O dueto entre economia e educação já esta tomando corpo em Angola. Esta realidade para não dizer novidade, galvanizou minha atenção para reflectir um pouco sobre este tema. Tudo isso porque a recente decisão da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto sobre não admitir alunos para uma segunda licenciatura, não passou para mim de uma medida miópica. Esta decisão demonstra o lado económico do sistema todo. Por consequente, o primeiro passo do sistema educacional ter sido mal estruturado.
E é sobre o apoio disponibilizado pela educação à sociedade capitalista globalizada, bem como os desafios que disso se depreendem, que tratarei a seguir.
Já dizia o grande educador e psicólogo Howard Gardener que “se você pensa que a educação é cara, tenta estimar o custo da ignorância”.
Olhando para os índices de analfabetismos em Angola, parece ser o mais correcto oferecer educação gratuita dos cinco anos ate ao ensino médio. E ensino superior, porque deve ser gratuito?
Em Angola temos o sistema público, agora espalhado por toda Angola oferecendo educação que pode ser considerada gratuita. Isto porque os estudantes que acedam ao sistema público, não precisam experimentar a dor de cabeça das propinas, que as universidades privadas cobram com penas severas em caso de atraso.
O valor da educação ou formação, se torna assim cada vez mais relevante na luta de hoje contra a recessão global. Portanto, intensificada está assim também a competição. Por causa disso, também os custos da educação estão a galopar como vimos nos últimos protestos no Reino Unido.
Uma coisa é verdade, “free education” ou educação gratuita em Angola, devem respeitar o valor intrínseco do conhecimento e das ideias, sem discriminar seu valor subjectivo no mercado de trabalho. Deve ser sobre a busca do conhecimento per si, que em contra partida, será para o enriquecimento do indivíduo e da sociedade.
Assim é que este princípio, se torna numa autêntica anti-tese da agenda neo-liberal, que vê educação universitária como uma fábrica de licenciados, para o benefício das grandes empresas, que por seu turno, buscam sempre reestruturar o currículo universitário para as prioridades dos “big business”.
A comercialização e a comodificação da educação, pode levar um pais a prioritisar sílabas e áreas de estudo que por sua natureza, apresentam mais valor acrescido as grandes empresas ou sectores, em detrimento de outras, não importando seu valor para a sociedade.
Por uma ilusão de ensino, os licenciados são muitas vezes equipados somente com certos “skills” e conhecimentos, que são mais procurados pelos empregadores, em detrimento do seu intelecto e desenvolvimento pessoal. Ate porque por causa disso, muitas vezes a distorção chega ate para áreas críticas como pesquisa médica e cientifica para conquistar o sector privado.
Falar de uma educação universitária gratuita, e falar de um sistema educacional democrático, onde os educandos e os docentes, podem ter algum controle significativo sobre as decisões afectando o ensino universitário. Isto mais é do que a democracia de migalhas, que muitas instituições educacional em Angola oferecem através das grémios dos estudantes “ Student Unions” .
Vivermos num mundo altamente globalizado, tornando-se imperativo criticamente postular, a partir do enfoque educacional e económico, como processo de aceitação, rejeição e adaptação dos sujeitos sociais no mundo globalizado acontecem. Tentarei também dar uma contextualização da relação da Economia com a Educação, em um breve corte histórico, tomando como base para esta reflexão o Taylorismo e o Fordismo e suas implicações sócio-educacionais para países em desenvolvimento como Angola.
Ao invés de situacionar o lugar e importância desta grande e nova teoria, gostaria de realmente responder a grande questão: O que na verdade globaliza o nosso mundo educacional?
A resposta pode não ser uniforme. Isto porque na sociedade contemporânea, capitalista e neoliberal, o que globaliza o mundo são as relações económicas e, muitas vezes de dominação, entre as nações ricas e pobres em recursos humanos como a nossa Angola.
Mas não qualquer relação económica e sim uma que conte, entre seus factores de maior relevância, com o suporte técnico-educacional a altura de suas necessidades. Assim, a educação está para o mundo globalizado como a obra ‘Investigações sobre a natureza e a causa das riquezas das nações’, de Adam Smith, está para a criação de um novo perfil de empresariado capitalista no século XVIII, ou seja, a Educação actua como uma das ferramentas mais úteis ao actual modelo capitalista de que Angola e parte. Esta é a verdade a que nosso sistema educacional precisa reflectir.
A opção que a mais de dois séculos, o ocidente fez, em fazer da educação uma das ferramentas do futuro, agora já no nosso presente alcunhada de economia de mercado ou capitalismo, esta muito forte. Esta, levou também ao actual desenvolvimento bélico e tecnológico para se manterem no poder e impor seu modo de vida (‘way of life’) ao mundo de hoje ou na aldeia global” como sendo o melhor dos modos.
A probabilidade de emprego para um jovem Angolano saído da Universidade Agostinho Neto, MIT, Harvard, Wharton, London Scholl of Economics, Oxford ou Cambridge e 100%. Por outro lado um jovem licenciado pela Universidade Independente de Angola pode ainda passar pelo deserto do desemprego. Não que esta instituição não tenham a seu dispor o brilho e relevância de um sistema de ensino superior de ponta, mas e uma questão de liga, localização e idade.
E quando nos impõem esse modo de educação e conhecimentos, o ocidente com seu sistema de ensino, impõe também o modelo educacional e cultural a ser seguido, mesmo que em alguns casos essa imposição seja indirecta. Vejamos que indirectamente preferimos o formado em Coimbra versus na Patrice Lumumba, a verdade que se diga.
Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794) dizia que “nada se cria, mas sim tudo se transforma”. Essa máxima do século XVIII continua válida para a conjuntura global actual no que tange alguns daqueles que são aspectos vitais da sociedade desde o mais remoto estado das civilizações, quais sejam, a Educação e a Economia. Elas, depois de formuladas, simplesmente não se recriam, mas apenas se transformam em algo que, mesmo parecendo novo, traz em si muito do processo anterior à sua nova configuração, dando, aos mais atentos, a impressão de que nada novo há debaixo do sol.
Nós, economistas e admiradores de Adam Smith, o pai da economia moderna, sabemos que este viveu no XVII, mas suas teorias, como a da “mão invisível” ainda são tema de actualidade, sobretudo depois da última crise económica que o mundo viveu. O que seria suicídio profissional, se um engenheiro de informática por exemplo buscasse nas teorias de programação dos primeiro computadores da IBM para programar um computador hoje de ultima geração da Dell.
E neste aspecto que deve-se deduzir, que a educação esta a transformar-se cada vez mais em uma educação escolar que reproduz pura e simplesmente os interesses sociais da minoria dominante em detrimento da maioria dominada, e nisto, a Economia ganhou uma importância como em nenhum outro momento da história.
Certamente, assim como a revolução tecnológica do século XIX teve como base o Taylorismo e o Fordismo. Com essa revolução, o capitalismo passou por uma reestruturação de seu modelo produtivo, privilegiando princípios hierárquicos e piramidais de autoridade. Também ficou intensificada ainda mais, a divisão de trabalho entre os que pensam a produção e os que a executam na prática.
Nesse contexto, no campo da educação conforme pude compreender, ganha força a corrente tecnicista, que e a sistematização das ideias do Taylorismo para a educação, com a aptidão para a submissão sendo mais exaltada que os conteúdos culturais. Por isso a falta de originalidade em cadeiras que se ensinam em Angola pode criar uma classe de tecnocratas deficientes em termos de sua identidade cultural.
Conhecer todas as teorias económicas de Milton Friedman ou George Lucas, ambos economistas de renome e americanos, e não conhecer teorias económicas de Ghandi, é para um absurdo educacional que Angola pode evitar.
Para entender a conjuntura actual de transformações econômico-educacionais, é necessário ter uma visão macro-social, pois é numa intenção de abrangência não só dominante, mas também totalizante que trabalha o sistema capitalista. Corrobora com essa prática capitalista, posto que estão intimamente unidos, a revolução tecnológica acima citada que provoca um processo de aceitação/rejeição/adaptação dos sujeitos sociais ao modelo social e não o seu contrário.
Resistir e fútil. Assim e que se torna imperativo adaptar-se, e é isso mesmo adaptação urgente. Sobre esse processo de adaptação ou não dos seres ao meio em que vivem já nos falava Charles Robert Darwin (1809-1882) em seu livro ‘On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life’ (Sobre a origem das espécies através da selecção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida) ou simplesmente ‘A Origem das Espécies’, no qual ele propõe a teoria de que os organismos vivos evoluem gradualmente através da selecção natural, exactamente como prega o neoliberalismo em que o mundo não é de todos e para todos, mas apenas dos mais aptos ao pensamento e desenvolvimento mercadológico da vida.
Será que se pode dizer o mesmo sobre a educação em Angola? Estamos nos adaptando ou as diversas políticas educacionais estão criando resistência que no final vão prejudicar os futuros quadros desta jovem nação?
Hoje, lamentavelmente, em Angola, o educador e o estudante, são uma classe socialmente desprivilegiada. O professor era na era colonial, o Educador que retirava as pessoas das trevas e da ignorância. Hoje ele muitas vezes, não se vê motivado em fazê-lo.
Salário do educador, atrasa sempre, custos de transporte para o serviço sempre a subirem, alunos sem civismo, país ou encarregados trungungueiros, (há professores do ensino do primeiro ciclo que apanham dos encarregados de educação). Como se não bastasse, há alunos que vem a escola ou universidades com o ultimo carro e roupa da grife. Não há justiça social.
Contudo, é bom deixar clara que no campo econômico-educacional, mesmo o neoliberalismo que apregoa que o Estado deve ter uma interferência mínima (senão nula) na economia, isto não priva o mesmo de fortalecer o seu sistema educacional.
Portanto, devemos primar por um sistema educacional que defenda que a escola exista para uma formação social, entendida como educação crítica reflexiva, e não para uma formatação social, entendida como educação tecnicista submissiva.
Não e fácil escrever sobre um tema como educação e economia, tudo o que quis apresentar é uma forma panorâmica dos encontros e desencontros entre educação, política, economia e a nossa sociedade angolana que já é bastante dinâmica, mutante e impregnada com a nossa realidade.
Assim sendo, julgo ser necessário, passar do anúncio e denúncia de uma visão do mundo que privilegia o capitalismo neoliberal e exclusor para a legítima implementação filosófico-ideológica-governamental que já ocorrem em modelos (sociais, político e educacionais) como alternativos ao capitalismo.
Basta olhar na Venezuela de Hugo Chavez, Cuba, de Fidel Castro e na Bolívia de Evo Morales, isso para citar apenas exemplos latino-americanos e, assim, ajudar a romper com o pensamento eurocêntrico da história da educação e da economia.
O único investimento seguro que Angola pode oferecer aos nossos filhos, é a educação. Por isso chega de experimentos com a nossa juventude. Vamos construir um sistema nosso como alternativa ao capitalismo.
Luanda, 23/02/2011
2 comentários:
A fascinating paper.
I love reading your writing
I got a lot of input
thanks and encouragement to keep writing.
Ecxelente analisis!!!
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