A Longa Marcha de Jonas Savimbi começou a 8 de Fevereiro de 1976, no dia em que a guerra civil de Angola terminou de facto. Isto aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, que fora o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores. Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA.
No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso (Luena - Moxico)
Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...
Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha. Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade. Morreram cerca de 50 pessoas.
Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.
A coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo, na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico. Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizou uma evacuação calma. Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater».
Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste.
Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar. Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios.
O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA. A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo, proferido por Savimbi, que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.
Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.
Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março.
Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho. Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola.
A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros. Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque. Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu.
Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda. A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha. Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.
A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.
A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos.... Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo.
Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.
Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada. O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido.
Decorrido um mês, a coluna chegou a Sandona, uma antiga base da UNITA no vale do Lungué-Bungo. Aí foram feitos os preparativos para uma conferência de quatro dias, com o objectivo de avaliar a situação da UNITA e fazer planos para o futuro. N’Zau Puna foi reunir-se a Savimbi, juntamente com os soldados que o secretário-geral levara para a região de Serpa Pinto. Savimbi enviara-lhe uma ordem, no sentido de este tentar reunir-se a Smart Chata, perto do Muié, na zona da base alternativa. Puna, porém, não tinha conseguido atravessar o rio Cuíto, entre Serpa Pinto e o Muié, tendo, em vez disso, tomado o rumo do Norte para se reunir a Savimbi.
A Conferência, no seu último dia, 10 de Maio, emitiu o «Manifesto do Rio Cuanza», no qual a UNITA se comprometia a não desistir nunca de combater o MPLA, Cuba e a União Soviética. Quando o Manifesto chegou ao conhecimento do mundo exterior, via Lusaka, foi completamente ignorado pelas agências internacionais de notícias, que tinham presumido... que a guerra civil chegara ao fim.
Para a UNITA, a Conferência de Sandona constituiu um verdadeiro ponto de viragem. Vieram civis oriundos das regiões situadas ao longo do Caminho de Ferro de Benguela: cerca de 2.000 guerrilheiros, que tinham ficado para trás, nas zonas do Huambo e do Bié, também se puseram a caminho da Conferência. Para esta gente, o encontro com o seu líder era muito importante. Os panfletos e as emissões radiofónicas do MPLA diziam que Savimbi estava morto ou que tinha fugido para o estrangeiro com a família. Diziam que Puna fora apanhado e executado. No Lobito, outrora um centro de apoio à UNITA, realizara-se um cortejo fúnebre com três caixões, identificados como sendo os de Savimbi, Chiwale e Puna.
Muitos dos soldados que se dirigiam a Sandona estavam profundamente desmoralizados. Até então não tinham tido uma ideia concreta do que se estava a passar, mas, quando tomaram consciência de que Savimbi estava vivo, ganharam novo ânimo e determinação para lutar.
De Sandona, Savimbi ordenou a cerca de 2.000 guerrilheiros que se dispersassem para oeste e nordeste, nas zonas rurais, à volta do Lobito, da Cela e da Bela Vista, a fim de dar inicio às operações de guerrilha. Ele próprio tencionava tomar o rumo do Sul, dirigindo-se ao Muié, com um grupo de 900 homens, para poder operar a partir do acampamento que estava a ser preparado por Smart Chata. Antes de partir, porém, Savimbi queria percorrer as aldeias na região do Lungué-Bungo, de modo a poder explicar à população o que estava a acontecer e exortá-la a continuar a luta.
Imediatamente após a Conferência, Savimbi e o seu grupo pessoal, formado por cerca de 1.000 pessoas, avançou alguns quilómetros para norte, a fim de visitar uma aldeia chamada Samasseka. Aqui recebeu informações, através da rádio, de que os cubanos estavam a movimentar-se com o objectivo de cercar a região do Lungué-Bungo. As colunas avançavam para oeste, a partir de Gago Coutinho, e para sul, a partir do Munhango, numa operação militar de grande envergadura. À medida que estas colunas militares progrediam, iam deixando ficar patrulhas de reconhecimento em vários postos, ao longo dos 500 quilómetros de estrada de terra vermelha, entre Munhango e Gago Coutinho, que ladeavam o sul e o oeste da área do Lungué-Bungo. Para norte, as tropas cubanas e do MPLA tomaram posições ao longo da via férrea. Esta rápida distribuição de tropas foi executada em três dias.
No dia 21 de Maio, de manhã, Savimbi e os seus companheiros ouviram o barulho distante de tiroteio, a nordeste de Samasseka, onde os guerrilheiros da UNITA tinham encontrado uma patrulha do MPLA. Às 8 horas, dois MIG-21 e três aviões pesados Antonov-26 começaram a bombardear a mata, na zona onde se encontrava o posto de rádio de Savimbi, a cerca de meia hora de marcha, a norte de Samasseka. Um dos Antonov disparou as metralhadoras em leque, a partir de um alçapão no bojo do avião. Uma outra posição de rádio da UNITA, quase a 100 quilómetros para sul, informou ter sido também alvejada, às 6 horas da manhã.
Não morreu ninguém durante os bombardeamentos. Savimbi, porém, chegou à conclusão, depois destes ataques às áreas específicas dos seus postos de rádio, que os cubanos tinham controlado as mensagens transmitidas e tomado como alvo, para bombardeio de precisão, as suas posições de transmissões.
Savimbi ordenou ao seu próprio grupo que iniciasse uma marcha rápida, assim que o bombardeamento a Samasseka terminasse. O caminho natural a seguir seria avançar rumo ao Sul, longe da linha férrea, mas informações fornecidas pelos camponeses e pelos próprios batedores de Savimbi revelavam que as patrulhas, a pé, dos cubanos e do MPLA eram numerosas e seguiam nessa direcção. Mais colunas de tropas mercenárias cubanas e catanguesas estavam a espalhar-se a partir do Munhango, para montar emboscadas à população que se deslocava em direcção a Oeste e ao Sul, depois da Conferência. Por isso mesmo, Savimbi tomou o rumo do Leste.
À medida que a coluna de Savimbi avançava, nos dias que se seguiram, chegaram mensagens dizendo que grande parte da população da UNITA, incluindo dois comandantes superiores, tinham morrido nas emboscadas feitas pelos cubanos, catangueses e tropas do MPLA.
Nos dias subsequentes, a coluna de Savimbi não parou, de noite e de dia, a não ser para breves momentos de descanso. Os que o seguiam estavam a receber a mais espantosa lição sobre a arte de sobrevivência da guerrilha. Savimbi instruía-os, em cada período de descanso, e movimentava-se constantemente ao longo de toda a coluna, explicando-lhes o que deviam fazer.
Primeiro teriam de marchar rapidamente, muito mais depressa, aliás, do que o inimigo pudesse imaginar que fosse possível.
Segundo, não deveriam deixar sequer um único rasto que pudesse ser facilmente descoberto, pelos pisteiros do MPLA. Tinham de empenhar todos os esforços no sentido de confundir os seus próprios perseguidores. Na maior parte das vezes, depois dos seus períodos de descanso, durante mais de dez ou quinze minutos, a coluna voltava para trás sobre os seus próprios passos. Quando voltava a tomar a direcção certa, toda a gente se espalhava por uma frente ampla, numa extensão de um ou dois quilómetros, antes de se reunir, outra vez, numa única coluna. Em Samasseka, juntou-se à coluna uma manada de cerca de 60 cabeças de gado, para fornecer carne fresca durante a marcha. Savimbi instruiu o condutor do gado no sentido de o utilizar para cobrir o rasto dos guerrilheiros. Avançando em círculos através das matas, a coluna da UNITA voltava a pisar os seus próprios rastos e também os dos seus perseguidores.
Terceiro, tinham de caminhar o mais silenciosamente possível. ‘Havia crianças na coluna. Quando saímos de Samasseka, elas choravam frequentemente, mas a tensão era tão grande que, passado pouco tempo, deixaram de chorar. Depois disso, o facto mais singular é que não voltaram a chorar durante a marcha’.
Quarto, tinham de se camuflar e desfazer-se, cada vez mais, dos seus haveres. Toda a gente levava uma protecção de galhos finos e folhas sobre a cabeça e pelos ombros. As mulheres que envergavam vestidos claros tiveram de os despir.
Quinto, era essencial observar uma disciplina rígida. Savimbi insistiu que quando se desfizessem das suas coisas elas não podiam ser enterradas ao acaso. Todos fizeram os seus embrulhos e obtiveram ajuda daqueles que sabiam ler, para colocar, dentro deles, tiras de papel, com os nomes e as listas do respectivo conteúdo. Em seguida, era aberto um buraco e construída uma plataforma baixa, no fundo. Eram espalhadas cinzas, nas bases dos quatro postes que sustentavam a plataforma, para afastar o salalé. O buraco era depois coberto com uma estrutura espessa, feita de troncos e ramos entrelaçados que, por sua vez, era tapada com terra e areia. Os oficiais de logística anotavam, no diário, a sua localização.
Durante a marcha, soldados seleccionados eram directamente responsáveis por outros quatro indivíduos. Era dada a cada soldado, pelos oficiais superiores, uma folha de papel com os nomes dos que ficavam a seu cargo e, em cada paragem, ele tinha de se assegurar de que não faltava nenhum. Se alguém desaparecia, eram enviados grupos de busca para o encontrar: era essencial que ninguém fosse capturado, pois poria em risco o resto da coluna, dando informações. Como medida de segurança, para a eventualidade de alguém ser capturado, apenas quatro comandantes superiores sabiam qual o rumo que a coluna levava - Savimbi, N’Zau Puna, Chiwale e Ernesto Mulato -, o administrador civil da UNITA durante a guerra de 1975-1976.
À medida que os dias passavam, algumas pessoas começaram a ficar para trás, completamente exaustas. Deixavam pura e simplesmente de andar, porque estavam tremendamente cansadas. Outras caíam em sono profundo durante as paragens que faziam para descansar. Nas noites em que não havia luar, tinham de se manter todos muito juntos, para se não perderem. Estava tão escuro que dificilmente conseguiam ver as próprias mãos à frente dos seus rostos.
Ao fim de dois dias de marcha para leste, a partir de Samasseka, os aldeões disseram a Savimbi que helicópteros cubanos estavam a colocar tropas naquela direcção. Savimbi tomou o rumo sul, com a intenção de atravessar a estrada Gago Coutinho-Munhango, a 60 quilómetros de distância. Seria bastante arriscado, mas se ele atravessasse teria conseguido quebrar o cordão que os cubanos tinham colocado à volta da região do Lungué-Bungo. Alguns dias mais tarde, a coluna chegou a um pequeno acampamento de guerrilheiros da UNITA, posição que os soldados disseram ter sido bombardeada precisamente dois dias antes. Savimbi concluiu que os cubanos ignorariam a zona por alguns dias, após o ataque, e esse facto incutiu-lhe confiança para continuar a avançar para sul.
À medida que a coluna se aproximava da estrada, Savimbi decidiu atravessá-la a coberto da escuridão. Duas centenas de guerrilheiros de elite pertenciam à guarda pessoal de Savimbi. Eram soldados que tinham provado ser excepcionalmente corajosos e leais em combate. Cinquenta deles formavam a rectaguarda, avançando espalhados durante vários quilómetros, por detrás da coluna principal. Cerca de 100 estavam com Savimbi, caminhando à frente, por detrás e aos lados. Uma vanguarda de 50 homens reconhecia o terreno por onde avançavam e forneceu a informação, para trás, de que uma grande coluna blindada e motorizada avançava ao longo da estrada. Iam armando emboscadas, mas estavam a concentrar-se numa área a leste de uma ponte de pequeno porte que atravessava as águas correntes do rio Cuando.
Savimbi sabia que, uma vez atravessada a estrada, seria muito perigoso perder tempo a apagar os rastos e, já que os pisteiros do MPLA depressa se aperceberiam de que uma importante coluna ali passara, ordenou uma caminhada, sem paragens, de modo a que o seu povo estivesse longe do cruzamento tão depressa quanto fosse possível. A única consolação era que o MPLA não tinha a certeza de que Savimbi se encontrava naquela coluna e não poderia deslocar todas as suas forças do cerco ao Lungué-Bungo.
Depois de três dias e três noites de marcha contínua, Savimbi ordenou uma paragem num ponto a 60 quilómetros a sul da estrada, precisamente a norte da povoação de Chissimba. A coluna passou a noite nesse local, permitindo aos seus exaustos seguidores que dormissem um pouco. Então, Savimbi enviou as mulheres e crianças para uma aldeia «segura», vários quilómetros para sudeste de Chissimba, onde deveriam ser deixadas enquanto ele continuaria a sua marcha mais para o interior de Angola. Uma escolta de guerrilheiros, sob o comando do capitão Chivinga, que acompanhava as mulheres e crianças, recebeu ordens para recolher provisões junto dos aldeões, de modo a reabastecer as reservas da coluna. O milho começava a escassear e a manada de gado parecia ter-se perdido, pois não tinham contactos com o condutor desde há alguns dias.
Chivinga escoltou, em segurança, as mulheres e crianças, incluindo os próprios três filhos sobreviventes de Jonas e Vinona Savimbi, através da área de Chissimba, até à aldeia onde deveriam ficar. Chivinga conseguiu um pouco de mandioca e iniciou o regresso até à posição onde Savimbi se encontrava.
Entretanto, registou-se uma diferença de opinião entre Savimbi e Vinona, que optara por acompanhar a coluna em vez de ficar com os filhos na aldeia. Algum tempo depois de as crianças partirem, ela anunciou subitamente que ia embalar as suas coisas e juntar-se a elas. Nascera perto de Chissimba, numa aldeia de uma sub-tribo dos Nkankala, e disse que até 1970, quando a UNITA se tornou a força dominante naquela área, muita gente da população local havia apoiado o MPLA, alguns homens mais jovens tinham-se juntado aos guerrilheiros do MPLA. «Sinto que vamos ser atacados», disse ela a Savimbi. A voz de Vinona não era uma voz que pudesse ignorar-se facilmente. Era uma mulher decidida, de poucas palavras, capaz de mobilizar e disciplinar outras mulheres com o seu exemplo. «Savimbi, porém, não lhe concedia privilégios especiais nem se dirigia de maneira diferente à mulher. Ela era apenas uma pessoa mais na coluna».
Savimbi chamou N'Zau Puna e Chiwale e falou-lhes sobre o aviso que Vinona lhe fizera. Savimbi não ignorou completamente aqueles pressentimentos: «É verdade, quando se está há muito tempo numa guerra de guerrilha desenvolve-se um discernimento instintivo, um sentimento de que vai ou não haver um ataque».
Não obstante, Vinona insistiu que tencionava partir e juntar-se aos filhos, enquanto os pais chegavam da sua aldeia natal para saudarem a filha e o genro. Vinona pediu a Savimbi para vir falar-lhes, antes de regressarem a casa. Savimbi mal tivera tempo de dizer adeus aos sogros, quando Chivinga voltou para trás a correr, com notícias de que tinham sofrido uma emboscada, por parte das tropas do MPLA, justamente a norte de Chissimba. Fora capturado um guerrilheiro da UNITA e era virtualmente certo admitir que Savimbi estava perto. «Dificilmente acreditei que fosse possível a presença do MPLA», afirmou Savimbi. «Todavia, a minha mulher tinha tido razão na sua insistência e, por isso, dei imediatamente ordens para partir».
A coluna de Savimbi não podia dirigir-se para sul, na direcção do local da emboscada. Não ousavam voltar para norte e qualquer retirada em direcção a leste estava bloqueada pelo rio Quembo. Consequentemente, teriam de tomar o rumo oeste, atravessando uma vasta área de cultivo, com dois quilómetros de extensão, que fora desbastada de árvores.
Savimbi reforçou a força de Chivinga, elevando-a para cerca de 50 homens, e enviou-o, de novo, rumo ao Sul, para Chissimba, de modo a aguentar o MPLA, enquanto fosse possível. Cerca de meia hora depois de Chivinga ter partido, começou a cair o fogo de morteiros e rockets no local onde Savimbi se encontrava, pelo que ele ordenou ao seu grupo que partisse também. Apenas tinham atravessado a área cultivada e atingido a mata quando, à distância, apareceram dois helicópteros. «Assumi pessoalmente o comando, porque compreendi que estávamos perante uma situação muito grave», disse ele. «Mandei que todos se deitassem no chão. Disse que ninguém mais daria ordens, fosse em que circunstância fosse, nem mesmo N’Zau Puna ou Chiwale. Não queria confusões».
Havia um posto avançado de guerrilheiros da UNITA, cerca de 20 quilómetros para norte do local onde estava escondido e aonde Savimbi queria chegar. Eram necessários bons suprimentos de comida para a fuga que ele estava agora a planear e os mensageiros tinham trazido notícias de que o posto avançado tinha reunido grandes stocks de carne seca de antílope.
Savimbi conduziu o seu grupo mais para o interior da mata e mandou oficiais com instruções para o comandante do posto avançado, major Samalambo. Quando descansava durante o dia, o povo de Savimbi avistou os helicópteros movimentando-se de Chissimba em direcção a Samalambo. Já perto do anoitecer, chegaram notícias alarmantes. Um mensageiro, de entre os oficiais que tinham sido enviados para contactar Samalambo, disse que um helicóptero os tinha sobrevoado, quando se deslocavam em terreno aberto: estavam certos de terem sido localizados.
Não havia tempo a perder. A estratégia de Savimbi, delineada para confundir o MPLA e os cubanos, tinha de estar concluída ainda antes da noite acabar. A coberto da escuridão, ele dividiu em três grupos inteiramente novos os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA poucos quilómetros a nordeste do posto avançado de Samalambo. Com Savimbi iriam 350 pessoas, 400 com Samalambo e 100 com Chimbijika. Cada um dos grupos partiria durante a noite, em direcções diferentes. Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, convencendo-os de que a maior coluna - a de Samalambo - era a que protegia Savimbi.
Os três grupos tomariam o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi repararam que os cubanos patrulhavam regular e inflexivelmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pela UNITA. Aventuravam-se muito pouco nas zonas que se estendiam pelas matas, nas áreas rurais, com as quais, inevitavelmente, não estavam familiarizados.
Às primeiras horas da noite, homens e equipamento movimentavam-se para cá e para lá, entre os três grupos, através dos arbustos da mata. Savimbi transferiu o seu rádio e o operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele devia dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.
Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem; porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. «Ele disse que, como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, deveriam motivar os seus soldados para marcharem com firmeza e depressa, afastando-se de problemas». Para conseguirem o que se propunham, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte dos seus homens, com a capacidade de lhes demonstrar compreensão numa situação desesperada. Disse-lhes que existiam razões de sobra para ter esperança. O inimigo mostrara que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estaria bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?» Enquanto Savimbi instruía os seus oficiais, o condutor do gado reapareceu, como por milagre, com a manada. Savimbi mandou-o imediatamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna.
Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste. Cerca das 4 horas e 30 minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os 50 homens que constituíam a sua rectaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à rectaguarda que partisse também. A coluna de Savimbi não parou de andar até às 3 horas e 30 minutos da tarde, mas pouco tempo depois do romper do dia os caminhantes ouviram explosões e tiroteio na direcção do local onde tinham descansado na mata. Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decisivamente, informaram mais tarde, os cubanos dirigiram as suas buscas em direcção às colunas de engodo.
O resultado do encontro com o MPLA e os cubanos tinha sido desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As mulheres e crianças e a sua escolta de guerrilheiros permaneceram sem ser detectados ou molestados, durante várias semanas, na aldeia «segura», que nunca foi visitada por tropas inimigas. O grupo de Chivinga, formado por 50 pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissimba, durante várias horas, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: em consequência disso, dispersaram com o comandante, mas não conseguiram reunir-se às colunas principais ou às mulheres e crianças. Só muitos meses mais tarde é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres e as crianças e Chivinga e os seus homens estavam a salvo. Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes conduziram as suas colunas, de forma segura, para longe do perigo.
Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto na travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudasse a atravessar o canal central de águas profundas. Isto deixou-os expostos, em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. A tensão abrandou gradualmente. Quando a coluna se aproximou das margens do Gunde, um afluente do grande rio Cuíto, todos se sentiram mais aliviados: o MPLA e os cubanos pareciam ter-lhes perdido o rasto e não tinham avistado aviões desde o dia da partida.
As margens do rio Gunde, tal como a maioria das margens dos rios angolanos, eram ladeadas por anharas, com capim com 4 metros de altura e, nalguns locais, com 500 metros de extensão. Savimbi mandou parar a coluna na mata e enviou dez guerrilheiros, através das faixas da anhara e através do rio, para se assegurar que a margem ocidental era segura. N’Zau Puna levou também consigo cinco homens, através da anhara, para a margem oriental, a fim de encontrar o ponto de passagem mais fácil para a coluna.
Ouviu-se, então, um helicóptero que se aproximava, vindo do sul. Savimbi ordenou a todos, na coluna principal, para que se espalhassem sob as árvores. O grupo de N’Zau Puna começou a recuar da margem do rio para um pequeno grupo de árvores da mata, formando como que uma pequena ilha na anhara circundante, a cerca de 200 metros do Gunde. Puna e dois dos seus homens conseguiram chegar às árvores antes de o helicóptero pairar por cima das suas cabeças, mas os outros três estavam ainda em campo aberto. Foram localizados e o helicóptero começou a metralhar a baixa altitude. Os três responderam com armas de fogo ligeiras e o helicóptero caiu e explodiu, a cerca de 3 quilómetros mais adiante.
Da sua posição na mata, Savimbi observou o percurso da queda do aparelho. Voou para além dos três guerrilheiros que estavam parados, pareceu mergulhar em direcção ao solo, ergueu-se de novo para, em seguida, se precipitar no chão. Savimbi calculou que o piloto tinha mantido o controlo do helicóptero até ao último instante: por consequência, teria tido tempo suficiente para transmitir para a base, via rádio, a sua posição e outros breves detalhes sobre o que tinha acontecido. Dentro de pouco tempo outros helicópteros estariam no local.
«Todos estavam confusos», recordou Savimbi anos mais tarde. «Cada um dava ordens separadas. ‘Voltem para trás’, dizia Chiwale. ‘Vão para norte, ao longo da margem do rio’, dizia N’Zau Puna. Eu disse que devíamos seguir em frente, nunca recuar, e ordenei a imediata travessia do rio. Tínhamos esperado encontrar uma pequena ponte de madeira, para pedestres, da espécie daquelas que são construídas pelos caçadores locais. Todavia, agora não havia tempo a perder. Disse às pessoas que atravessassem em qualquer local. Mergulharam nas águas, até ao pescoço, e a minha mulher perdeu os sapatos no rio».
Tendo atravessado o Gunde, a coluna de Savimbi, com 350 pessoas, atingiu a mata mais densa a quilómetro e meio para além da anhara. Ordenou a todos que parassem um pouco, dentro dos limites da mata. «Podia ter ordenado a todos que continuassem; todavia, queria verificar se o piloto tinha conseguido enviar qualquer mensagem pela rádio», recorda ele. «Se os cubanos não viessem, era certo que eles não sabiam onde tinha caído o helicóptero; nesse caso, estaríamos a salvo. Se eles viessem dentro de um curto espaço de tempo, então é porque sabiam onde fora abatido o helicóptero e nós saberíamos que eles estavam no nosso encalço, com todos os meios de que dispunham, já amanhã».
Ao fim de meia hora, os helicópteros chegaram e descobriram, imediatamente, o local do desastre. Como estava a anoitecer, não se demoraram. Sabendo que os helicópteros regressariam às primeiras luzes do dia, Savimbi ordenou uma rápida marcha nocturna em direcção a oeste.
A densidade das matas dessa área dava vantagem aos guerrilheiros, mas estava tudo muito escuro porque não havia luar. Por isso, Savimbi teve de ordenar uma paragem, em virtude de ter escurecido demasiado. Ordenou a Ernesto Mulato que fosse à frente e dissesse à vanguarda das tropas para parar também e assumir posições defensivas para a eventualidade de emboscadas. A manada, cujo número baixara para 12 cabeças, de um total inicial de cerca de 60, não avançou com os guerrilheiros para não se deixar um grande rasto. O condutor recebeu instruções para espalhar o gado numa frente ampla e reunir-se, mais tarde, a Savimbi.
Após o descanso, Savimbi avançou com o grosso da coluna para se juntar à vanguarda. Mulato não estava lá e ninguém parecia tê-lo visto. Savimbi ficou seriamente preocupado. Os cubanos poderiam chegar a qualquer momento e Mulato ficaria em perigo de ser capturado. Isso era particularmente perigoso porque Savimbi tinha tomado a decisão, apenas partilhada com N’Zau Puna, Chiwale e Mulato, de abandonar a ideia de adoptar o Muyé como zona para um futuro acampamento-base e, em vez disso, estabelecê-la na área do Cuelei, a oeste de Serpa Pinto. Se Mulato fosse capturado seria torturado e pressupunha-se que, eventualmente, revelaria o segredo.
Savimbi decidiu avançar mais para oeste: não haveria alteração dos planos durante quatro dias, altura em que se saberia, ao certo, se Mulato se perdera ou não. Os batedores informariam se estavam a ser largados cubanos na rectaguarda. Se assim fosse, então Savimbi terias de concluir que Mulato fora capturado, precisando de traçar planos inteiramente novos.
Mais um dia de marcha trouxe a coluna principal para a mata, podendo avistar a anhara, bordejando as margens do Cuíto. Savimbi enviara um grupo avançado de três homens, em marcha muito rápida, para tentarem encontrar uma canoa que servisse para a travessia do rio, com 400 metros de largura... Existiam problemas, informaram eles. Apenas tinham conseguido encontrar uma canoa que podia levar três pessoas: isto significava que apenas duas pessoas podiam ser transportadas de cada vez. Nas proximidades, a leste da margem do rio, existia uma área pantanosa profunda, com cerca de 300 metros de extensão. Significaria também que o gado não podia atravessar o rio... Savimbi ordenou que as doze cabeças fossem abatidas e cortadas em pedaços, de modo a que pudessem ser transportadas. Estava-se agora no princípio de Agosto e o gado fora a única fonte de alimento durante o último mês.
As pessoas foram transportadas para a outra margem do rio Cuíto durante toda a noite. Porém, quando Savimbi ordenou uma paragem, cerca das 4 horas da madrugada, muita gente do grupo estava ainda na margem leste. Savimbi transmitiu ordens para que eles se escondessem na mata e a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulhas inimigas.
Na margem ocidental, Savimbi conduziu o seu próprio grupo desmembrado, através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada, fruto das noites frias. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, além de serem finos e estarem rasgados.
Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com dificuldade e atravessado o rio, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». «Savimbi continuava a marchar entre a frente e a rectaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata, onde tinham de chegar antes do nascer do Sol. Deu ordens à sua ordenança para dar as suas roupas de reserva aos soldados, mas os oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso».
Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Na verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das 6 horas e 30 minutos da manhã, quando o Sol começou a levantar-se, estavam ainda a meio do capim e, por isso, tiveram de começar a correr. Mais tarde, nessa manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8 chegaram ao local onde fora feita a travessia do rio. Pairaram a pouca distância do solo, e de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente para a gente de Savimbi, o Sol brilhava num céu sem nuvens e secara o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim.
Três de Agosto de 1976. Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempos estudante de Medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausana, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuíto, no interior de Angola...
Estava-se agora no solstício de Inverno, na África Austral, quando as temperaturas nocturnas descem abaixo de zero. Savimbi acalentava, nos seus braço, um guerrilheiro adolescente que delirava, morrendo de frio e exaustão, depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros. Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário. A causa pela qual combatera durante mais de uma década parecia perdida. Durante seis meses ele fora perseguido e incessantemente acossado, através das vastas matas e savanas de Angola, pelas tropas cubanas, por aviões e helicópteros: o inimigo aproximava-se ao entardecer, enquanto ele confortava o soldado moribundo. Savimbi perdera o contacto com os outros grupos do seu fragmentado exército. Os seus aliados do exterior, na África e noutros continentes, tinham-no abandonado...
Savimbi parou de confortar o soldado doente para verificar o estado do resto do seu exército. Uma hora depois de ele ter partido, um oficial às ordens, deu-lhe a notícia de que o jovem guerrilheiro morrera.
Pouco depois morreram mais dois guerrilheiros. A travessia dos 400 metros do canal principal do rio fora má. Os hipopótamos, que reclamam mais vidas humanas do que qualquer outro animal da selva, tinham ameaçado voltar a única canoa que fazia a travessia em vai-e-vem: apesar do risco de as explosões poderem ser ouvidas por patrulhas inimigas, preciosas granadas de mão tinham sido lançadas à água, no intuito de assustarem as feras que resfolegavam. Contudo, a parte mais difícil da travessia fora feita a pé, mergulhados até à altura do peito, através dos 300 metros de pântano inundado que ladeava a margem leste do rio Cuíto. As temperaturas geladas e o avanço penoso a pé esgotaram as últimas reservas de energia dos três homens.
«Não podíamos mover-nos. Não tínhamos escolha. As minhas tropas estavam exaustas, após a travessia, e alguns estavam já a morrer», recorda Savimbi. «A minha gente estava separada, uns na margem ocidental e outros na margem oriental, e Mulato estava perdido. Disse-lhes que devíamos adoptar posições defensivas e, se os encontrássemos no nosso caminho, lutaríamos. Quando o combate começasse poderíamos ter já reunido forças; então, a maior parte da coluna poderia fugir para a mata, enquanto os outros procurariam aguentar o inimigo».
Durante a tarde, chegaram mais dois helicópteros e deixaram mais homens - tendo um deles aterrado a cerca de 500 metros do piquete de segurança de Savimbi, na orla da mata -, de maneira que havia, talvez, 60 a 80 soldados inimigos a patrulhar os canaviais do rio. Antes de cair a noite, os cubanos começaram a tomar posição para emboscadas.
Savimbi decidiu que a sua gente tinha de se afastar da zona perigosa, mas primeiro enviou uma patrulha de batedores, constituída por três homens, através da escuridão, para o local de travessia da noite anterior. Nenhuma das três emboscadas armadas pelo inimigo se situava ali, mas, apesar disso, Savimbi estava preocupado com o facto de o resto da coluna poder cumprir estritamente as ordens dadas na noite anterior, de começarem a atravessar o rio, e de que fossem descobertos. Uma patrulha de dois homens, vinda do outro lado, tinha atravessado o rio e estava à espera, um pouco mais a norte do local da travessia. Foram-lhe transmitidas novas ordens de Savimbi, no sentido de ser abandonada a ideia de atravessar em massa: a coluna oriental devia, em vez disso, tomar o rumo do Norte, ao longo do rio Cuíto, em direcção à região do Bié, reunir-se a quaisquer guerrilheiros da UNITA e espalhar a noticia, entre a população, de que Savimbi estava vivo e a organizar a resistência. Todavia, se Mulato fosse encontrado, ele devia tentar atravessar juntamente com mais vinte homens e reunir-se a Savimbi.
Mulato fora encontrado por um grupo de buscas. Perdera-se ao seguir o rasto de antílopes que ele pensava serem os do grupo de vanguarda. Mulato atravessou o rio e conseguiu juntar-se a Savimbi 24 horas depois.
«Quando Mulato se nos reuniu, levantou-nos a moral», disse Savimbi. «Ele era o nosso companheiro de armas e gostávamos muito dele. O facto de ele estar a salvo permitia-nos manter os nossos planos sem alteração».
O grupo era agora formado por 250 homens, na sua maioria soldados, mas também por 15 mulheres e 10 homens civis, em grande parte administradores experimentados. O tamanho reduzido da coluna do próprio Savimbi dava certas vantagens. O grupo poderia, assim, ser mais facilmente controlado, deixava rastos menos distintos e poderia efectuar manobras e movimentar-se mais habilmente para longe da zona de perigo.
A carne depressa acabou e a velocidade da marcha abrandou, transformando-se numa caminhada muito lenta. Ao fim de uma semana, estavam todos tão fracos que Savimbi teve de fazer uma paragem. Em defesa da moral dos guerrilheiros, o contacto com os camponeses teria de ser restabelecido para se conseguir comida: o contacto era também necessário por razões políticas. Foram, pois, enviadas patrulhas do local em que descansavam, na mata, para tentar estabelecer os contactos com as aldeias. Todavia, esta área era esparsamente povoada e, porque os homens estavam muito fracos, não podendo, por isso, patrulhar a zona a fundo, não conseguiram inicialmente encontrar quaisquer povoados.
Havia muito pouca caça acessível, mas os guerrilheiros Chokwe, que eram exímios caçadores há gerações, conseguiram matar um javali. A coluna, esfomeada, comeu não só a carne mas também os ossos. Os ossos foram fervidos e esta sopa rala foi bebida: em seguida, os ossos amolecidos foram esmagados e devorados.
A outra única fonte de sustento eram bagos silvestres de cor vermelha, que eram apanhados das árvores e cozidos; tiravam-lhes, depois, a pele e o inteiro venenoso era deitado fora. As peles eram fervidas de novo, com folhas de uma outra árvore. A sopa líquida que dali resultava parecia óleo vegetal e, ao fim de meia hora, deixava os convivas enfraquecidos, muito mais fracos e inchados. Era, porém, uma forma de se alimentarem.
Um dos guerrilheiros sabia como recolher mel silvestre e trouxe consigo uma pequena quantidade. Vinona Savimbi, perita em cogumelos silvestres, conseguiu apanhar alguns. Cinco soldados, porém, morreram envenenados depois de terem apanhado e comido cogumelos sem terem consultado Vinona.
... Savimbi fez um discurso, encorajador, exortando os soldados a não se deixarem render perante a morte, porque o povo estava à espera que combatessem. «Este foi realmente um momento chocante e assustador, porque alguns dos soldados não tinham sequer a capacidade física necessária para responder ao seu apelo, embora pudesse ver-se que o desejavam. Muitos conseguiram manter-se de pé e dizer que continuariam a combater, mas, alguns instantes mais tarde, caíram por terra».
Apesar de tudo isto, o grupo de Savimbi foi ficando mais fraco, por falta de alimentação. Estavam deitados no chão e, ao sexto dia, a maioria era incapaz de se arrastar pelos seus próprios meios; porém, nesse mesmo dia, uma patrulha chegou com notícias animadoras. Tinham descoberto uma aldeia, a 15 quilómetros de distância, e os seus habitantes eram de há muito apoiantes da UNITA.
As notícias sobre a existência da aldeia actuaram como uma injecção vivificante. Os soldados estavam ansiosos por estabelecerem, de novo, contacto com a população comum. Embora tivessem encontrado, em si mesmos, forças desconhecidas, a jornada de 15 quilómetros, que teria demorado apenas duas horas em situação normal, levou doze horas.
Os camponeses vieram ao encontro de Savimbi e ajudaram a levar a coluna para as suas cubatas. Afirmavam ter sido visitados por comandantes de guerrilha da UNITA, que os tinham informado que Savimbi estava a ser perseguido pelos cubanos e pelo MPLA. O Chefe da aldeia desenhou diagramas no pó do chão para mostrar a Savimbi como enviara patrulhas, em diversas direcções, para ajudar a encontrar a coluna do Presidente.
Os camponeses não tinham grande quantidade de alimentos armazenada, mas forneceram milho, mandioca e carne de antílope. Savimbi, valendo-se dos seus conhecimentos de medicina, adquiridos em Portugal, reuniu os oficiais e explicou-lhes os perigos que corriam ao comer alimentos sólidos depois de um tão logo período de fome... Em seguida, Savimbi ordenou aos seus oficiais que repetissem o conselho à população, pela qual eram responsáveis, utilizando os mesmos diagramas.
A aldeia estava bastante isolada. Nenhuma patrulha cubana ou do MPLA tinha lá chegado ainda, mas, ao fim de cinco dias, quando a maioria das pessoas já se alimentava com comida sólida, um helicóptero cubano sobrevoou a zona. «Foi apenas pouca sorte», recorda Savimbi. «Embora os cubanos não pudessem saber que lá estávamos, assinalaram a aldeia nos seus mapas e, eventualmente, regressariam. Em face disto, ordenei aos camponeses que se dispersassem e encontrassem um novo local para se instalarem». A sua intuição dizia-lhe que os cubanos e o MPLA tentariam cobrir tantas aldeias quanto fosse possível, para o forçar a confinar-se inteiramente às matas.
Mais de metade do grupo de Savimbi... ainda sofria muito pela exaustão, envenenamento pelos cogumelos e fraqueza. Teriam de permanecer com os camponeses. Quanto aos restantes, Savimbi ordenou uma marcha rápida, em direcção à estrada do Bié para Serpa Pinto e, em seguida, ao longo dela, para a área onde planeara instalar o acampamento.
Os aldeões cederam dois guias a Savimbi, para o conduzirem a um acampamento de guerrilheiros da UNITA, a cerca de 36 horas de marcha, através do curso de água de um afluente do rio Cuanza. O objectivo era recrutar, no acampamento, guias que ainda não estivessem cansados, para efectuarem a passagem da estrada.
A cerca de 30 minutos de marcha do acampamento, viram dois helicópteros cubanos a metralhar o local e a desembarcar tropas. Savimbi mudou imediatamente de direcção, cortando a direito para a estrada: mais tarde chegaram até ele notícias de que mais de 30 pessoas, principalmente mulheres, tinham sido mortas durante o ataque.
Um dia depois, Savimbi ordenou a cerca de vinte soldados, que tinham perdido rapidamente as forças, que voltassem para trás e se juntassem ao povo, que se ia dispersando da coluna, até convalescerem. Ao fim de mais de um dia, avistaram uma aldeia amiga, na estrada principal.
Durante a noite, o soba e os velhos trouxeram comida e reuniram-se a Savimbi na mata. O soba disse-lhe para descansar ali durante o dia e mudar-se, depois, para a aldeia, quando as condições fossem mais favoráveis.
Ali ficaram durante dois dias, sendo informados acerca de potenciais pontos de passagem ao longo da estrada fortemente patrulhada. A travessia teria de ser feita à noite: o local mais seguro poderia ser onde os cubanos menos esperassem e onde fosse menos provável estarem os seus pisteiros e batedores em acção. Tomou-se a decisão de atravessar directamente através da berma da estrada da aldeia, com cerca de 500 habitantes, protegida por uma paliçada e um posto defendido por 10 cubanos e alguns soldados do MPLA, colocados nas imediações.
«Conseguíamos ver os cubanos e os soldados do MPLA a movimentar-se à volta da paliçada, empunhando as suas armas», disse Savimbi. «O soba, porém, disse que eles eram tolos. Nunca se dirigiam à mata a pé e não suspeitariam de nada, desde que não fizéssemos barulho. Confiamos nele porque era um antigo membro do nosso Partido».
Cerca de uma hora antes do anoitecer, no dia da travessia, 22 de Agosto, o soba regressou e disse ter organizado um espectáculo na aldeia, nessa mesma noite, para os cubanos da guarnição e também para o professor da escola, um activista do MPLA que fora nomeado pelo governo. Oito deles estariam a beber nas cubatas, para leste da estrada e os outros três nas cubatas situadas a oeste. Os homens de Savimbi deveriam atravessar, em grupos de quatro ou cinco, guiados por homens das milícias da aldeia, cujos piquetes dariam o alarme se os cubanos saíssem das cubatas.
O soba, embora os cubanos não o soubessem, era presidente do comité civil da UNITA na aldeia. A partir do centro da aldeia, as cubatas estavam dispersas e isoladas numa área de cerca de dois quilómetros, ao longo da estrada principal.
A 22 de Agosto, à coluna de Savimbi foi reunir-se um grupo de 50 soldados, comandados pelo major Bandeira, que fugira do Lobito em Fevereiro e tomara o rumo do vale do Lungué-Bungo. Com Bandeira estava Jorge Valentim.
O caminho, a partir da mata, levou a coluna da UNITA através da estrada do aglomerado central de cubatas e das outras espalhadas ao longo da estrada, para norte. Se tivessem atravessado mais para o extremo norte, para além dos limites das últimas cubatas da aldeia, teriam feito com que os cães uivassem e isso teria atraído a atenção dos cubanos; qualquer movimento na aldeia, por parte dos homens da milícia local, armados apenas com arcos e flechas, não provocaria nos cães qualquer reacção invulgar.
Uma vez do outro lado da estrada, no sentido oeste, os grupos de homens da UNITA caminharam entre o corpo principal das cubatas e as trincheiras vazias, para um ponto de encontro, na mata, a cerca de um quilómetro, para sudoeste dos limites da aldeia.
Depois de completada a travessia, um grupo de vinte aldeões - o soba, os mais velhos e as suas mulheres - reuniu-se a Savimbi na mata. A coluna e os aldeões caminharam durante mais dois ou três quilómetros para o interior, de maneira a que Savimbi pudesse discutir com os sobas e os mais velhos, explicando-lhes os seus planos para o futuro e de que forma os aldeões podiam ajudá-lo. «O presidente argumentou que a UNITA não teria quaisquer probabilidades de sucesso a não ser que o povo estivesse ao lado do Movimento. Fizeram perguntas embaraçosas e não havia maneira de essas perguntas poderem ser evitadas. Perguntavam, por exemplo, se a guerra acabaria em breve ou se seria longa. O Presidente disse-lhes que seria longa. Não haveria nenhuma vitória rápida. Afirmou ao soba que um dia o inimigo iria descobrir que esta aldeia estava a ajudar a UNITA e, consequentemente, ela seria atacada. O povo devia, sem demora, começar a armazenar alimentos na mata, para quando chegasse o dia em que tivessem de fugir».
Disse que não podia esconder que todos os amigos da UNITA pensassem que nós não éramos capazes de resistir, que estávamos liquidados. O Presidente disse que a UNITA já não tinha quaisquer aliados efectivos. Teríamos de confiar nos nossos próprios esforços, no apoio da população, nas armas que estavam escondidas e nas que fossem capturadas. Queria dissipar qualquer ideia de que viria ajuda do exterior, antes de o povo se ajudar a si próprio. Afirmou «Teremos de lutar primeiro e, só depois, vocês verão que as pessoas do exterior quererão entrar de novo em contacto connosco».
O Presidente afirmou também que os cubanos detinham uma vantagem evidente em termos de qualidade das suas armas e da crueldade com que estavam habituados a actuar; porém, estavam em total desvantagem em termos de conhecimento do território, da população e da língua».
Savimbi despediu-se do soba e dos velhos duas horas antes do romper do dia 23 de Agosto. Durante algum tempo ainda a coluna caminhou em direcção ao norte, através da mata que ficava paralela e à vista da estrada. Às 9 horas da manhã, um comboio de carros blindados e camiões, transportando tropas cubanas e do MPLA, começou a passar para sul, ao longo da estrada, à vista dos homens de Savimbi, que conseguiam ouvir o inimigo a cantar. Os guias da aldeia disserem à coluna que continuasse a avançar, assegurando a Savimbi que os seus homens não podiam ser vistos da estrada.
Savimbi tencionava progredir, rapidamente, em direcção à zona da nova base. Ele sabia que avançava por entre uma cadeia de camponeses pró-UNITA. Savimbi afirmou-se, nessas aldeias, com um perfil bastante mais elevado do que pensava. As patrulhas de guerrilheiros, oriundas da área para onde se dirigia, a cerca de 120 quilómetros para oeste da estrada principal, vinham estabelecendo contactos com a coluna e espalhando a noticia, à medida que avançavam, da sua chegada iminente. As pessoas vinham ao seu encontro, em plena luz do dia, com bandeiras, cantando e dançando.
«Estávamos preocupados, com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos; que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base. Respondi ao soba que isto não seria bom, que se a população se portasse assim não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-lo-ia dentro de uma semana, para um grande comício, na base. Falhei, porém; seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho. Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até ao Cuelei e foi este o fim da longa marcha».
A base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de 800 guerrilheiros e 200 mulheres e crianças.
A longa marcha terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei, a 28 de Agosto de 1976, cerca de sete meses e 3.000 quilómetros após a sua fuga do Luso, seguido por 2.000 adeptos. Destes, apenas 79, incluindo 9 mulheres, estavam ainda com ele, tendo os outros morrido, sido separados, mandados para outros locais ou ficado para trás.
Foram alguns meses trágicos; porém, contra todas as probabilidades e contra todas as expectativas dos estranhos, Jonas Savimbi sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a vitória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar.
* O texto foi estraido parte da biografia de Jonas Savimbi escrita por Fred Bridland em 1987
Fonte: club-k-angola.com
2 comentários:
Oh Mambimbi, por que tu morreste cedo? O MPLA agora não respeita mais ninguém. Dá para ressuscitar?
Savimbi, é o verdadeiro pai da Pátria! Seu grito ecoa: Kwacha!
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