"Empresas enfrentam o desafio de participar da “globalização africana” em regiões onde o forte crescimento econômico contrasta com a miséria e a corrupção"
A cena é o símbolo da escalada do fluxo de investimentos que está fazendo surgir uma África globalizada. Países como Rússia, China e Índia investem como nunca nos países do continente, percebendo ali uma classe média emergente com poder de compra cada vez mais alto para consumir produtos industrializados, bens e serviços.
Mesmo em ritmo mais lento, brasileiros também avançam neste mercado promissor e colhem os frutos dos negócios com o continente-irmão. O arquiteto Manoel Dória, do escritório de arquitetura Dória Lopes Fiúza Arquitetos ciados, com sede em Curitiba, é quem assina o projeto de um complexo multiuso com shopping center, hotel e torre residencial em Luanda, capital de Angola, a ser inaugurado em 2010. Depois de sofrer mais de 25 anos com uma guerra civil sangrenta, Angola atravessa desde 2002 uma explosão de investimento na área de infra-estrutura, reconstrução e mercado imobiliário.
O primeiro empreendimento abriu as portas para novos negócios. O escritório já trabalha em outro projeto para condomínios horizontais de alto padrão na periferia da capital, e também faz estudos para condomínios de uso comercial e residencial no centro da cidade – uma tentativa de valorizar a região, que está degradada.
“Atuar lá assusta um pouco. Os contrastes africanos são muito grandes: de um lado a cidade sendo reconstruída com grandes empreendimentos, do outro a miséria que é grande e ainda existe, com pessoas passando fome e sem ter onde morar”, conta Dória.
Corrupção é freqüente do lado de lá do Atlântico
Além dos laços culturais e da alta competitividade empresarial, uma outra “vantagem competitiva” nada abonadora pode ser decisiva para o sucesso do brasileiro no mercado africano: o “know-how” em corrupção ativa. É o que diz a coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná, Vanessa Tagliari.
Para ela, a triste realidade nacional, em que ainda perduram as vantagens políticas e a falta de cumprimento das leis, é mais próxima do funcionamento da economia africana do que o ambiente empresarial dos países desenvolvidos. “Os concorrentes brasileiros do primeiro mundo têm atuando sobre eles leis severas contra corrupção ativa”, afirma Vanessa, que também aponta a inexistência de barreiras diplomáticas, sanitárias e comerciais como fator de estímulo para o comércio entre o Brasil e os países africanos.
Um empresário brasileiro que atua no continente afirma que o ambiente de negócios africano é um assunto delicado. “É preciso saber trilhar os caminhos. Os órgãos públicos criam entraves e dificuldades para obter vantagens. Aí, a experiência no mercado brasileiro ajuda”, avalia. “Quem tem competitividade tem facilidade de desenvolver novos projetos, mas é preciso ter os ‘canais’ e parceiros que dão suporte na legislação local para superar os entraves burocráticos”, completa. (ACN)
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