sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A pobreza das nações















Se estivesse vivo, Adam Smith, talvez investigasse a natureza e a causa da pobreza das nações. Por que algumas nações são ricas e outras vivem na penúria? Por que algumas nações aparecem, na olimpíada da competência, no topo enquanto as outras aparecem, insistentemente, na cauda? Extensão territorial? Riquezas naturais? Possuir um sistema de transporte de pessoas e produto desenvolvido?

No mundo contemporâneo, competitivo, globalizado, no qual a corrida em direção à eficiência é pressurosa e sucessivo, o motor para gerar a riqueza tanto qualitativa quanto quantitativa de qualquer nação é o conhecimento, ou seja, a educação (saúde, posto de emprego, habitação respeito ao meio ambiente e ao próximo, formação da cidadania plena, saneamento básico, democracia, liberdade, assim por diante).

Deficiências na educação afetam a distribuição e o crescimento dos indivíduos e da nação. Muitos estudos mostram que o elevado crescimento do produto interno bruto (PIB) está associado à elevada qualidade do ensino e do elevado número de indivíduos beneficiados.

As nações mais opulentas, endinheiradas, geralmente superam as outras no aspecto do esforço concentrado: estudar até aprender. Isso elimina, por exemplo, preconceitos, ignorância imposta e auto-imposta, apatia social e outros tipos de males, levando o trabalhador a ser mais produtivo.

Normalmente, quando se fala em educação aparece, quase sempre, a mesma, mas não criativa desculpa: falta de dinheiro. Surge, então, uma dúvida. As nações indigentes não investem em educação porque são pobres ou são pobres porque não investem em educação?

Não é correto comparar nações, nem pessoas como Albert Einstein e Ali Babá, mas também não podemos fazer vista grossa de um mesmo exemplo que deu certo noutros lugares. Um caso específico é o Japão, um arquipélago formado por mais de três mil ilhas, de apenas 370 mil km2, isso só para não citar Coréia, China, Finlândia, Estados Unidos, que algum dia foram países tão miseráveis quanto muitos o são na atualidade.

Os dirigentes do país de elevado índice de desenvolvimento humano (IDH), Japão, segundo maior importador de petróleo do mundo, de uma população de 127 milhões, fizeram uma revolução (Meiji). Todo japonês é obrigado a ter 9 anos de escolaridade, ao completar os 15 anos. Colocaram a educação em primeiro lugar, em vez do enriquecimento pessoal dos dirigentes e seus familiares. Uma educação contínua. Assim, lá, país montanhoso e vulcânico onde dirigentes, pelo menos, sabem pedir demissão e não só promoção, um “mestre”, que é respeitado, orgulha-se quando é chamado professor. É venerado, como é o político em nações infelizes. Os docentes recebem salários decentes e em dia. Isso estimula o ingresso de pessoas competentes.

Os japoneses, portanto, produtores de diamantes artificiais, abriram os olhos e passaram a valorizar os professores. Deles depende o futuro da nação. Como resultado, eles cresceram e tornara-se gigantes. Hoje, o sonho de qualquer indivíduo é tornar-se professor, enquanto o do da nação pobre, político (corrupto) ou chefe. Na cultura nipônica, se alguém encontrar o professor conversando com o imperador, por exemplo, cumprimenta primeiro o professor.

Na terra do sol nascente, a escola é em tempo integral e diferenciada, com ensino prático e voltado para o mercado de trabalho. Isso leva, por exemplo, a um funcionário entender os manuais de equipamentos sofisticados. Dessa forma, empresas não precisam ficar meses com vagas abertas pela incapacidade de encontrar trabalhares com bom nível.

O Japão, com população urbana de 30 milhões de habitante, e outros países, hoje, orgulham-se em possuir boa formação acadêmica de seus cidadãos. Isso permite-lhes, portanto, a assimilar novas tecnologias e exercício da cidadania plena. Dessa maneira, eles conseguem criar negócios, aperfeiçoar tecnologias e ajudam a melhorar a produtividade das corporações e do sistema político.

Muitos países, entretanto, chegam a (ou afirmam) investir também dinheiro na educação, mas não obtêm resultados. Nesse caso, o problema não está no dinheiro, mas na forma como é aplicado. A conseqüência disso é a falta de vagas no sistema educacional. Isso leva a muitos jovens em idade escolar a ficarem perambulando pelas ruas. Alguns até tentam ir à escola, mas abandonam-na cedo, por falta de políticas afirmativas, elevando, assim, o contingente de analfabetos e sem qualificação. Dessa forma aumenta a criminalidade e outros males.

Acima de qualquer teoria, como está sendo mostrado, a riqueza de uma nação passa, primeiro, pela educação. Depois de destruída pela guerra, a Coréia do sul, se reergueu com base na educação. Educação do povo. Assim, não se deve transformar num produto de luxo, criando ilhas de excelência. Isso leva às imensas desigualdades, ou seja, à pobreza da nação.

Para os países que não aproveitam adequadamente os seus recursos humanos, nem tudo está perdido. Ainda há saída. Os países atolados na miséria, que ficam comendo poeira dos outros, na corrida global, precisam e devem livrar-se de dirigentes míopes, com baixa escolaridade ou com alta, mas sem nenhuma ou baixa visão estratégica, que não aprendem com a experiência dos outros. Dirigentes que, normalmente, buscam, excessivamente, a atenção e concentração de poderes.

As nações pobres, de mandatários que fazem de tudo para se manter no poder, devem aposentar qualquer dirigente, sem viés democrático, que compromete o presente e o futuro de seu país, aquele que quando assume o poder se considera infalível. Mandonista unipessoal, que governa pela ficção. Egocêntrico, implanta a burocracia, a corrupção, incha a máquina estatal, aumenta os gastos públicos e fechado em si mesmo. Fica mais preocupado em saber o que a política lhe pode oferecer. Aquele que procura, sempre, encontrar o culpado de todas situações inconvenientes e esquece que o exemplo vem de cima.

Normalmente são dirigentes tolos sortudos ou néscios. Dirigentes que juram amor pelo país, mas são traidores. Devoram as suas entranhas. Em seu artigo “amor traído”, Belmiro Castor, com base num antigo provérbio e com base num antigo provérbio, afirma que “Os tolos sortudos acreditam que o bafejo da fortuna é uma dádiva inesgotável e assim, buscam dela fazendo aquilo que os tolos sabem bem fazer: tolices. Os néscios com iniciativa são perigosos, porque, em vez de ficar em repouso sem atrapalhar ninguém, acham que têm uma contribuição a dar ao mundo e os resultados são previsíveis”.

Esses dirigentes, comprometidos com a ignorância e dependência externa, criam modelos que produz pessoas reprimidas, aterrorizadas e ignorantes. Essa herança, pesada, também materializada na forma da ignorância e do despreparo que é repassada para as próximas gerações. Por isso que muitas nações ficam mais pobres que outras.

As nações ricas poderiam combater a pobreza das nações, doenças e outros problemas se obrigassem que governos a invistir mais na educação (programa de Estado e não de governo), liberais e não econômicos, e na alternância do poder, preferencialmente da área da educação. Isso é ensinar a pescar e fornecer informações técnicas e não apenas perdoar dívida externa ou fazer discursos diplomáticos para combater a corrupção de governos ou doar alimentos.




Fonte das Fotos:
http://www.wtc.com/

http://www.istitutogea.org.br

O Ministro da Educação afirma que "O governo (de Angola) assume a educação como prioridade para o desenvolvimento do país", em entrevista à Angola (02/12/007).

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Por que não te calas?














Até que enfim que o Presidente venezuelano, militar e político, levou uma bronca do Rei da Espanha, Juan Carlos I. Demorou, mas aconteceu durante a 17ª Cúpula Ibero-Americana que ocorreu no Chile. "Por qué no te callas? Isso com o dedo em riste!

Foi um debate nada saudável. Hugo Chávez acha que sabe tudo. Só ele se considera certo. O salvador da América latina. Esquece de que a sociedade é um conglomerado de discursos. Ninguém tem a verdade pronta. A falta de respeito dele, não tem mais cura. Chega a ser abominável. É uma serpente que quer picar a todos. Distribui, de graça, adjetivos a torto e a direito. Nos encontros com outros chefes de Estados sul-americanos, diz o que quer e de maneira que lhe convém. É o apóstolo Jorge Tadeu, que certo dia mandou calar a boca do Ministro da Cultura de Angola.

Há poucos meses, por exemplo, chamou Jorge W. Bush de “El Diablo”, em plena sessão das Nações Unidas. Eu já contei isso. Pensando bem, até que o presidente estadunidense merece. Só vive derrubando ditaduras que não se ajoelham diante dele para pedir bênçãos. O problema é que deveria respeitar, pelo menos aquele lugar, a ONU. A paciência, portanto, tem limites.

Um monarca parece que faz muita falta. Países de "línguas" que têm reis andam mais na linha. Até Mugabe, o Robert Mugabe, zimbabweano, na presidência desde 1986 e como primeiro Ministro desde 1980, dinossauro em tempo de permanência no poder, quando participa, fica um pombinho.

Como seria tão bom se o português também tivesse rei! Voltemos um pouco no tempo. D. Manuel II é rei de Portugal. Há um encontro de países de expressão Portuguesa, no Timor Leste. Feliciano Loa (só para fazer justiça, porque não o citei quando falei dos presidenciáveis) eleito presidente de Angola, com 65% de votos, ainda no primeiro turno. Eleição sem fraude. Também, Moçambique, de Chissano, ajudou a organizar a eleição.

O Reverendo e poliglota, para mostrar trabalho, trocou a moeda nacional e, em vez de mandar colocar a sua face no Kwanza, para a nossa felicidade, homenageou heróis mortos que são uma unamidade nacional.

Então, o rei (tradicional) de Angola solicita ao Presidente de Angola para não ir a Dili devido às condições climáticas. A época é de chuvas dos regimes das monções. Viaja, então, o seu Ministro da Educação e, posto lá, na presença dos demais chefes de Estado, faz o seguinte discurso:

- A nossa administração encontrou problemas sérios. Muita corrupção. Dos quatros dólares provenientes do petróleo, cuja produção é de dois milhões de barris/dia, hum era desviado. Falta água no Namibe e Tômbwa e outras partes. Luz, nem se fala. Se providências não forem tomadas, a situação pode ser catastrófica. A todo momento uma doença estranha aparece. Lamentamos o fato de termos sido abandonados. Os países que ajudaram a destruir o país agora deveriam nos ajudar a reconstruí-lo, senão muitos irão achar que o problema foi só entre angolanos. (- porque aceitaram a ajuda para a destruição do vosso próprio país? - pensa o Rei).

- Tudo nos foi imposto - continua o Ministro. - Tudo que é imposto não é fácil. O socialismo nos foi imposto. A guerra nos foi imposta. A democracia nos foi imposta. A corrupção nos foi imposta. A eleição nos foi imposta. A ditadura nos foi imposta. A obediência ao ditador nos foi imposta. Os dirigentes nos foram impostos. Sistema que não permite renovação, também nos foi imposto. A educação, que é condição básica para a cidadania, foi negligenciada. Hoje está doente. Faltam hospitais. Nos faltam pesquisadores. O nosso país não possui política para integrar os profissionais formados no exterior. Internamente, há poucos anos foram construídas, somente, 112 escolas primárias. Tudo porque Portugal não formou quadros angolanos. Portugal...

- Por que não te calas?

O (fascista) Chávez é a charge ridícula, mas perfeita de países atrasados. Em Caracas, ele criou uma burguesia bolivariana. A própria elite. Novos ricos criados entre amigos. Para fazer parte desse grupo, só apontado, com o dedo em riste, pelo todo poderoso. Os comunas, de uma hora para outra, tornaram-se milionários e, pior, dependentes do governo. Sempre que há comício é essa elite que vai para lá, toda de vermelho, para ovacionar o novo Fidel. Essa corja, normalmente, faz parte daquilo que lá é conhecido comp "comité especializado" do partido, o "Movimiento V República (MVR)" ou, mais recentemente, Partido Socialista Unido da Venezuela - (PSUV)". No natal, oferecem comida aos pobres. Chávez criou uma burguesia que consome produtos de luxo. Essa burguesia entende que os móveis e imóveis precisam e devem ser trocados, mas homens do governo não. Ninguém aceita andar de carro antigo, mas ideologia antiga, sim. Falar em renovação de quadros, nem pensar.

Até na constituição está tentando mexer, o apóstolo Hugo, para tentar múltiplas reeleições. Qualquer dúvida, levaria o assunto ao Supremo Tribunal de Justiça, cujos membros são do seu partido. Para não correr risco, antes da análise da consulta, compraria um helicóptero para o Tribunal.

Não adianta a imprensa publicar reportagens de casos de enriquecimento ilícito frutos de desvios milionários de verbas públicas. Aí do coitado que fizer isso!. Vai parar no “cuzú” e ver o dia nascer quadrado, isso quando não apanha algumas bofetadas, ao vivo, das mãos de uma deputada, prefencialmente diante de lentes da TV. Deputados da situação batem mesmo, ainda que seja na noitada. Hoje as coisas são assim: o certo é errado e o errado é o certo.

Países que passaram por situações semelhantes resolveram de maneira criativa. Começaram tudo do zero, para fazerem recuar a tirania. Primeiramente, os regimes, os donos da bola, foram desmascarados.

A ditadura atua como um oleiro. Molda o barro conforme seus caprichos. Começa criando uma moleza, um molengalenga, na sociedade civil. Parece com aquelas sessões de relaxamento ou psicanálise. As pessoas percebem que está tudo errado, mas fica o espírito de “não adianta reclamar, não adianta fazer artigo de opinião não vou mudar o mundo”, ou “ele já roubou muito, agora não vai roubar mais”, ou “não adianta reclamar, aqui é assim mesmo”.

Dessa forma, a sociedade é anestesiada. A ditadura é misturada com presidencialismo ou com parlamentarismo só para confundir as pessoas. Assim, tem-se um governo cameleão. Muda de cores. Parece ser como outros governos, mas não é.

As notícias são passadas aos poucos, só para criar confusão. Assim, ninguém ou poucos sabem a real situação do país. Nada é explicado ao povo. Lula, por exemplo, quando está com dor no dedo do pé, todo país fica sabendo.

Quando o povo começa a resmungar, aparece um ministro para falar alguma coisa de eleição ou anunciar obras em áreas sensíveis, numa linguagem e números que o povo não entende. Fazer mesmo, nada! Mesmo assim, o povo se anima com o parlapatês oficial. Um sarapatel de conversa. O povo se acomoda de novo e volta a dormir. E depois nada acontece. Escuta a mesma canção de ninar a vida toda. E o tempo não espera. Atinge os 45 anos, é o final da expectativa de vida e morre. Acabou. E aind deixa um herança cruel aos filhos que, sem acesso à cultura formal, serão ainda mais explorados. Assim, nunca exercerão a cidadania plena.

O regime primitivo, dirigido por psicopatas, só tem fome de poder. A intriga é incentivada. Tudo é feito de propósito, só para se criar um ambiente misterioso e confuso. Para se fazer acreditar que o sistema é muito complexo. Não é para qualquer um. Só o Chávez ou o seu partido está preparado. Se não for o “Chávez” tudo vai virar uma salada. E se a chave perder...

Decididos, sob a bandeira do progresso, o povo que anelou pelo crescimento qualitativo de todos, unidos mudou as velhas estruturas apodrecidas. Afastou os mortos que dirigiam os vivos. Construiu nova capital, em vez que ficar remendando uma cidade. Ninguém morreu com a mudança da capital. Os seres humanos não foram feitos só para viverem num só lugar, em latinhas umas sobre as outras. Há um limite suportável. Tudo chega à exaustão. Acima disso, só fome, desemprego, doenças, criminalidades, falta de lazer e outros tipos de males, como desaparecimentos de crianças. Tudo isso compromete a qualidade de vida de todos.

Novas cidades foram fundadas. Investimentos foram feitos em todos os lugares. Na educação, fizeram investimentos massivos durante décadas, fazendo os jovens serem competitivos nos mercados de trabalho. Jovens passaram a ler mais e a publicar mais suas idéias. Assim se minimizou movimentos migratórios que só causam problemas para grandes centros.

Dessa forma, os Chávez precisam entender que a política é para a vida assim como a leitura é para escola, só para não fugir da minha área preferida. Precisa ser bem pensada. Não se pode padronizar o processo de leitura. Não se pode produzir pessoas em série. Não se pode tratar pessoas diferentes de forma igual. Não se pode exigir que todos leiam o mesmo livro. Não se pode tratar a pessoa que possui conta bancária na Suíça, Portugal, Brasil, Estados Unidos da mesma forma com o camponês, que ainda guarda seus trocados embaixo do colchão. Essas pessoas não têm tempo para esperar.

A leitura não é questão de hábito nem gosto. É uma prática social, econômica etc. que leva em consideração todas as circunstâncias do quotidiano do indivíduo. É o todo. O holístico. O burguês e um indivíduo não assistido pela mão amiga do governo têm expectativas diferentes. Não adianta nivelá-los pela idade. Cada um deve ler textos relacionados com o mundo em que vive ou que abordem temas de seu interesse. Que sirvam de ponte ou descobertas.

Um excelente professor entrega, normalmente, aos alunos uma lista com um bom número de livros, para que cada um escolha aquele de seu interesse. O aluno se apropria, assim dessa prática, vindo-lhe a ser sedutor. Outro aspecto é apresentar uma lista de livros que abordem o mesmo tema, mas de pontos de vista e com discursos diferentes. Sem imposição. Tudo que é imposto é ruim. Normalmente, alguns professores são chaves que leram um livro e é esse que enfiam gula abaixo em seus “pupilos”. Muitas vezes ainda nos deparamos com alguém que diz que os alunos não gostam de ler livros. Qualquer um anelaria falar: “- Por que não te calas?”


http://www.youtube.com/watch?v=VBGHer3yFyc

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Um debate saudável - Nelo de Carvalho

Artigo de Nelo de Carvalho

Brasil - Começo a escrever esse artigo expressando minha admiração por aquele que é tido como o articulista que mais diferença tem feito nesse espaço. O Professor e Engenheiro Feliciano J. R. Cangue.

Além disso, perante ao mesmo, quero me desculpar pelo constrangimento que meus artigos possam provocar à sua pessoa como profissional admirado e respeitado por todos, assim como parabenizá-lo pelo título recentemente adquirido.

Agradeço até por esse jeito cívico de lidar com as coisas, não comum entre aquele tipo de pessoas que fazem parte da mesma escola política e ideologia a que você querido Cangue, lamentavelmente, faz parte em nossa Angola. Refiro-me a essa corja que há uns dias atrás entrou em nosso espaço, ou praça virtual, para destilar o mais puro do seu veneno e que indiscutivelmente nos fez recordar os tempos da antiga Jamba de Joanas Malheiro Savimbi. Essa corja que tem se gabado de ser da UNITA e vive em função de fazer uma guerra contra aqueles que apóiam o governo e o partido que está no poder. Refiro-me daquele pseudônimo mais conhecido por Ticonenco. A propósito li o elogio publicado há dias. Não se anime com o mesmo, principalmente quando vem de um débil mental e pornográfico. Nisso estou de acordo com um dos leitores que lamentou o atraso de sua resposta, parece que você preferiu dançar ao ritmo de um batuque de elogios vindo de um tal Ticonenco.

De sua parte, querido Cangue, devo reconhecer que o gesto é elegante e civilizado, e estou grato por lidar com essa situação.

Antes mesmos, quero dizer que não é objetivo de ninguém ( e muito menos meu) entrar aqui e ofender fulano e sicrano. Ou então fazer uso desse recinto e maldizer supostos personagens adorados por uns e odiados por outros.

Além de falar sobre religião e filosofia ( acredito que seja essa a intenção) aproveitarei o espaço para esclarecer com maiores detalhes algumas interpretações e críticas com relação ao meu modo de referir-me à turma dos mortos. Por ordem esse será o primeiro item.

Falar daqueles que um dia tudo puderam e decidiram em nome da vida de milhões de angolanos é um direito e dever que não tem limites. Vou adiantando que com relação a esses, eu e quantos por aí, nos sentimos no direito de fazer isso. Ou seja, criticar, opinar, julgar, condenar e reconhecer fatos que influenciaram e até hoje influenciam nossas vidas. Já que se os mesmos tiveram ou sentiram-se no direito e dever de fazer o que fizeram, então, inevitavelmente, merecem ser julgados. Julgado pelos seus atos, pelo conjunto de atitudes miseráveis ou benéficas, se for o caso, que os mesmos andaram protagonizando na vida de todos nós.

Primeiro: vou alertando. Não sou desses que vivo em função do além. Acreditando na fantasia, no delírio, na miséria da imaginação; de que velho africano morto não pode ser criticado pelo seus atos no passado e que merece respeito incondicional. Ninguém aqui é contra o respeito aos mortos, ao contrário. Morte que é morto tem que ser velado com respeito e certa dignidade, e no final de tudo ser enterrado. Minhas críticas aos mortos não é parte de um suposto vicio de feitiçaria. Não se trata aqui de andar deambulando com um cadáver de um lado para outro e tentar excomungar o mesmo antes de ser enterrado. Nada disso.

Para mim todas as críticas que tenho feito a essa gente constituem um ato consciente e de direito. É o que eu chamo de: direito de fazer parte da historia, ou ainda, ser a voz da historia e julgar todos aqueles que foram ineficientes, péssimos e incapazes. O eu aqui pode ser substituído por nós para não correr o risco de ser tratado como paranóico. Quando digo: eu, só estou dizendo que sou um desses que exerço o meu direito de julgar aqueles que merecem ser julgados. Todos por aí podem fazer o mesmo, se tiverem bagagem, consciência plena e com a permissão da mesma. Afinal de contas a historia, e a de Angola em particular, não termina com a morte da turma dos 14 anos de luta, ou dos lutadores nacionalistas anti-colonialistas. A voz, da historia, é uma continuação da mesma, do que esses andaram fazendo como heróis ou anti-heróis.

A turma dos mortos deve ser tratada como tal, ou seja, serem julgados, porque constituem fatos do passado que entraram na história. Desde que a verdade seja ostentada de forma implacável. E repito mais uma vez, a voz da história é a voz de todos nós. E ela não pode e nem deve omitir-se, fingir que era e não era. Essa voz não precisa ser vista como, e não é, um fenômeno que fala por si só; ao contrário ela é conseqüência de um conjunto de fatos que em muitas ocasiões nunca dependeu de quem hoje, possivelmente, possa fazer uso dela.

A propósito sobre atos e fatos falarei nos seguintes parágrafos para defender meus argumentos.

Continuando: até quando vamos viver em função de tratar bandidos, assassinos e traidores como heróis? A quem será possível convencer de nossas façanhas duvidosas do passado, num futuro breve? Se continuarmos a defender essa gente e a tratar muitos deles como heróis, salvadores da pátria, democratas. Quando muito deles, refiro-me especificamente a Jonas Malheiros Savimbi, não passaram de verdadeiros traidores; gente ambiciosa que infernizaram nossas vidas, provocaram as desgraças que todos nos conhecemos.

Savimbi e toda sua corja, que se convenceu que as coisas deveriam ser conquistada pela força das armas, provocaram um atraso ao país que equivale em mais de 100 anos. A pergunta é: isso é coisa que devemos esquecer de um dia para outro, e ainda, enaltecer o mesmo por suas façanhas? Isso é verdade que devemos esconder para as futuras gerações? Definitivamente, não.

Muitos de nós perdemos tudo em nossas vidas, em nome de uma guerra contra o comunismo, que todos nós soubemos que na verdade era uma guerra pelo poder. Um poder que Savimbi e muito dos seus homens não abriram mão já mais. É basta ver que o mesmo morreu como morreu: de maneira desgraçada e infeliz, vergonhosa, humilhado. Uma humilhação merecida e vingativa dos milhões de Angolanos que há anos tentava livrar-se do mesmo. É basta ver que aqueles que o seguiram e sobreviveram, por sorte, hoje se servem do banquete de maneira descarada e sem constrangimento. O exemplo disso é que nossas minas de diamante, e até, possivelmente, os poços de petróleos, seus proprietários um dia já tiveram patentes militares. Foram os heróis da guerra, que hoje se sentem merecidamente no direito de adquirirem os frutos da terra. É como se a guerra, inicialmente, e até no fim dela, fossem feito, simplesmente pelos mesmos.

É a verdade que deve ser dita às nossas crianças e aos nossos adolescentes, perca quem perca e fique mal quem ficar. Mas a verdade deve ser implacável, anunciada sem constrangimento por quem assumir o mesmo desafio. Corra o risco que correr. Os fatos não falam por si só é preciso que alguém ou algo fale por eles. Esse algo ou alguém pode ser a própria historia.

Por isso digo: ofensa, blasfêmia, falta de educação é querer tratar e transformar um homem como Savimbi em herói nacional. Isso é que é ofensa, blasfêmia, irresponsabilidade, falta de memória. Isso é fingimento. É pseudo-política, pseudo-democracia e assumir de maneira convincente que somos um povo de idiotas, uma nação incapaz; sem historia, sem passado e possivelmente sem futuro. Mas chega!

Hoje, não estou aqui para falar do Savimbi. Mas da mentalidade que insiste em adorar o mesmo. Essa mentalidade confusa que existe por aí e insisti em permanecer sempre no mesmo lugar. Contrariando tudo, a dialética, a vida, o progresso do país. Essa mentalidade ciumenta que enxerga a paz como um perigo. Por certo, é a mesma mentalidade que faz questão de dizer que é cientista e não abre mão do criacionismo e está orgulhoso de sê-lo. É a mesma mentalidade que vive proclamando aos quatro ventos que devemos começar tudo do zero. É uma mentalidade que me assusta e me preocupa, já que a mesma, segundo uns, tem o potencial de influenciar; infelizmente. Se a lista dos influenciados fosse só o Ticonenco, com certeza, nada se perderia.

É essa mentalidade que proclamou há dias atrás, em seu blog, que a teoria de evolução não está provada e como conseqüência pode ser visto como uma falsa ou uma mentira. Partimos do princípio que, possivelmente, aí existe uma desinformação ou, então, um ato de irresponsabilidade. E que ato de irresponsabilidade? Para quem se diz Doutor ou Acadêmico isso é tão perigoso quanto o médico que sai por aí fazendo declarações contra a doação de sangue em hospitais, por causa de suas convicções religiosas. É tão perigoso quanto aquele cientista que há dias atrás declarou a inferioridade dos negros ou dos africanos perante os brancos ou europeus. É o que se tem chamado de fazer ciência sem consciência, se isso pode se considerar como um ato ou gesto de fazer ciência. E o perigo reside em que o Doutor Luciano Cangue é tido, profissionalmente, como educador, ou seja, professor.

Acho que já estamos na segunda parte.

De minha parte sou radical com relação às duas coisas, ciência e religião, nunca se misturam. Não existe solidariedade entre elas, ou é uma coisa ou é outra. E mais, não me convence a atividade cientifica misturada com religião, não importa quem o pratique. Sei que agora todos em coro virão em cima de mim com o tom da certeza absoluta dizendo-me que grandes gênios ou cientistas da humanidade foram religiosos. Mas com certeza de maneira consciente e até mesmo inconsciente nunca misturaram uma coisa com outra. E quem o fez ou tentou fazer o fez na condição de bruxo. Ciência é ciência, é coisa séria, rigorosa e radical, feita a base de muita pesquisa de maneira persistente e exaustiva. Religião, todas elas sem exceção, é um ato de bruxaria, charlatanismo, vigarice, é mentira por mentira. Constitui um ato de impotência do ser humano com relação à verdade e aos fatos. É a maneira mais covarde e macabra que têm uns para se aproveitarem dos outros, esses outros que de vez enquanto, o cristianismo ou as religiões em geral, cinicamente chamam o de “o próximo”. Esse tratamento é uma maneira cínica, descarada e covarde de lidar com o ser humano.

Vou falar até em tom amistoso, como um amigo que lhe deseja êxito profissional. Se estiver em aula, sempre que estiver, limite-se em falar sobre ciência e da verdadeira atitude de fazer ciência. Dirija-se aos seus alunos como um cientista um pesquisador, como alguém que tenha verdadeiramente domínio na sua área. Evite fazer especulações de caráter religioso, pseudo-científicas, algo que possa pôr em xeque seus conhecimentos e até sua personalidade. Faça o que poder fazer em pesquisa, sem forçar a barra, sem ir ao além e no sobre natural. Procure não cometer erros, mas se cometer retire-se com elegância. A propósito essa da “teoria da evolução não demonstrada até hoje” é um deles.

Por outro lado o título de doutor não nos dá direito a sentenciar tudo, principalmente quando se trata de questões cientificas. Toda cautela é pouca. Levantar polemica em qualquer área que seja é sempre bom, mas faça o uso da razão, do rigor científico, do bom senso e procure afastar todo tipo de fé e crenças. Porque elas, crença e fé, limitam nossa capacidade de investigação e até de raciocínio, induz as pessoas ao engano, ao comodismo, ao um possível estancamento e timidez. Principalmente, quando essa fé e crença são suportadas por uma ideologia política ou de caráter religiosa.

Para continuar tentarei argumentar sobre dois termos importantes que venho usando nesse meu artigo. É algo bem conhecido e definido por aqueles que se dedicam à área de direito e acredito que em filosofia. Só farei uso dos mesmos para tentar tirar analogias, é sobre a definição de atos e fatos.

Não é meu objetivo, é claro, entrar aqui para dar aulas a alguém. Só estou fazendo isso porque quero instigar e provocar o pensamento e a razão.


Fatos e atos são duas definições que poderíamos enquadrar num conjunto Universo que com pouco esforço podemos chamar o mesmo de U; U={ N, H}. Onde H=Homem e N=Natureza. Com isso só estou querendo dizer que o mundo em que vivemos é feito de fatos e atos: o que eu chamo de fatos naturais e atos naturais. Os primeiros são incontestáveis (fatos), independente dos segundos (atos). Os segundos geralmente falam por si só e refletem a manifestação dos primeiros. Ou seja, os primeiros geralmente esperam que algo fale por eles e esse algo é a lei descrita de maneira rigorosa e sem vacilação. Esse algo, diríamos, é a própria ciência. Assim como na vida a natureza manifesta-se pelos fatos que geralmente não falam por si só, e são independentes de todos os atos.

Doutor Cangue a Teoria de Evolução de Darwin constitui comprovadamente um fato da natureza, incontestável. Em biologia é talvez a teoria mais testada, é claro, a mais contestada, como não podia deixar de ser. É a teoria mais perseguida por todos os cérebros que já passaram pela terra desde que a mesma foi anunciada. E até hoje não se encontraram contradições visíveis que possam pôr em xeque sua existência, mas também se surgir alguma evidência contra, a ciência tem capacidade e elegância para se alimentar da mesma. Desde que a mesma seja provada com todo rigor, testada com sapiência onde a fé e a crença são descartadas, literalmente descartadas. Descartada como um amor infiel que a qualquer momento pode levar um chute na bunda. A propósito descartar inverdades é um dos objetivos da ciência.

Uma pergunta agora. Na verdade a pergunta de sempre. Descartando a fé e todo tipo de crença apelativa, descartando o sentimentalismo divino quase sempre como conseqüência da “ma fé” com relação “ao próximo”. Onde entra naquele conjunto de cima sendo aberto ou fechado a teoria do criacionismo e o seu grande autor?

Assim é a ciência: um conjunto de atos que não admite o delírio, o “eu acho”, o “deus disse”, a “bíblia diz que diz”.

Assim, e igualmente, é a historia que não admite falácias e as inverdades. Não fui eu que inventei Jonas Savimbi, não é delírio de minha parte quando digo: que o mesmo traiu os angolanos; primeiro com a PIDE DGS; segundo com a CIA e depois com o regime racista da África do Sul. Não fui eu que inventei sobre a renuncia ou a negação de Jonas Savimbi quando dos resultados eleitorais de 1992, que levou o país a uma outra guerra durante 10 anos. Guerra que, possivelmente, você apoiou ou apóia. Não fui eu que inventei o assalto às aldeias, aos nossos comboios, aos transportes rodoviários que deveriam andar pelas estradas do país para levar comida e riqueza para todos; as sessões da inquisição na antiga Jamba, aos julgamentos e as eliminações sumarias no mesmo lugar. Eu não inventei a guerra do Huambo e a do Bie onde até uns tiveram a sorte de serem decapitados e suas cabeças levantadas como troféus de guerra. E por último, não fui eu, que felizmente, o matou por uma causa justa. Está causa que você prefere fazer vista grossa e ignorar.

Tudo isso, amigo Cangue, são fatos que ninguém se sente à altura de contestar e os atos refletem os mesmos. A propósito sobre o fazer vista grossa e ignorar certos fatos. Acredita mesmo, amigo Cangue, que vai ter um lugar na historia de Angola se continuar agir dessa forma: retrograda, desesperada e sem muita convicção? Só porque um dia o MPLA lhe decepcionou!? Só se for na mesma lista que a de Jonas Savimbi. Este último também agiu assim durante um tempo, com o mesmo pretexto, e olha como o mesmo terminou. È uma pena!

Para você um abraço e muita sorte.

*Nelo de Carvalho, nelo6@msn.com,
Fonte: http://www.blog.comunidades.net/nelo/

Fonte:
club-k.net "Um debate saudável" (comentários dos leitores)
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Qualquer um de nós, algum dia, já foi a uma festa na qual não foi convidado, pois não? Imagine, então, ser convidado para assistir ao casamento de seu melhor amigo, é uma boa idéia. Normalmente quando isso acontece, a primeira preocupação de qualquer um é pensar na roupa que poderá usar e, principalmente, o presente aos noivos, não é assim?

Qual seria sua surpresa se descobrisse que seu amigo vai se casar com uma cadela? Seria constrangedor? Loucura do ser humano? Mas isso é uma prática comum em algumas regiões da Índia. O último caso noticiado pelo jornal “Hindustan Times”, quando é noticiado, foi de P. Selvakumar que se casou com a cadela vira-lata, em uma cerimônia tradicional hindu.

A noiva não decepcionou. Ela estava trajando roupa tradicional de casamento e enfeitada com flores. Manamadurai, no sul do país, parou. Teve festa de arromba após a cerimônia. Até patos não faltaram.

A idéia de casar com a Selvi veio de uma astróloga. A feiticeira, que muitos acreditam possuir poderes inquestionáveis, tem fé de que, assim, ele será curado da maldição que lhe acomete, nomeadamente a perda da audição, pernas e braços paralisados, após ter matado dois outros cachorros, há 15 anos, por apedrejamento. A astróloga desconhece que, biologicamente, indivíduos de espécies diferentes não se casam por falta de desinteresse sexual ou condições anatômicas e por não gerarem descendentes. Além da barreira biológica, também contaria o príncípios morais, sociais e estéticos.

Se você acha que ele é louco, puro engano. O pior está por vir. Na Índia, até hoje, infelizmente, se pratica o feticídio. Isso, agora, envolve todas as camadas sociais. Em decorrência disso, aquele país federal asiático apresenta um déficit de 930 mil meninas. Isso corresponde a 8% a menos, enquanto o número de mulheres, no ocidente, é 3% maior que o dos homens.

A situação é crítica em nossos dias nos quais se pode saber o sexo do bebé ainda com poucos meses de gestação. A caça aos fetos do sexo feminino, no país apontado como futura potência do século XXI, chega a superar o genocídio de crianças do sexo masculino do Egito de Moisés.

Se não bastasse, bebés que conseguem resistir bravamente a essa luta desigual e desumana e furam o cerco, quando nascem são abandonados em cestos, coisa que um indivíduo normal não faz nem com seu cachorro. Esse é também o destino de garotos que apresentem algum tipo de deficiência.

Dessa forma, a Índia, país de altos índices de pobreza, analfabetismo e desnutrição, caminha para a escassez de mulheres e, se nada feito feito, brevemente também haverá carência de cadelas.

Foto: AP
Publicado Club-k.net

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Parabéns I de Maio de Benguela


A equipe do 1º de Maio de Benguela conquistou a taça de Angola em futebol ao vencer o Benfica de Luanda por 2-1, em 11 de novembro, edição 2007. Está de parabéns.

Depois de algum tempo fora, alguns nomes não me são mais familiares. Esse é o caso de Adolfo e Fita. Fico impressionado em ver que o 1º de Maio não perdeu o norte que sempre orientou o seu jornadear: renovar. Toda temporada lançava novos jogadores. Se um jogador não rendia na defesa, nunca era escalado no meio de campo, para ver o que vai dar. Entrava um jogador mais descansado, mais novo. O 1o de Maio nunca teve “Romário”, aquele jogador que algum tempo atrás foi bom e hoje só fica dando voltas no campo, fingindo que está jogando, só para sobrecarregar aos outros.

Por outro lado, a equipe sempre teve jogadores que usam bom senso. Bom senso é quando o jogador faz o sinal ao treinar para substituí-lo quando está cansado ou, mesmo não estando cansado, atende aos apelos dos torcedores ou do treinador.

Eu vi o nascimento dos “proletários”, em 1981. Carreguei essa equipe no colo. Vi os seus primeiros passos. Vi as quedas que levou. Acompanhei o seu desenvolvimento até adolescência. Adolescente que não deu trabalho. Tive a oportunidade de ver o seu primeiro título. Aliás, foi a primeira equipe a levar o título para a província. Sinto saudades daquela formação de Kiala, André, Fusso, Sarmento, Maluka, Daniel e cia.

Essa equipe já escreveu páginas heróicas que nem o tempo será capaz de apagar. Quem não se lembra de sua participação em competições internacionais, principalmente quando eliminou o temido Ashanti Kotoko do Kumasi?

Quem não se lembra dos clássicos em o 1o de Maio e o Nacional de Benguela, de Garcia? Ou Desportivo de Benguela? Por que não falar do Acadêmica do Lobito?

Eu só lamento que naquela época não se fazia cobertura de notícias de províncias, como se faz hoje. Os interesses regionais não eram levados em consideração. Quando comprávamos o “Jornal de Angola” só ficávamos sabendo o que se passava em Luanda. As províncias não eram, praticamente, citadas. Tinha o JDM, mas não existia o Jornal dos desportos.com e outros. Eu vejo, por exemplo, jornais brasileiros reservam espaços regionais, embora advenha da exigência do consumidor.

Naquela época tinha-se perdido a noção de “província”. Por exemplo, Benguela, com freqüência, as bombas de abastecimento não possuíam gasolina nem óleo diesel (gasóleo), coisa que não acontece hoje. Para que saíssem do Lobito até o estádio do “Arregaça”, em Benguela, muitas pessoas tinham que usar como combustível uma substância chamada “diluente”, muito poluente.

Parabéns ao 1º de Maio das Acácias rubras. Não apenas pelo título, mas porque foi dedicado, pelo técnico da equipe “a toda à população daquela província do litoral para retribuir o apoio que tem recebido”.

Poucas são as pessoas que se lembram do povo quando chegam lá. Se isso acontecesse, povos de muitos países teriam uma qualidade de vida melhor. O povo deve ser lembrado nos piores e nos melhores momentos.

Isso também mostra que a famosa pergunta: “a quem dedica o título?” deve ser feita aos técnicos e não aos atletas esgotados, física, mental e emocionalmente, depois de um logo torneio e partida. Administrar uma vitória não é fácil. Novamente, parabéns ao 1º de Maio de Benguela.

O valor da crítica - Paz (parteII) - J.K. Ticonenco










Holanda - “Para toda força aplicada, existe outra de mesmo módulo, mesma direcção e sentido oposto”, Terceira lei de Isaac Newton. Esta lei também pode ser simplificada, caso o queiramos, podendo resultar no seguinte: “a toda acção corresponde uma reacção”. Ao que parece, esta teoria pode ser sentida por qualquer um de nós no nosso quotidiano.

Como sabem, as leis de Newton têm a ver com o comportamento dos corpos em movimento. Porém eu iria mais longe, e diria que o que Newton afirmou em sua terceira lei também é aplicável de uma forma figurada nas nossas reacções emocionais, nossas relações humanas, ao ouvirmos uma música, enfim: o que Newton disse, pode de forma imaginária também ser usado no nosso dia-a-dia fora da ciência chamada Física.

Fulano grita com ciclano, ciclano reage também em tom alto. Fulano apaixonou-se por fulana e esta por sua vez correspondeu ou ignorou (reacção). Enfim: J. K. Ticonenco escreveu a Cangüe e este fez o esforço de responde-lo. Por esta razão, o meu muito obrigado, senhor F. Cangüe.

“Não acredito que o Kota Cangüe teria paciência para responder a textos apócrifos. No mínimo isso lhe vai sacar umas boas gargalhadas”, Osvaldo S. Rodrigues em um comentário a minha carta aberta ao Sr Cangüe. Amigo Rodrigues, posso garantir-lhe com toda a certeza que o senhor enganou-se em cheio. As provas do que digo são mais do que evidentes.

“Eu sempre que leio esta ‘carta aberta’ não consigo parar de rir. Só me interrogo qual terá sido a reacção do amigo Cangüe quando se deparou pela primeira vez com esta ‘carta’. Acredito que ficou ainda mais surpreso do que eu! Pois é, a democracia as vezes tem destas coisas. Eu ainda acho que o Ticonenco passou das marcas com esta atitude”, Osvaldo Rodrigues no blog do senhor Cangüe. Irmão, mais uma vez, a sua previsão foi infeliz e até agora ainda não consegui perceber onde é que eu passei das marcas.

Devo dizer com toda a sinceridade que eu nem sequer estava preocupado se eu teria uma resposta ou não, pois a minha impressão me dizia que o senhor Cangüe cumpriria a etiqueta de sempre se responder ou dizer algo quando se nos escreve, pois trata-se de uma pessoa (Cangüe) comedida. O senhor Cangüe é daqueles que por princípio acha que até o maluco, o assassino, etc., merecem uma resposta sempre que se manifestam, pois nunca as pessoas se manifestam por nada.

Eu gostaria de lembrar que justamente pelo facto de as pessoas ignorarem-se umas às outras, surgem muitos atritos ou até mesmo guerras. Um exemplo evidente é o nosso país, que só veio a conhecer a primeira “paz” (de curtíssima duração) em 1989 a quando dos acordos de Gabadolite. Este feito, assim como Bicesse e Lusaca alcançaram-se porque houve conversa. Enquanto se discriminava o das matas, o nosso sofrimento só aumentava (guerra). Isso também é aplicável aos americanos que chamam quase todos os árabes ou muçulmanos de terroristas, e nunca querem negociar com a outra parte. Como resultado, América nunca tem paz.

SER PRÁTICO / ANGOLANO PERDIDO NO R. DE JANEIRO

Portanto, comunicar, debater, escrever, confrontar, desafiar, trazer novos temas e idéias; tentar conhecer os nossos limites e os limites dos outros, etc., é sempre importante, pois só assim podemos trazer coisas novas, podemos contribuir, podemos falar e também ser práticos, ainda que só por palavras. Sim, apenas falando ou escrevendo também pode-se ser prático, pois prático também se é quando, por exemplo, podemos influenciar ou convencer outras pessoas positiva ou negativamente. Nesse sentido, criticar (observar) é uma base indispensável. Um exemplo que dou aqui é o seguinte:

- “Por último, que tal se o excelentíssimo mestre -professor-engenheiro-activista-colunista-pensador Feliciano Cangüe dá uma telefonada para o aeroporto Tom Jobim, como forma de tentar localizar este irmão ingénuo e distraído, de forma a que o cota dos textos do Hakalilile (Cangüe) possa significar algo para o Agostingo, ainda que a distância, pois Minas Gerais, estado onde o Sr. Cangüe vive, é longe da cidade do Rio? Isso é mais um desafio que faço ao todo generoso”, J. K. Ticonenco.

Fiz esse apelo a minha maneira característica, não ofendi. Repito, usei a minha maneira característica para, indirectamente, tentar significar algo para um compatriota em sofrimento. Para tal desafiei, sentido positivo da palavra, um outro compatriota (Sr Cangüe), residente no mesmo país do compatriota problemático, a ver se ele (F. Cangüe) algo podia fazer pelo nosso amigo perdido em pleno Rio de Janeiro. Senhor Cangüe, que por acaso encontrava-se no Rio, acedeu ao meu pedido e prometeu deslocar-se ao aeroporto Tom Jobim. Tratou-se de uma coisa única. Isso não é ser prático, ainda que só por palavras? Isso só é um exemplo de muitos outros que eu aqui poderia descrever. Respondi a sua pergunta, amiga “Paulinha”? Também recebi a sua pergunta, amigo (a) “Nundas”?

RAZÃO DE ESCREVER AO SR CANGÜE

Mais uma vez, sou de opinião que é conversando sem medo; é comunicando bi ou multilateralmente que as pessoas se conhecem. Por isso, mais uma vez, insisto na palavra debate. Isso deve ou deveria ser crescente entre nós jovens angolanos, futuros da nação, a médio ou até mesmo curto prazo. Foi desta forma que surgiu a minha idéia em escrever algo ao moderado Cangüe.

IMAGENS OBSCENAS

O conversar, criticar, elogiar, etc., ajuda a que aprendamos a medir melhor as nossas palavras antes de sacá-las para fora. Exemplo: fruto de críticas e elogios constantes a minha pessoa, começo a chegar a um certo equilíbrio nalgumas das minhas saídas radicais dentro deste espaço digital. Não sei se me faço entender? Na verdade eu quero dizer que, por exemplo, aprendi e continuo a aprender a saber falar dos irmãos bakongos, que não devo usar certas palavras pesadas e chocantes, que não devo publicar imagens obscenas só porque não estou de acordo com quem indirectamente me ofendeu, etc. Tudo isso alcancei muito também porque houve, há e haverá sempre crítica e elogio a minha pessoa.

ERRERARE HUMANUM EST

“Errare humanum est”. É verdade. Também temos o direito de errar, mas quando repreendidos, não devemos insistir no mesmo erro. Repito, há que haver sempre observações, pois é difícil nós nos observarmos a nós próprios. Desta forma, quero dizer que permanecerei o mesmo crítico de sempre para com qualquer pessoa (caso aja razão para tal), mas tudo na base do respeito e sem envolver questões pessoais. Como errar é também meu direito, agradecia que me indicassem sempre o erro que eu possa vir a cometer. Se o reparo for justo, baixarei a cabeça. Se o reparo não for justo, entrarei com o meu argumento como forma de defender-me. Só isso, e muito obrigado a todos pelos elogios e críticas, inclusive as mais radicais.

ALGUMAS REACÇÕES

“Caro Ticonenco, não sou filiado a nenhum partido político. Mesmo que eu quisesse, nenhum me agüentaria por dois meses. Prefiro seguir minha carreira independente”, F. Cangüe.

“Ah, tem mais. Se o governante não quer ser criticado só lhe resta dois caminhos: trabalhar e mostrar resultados ou vai plantar batatas. Vou ao Aeroporto do Galeão visitar o jovem angolano detido lá há 14 dias. Acabou o meu tempo. Fui claro, caro Ticonenco?” F. Cangüe.

CONCLUSÃO

As duas reacções aqui acima por parte do senhor Cangüe dizem-me que indirecta (primeira reac.) ou directamente (segunda reac.) a crítica deve sempre estar presente nas nossas vidas. (1)Por ele, Sr Cangüe, também ser crítco, deduzo que teria problemas em qualquer partido político angolano, pois todos eles ainda carecem de democracia. (2)E por o mesmo Sr Cangüe ser um democrata nato (falo de coração), age com humildade e é capaz de dar ouvidos até ao mais desprezado da sociedade.

A todos desejo um óptimo dia 11 de Novembro no próximo domingo.

NB: Com este testo, considero, de minha parte, o fim do debate positivo com o senhor Cangüe. Estou feliz, sobretudo porque aprendi muito com todos num intervalo de menos de uma semana.

Viva Angola!
Viva a democracia!
Viva o debate!
Viva a paz!
Viva o (a) angolano (a).

J. K. Ticonenco:
TiconencoJose_ticonenco@yahoo.com.br



Fonte: Club-k.net
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domingo, 11 de novembro de 2007

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Como acordar o turismo angolano?



Dizem que o homem é um ser perpetuo viajante. Eu não sou diferente. Quase todas minhas férias eu as passo em cidades históricas do Estado de Minas Gerais, como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e São João del Rey. É muito difícil ir a essas cidades uma vez e não mais voltar lá. É impressionante como as autoridades locais planejam e tomam todas as providências necessárias para materialização do turismo. Assim fazendo eles visualizam riscos e oportunidades. Dessa forma conseguem definir estratégias de ação.

Além disso, eles procuram consolidar e reciclar o conhecimento entre os colaboradores, treinar, preparar e desenvolvê-los para que tenham condições de lidar com mudanças e a inovações do setor. Uma coisa chamou-me atenção. As peças publicitárias, por exemplo, não trazem imagem de mulher, daquelas que sugiram alguma mensagem negativa. Isso ajuda, entre outros, a coibir o turismo sexual. Dessa maneira eles obtêm retornos dos investimentos. Isso se materializa com o aumento de turistas, mais despesas com alojamentos, refeições, "gasosas", bebidas, diversões, compra de roupas, presentes, recreações, excursões e diversas despesas.

Em todo mundo, o turismo é um setor da economia que, se devidamente explorado, pode gerar novos postos de trabalho e assumir uma grande participação na renda nacional.

Só para termos uma idéia, segundo os dados da Organização Mundial do Turismo, entre 1950 a 2000, os deslocamentos internacionais de turistas passaram de 25 a 700 milhões por ano. Em 1999, o turismo, que cresce à taxa de 5% ao ano, movimentou US$ 3,5 trilhões. Esses dados não levam em consideração aos turistas que se deslocam dentro do próprio país.

Hoje, o turismo, se impôs como uma das principais atividades econômicas do mundo. Já superou setores tradicionais como o automobilismo, a eletrônica e, pasmem, até a petrolífera.

O nosso país, que hoje possui cerca de 80% de sua mão de obra ativa na informalidade, pode atrair esse fluxo para o país. Para tal, o mercado turístico precisa desenvolver projetos que impulsionem e potencializem o mercado turístico. Isso pode resultar em desenvolvimento econômico e postos de trabalho. O turismo, em muitas situações, ajuda a fixar o homem no campo, principalmente no momento em que presenciamos o êxodo rural.

No nosso caso específico, sempre que ouço falar de turismo, fala-se, normalmente, apenas, da construção de hotéis. É verdade que a situação é crítica nessa área, devido à guerra que o país passou. Ainda podemos encontrar hotel simples, sem janelas, com diária de um quarto individual custando US$ 113,00. Em cidades históricas mineiras, no Brasil, hoteís com essas especificações, se foram encontradas, a diária não passa de US$ 4,00. Mesmo com essas limitações ainda temos fluxo médio de 210 mil turistas por ano, na sua maioria proveniente da Europa. Com esse número, a rede hoteleira angolana e similares arrecadam cerca de 263 milhões de dólares por ano (vale lembrar que os números variam muito. O maior número de receitas foi registrado no ano de 2005).

Entretanto, não devemos nos contentar com esses valores. Nós precisamos um “plus ultra”, ou seja, irmos “mais além”. Precisamos investir de forma intensa na divulgação e fidelização do cliente. Isso envolve um bom atendimento ao turista. Para tal, pessoas que moram em locais turísticos precisam ser treinadas para que desenvolvam o espírito hospitaleiro recebendo os turistas com o máximo de boa vontade, presteza e simpatia e por que não, aprender os principais termos que lhes permitam estabelecer a comunicação com turistas. Um simples "Bonjour, ça va? ou Good morning. Can I help you?" Além disso, precisam preservar (livrar do mal) e conservar (manter) os locais turísticos como: as nossas florestas tropicais, formações rochosas extraordinárias, rios, lagos, quedas de água, parques nacionais, montanhas, grutas, praias etc.

Os profissionais da área precisam agir de uma forma inovadora, não deixando que apenas o ministro do turismo fique se debatendo sozinho. Isso propicia melhorias no mercado turístico e hoteleiro. O setor precisa oferecer a prestação de serviços e atendimento de alta qualidade aos turistas. As embaixadas e consulados precisam também facilitar a concessão de vistos de turista. Precisamos sair do amodorismo. Não podemos ficar a vida toda apenas organizando eventos que têm a ver com turismo. Precisamos ações concretas. Precisamos explorar ao máximo e divulgar nossas potencialidades. A Internet aí está e a TAAG aproveita bem esse meio. Qualquer "site" que eu visito, lá está a "publicidade google" da nossa linha aérea. Temos tudo para sermos o maior paraíso turístico africano. Lugares turísticos não nos faltam. Eles vão desde o agroturismo, o ecoturismo, o turismo de aventura, lazer, cultural etc.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Olhe para frente e esqueça as tristezas do passado (II)



Hoje escrevo-vos diretamente da cidade maravilhosa. O Rio de Janeiro está sediando o II Fórum Internacional de Angolanistas, com o lema: “Política, Direito, Economia e Democracia na Reconstrução de Angola”.

O Fórum reúne angolanos e pessoas de outras nacionalidades interessados em “divulgar a produção de idéias que visam a reconstrução, o progresso e o desenvolvimento sustentável de Angola, bem como o intercâmbio acadêmico-científico entre estudantes, cientistas, pesquisadores, acadêmicos e atores da sociedade civil e governamental para debater questões do interesse desse rico e potencialmente influente país, localizado na África Austral”. Assim se lê no folder do evento. É um verdadeiro “onjango”.

Eu estou cá para divulgar o meu trabalho intitulado: “Desenvolvimento de revestimento contra o fenômeno de carburização e erosão metálica (metal dusting) para a indústria petrolífera.”. Mais informações o leitor pode acessar: http://www.angolanistas.org/.


Cá, estou conhecendo vários leitores do club-k.net. A maior discussão é saber o que vou escrever nesta segunda parte. Uma leitora pediu-me para enviar recado a “Eu mesmo da Silva” que escreveu “aqui (em Angola, as coisas) mudaram muito, uns para pior e outras para melhor”. O que queremos é que tudo mude para melhor, mas para todos.

Para contar-vos tudo, preciso fazer um artigo à parte. Primeiro porque teria que falar da viagem de 676 km que percorri em 8 horas e fornecer-vos mais detalhes como certa vez fez um colega, que muito cito, que viajou de Toronto até Calgary. Em segundo lugar, estou numa “Lan house”. Eles cobram muito caro, US$ 1,00 por duas horas de uso.

Quero agradecer as palavras de João Kiala, Maria, J.P.Lopes da cunha, Pedro/Belgica, Ondaka Yasunga, Felisberto Damba, ao Filho de agricultores no Uige, João Muhongo Paulina Frazão e outros comentadores. Caro Bufonegro, o presidente Lula tem um programa semanal radiofônico chamado “Café com o presidente”. Lá ele expõe todas as preocupações de brasileiros e, de vez enquanto, é sabatinado pela imprensa. As perguntas não são combinadas. Se Lula, que foi eleito democraticamente, faz isso, imagine então como eu deixaria de responder aos leitores? Prezado “Chateado” não fique chateado por isso.

Prezada Ya Towala, sobre Viana que eu fiz referência no artigo anterior, todas as pessoas que me recomendam algum lugar bom para se viver, afirmam que Viana, tirando a unidade prisional (estou a saber agora que Graça está livre), é a cidade com melhor qualidade de vida. Entretanto, outras afirmam que é o local onde a pessoa acorda cedo para ir ao trabalho, 4 horas, e chega tarde ao serviço, 9 horas. Falando mesmo sério, eu não gosto dos agitos de cidades grandes. Eu quero viver no interior: Uige, Cabinda, Luena, Benguela, Lubango, Namibe, Huambo, Malanje, Ondjiva, sei lá.

Eu, durante boa parte da minha vida, fui, fervorosamente, do MPLA. Fui bem doutrinado na teoria do marxicismo-leninismo. Fiz parte dos primeiros “pioneiros” que pegaram em armas. Depois veio a OPA (organização dos pioneiros angolanos) que ficava marchando. Eu cheguei a criar uma “travagem” aos sul-africanos que se espalhou por todo país. – marcar passo! –enfrente marcha! Uma travagem aos sul-africanos, arens ?

Quando o Sporting de Portugal fez uma excursão a Angola, ganhou do 1o de Agosto em Luanda, ganhou da seleção da província de Benguela e empatou com a seleção provincial do Huambo (1x1), lembram? Eu acompanhava os relatos no escritório montando estratégias políticas. Nós andávamos naqueles IFAs de 4 rodas.

Eu conhecia aqueles hinos de cor e salteado: “quero, quero, quero ser soldado, veste a farda, veste a farda...”; “Um de dezembro é o dia do pioneiro angolano; nesse dia morreu o pioneiro, o pioneiro herói do MPLA”; “Africa oye, oye, oye, Africa oye, oye , oye. Eu orgulho-me de ser africano, nossos antepassados resistiram aqui, filho legitimo do mundo ..”; “eu vou morrer em Angola, com armas, com armas de guerra nas mãos, granada, granada será meu caixão, enterro, enterro será na patrulha”. “Nós somos do MPLA pioneiros, nós somos pioneiros angolanos.”

Eu obrigava os meninos, a saber, de cor os lemas de cada ano. Por exemplo, 1978 foi o ano da agricultura (foi ano de muita fome); Nas Empas (lojas do povo) não tinha nada. 1979 foi ano da formação de quadros; veio depois ano de disciplina e controlo e assim por diante.

Em seguida fui promovido à JMPLA. Aqui já cantávamos “com o povo heróico e generoso, no combate pela independência, nossa voz por Angola ecoa, e faz recuar a tirania; decididos, unidos marchamos, alto facho, levado aceso, MPLA, vitória é certa, pelo povo, todos ao ataque...”.

Fiz também parte da BPV (brigada popular de vigilância), com uma AK-47 calibre 7.62 x 39mm. Ainda bem que não fiz nenhum disparo.

Nesse momento resolvi estudar. Tinha boa habilidade em artes plásticas. É muita pena que a escola não soube estimular o meu lado artístico. Os meus desenhos foram publicados, agora não lembro bem da instituição, mas acho que era INALD. Isso era privilégio dos melhores desenhos do país. Fui chefe da Associação dos Estudantes do Ensino Médio. Naquela época nós pregávamos que a exploração do homem pelo homem acabaria em Angola. Pura utopia. Estamos na lata até hoje, enquanto os outros já possuem poços de petróleo.

Alguma coisa começou a me chamar atenção. Quando éramos rusgados, pela manhã, nos levavam ao CRM (Centro de Recrutamento e Mobilização). O que acontecia? A partir das 14 horas, entrava o Delegado de alguma coisa levava o seu filho. Depois vinha o outro delegado e levava o outro. No final da noite só nós que não éramos filhos de delegados que permanecíamos lá. De gente grande que teve filho na tropa, que me vem à memória, foi o de Kundi Paihama, mesmo assim para escola de Oficiais, no Lubango, se não me engano. Fazer guerra somente com filhos dos outros é muito fácil. Eu resolvi ser professor. Já vos contei isso.

Os que mandavam em Angola eram: Neto, Carlos Rocha Dilolwa, Maria Mambo Café, Ruth Neto, Lúcio Lara, Lopo do Nascimento, Pacavira, Ambrósio Lukoki e outros. Na morte de Neto, nós controlávamos os pioneiros que brincassem. Por 45 dias, era proibido jogar bola e brincar. A rádio Nacional só passava música solene com a inserção de algumas mensagens: “glória eterna ao fundador da nação e do MPLA-PT”. Muita gente boa que diz ser do MPLA não passou por isso, talvez nunca nem ouviu falar disso.

E a história hoje se repete. Só tem acesso à educação uma minoria. É essa minoria que continuará mandando. No entanto, se hoje, Angola for invadida por uma força estrangeira, espero que isso não aconteça, eu serei o primeiro a sair do Brasil para ir à frente do combate. Agora, os irmãos têm e precisam saber conversar e não um combater o outro. Parece que nisso ainda precisamos aprender muito.

Quando eu falo do MPLA, em primeiro lugar o faço por conhecimento de causa. Em segundo lugar porque é o MPLA que está com a faca e o queijo. Administrou o país em época de guerra e em época de paz. Foi mais eficiente na primeira parte. Agora só vemos intrigas, um querer abocanhar a maior parte do bolo, enfim. Daqui a pouco um vai engolir o outro. Ninguém mais confia em ninguém. Isso é o fim do MPLA que tanto dei suor.

Isso não traz mágoa nenhuma. Mas ajudou-me a tomar um outro caminho. Eu mudei de idéias e hoje sou feliz. Diz o velho pensamento: “triste não é aquele que muda de idéias, mas aquele que não idéias para mudar”. Espero que ninguém no futuro venha se lamentar.

Agora devemos olhar para frente. O que queremos é transformar os números em melhoria da qualidade de vida, prezada “Eu mesmo da Silva”. Angola deu passos que devemos louvar: a estabilização macroeconômica e o próprio crescimento econômico. Eu sempre bato na mesma tecla. Invistamos no capital humano. Isso é que fará diferença. Nenhum partido obterá êxito se não investir no ser humano. Precisamos de pesquisadores angolanos; precisamos de quadros capazes; Isso não cai do céu. Ontem batemos na tecla de discrepânciassalariais entre nacionais e estrangeiros. Hoje já se está noticiando que o governo vai rever rever isso. Quem sabe que venham nos ouvir também?

Se, por ventura, existem pressões externas para que o governo controle os gastos públicos, é simples. Vamos construir escolas em regime de mutirão. Eu participaria de um mutirão doando tijolo, um saco de cimento, fazendo adobes, na alvenaria e onde fosse necessário para levantar as paredes de uma escola que beneficie meu filho. As igrejas fazem isso.

Sobre artigos que cobram alguma postura da UNITA, eu já li vários. Por exemplo: Jorge Eurico escreveu recentemente “Velhas novidades de uma UNITA à deriva”; Pedro Veloso, UNITA, qual é a sua posição? José Maria Huambo escreveu, “UNITA: Uma Oposição «Fantoche»!”; “BSantos escreveu, “Unita vs oposição”; São artigos extremamente equilibrados. E não só eles que escreveram sobre a UNITA. Tinoconeco arrasou com o seu artigo “ Kwachas, como ganhar confiança em vocês? Isso para não falar de Nelo de Carvalho.

Eu quero mudanças. Como criticar partidos que são opções de poder? Se eu apresentar críticas ao governo e aos partidos da oposição, então o que mais querer da vida? Por isso que nunca fiz artigos sobre a FNLA, PLD, Pajoca, PSD, PRD, FDA, PNDA, PADEPA, PRS, PDP-ANA, AD-Coligação, da UNITA, e outros partidos. A esperança de mudanças está nesses partidos. Se esses partidos, neste momento político estão calados, pode ser estratégia deles. Eles estão na boca do leão. Não sou eu que vou explicar isso. Seria o caso dos colegas que estão em Angola, na Holanda e outros lugares investigarem essa situação. Eu não sou super-homem. Eu não sou omnisciente nem omnipotente.

Estamos aqui fazendo uma tempestade de ideias. A solução de todos os problemas nossos passam pela contribuição de cada um. O que seria se todos fizéssemos medicina ou engenharia?

Espero que dentro de dois ou três anos eu tenha a satisfação de um fazer um artigo mais ou menos assim: “Presidente Samakuva invista em educação ou desista da presidência da República” ou “ Carlos Leitão (ou o outro) não cometa mais o erro” ou “Alexandre André agora é a sua vez, mande ver” ou “Ngola Kabangu ou Lucas Ngonda agora o povo no poder”.

Caro Ticonenco, não sou filiado a nenhum partido político. Mesmo que eu quisesse, nenhum me aguentaria por dois meses. Prefiro seguir minha carreira independente.

Gosto de comparar a política ao futebol. Precisamos ter equipes fortes e competitivas. Gosto de assistir lindas partidas. Há rivalidades, mas enquanto a partida durar. Depois disso, somos todos irmãos, com os mesmos direitos de oportunidades.

No Brasil, o Vasco e Flamengo são equipes rivais. Mas, se o técnico historicamente ligado ao Vasco for convidado a dirigir a seleção nacional, convoca também jogadores Flamenguistas e de outras equipes. Nenhum vascaíno deixa de comemorar um gol feito por um jogador flamenguista. Como explicar isso?

Esse espírito nos falta. Nós gostamos muito rotular pessoas e associá-las a este ou aquele partido. Bastou o Ticonenco afirmar que viveu no Huambo, um leitor comentou: “brother, o doutor então é da UNITA”. O indivíduo vale mais se for deste ou daquele partido; se nasceu nesta ou naquela província. Se é ou não doutor; se é ou não mulher; se é ou não da diáspora; se o seu teste de HIV deu ou não positivo. Por sinal gostei da crónica de Elizabeth Fernandes, uma verdadeira aula de cidadania.

Nessa confusão toda, eu me identifico com um jogador da seleção. Sou homem do mundo, livre até de escolher assunto a abordar. Imagino que salada seria se uma nutricionista resolvesse falar do Princípio de Relatividade de Einstein? Eu prefiro falar daquilo que domino, nem que seja um pouco.

Talvez algum dia me aproxime de um deles assim que tivermos PMPLA, PUNITA, PFNLA, PFDA etc. ou então troquem de nomes. Mas, me libertei do complexo segundo o qual a vida só faz sentido se estiver vinculada a um partido político, ou para manter aparências. Assim deixei de fazer parte de estatísticas de pessoas que vêm a esse mundo só para cumprir um ciclo de vida. Nascer, crescer, casar, ter filhos, muitos filhos e morrer. Alguém sabe a expectativa de vida de um angolano?

Não escrevo para pedir emprego ou procurar fama. Estou mostrando que eu mudei e minha vida mudou. Se eu consegui, qualquer um pode conseguir. Se o indivíduo aceita ou não, todos temos livre arbítrio. O importante é que depois ninguém se arrependa, enquanto poderia ter lutado por um mundo melhor. Eu seria muito egoísta se deixasse isso só para mim. Nunca pedi para que alguém passasse a usar bebidas ou drogas.

Ah, tem mais. Se o governante não quer ser criticado só lhe resta dois caminhos: trabalhar e mostrar resultados ou vai plantar batatas. Vou ao Aeroporto do Galeão visitar o jovem angolano detido lá há 14 dias. Acabou o meu tempo. Fui claro, caro Ticonenco?

*Feliciano Cangue

Fonte: Club-k.net (Ver também comentários dos leitores)



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O valor da crítica - Paz (parteII) - J.K. Ticonenco

Olhe para frente e esqueça as tristezas do passado (I)


Brasil - Na semana passada, o compatriota José Kosciureski Ticonenco convidou-me para um debate concreto sobre o tema “Angola, olhe para frente e esqueça as tristezas do passado”. Eu, que não sou doutor, digo isso pela milésima vez, aqui me apresento para o embate.

Só a pessoa que faz sujeira é que foge do trumuno. Demorei responder porque estive participando de um concurso. Acho que, de uma forma, a demora foi legal, como diz o velho ditado: “O melhor de uma festa é esperar por ela”.

Ticonenco deu uma grande idéia. São idéias como essas que beneficiam a nossa sociedade e ainda fazem do autor se tornar conhecido e diferenciado. Acredito que muitos estiveram na expectativa da resposta. Depois que o desafio foi lançado aumentou muito o número de acessos ao portal “club-k.net”, na verdade não só por isso. Nunca vi tanto congestionamento. “Problem in database Connection” ou “session initialisation failed” eram mensagens que apareciam a todo o momento. Mas isso está a incentivar a outros portais a publicar também artigos de opinião, coisa que não deveriam ter deixado de fazer.

Ticonenco mostrou que é uma pessoa organizada. O organizado é o que enxerga as vantagens de entender e o respeitar o sistema e dentro dele exercitar a sua criatividade. Ele foi muito criativo. Isso mostra que nós angolanos, individualmente, temos boas idéias, mas quando o assunto é coletividade, ai a confusão é muito grande.

É por isso que estamos a propor quebra de paradigmas. É isso que Walter Pinto, Oswaldo Rodrigues, eu, BSantos, Nvunda Tone, e outros companheiros estamos a propor a mudança de pensamento, de atitude, a abandonarmos a tradição. Isso não quer dizer que entre nós não tenhamos divergências em determinados assuntos. Um pode ser criacionista outro evolucionista; outro capitalista outro socialista, enfim. Mas algo temos em comum. Precisamos de uma “organização”.

Gostei muito do último artigo de BSantos, principalmente quando escreveu: “Cada cabeça que pensa é um soldado, mil cabeças que pensam formam um exército. Cada voz que se levanta é um tiro, o grito de mil vozes é uma salva de canhão. Com muito orgulho sinto-me parte do "movimento pela mudança de mentalidade". Devemos estimular a criatividade desses soldados angolanos e não a esperteza. O esperto dá o tiro no próprio pé ou no pé do companheiro. BSantos propõe uma sinergia independentemente do partido a que o indivíduo é adepto. A nação angolana é muito maior e está acima de todos os partidos políticos. Os partidos surgiram e desaparecerão, mas a nação não. Fico feliz pelo aumento de artigos de opinião no club-k.net. Quando chegaremos à marca de mil articulistas?

Concluindo o pensamento acima. O esperto acha que pode enganar a todos, por isso anda com seguranças, envolvido em mensalões, com a corrupção, ou simplesmente fura bicha. A esperteza beneficia a uns e a “organização” beneficia a todos. A partir da semana, Ticonenco tem história para contar para o resto de sua vida.

Sobre o trumuno, repito, eu gostei da idéia. Se eu fosse presidente de uma grande Corporação, Ticonenco seria o candidato à minha sucessão. Não é difícil descobrir um líder nato. Só não vê quem não quer. Eu teria certeza de ter encontrado alguém que ousaria e não administraria na mesmice.

Aliás, não precisa ser presidente de uma grande corporação. Assim que deixar de colaborar com o club-k, e isso um dia vai ter que acontecer, porque eu não sou insubstituível, terei a certeza de que um maior que o Cangüe pegará a batuta para animar o nosso clube. Saberá reger a música do momento. Terei a maior alegria de opinar seus artigos.

Depois de certa idade, os indivíduos tornam-se conservadores e incomodam-se com mudanças. Eu já estou entrando nessa fase. Quando chego em casa e encontro o sofá noutra posição, já me incomoda. Quero ver o meu sofá sempre na mesma posição para assistir ao programa do “Jô Soares”. E se alguns leitores vierem a pedir para eu ficar, apesar eu ter passado pela mesma escola de Fidel Castro, em termos de discursos, eu farei o mesmo que fez Joaquim Chissano, Mandela, Sam Nujoma e outros grandes estadistas, sair de cena enquanto ainda a minha popularidade estiver alta. Assim, serei lembrando, para sempre, como alguém que deu sua contribuição para a construção de uma sociedade mais justa e fez parta do “movimento pela mudança da mentalidade”.

Quero agradecer aos elogios recebidos pelo Ticonenco, mas em nenhum dos meus artigos eu solicitei para não fossem aprofundados. Ainda recentemente recomendei exatamente o contrário.

Em relação ao tema proposto, longe de mim ficar com ódio ou tristezas do passado. Quando olho o presente e faço minhas projeções, vejo uma nuvem cinza se aproximando a passos largos, que deve verter toneladas e toneladas de granizo, sobre os nossos telhados de vidro. Quando boto a minha colher nesta sopa o faço para alertar. Esse alerta está sendo feito por pessoas que estão no alto de um edifício e vêm a viatura em alta velocidade a se aproximar a um precipício. Se não mudar o sentido, se não for dado outro rumo, algo terrível poderá acontecer. E isso vai explodir na mão do Ticonenco.

Muitos países passaram por situações piores, mas souberam dar a volta por cima. Escolheram caminhos certos. Eu, sinceramente, até agora não entendi bem o que querem fazer de Angola. A economia vai bem, mas o povo só como migalhas, quando come. Na hora das promoções, os bons são sempre passados para trás. Em vez de investirmos em Educação, por exemplo, investimos em silenciar a imprensa privada.

Caro Ticonenco, o nosso problema é a paralisia burocrática, o desrespeito ao interesse coletivo. Tornamos-nos muito individualistas, materialistas e mais consumistas. Quem sou eu? De donde vim? Para onde vou? Quanto ganho com isso? É assim que funcionam agora as quatro questões existenciais. Outro dia estive conversando com o jovem angolano, eu sabia quem ele era, mas o estava tratando com um simples angolano. – Você sabe com quem está falando? – Não sei e nem quero saber e tenho raiva de quem sabe. Assim respondi. O impressionante é ainda encontramos angolanos sorrindo nesse ambiente.

Sem mais delongas passo a responder às perguntas dos leitores. Para tal, tive que reler a todos os meus artigos. Começo fazendo elogios.

O primeiro elogio vai para o governo da província do Huambo. No meu artigo intitulado “Quando você acha que está por cima, tome cuidado” eu convidei o leitor a visitar a página do oficial do governo do planalto central (
http://www.governodohuambo.com/pag_47.htm) que estava carregada de propagandas do MPLA, com direito até à ficha de filiação, lembram? Pois é, meus amigos, hoje passei por lá e ela está uma maravilha. Está uma verdadeira página de governo. Estão de parabéns a todos que cuidam dela. Convido-vos, outra vez, para outra visita e elogiar também o bom trabalho feito. Isso é prova de que ninguém está aqui só para criticar.

Aliás, eu não vivo só de fazer críticas. Em meus artigos já fiz vários elogios como, por exemplo, a formação de bibliotecários em Angola, a FESA e mais recentemente do governo provincial do Benguela.

Por que escreves com sotaque brasileiro? Eu esqueci o “sotaque angolano”. Por ventura as telenovelas brasileiras usam sotaque angolano? Mas em breve essa situação será superada com a entrada em vigor da ortografia unificada em todos os países de expressão portuguesa. O português do futuro irá suprimir o “c” e o “p” . A grafia correta será: direto, ação, ótimo e não mais directo, acção nem óptimo. Não se usará mais acento circunflexo. A grafia certa será “leem, veem, enjoo” etc. o “h” será retirado de palavras como húmido, que será úmido. O acento cairá e escrever-se-á assembleia, jiboia etc. Como viram, eu já estou na dianteira de muitos, ou seja, na “pole-position”.

“Eu nunca li teus artigos porque você tem cara de pateta alegre. A tua foto parece ser mais um prisioneiro dos talibans vestido em europeu”. Caro leitor, admiro a sua sinceridade. Angolano é muito sincero. Imagina se eu dissesse que não “não saio daqui” e você tivesse que me aturar por 25 ou mais anos!.

Por que não volta? Vontade não falta. Há muito tempo que saí de Angola. A minha estrutura de vida está montada cá. Se eu sair aqui com as minhas bungingangas, não terei onde colocá-las. Cheguei a fazer o óbvio. Enviar currículos. Eu já enviei para várias empresas, principalmente, as petrolíferas. Já me cadastrei até no “to Angola” e muitos outros lugares.

Em muitas empresas enganei-me porque coloquei no meu currículo todos os cursos que fiz. Não me chamaram. Numa das poucas que me chamou, cometi um erro primário. Eles perguntaram-me mais ou menos o seguinte: “quais os cargos que pretende alcançar se vier trabalhar conosco”? Eu, para mostrar que sou ambicioso, escrevi: “ser diretor do centro de pesquisa”. Depois disso não me ligaram mais. Um amigo que trabalha nos recursos humanos, disse-me que eu cometi o maior erro de todos os tempos. O pessoal que trabalha nos recursos humanos, que tem o poder de contratar-me, com muitos anos na mesma função, nem sonha chegar a esse cargo. Ele já fica com raiva do candidato. Como um candidato que nem ingressou na empresa e sonha com o cargo? Muitas vezes nem o chefe dele sonha com esse cargo. A resposta certa para esses casos, segundo Max Gehringer, seria: “quero dar um passo de cada vez e aproveitar as oportunidades que a empresa for me dando.

Depois eliminei o mestrado e outros cursos do meu currículo, se bem que agora com o advento da internet eles acabam descobrindo. Mas há pouco tempo ainda passava. A lógica era seguinte: Se vou me candidatar para uma vaga que não exige mestrado por que colocá-lo?

Oba! Começaram a chamar-me para as entrevistas. Eu até entendo que eles querem proteger-me. Numa delas, fiz bem os testes. A moça chamou-me e disse-me que eu tinha ido bem. Deu-me os parabéns e confidenciou-me que eu ganharia muito dinheiro. E ficou falando, falando e falando. Como eu não entendia o código, ela perdeu a paciência e disse-me que havia “custos operacionais” para o cargo a que eu estava concorrendo. - Quanto? Hum mil e novecentos dólares!

Descobri que eu deveria enviar meu currículo para Instituições de ensino superior, pelo menos elas precisam de profissionais com pós-graduação. Enviei currículo à Universidade Agostinho Neto, à Universidade Católica, Piaget e Centro Universitário de Benguela. Coloquei endereços de Angola e do Brasil. Nenhuma me respondeu e nem tem obrigação de responder. Tudo depende de vagas. Numa instituição de ensino da área de petróleos, certa vez, disseram-me que teria que me deslocar ate lá para participar do concurso.

Eu não fiquei triste com tudo isso. Isso é para mostrar ao Kabazuka como funcionam as coisas. Falar em voltar em Angola é fácil, nas a sua efetivação não é tão fácil assim principalmente para nós que somos do povão que estávamos bom tempo fora. Eu até imagino o choque que deve ter levado o Kabuzuka ao ver o meu currículo. – Feliciano? não, não, não, rasgue logo esse currículo. No entanto, no Brasil, a cada dia que passa eu recebo convites de várias instituições. Tenho algumas de minha preferência: as Universidades Federais (Universidade do Estado). Lá, eu terei condições de fazer pesquisas.

A minha contribuição para Angola é efetiva a partir de cá. Isso me faz lembrar Uma maneira de matar a rã, é colocá-la em água fria e aquecê-la aos poucos. Conforme a água vai aquecendo ela vai se acostumando até ser trucidada pela água quente. No entanto, se outra rã for jogada na água quente, imediatamente ela dá um pulo para fora.

Quando voltas? Não sei. Viver em Viana isso é que não quero.

Como tu falas de Luanda, se não vives cá? A rede globo de televisão faz muitas reportagens.. Ontem passou uma reportagem de Regina Casé sobre os Candongueiros e kinguilas. Quem acompanha o portal club-k.net, está muito bem informado. Além disso, baixei, de graça, da internet (
http://baixaki.ig.com.br/site/dwnld26308.htm) o “Google Earth”, bem mais prático que o maps.google. Na parte superior aparece “se o download não iniciar automaticamente, clique aqui” e instalei. Usando os cliques no mouse, lado esquerdo, eu consigo o Zoom que me permite ver até um tijolo estendido na rua. Assim, todos os dias eu visito Cabinda, lá posso ver o “porto” local, Luanda, Benguela, Namibe, Tómbua, Sumbe, Huambo, Ondjiva e outras cidades de Angola e do mundo.

A súmula do meu pensamento, como já disse alguém, não se resume num simples sim ou não. Na segunda parte responderei perguntas como estas: O senhor já escreveu inúmeras vezes sobre MPLA, JES e seu governo. Sobre a miséria e educação no nosso país, mas, por incrível que pareça nunca se atreveu a escrever sobre a UNITA e Samakuva. Será que o senhor não o faz com certa intenção pouco clara por detrás disso? O senhor Cangüe é um engenheiro com tudo quanto é diploma e algo mais. Não é assim, compatriota? O senhor seria capaz de escrever um artigo crítico sobre as posturas da UNITA e do passivo Samakuva de 2003 (nono congresso) até os dias de hoje?

* Feliciano Cangue

Fonte: Club-k.net

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