É próprio da natureza humana que, depois de certa idade, as pessoas tendem a ser mais conservadoras. Daí a importância de mesclar a experiência com a ousadia. Não basta crer que o mundo irá melhorar se o agente transformador estiver na arquibancada.
Se alguém lhe fizer a seguinte pergunta: quais serão os cidadãos que irão protagonizar a cena política em 2015? Qual seria a sua resposta? Ou poderia fazer outra pergunta: quantos políticos jovens foram revelados nos últimos 10 anos? Se essa mesma pergunta for feita a qualquer cidadão brasileiro, prontamente poderá apontar o jovem governador de Minas Gerais, o Aécio Neves, o prefeito de Curitiba, Beto Richa, o Deputado Federal António Carlos Magalhães Neto, Prefeito de São Paulo, o Gilberto Kassab, assim por diante.
A política é um jogo futebol. Um campeonato se faz com a participação de muitas equipes. Vence sempre o melhor. Não o campeão que organiza o torneio e só o faz quando tem certeza que voltará a ganhá-lo, mas uma federação, independente e com poderes. Toda temperada, novos talentos precisam ser revelados e outros precisam deixar as quatro linhas, mesmo contra sua vontade. O que seria do Brasil se até hoje só tivesse Pelé jogando com a camisa 10 da seleção brasileira? Pelé saiu de cena, mas não perdeu majestade. Ninguém fez lembrar ao Edson Arantes do Nascimento de que estava na hora de parar de jogar. Usou o bom senso, mesmo que seus colegas do Santos pedissem para continuar. Ele já perdeu o números de vezes que venceu o "Prémio Mo Ibrahim" de bom jogador.
Em 1982, na copa da Espanha, o Brasil montou uma das seleções mais lembradas até hoje: Falcão, Sócrates, Zico, Paulo Isidoro, Toninho Cerezo e outros. O país não cruzou os braços. Novos talentos foram revelados. Entre eles o jovem chamado Dunga, o capitão do tetra nos Estados Unidos. Hoje é técnico da seleção canarinho. Isso para não falar de Romário, que ontem foi investido como técnico do Vasco da Gama, Rivaldo, Ronaldinhos, Robinho e Kaká. O Brasil deve ser o único país que pode formar 10 seleções e a décima ainda consegue manter o mesmo desempenho da primeira.
Não sei o que seria se a seleção angolana de Futebol ainda fosse composta pelos seguintes jogadores: Napoleão, André, Garcia, Fusso, Daniel, Ndunguidi, Bavi, Jesus, Eduardo Machado, Ndongala, Vissy etc.
A relutância em injetar sangue novo na liderança do país talvez justifique a lengalenga, ou melhor, molengalenga para as mudanças. O país levou cinco anos para preparar a eleição. Agora os organizadores e também jogadores estão a reafirmar, mesmo timidamente, que as legislativas devem ocorrer no próximo ano. Daqui a cinco meses, provavelmente anunciarão a data. As presidenciais, é bom esquecer. Os partidos terão tempo hábil para atender a toda logística que uma eleição dessa magnitude exige, se as eleições foram anunciadas dois meses antes de sua realização?
Há países pobres em recursos naturais, mas pelo fato de aproveitarem bem seus recursos humanos, hoje são verdadeiros impérios. Os velhos não olham somente para si próprios. Olham para o bem da nação. Normalmente são países democráticos. Os melhores grupos são os que estão no poder. Seus dirigentes não são protegidos pela absoluta ignorância do povo. A democracia não é usada para a perpetuação no poder de muitos velhacos. Nesses casos, a participação da juventude revitaliza e dá outra dinâmica nos processos de mudanças.
Regimes autoritários, no entanto, conforme mostra a história, não suportam lideranças juniores. Não querem correr o risco de o jovem dirigente chegar perto da fronteira de ignorância dos “mais velhos”.
Um caso que começa a preocupar, atualmente, é a Venezuela. Anteontem, o congresso venezuelano votou pela possibilidade de reeleições múltiplas de Hugo Chaves, que há pouco tempo visitou Luanda. Foi Chaves que certa vez chamou Bush de “El Diablo” em plena Assembléia Geral das Nações Unidas. Não irá demorar muito para que Chaves, que com freqüência visita o comandante Fidel Castro, em Cuba, se transforme em candidato natural e insubstituível a todas as eleições daquele país sul-americano. Com tanto tempo que deverá ficar no poder, é muito provável que venha, se vier, a ser substituído pelo seu filho, seu irmão ou esposa como normalmente acontece nesses casos. O poder se transforma numa herança familiar.
A imprensa de lá já está a deixar de ser livre. Há plano secreto para asfixiar a imprensa a imprensa privada. Chaves não tolera crítica. O que impressiona é o fato de Chaves, com freqüência, se encontrar com o corintiano Lula, presidente brasileiro, do PT (Partido dos Trabalhadores), também de escola socialista, mas do país que vive um cenário de plenitude democrática,. Não adianta, não aprende nada de democracia, nem mesmo preparar novas lideranças.
Isso é exemplo claro de que freqüentar estádios para assistir jogos, mesmo por vários anos, não faz ninguém de jogador, mas o exercício constante. Isso também não ocorre eternamente. Não adianta endireitar pau que nasce torto. Por isso que digo que inovar é preciso, ou melhor, renovar é preciso.
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