Pode até ser que venha a ocorrer. Mas o que está em jogo é a disputa do segundo turno das eleições presidenciais entre Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal.
Não sei se já notaram que quando se fala em França, normalmente, de forma clássica, nos condiciona o sentimento de “liberdade, igualdade e fraternidade”, ou seja, a Revolução Francesa, cuja característica principal foi a de ter realizado a unidade nacional do país por meio da destruição do regime senhorial e das ordens feudais privilegiadas?
Pois bem. Em todos os lados sopram ventos da renovação. Os ventos de liberdade. O que é liberdade? Não é uma tarefa simples definir o que é liberdade. Mais importa vivenciá-la. Nada melhor que acordar e levantar as mãos ao alto e saber que é livre. Viver honestamente do suor do seu trabalho, ter seus direitos e deveres respeitados e, o mais importante, estar em plena sanidade do estado psicológico. (A pior doença é a psicológica).
Na verdade ser livre não isenta ninguém de ter certas angústias. No entanto, a repressão, segundo comprovado pelos psicólogos, dá origem a distúrbios neurológicos, inibições, dificuldades de pensamentos. Isso ocorre devido aos pensamentos e afetos que se refere aos desejos que nutrimos contra as pessoas que nos governam (nos humilham), os arrogantes que não respeitam a opinião dos cidadãos, que querem ver a auto-estima da nação em baixa e a deles em alta.
Isso já incomodava Tiradentes (1746-1792). Por isso ele defendia a “liberdade, ainda que tarde”. É dele o pensamento: “Se todos quisessem, faríamos deste país uma grande nação”. E isso não é difícil. É só quebrar barreira que separa os dois lados. É só fazer um bom governo.
No entanto, o conceito de governo ainda causa confusão na mente de muitas pessoas. Governar não é dominar, não é instalar o mandonismo unipessoal. Não é negar o acesso à educação, emprego, saúde, saneamento básico e infraestruturas a ninguém. Não é fugir da Adrastéia. Não é se apegar ao poder. Muitos trabalhos científicos acreditam que o apego ao poder, muitas vezes, é procurar refúgio na capa da imunidade devido ao “atrocitatem faccinoris”
Governar é estar do lado dos pobres. Os pobres precisam de uma forte mão amiga do Estado. Todo bom governante deve seguir a orientação de “carta de Puebla” que diz que todo bom governante tem que ficar próximo do povo, saindo de seu gabinete para que entenda a real necessidade da população.
É isso que leva à construção de um país mais justo, igualitário e fraterno. Isso deve nortear nossas atividades. “Che” quando afirmou “Hay que endurecer sin perder la ternura, jamás” ele não estava incentivando a violência, mas a defesa da liberdade onde ela não é sentida.
Nunca é tarde para ser livre. Para que isso aconteça precisamos abandonar o que existe de velho em nós: as velhas opiniões, idéias, convicções, preconceitos, enfim. Caso contrário, continuaremos a ser um depósito de anos velhos, acumulados, uma unidade estática. Qualquer um de nós pode dar o seu grito de liberdade, desde que dê um passo para frente, e ir “mais além”. Quando criança, provavelmente, o grito de liberdade é comprar uma bicicleta; quando adolescente, talvez seja casar; mas só existe um que é universal: o da revolução Francesa, por exemplo.
Numa perspectiva psicodinâmica, as “revoluções francesas” só ocorreram quando, movidos por poderosas forças internas, pessoas “unidas como um só homem” em torno de um ideal, saíram para as ruas para dar um basta à espantosa estupidez, à seqüência de erros, à doenças que acometia seus países, a de dirigentes que só falavam em governar, quando poucos ou nenhum partido assumia para si a responsabilidade de mudanças, quando políticos se submetiam aos ditames de um ditador, quando ninguém mais agüentava ser assaltado pelos políticos, quando o problema do país passou a ser a paralisia burocrática, exceto a rapidez de estar na frente das negociatas, quando a corrupção atacava de mãos dadas, quando o desvio era norma, quando havia desrespeito ao interesse coletivo, quando o debate político foi silenciado, quando do funcionamento do poder silenciador na prática política, não se conseguia melhorar a vida social, a democracia passou a ser usada para perpetuar no poder os oportunistas, o povo começou a perder a perspectiva de grandeza, o poder passou a ser centralizado para facilitar as manobras, quando o país foi unificado pelo horror da desesperança, quando os inescrupulosos começaram a dizer que só eles eram os melhores, quando, quando, quando... pimbas. Ninguém mais agüentou... Aí o povo unido se mobilizou para mudar as estruturas. De quem é a culpa, do povo?
Nunca ninguém venceu o povo unido. No Brasil, o ex-presidente Collor foi para casa mais cedo devido ao movimento dos estudantes. Os “caras pintadas” deram seu grito de liberdade, mesmo tarde. O Alberto Fugimori, o nipônico ex-presidente peruano (ele nasceu no navio quando seus pais japoneses fugiam do Japão, mas registrado peruano), que desviou, somente, 15 milhões de dólares e cometeu violações aos direitos humanos, que comprava deputados (eles ficavam caladinhos como se nada estivesse acontecendo) e entregou todo patrimônio às empresas americanas e japoneses teve a mesma sorte. Não agüentou a pressão popular. Hoje está preso.
Manifestação pública humilha qualquer um. Imagine a seguinte cena. Você é diretor de uma multinacional e convida seus amigos para a sua casa. Eles encontram seus filhos e esposa com cartazes: fora você. Fora o bêbado. Fora o mulherengo. Precisa falar o resto?
Na vida tudo é transitório. Na época em que a Espanha era o poder dirigente do mundo os também arrogantes dirigentes daquela época, gravaram em sua moeda: “Nec plus ultra”, que significava “nada mais além”. Com isso se pretendia dizer, se alguém visse a Espanha, nada mais havia para ver. Tinha atingido os limites da terra.
Porém, quando Cristóvão Colombo descobriu o novo continente e deu o seu grito de liberdade, a Espanha foi obrigada a mudar a inscrição cunhada na moeda para “plus ultra” que quer dizer “mais além”. Je vous salut mes amis.
«Ainda que tarde, liberdade»
Feliciano J. R. Cangüe
em 4 de Maio de 2007
Fonte: Club-k.net
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