo, aumento da gravidez, apologia à traição, divórcios etc.










Ainda, segundo segundo Wagner Paulon “Os jovens se esquecem ou ignoram que ao se embriagarem freqüentemente podem vir, mais cedo ou mais tarde, a apresentar seqüelas que afetam o cérebro, o comportamento, a psique, o fígado, o estômago, e indiscutivelmente à potência sexual”. Por outras palavras: o álcool é uma droga e leva à morte.

As mulheres angolanas deveriam “incomodarem-se, manifestarem-se” por serem tratadas como objetos comerciais.

Uma das prováveis soluções seria o governo baixar resoluções rígidas que restrinjam a veiculação das publicidades de cerveja (em determinados horários e espaços) e investir em medidas educativas em oposição a essas propagandas. Os partidos políticos, algumas igrejas deveriam se abster em disponibilizar em seus eventos as bebidas alcoólicas.

Já está comprovado que propagandas podem induzir facilmente crianças e adolescentes. Além disso, vale salientar que as mensagens subliminares das propagandas são nefastas. Seria interessante se elas fossem feitas conforme são as de cigarros em muitos países: “beba, mas você poderá apresentar impotência” ou então, “você poderá ter cirrose hepática”, por exemplo. É isso ai: retratar a futura realidade de quem a consome. A isso chamaria de propaganda criativa.

Segue-se uma sequência de principais peças estampadas nos nossos "outdoors"
































segunda-feira, 7 de maio de 2012

Consumo irregular de água levantado por este blog é sanado

Antes

Recentemente (14/04/2012) este blog postou uma nota intitulada  « A falta de água potável pode pôr em risco a saúde de muitos luandenses” (http://www.cangue.blogspot.fr/2012/04/falta-de-agua-potavel-pode-por-em-risco.html),), não demorou  para que as autoridades competentes colocassem fim ao vazamento de água que saía de uma falha de uma conduta e era aproveitada pela população da redondeza para consumo, como ilustra a foto acima.

Depois

Resta  parabenizar aos que atenderam ao apelo deste blog em benefício saúde da população.

Detalhe da operação

A província de Benguela possui "praias seguras" de Angola


Há poucos dias visitei Lobito, Benguela e Baia farta. Uma coisa comum que encontrei nas praias dessas cidades é a aplicação de um projeto denominado “praias seguras de Angola - PSA”.


Esse projeto, que parece ser pioneiro no país, visa garantir praias limpas, dar proteção contra afogamentos, combater o consumo excessivo de bebidas alcoólicas nas paias e a sua promoção  ao turismo interno e externo.

O projeto é executado por mergulhadores e nadadores-salvadores do Serviço nacional de proteção Civil e Bombeiros de Benguela e por voluntários.

Foram montados torres de vigia fixas de apoio balnear, com apoio de motos-de-água o que garante a rapidez em termos de salvamento, além das pranchas de salvamento, viaturas, varas de seis metros para socorro à beira-mar e kit de primeiros socorros.

Segundo fontes contatadas cerca de 200 pessoas foram resgatadas nos últimos 3 meses na província de Benguela.

Vale lembrar que anualmente Angola registra nas suas praias a morte de cerca de 600 pessoas.