domingo, 15 de novembro de 2009

Os angolanos estão a perder os bons costumes


Os angolanos estão a perder os bons costumes”

ROSA DIAS, secretária

Uma paixão resultante de amor à primeira vista levou-a a trocar Angola por Moçambique, já lá vão 29 anos. Rosa Dias vive hoje em Maputo, onde trabalha como gestora administrativa do conceituado escritório de advogados e consultores Sal & Caldeira. Há 13 anos, foi eleita a melhor secretária de Moçambique.

Texto ANTÓNIO FREITAS,
Enviado especial a Moçambique
Foto INÁCIO PEREIRA


Tudo começou no último dia do ano de 1975, o tal que é especial para os angolanos. Há 34 anos, numa noite de fim de ano, Rosa Dias conheceu um cidadão moçambicano, de seu nome José Muianga. Este tinha acabado de vencer a primeira São Silvestre do pós-independência, a tradicional corrida que Luanda acolhe anualmente no dia 31 de Dezembro.

A partir daquele momento, esta secretária que já foi eleita uma vez a melhor na sua função em Moçambique, iniciaria um romance com José Muianga que viria a ser consolidado cinco anos depois com o enlace matrimonial.

Mas antes ainda trabalhou no antigo Centro do Livro Brasileiro, uma das melhores livrarias que Angola já teve e que funcionava no mesmo edifício onde hoje a TAAG tem a sua sede. Lá, Rosa Dias funcionou na área administrativa, mais concretamente na gestão do armazém e nos contactos com os editores portugueses e brasileiros.

Mas o amor viria a mudar completamente a sua vida. Conhecia Moçambique apenas dos livros escolares. Mudada para Maputo, o casamento mudar-lhe-ia também os hábitos. “Tive problemas de adaptação devido à mudança de costumes alimentares e culturais. Foi difícil arranjar emprego e cheguei mesmo a pensar em regressar a Angola”, conta-nos na sua sala de trabalho na Sal & Caldeira.

Mas as coisas começaram a correr para o melhor quando, através de um familiar que residia em Angola e que trabalhava na Mabor, conseguiu o contacto dos gestores da Mabor Moçambique, a conhecida fábrica de pneus que, tal como no nosso país, está hoje parada e votada ao abandono.

Depois de submetida a testes de admissão, foi admitida na empresa como auxiliar administrativa.

“O director dos Recursos Humanos não ficou muito satisfeito com a minha admissão, por não ser moçambicana, e só entrei por interferência dos administradores”.

Em Março de 1982 começa a trabalhar na Mabor. “Fui para a secretaria- geral carimbar cartas e enviar telexes, mas depois passei a secretária do auditor da empresa. Seguiu-se uma transferência para o secretariado do Conselho de Administração e acabei por ficar lá 23 anos, até ao fecho da empresa.”

Em 1996 teve um momento alto na sua carreira profissional: foi eleita a melhor secretária de Moçambique.

Aliás, Rosa Dias é membro da Associação das Secretárias de Moçambique. Tantos anos longe da pátria, como é que mata a saudade, perguntámos a esta angolana. “Tenho tido contactos com a comunidade residente, que não é numerosa. Sou a presidente da mesa da Assembléia Geral da Casa de Angola em Moçambique”, respondeu-nos Rosa Dias. E como é que vê Angola 29 anos depois de sair da mãe-pátria? A resposta de “Rosita”, como também é tratada: “Depois de 29 anos em Moçambique, este país é parte da minha vida. Mas fico feliz com os sucessos de Angola, quer sejam na economia como no desporto. Mas também fico triste quando se fala em alta corrupção.”

E acrescenta: “Sinto que se está a perder a moral e os bons costumes, uma coisa que os angolanos tanto preservavam. Quando vejo a TPA noto que estamos a ser colonizados culturalmente pelo Brasil. Estamos a copiar muita coisa dos brasileiros e nem sempre as melhores.”

Rosa Dias afirma que não está de fora a possibilidade de um dia regressar a Angola, país que sempre lhe dá muita saudade, sobretudo da família e dos amigos. Por isso, não quis terminar a conversa com o Novo Jornal sem lembrar a mãe, a Dona Albertina, os irmãos – um deles é o comandante Atanásio Dias, da TAAG – e a sua irmã afectiva, Titina
de Carvalho.


Rosa Félix Dias é casada, mãe de dois filhos, um arqueólogo e outro a estudar medicina. Tem como hobbies a música, a leitura e o cinema. Adora os pratos típicos angolanos, sobretudo o feijão de óleo de palma para um bom mufete. Antes mandava vir a fuba de Angola, para o funje de sábado, mas agora já compra este artigo em Maputo. Mas se a vida tem bons momentos, também há aqueles menos felizes. Diz-nos esta angolana que a sua maior dor aconteceu em 2001, quando perdeu uma filha, nascida em Angola, já formada em Veterinária.
A.F.

Novo Jornal, 13 Novembro 2009

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