O nosso país precisa urgente de um salvador da pátria. Alguma coisa precisa ser feita, em Angola, para impedir o avanço da síndrome de Estocolmo que está acometendo a muitos de nossos irmãos.
Relembremos um pouco. No ano de 1973, ocorreu uma tentativa frustrada de assalto ao Kreditbanken em Norrmalmstor, em Estocolmo (Suécia), que resultou, após troca de tiros com a polícia, em quatro reféns, sendo três mulheres. O seqüestro demorou uma semana, tendo terminado no dia 28 de agosto. Para a surpresa de todos, os reféns desenvolveram uma relação afetiva com os bandidos. As vítimas passaram a defender ardentemente os sequestradores, negando que eles estivessem errados. Isso ficou conhecido como síndrome de Estocolmo.
Eu não sei se Freud explicaria essa síndrome, mas especialistas consideram-na um distúrbio psicológico no qual as vítimas, sem que tenham consciência disso, por medo de retaliações, se identificam com os carrascos na esperança de não sofrerem mal deles.
Nós também temos pessoas com a “síndrome de Estocolmo” político, ou melhor, “sindrome camarada”. Eu poderia citar vários casos, mas vou ficar num caso divulgado recentemente. Lembram daquele artigo “O MPLA sempre foi especialista em destruir a oposição”?. Pois bem. De lá extrai o seguinte trecho:
“... Um homem com cerca de 30 anos, que pediu para não ser identificado, explicou porque irá votar no actual Presidente: “Roubou-nos tanto, que deve estar cansado de roubar. Não nos pode tirar mais nada. Mas se vier alguém novo para o poder, essa pessoa vai sentir-se obrigada a encher os bolsos como fez o seu antecessor, o que significa que perderemos.”
Um outro jovem questionou: “Porquê votar em alguém que não tem os mesmos recursos financeiros que o partido no poder e o actual Presidente? Além disso, todos sabemos que a oposição é financiada com o dinheiro do MPLA. Se votarmos noutro partido, estaremos a votar no MPLA....”.
A lista não termina por aí. Conheço alguém que tem dito: antes votar num mal conhecido que um bem desconhecido.
O partido no poder tem ser mesmo rico porque possui empresas. Fala-se em mais de 30 empresas. Há meses uma noticia estampada em “Moçambique para todos” informava: “Empresa do MPLA «tomou de assalto» gestão da Rádio Comercial de Cabinda”.
Na sua notícia de 18 de outubro de 2002 a BBC informou que “FMI detectou desvio de US$ 1 bilhão nas contas de Angola”. Essa notícia também foi confirmada pela Human Rights Watch. Em quatro anos, segundo esse relatório, foram desviado 4 bilhões de dólares. E em 8 anos? Pois bem.
Vamos fazer alguns cálculos básicos, bem por baixo. Fiquemos somente naquilo que foi desviado durante 4 anos. Se eu discutir 10 ou mais anos, há um sério risco de um alguém entrar em colapso. Com US$ 4 bilhão, no livre brasileiro, eu compraria 228,6 toneladas de ouro. Talvez seja difícil imaginar tanto ouro assim.
Peguemos um caso mais prático. Você já teve a oportunidade de visitar o novo campus universitário da Universidade Católica, lá na comuna de Palanca, em Kilamba Kiaxi? Lindo por sinal. Aquelas salas podem atender 9 mil alunos. Lá você encontra salas de administração e muito mais. Pois bem. Com US$ 4 bilhões, daria para se construir mais de 296 campi semelhantes, com material importado de primeira linha. Como temos, em Angola, ainda 164 municípios, assim, cada um ficaria com, aproximadamente, 2 campi. Dessa forma teríamos vagas para atender mais de 2,7 milhões de angolanos. Se considerássemos apenas escolas do ensino fundamental e médio, teríamos mais escolas construídas, naturalmente.
Analisemos uma das partes tristes. Nós temos um contingente de 58% de analfabetos, em média, onde 72 por cento são mulheres, segundo dados oficiais. Se considerarmos por província, a situação é mais crítica no Cuanza Sul, Benguela, Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango, onde o analfabetismo chega a 70 por cento.
Estima-se que 800 mil crianças em idade escolar ainda se encontram fora do sistema de ensino. Em Benguela, a título de exemplo, no ano de 2006, perto de 80 mil crianças ficaram fora do sistema de ensino, em face da insuficiência de salas de aulas. Notem que Benguela ainda é província muito protegida. Ela recebe muitos investimentos, quando comparada com as demais.
Na Huila, a situação é caótica. Muitas crianças estudam debaixo de árvores !. É verdade! No Cunene, segundo dados oficiais, 20 mil alunos estão fora do sistema de ensino devido à falta de professores e salas de aulas. Enquanto isso, “4 bi” estão a desaparecer.
O que está sendo feito pela educação no país? Quantos meninos andam perambulando pelas ruas? Estamos presenciando um Estado que se transformou em uma teta. O Estado virou um negócio de família ou de amigos. Poucos mamam dela. Aliás, mamar nem deve ocorrer com coisas públicas. O Estado anda mais preocupado em satisfazer a vontade de grupos econômicos e não do povo.
Ninguém se importa conosco? Ninguém se importa com filhos dos mais humildes? Nós somos reféns. Estamos numa luta muito desigual. De um lado os demônios infiltrados no aparelho do Estado e do outro os pobrezinhos, aquele rapaz de 30 anos, lembram? O governo não faz nada. O país está andando para trás. O tempo passa. Há pessoas com vontade de estudar. O tempo vai passando e nada acontece. A conseqüência natural é o indivíduo desistir de seus sonhos e engrossar as estatísticas dos frustrados.
Uma coisa que não entendo. Por que os homens que estão no poder não querem sair de lá? Ninguém renuncia, ninguém... Parece até que ser uma herança. Acredito que eles riem-se de nós. Estão a ficar rico e daqui a 30 anos quando o país ficar uma lata de lixo, eles não estarão nem se lixando para nós. Ninguém leva nada a sério. E as eleições? Daqui a pouco se darão conta que algo não está certo. A solução será adiar novamente. Nós somos azarados.
Será que a população percebe isso? A corrupção cresce a cada dia. Ninguém é punido. O que me assusta é que os homens não gostam de administrar. A capital está parada. A cidade de Luanda está a ser sucateada. O trânsito está uma maravilha devido a excesso de buracos e de engarrafamentos. Está circulando pela internet um “e-mail” com o título “Cuidado com as Fossas em Luanda...esta é a realidade”. É impressionante ver fotos de carros engolidos por uma fossa perto de uma igreja. É incrível.
O povo precisa de moradia. Um aluguel de dois dormitórios na Mutamba passou de US$ 500 dólares por mês, para um valor superior a 3 mil dólares? Nem por U$ 500 dólares eu pagaria. O povo já está a ficar deprimido e estressado. (Já está na hora de construirmos uma nova capital).
O momento é muito delicado. Depois de 22 de Fevereiro de 2002 a democratização do país retrocedeu e muito.
Outro aspecto é digno de registro. Por não terem investido na educação, o resultado aí está: a cada dia que passa a criminalidade aumenta. Hoje tudo exige qualificação. Até um simples funcionário de limpeza precisa falar inglês, ter especialização etc.. O que acontece que aquela criança que estuda debaixo de árvore lá na Huila? Ir a Luanda, claro.
Onde andam os filhos deles? Nas melhores universidades do mundo. De Jeeps de gama. Quando resolvem ficar em Angola, nem precisam fazer provas de seleção. O próprio diretor é obrigado a levar aquela lista e o pessoal da banca tem que engolir. O que fazer? A pessoa honesta fica humilhada.
Eles estão a nos humilhar. O pior é que muitos já estão se acostumando com a essa falta de respeito que eles promovem. Há um cheiro de ditadura no ar. Vivemos só de mentiras. Eles mentem como querem. Já soa verdadeiro.
A nossa democracia nascente está a se transformar num verdadeiro carnaval. Estamos perdidos. Nesse carnaval, o mais perigoso é que o futuro de muitas crianças está a ser mutilado. Quantas Joanas andam precisando de ajuda médica, de um emprego, de uma moradia, de matricular seu filho na escola?
A guerra que o país atravessou não justifica o desvio anual de 1 bilhão de dólares. Um coitadinho, sem assistência médica, sem escola para seus filhos, desempregado, aquele que toma “chá com chá”, come uma vez por dia e três por semana, a mulher fugiu de casa, a filha com AIDS, estufa o peito e diz: “they´re the best”.
Em 1994, Lula afirmou: “Eleitor que vota em ladrão não tem direito a reclamar. Rico está certo de votar em rico. Agora, pobre votar em rico, ou o rico é muito esperto, ou o pobre é muito besta.
Nós estamos diante de um fenômeno inexplicável. Um verdadeiro paradoxo. O dinheiro que deveria ser investido na educação, na saúde, no saneamento básico, desaparece. O povo vive abaixo da linha de pobreza. Não há vagas no sistema educacional. Saúde, nem se fala. Aquele moço de 30 anos ainda acha que os seqüestradores de Estocolmo são os melhores? Temos que levar esse camarada para um “exorcismo”.
Eu fico feliz porque essa não é a posição de angolanos atentos. Por exemplo, na semana passada vi o presidente Samakuva, da UNITA, fazendo visita ao Kuanza Sul. Isso é bom demais para ser verdadeiro, um Político visitar o povo, as bases, conhecendo os problemas que lhes fustigam. Ele está ressuscitar um costume que desapareceu com a morte de Agostinho Neto. O povo, para muitos é uma simples paisagem. Samakuva disse que no seu governo ele iria construir escolas. Isso é verdadeiro demais para ser bom. Porque com menos de 1 bilhão conseguirá sim.
Por outro lado, quem não se lembra daqueles meninos do PADEPA, que vira e mexe são detidos por uma crítica que fazem ou aquelas barulhentas manifestações autorizadas ou não, isso quando eles não vão até a uma embaixada com algum tipo de pedido? São danieis que não se prostam, mesmo que lhes custem a prisam, normalmente de oito deles. Nesses meninos a síndrome de Estocolmo também não pega.
Aos demais, acho que é chegado o momento de tirarmos as vendas dos olhos. Aliás na semana passada foi noticiado que vários camaradas, que conseguiram enxergar o óbvio, principalmente sobre a má governação e desvio de dinheiro público, começaram a ter vergonha na cara e passaram a se comportar como verdadeiros cidadãos, sem a síndrome de Estocolmo. O importante é separar o trigo do jóio. O MPLA vai ficar. Devemos é afastar os psicopatas que se aproveitam do partido para benefício próprio.
Que sejam perdoados que têm a síndrome de Estocolmo, aqueles que gostariam estudar, serem doutores, mas não há vagas para eles porque o dinheiro ficou nos paraíso fiscais, ou quando conseguem a vaga, não há políticas de ações firmativas ou por falta de dinheiro para as mensalidade etc., aqueles que saíram de casa hoje e não fizeram o desjejum, nem sabem se jantarão, porque eles não sabem o que fazem; abençoados sejam aqueles que são inumes a esse mal.
«Síndrome de estocolmo faz vítimas em Angola»
Feliciano J. R. Cangüe
em 02 de Maio de 2007
Fonte: Club-k.net
0 comentários:
Postar um comentário