Sucessão presidencial...
o factor étnico
Bem analisado, José Eduardo dos Santos baralhou tanto os naipes que ele próprio pode cair na teia que foi tecendo. Os casos de Paulo Kassoma, Roberto de Almeida e Fernando Dias dos Santos «Nandó» têm reminiscências étnicas que colocam desafios e ameaças ao ainda Presidente da República.
Se por uma qualquer das sua insondáveis razões, JES se abstivesse de Zenu e Manuel Vicente e quisesse apenas contar com esse trio para efeitos da sucessão, teria em Paulo Kassoma a oportunidade para fazer um avanço histórico em Angola, colocando pela primeira vez na Presidência da República um ovimbundu.
Este é o desafio. A velha lógica que tem privilegiado a colocação de personalidades kimbundu nos principais órgãos da hierarquia do Estado mantém-se de pé, mas já é bastante contestada em muitos círculos. Olhando para o cenário existente, a lógica só é quebrada no Tribunal Constitucional, cuja titularidade recaiu sobre um mestiço.
Para muitos, tendo chegado aonde chegou, Kassoma pode ser um instrumento à mão para o virar do jogo. É originário da maioria étnica e tem folha de serviço, esta mesma que o catapultou de Governador da Província do Huambo para primeiro-ministro.
Joga a favor de Kassoma o facto de presentemente não haver no Bureau Político do MPLA alguém que não seja kimbundu melhor posicionado do que ele. O primeiro- ministro é um ovimbundu, diga- se, mais tolerável que João Baptista Kussumua, por exemplo, apesar deste ter mesmo nascido no Sul. O nome de Kussumua vem muitas vezes à liça sempre que se alvitra a passagem de testemunho a alguém do Sul. Neste caso, a estratégia cogitada passa sempre pela ideia de optar por um pseudo-ovimbundu, ou seja, alguém originário dessa etnia mas que tenha nascido fora, como é o caso de Paulo Kassoma.
Acresce que JES também não tem no seu viveiro, o Palácio da Cidade Alta, quem possa fazer esse papel de fiel de balança étnica. São todos jovens que o «Kremlin» nun-ca aceitaria. JES precisaria de mais tempo para rodá-los, algo que já está a fazer com a nomeação para o Palácio de gente proveniente da sede do MPLA.
Mas depois das cogitações em torno de Kassoma, começam as ameaças. Como é que a ala cate-tense havia de gerir uma situação como essa? É pouco crível que ten-do em Roberto de Almeida uma oportunidade de regressar à ribal-ta depois da morte de Agostinho Neto, ela aceitasse ficar simples-mente de mãos cruzadas vendo um kimbundu entrar e ocupar os aposentos sacralizados do Palácio da Cidade Alta.
Sobrinho de Agostinho Neto, o actual vice-presidente do MPLA pertence à ala conservadora do partido de cuja pureza ideológica já foi o guardião, além de ter sido a segunda figura da hierarquia do Estado na condição de presidente da Assembleia Nacional.
Por outro lado, também não se está a ver Nandó a não torcer o na-riz a semelhante cenário. Assim, ou Kassoma vai para a Assembleia Nacional e Nandó fica com a vice- presidência. Ou Kassoma passa à vice-presidência e Nandó mantém- se. Mas neste caso Roberto de Al-meida continuaria a ser um bicudo problema.
Só JES saberá deslindar este in-trincado novelo que foi ele mesmo quem teceu. ■
Fonte: SA, Edição 335 , 26 de Setembro de 2009
o factor étnico
Bem analisado, José Eduardo dos Santos baralhou tanto os naipes que ele próprio pode cair na teia que foi tecendo. Os casos de Paulo Kassoma, Roberto de Almeida e Fernando Dias dos Santos «Nandó» têm reminiscências étnicas que colocam desafios e ameaças ao ainda Presidente da República.
Se por uma qualquer das sua insondáveis razões, JES se abstivesse de Zenu e Manuel Vicente e quisesse apenas contar com esse trio para efeitos da sucessão, teria em Paulo Kassoma a oportunidade para fazer um avanço histórico em Angola, colocando pela primeira vez na Presidência da República um ovimbundu.
Este é o desafio. A velha lógica que tem privilegiado a colocação de personalidades kimbundu nos principais órgãos da hierarquia do Estado mantém-se de pé, mas já é bastante contestada em muitos círculos. Olhando para o cenário existente, a lógica só é quebrada no Tribunal Constitucional, cuja titularidade recaiu sobre um mestiço.
Para muitos, tendo chegado aonde chegou, Kassoma pode ser um instrumento à mão para o virar do jogo. É originário da maioria étnica e tem folha de serviço, esta mesma que o catapultou de Governador da Província do Huambo para primeiro-ministro.
Joga a favor de Kassoma o facto de presentemente não haver no Bureau Político do MPLA alguém que não seja kimbundu melhor posicionado do que ele. O primeiro- ministro é um ovimbundu, diga- se, mais tolerável que João Baptista Kussumua, por exemplo, apesar deste ter mesmo nascido no Sul. O nome de Kussumua vem muitas vezes à liça sempre que se alvitra a passagem de testemunho a alguém do Sul. Neste caso, a estratégia cogitada passa sempre pela ideia de optar por um pseudo-ovimbundu, ou seja, alguém originário dessa etnia mas que tenha nascido fora, como é o caso de Paulo Kassoma.
Acresce que JES também não tem no seu viveiro, o Palácio da Cidade Alta, quem possa fazer esse papel de fiel de balança étnica. São todos jovens que o «Kremlin» nun-ca aceitaria. JES precisaria de mais tempo para rodá-los, algo que já está a fazer com a nomeação para o Palácio de gente proveniente da sede do MPLA.
Mas depois das cogitações em torno de Kassoma, começam as ameaças. Como é que a ala cate-tense havia de gerir uma situação como essa? É pouco crível que ten-do em Roberto de Almeida uma oportunidade de regressar à ribal-ta depois da morte de Agostinho Neto, ela aceitasse ficar simples-mente de mãos cruzadas vendo um kimbundu entrar e ocupar os aposentos sacralizados do Palácio da Cidade Alta.
Sobrinho de Agostinho Neto, o actual vice-presidente do MPLA pertence à ala conservadora do partido de cuja pureza ideológica já foi o guardião, além de ter sido a segunda figura da hierarquia do Estado na condição de presidente da Assembleia Nacional.
Por outro lado, também não se está a ver Nandó a não torcer o na-riz a semelhante cenário. Assim, ou Kassoma vai para a Assembleia Nacional e Nandó fica com a vice- presidência. Ou Kassoma passa à vice-presidência e Nandó mantém- se. Mas neste caso Roberto de Al-meida continuaria a ser um bicudo problema.
Só JES saberá deslindar este in-trincado novelo que foi ele mesmo quem teceu. ■
Fonte: SA, Edição 335 , 26 de Setembro de 2009
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