terça-feira, 29 de setembro de 2009

Divaldo Martins afastado da policia


Divaldo Júlio Martins, jovem superintendente que notabilizou-se como porta voz da policia em Luanda, observa agora um indefinido período de afastamento entendido, pelos “outsiders” em Luanda, como efeito de conflitos de geração que se constata no comando geral da policia. O mesmo esta agora em casa mas sem corte de salário e dedica se a escrita.

Quem é Divaldo Martins:

Os mais próximos tratam-lhe por Dinho. Estudou jornalismo no IMEL valendo-lhe a entrada na agencia Angop onde trabalhou como jornalista. Licenciou-se em ciências políticas em Portugal. É daí que constrói um forte laço de amizades com outros jovens policias angolanos (Bengue, Luto, Roque, Dunga e Diogo). Mais tarde quando rregressou a Luanda passou também a estudar direito pela Universidade Católica.

No quadro do rejuvenescimento da policia ficou o porta da voz do comando de Luanda, ao qual notabilizou-se. Em dezembro de 2007 chegou a ser vitima dos assaltos em Luanda e os ladrões reconheceram-lhe como o “madie que manda bocas na radio”. Contruiu redes de amizades e pela sua afabilidade, os jornais em Luanda congratulavam se com o mesmo por se ter mostrado disponível aos jornalistas sempre que solicitassem parecer daquela instituição respeitante. Ganhou carisma e acabou por ser afastado ou seja aos 32 anos de idade “já” passou para “reserva.”

Chega a ter grau de parentesco com Fernando da Piedade dias dos Santos “Nando”, por via da sua mãe que é irmã da primeira esposa daquele. A ligação em si, nunca foi posta em causa com o seu profissionalismo embora houve tentativas internas de fazer-se a conotação por motivos de esvaziar a sua ascensão.


Mais informações:
http://www.club-k-angola.com/index.php/about-joomla/bastidores/3579-divaldo-martins-afastado-da-policia.html

domingo, 27 de setembro de 2009

Filhos procuram pais em Angola






Para manter a tradição em procura de filhos de ex-alunos angolanos na ex-URSS publicamos mais duas solicitações nos chegaram

1. Eu, Piminov Pavel Pavlovich, nascido na Rússia, em Ulyanovsk. Eu cresci em uma família de trabalhadores comuns. Mas eu era diferente, sou mulato. Em vez disso, foi difícil, mas eu me formei no colégio; 2 anos servi o exército em Moscovo, em uma divisão separada para uso operacional na unidade militar GOS 3186 na exploração de sociedade de propósito específico. Agora vou começar o ensino superior.

Quando criança, minha mãe me disse que eu tenho um verdadeiro pai biológico. Minha mãe é Alla Piminova Harisovna . Conheceu o meu pai em 1986, quando trabalhou na escola militar superior técnico na cidade de Ulyanovsk.

Meu pai verdadeiro era Africano da República de Angola, ele é um engenheiro. Ele conheceu a minha mãe e ficou grávida. Só que ele não foi informado dessa situação, porque quando resolveu comunicá-lo, ele tinha ido embora.

A única coisa que sei é que nome dele é Félix, engenheiro, sua data de de nascimento 28.05.1960, Luanda. Eu realmente gostaria de ver com seu verdadeiro pai. Please Help me encontrar.

2.Eu, Ilona Kolesnichenko, procuro meu pau - Victor Emmanuel Fortunato Te Obreo, nascido em 1952 ou em 1953.

Em 1984, ele estudou na unidade militar, na cidade de Izmail, região de Odessa na rua Escola e viveu em um dormitório na rua Nakhimov em Izmail. Sabe-se que ele veio da República de Angola cidade portuária de Lobito ( Luanda?).

Em 1984, ele conheceu a minha mãe Kolesnichenko Praskóvia, nascida em 1948. Aos 6 Setembro de 1985 eu nasci. Ele me viu e sabe que ele tinha uma filha.

Ele foi para Angola, mas depois voltou para Ismael, e até escreveu cartas para mihna mãe. Sabe-se que ele tinha uma irmã Beiruta, que vivia em Portugal. Mesmo em cidade Ismail foi um amigo dele - Adam. Por favor, ajudem-me a encontrar o meu pai.

Qualquer informação pode ser encaminhada para

"Лилия Буцких" lilbua68@gmail.com
e nfranklin15@gmail.com e comunicar aqui neste blog
Veja outra lista extensa de fillhos que procuram os pais em Angola, que foram ex-alunos na ex-URSS
http://cangue.blogspot.com/2009/01/filhos-de-ex-estudantes-na-russia.html

Veja o video que mostra o reencontro emocionante de filhos e pais
http://poisk.vid.ru/?p=2&do=showair&code=A619A8D3-1320-451C-A3B3-65EECCAC57DE


Procura-se (Brasil)

sábado, 26 de setembro de 2009

Aprendiz de Josef Fritzl vai ver o sol nascer quadrado


Bélgica - Abel de Jesus Gomes, de 42 anos de idade (top esq.), ex membro do Comité de Acção do MPLA neste país e residente no Reino da Bélgica, cidade de Liège a mais de 16 anos , foi sentenciando recentemente a uma pena de 4 anos de prisão por abusar sexualmente a sua filha.

A semelhança de Josef Fritzl, o pedófilo austríaco que gerou 7 filhos com a filha, Abel de Jesus Gomes, também chegou mesmo a engravidar a filha, segundo apurou o inquérito da polícia.


Abel Gomes encarregou-se pessoalmente de provocar o aborto, levando a menina ao hospital, alegando às entidades hospitalares, que a menina tivera sido engravidada por outrem e ele na qualidade de pai assumiu a responsabilidade de realizar o aborto.


Mais informações:
http://www.club-k-angola.com/index.php/about-joomla/the-community/3564-belgica-angolano-viola-filha-e-condenado-a-4-anos-de-prisao.html


Como proteger crianças contra abusos:
http://cangue.blogspot.com/2007/10/como-proteger-as-crianas-do-abuso.html


O tribalismo ainda existe?


Sucessão presidencial...

o factor étnico

Bem analisado, José Eduardo dos Santos baralhou tanto os naipes que ele próprio pode cair na teia que foi tecendo. Os casos de Paulo Kassoma, Roberto de Almeida e Fernando Dias dos Santos «Nandó» têm reminiscências étnicas que colocam desafios e ameaças ao ainda Presidente da República.

Se por uma qualquer das sua insondáveis razões, JES se abstivesse de Zenu e Manuel Vicente e quisesse apenas contar com esse trio para efeitos da sucessão, teria em Paulo Kassoma a oportunidade para fazer um avanço histórico em Angola, colocando pela primeira vez na Presidência da República um ovimbundu.

Este é o desafio. A velha lógica que tem privilegiado a colocação de personalidades kimbundu nos principais órgãos da hierarquia do Estado mantém-se de pé, mas já é bastante contestada em muitos círculos. Olhando para o cenário existente, a lógica só é quebrada no Tribunal Constitucional, cuja titularidade recaiu sobre um mestiço.

Para muitos, tendo chegado aonde chegou, Kassoma pode ser um instrumento à mão para o virar do jogo. É originário da maioria étnica e tem folha de serviço, esta mesma que o catapultou de Governador da Província do Huambo para primeiro-ministro.

Joga a favor de Kassoma o facto de presentemente não haver no Bureau Político do MPLA alguém que não seja kimbundu melhor posicionado do que ele. O primeiro- ministro é um ovimbundu, diga- se, mais tolerável que João Baptista Kussumua, por exemplo, apesar deste ter mesmo nascido no Sul. O nome de Kussumua vem muitas vezes à liça sempre que se alvitra a passagem de testemunho a alguém do Sul. Neste caso, a estratégia cogitada passa sempre pela ideia de optar por um pseudo-ovimbundu, ou seja, alguém originário dessa etnia mas que tenha nascido fora, como é o caso de Paulo Kassoma.

Acresce que JES também não tem no seu viveiro, o Palácio da Cidade Alta, quem possa fazer esse papel de fiel de balança étnica. São todos jovens que o «Kremlin» nun-ca aceitaria. JES precisaria de mais tempo para rodá-los, algo que já está a fazer com a nomeação para o Palácio de gente proveniente da sede do MPLA.

Mas depois das cogitações em torno de Kassoma, começam as ameaças. Como é que a ala cate-tense havia de gerir uma situação como essa? É pouco crível que ten-do em Roberto de Almeida uma oportunidade de regressar à ribal-ta depois da morte de Agostinho Neto, ela aceitasse ficar simples-mente de mãos cruzadas vendo um kimbundu entrar e ocupar os aposentos sacralizados do Palácio da Cidade Alta.

Sobrinho de Agostinho Neto, o actual vice-presidente do MPLA pertence à ala conservadora do partido de cuja pureza ideológica já foi o guardião, além de ter sido a segunda figura da hierarquia do Estado na condição de presidente da Assembleia Nacional.

Por outro lado, também não se está a ver Nandó a não torcer o na-riz a semelhante cenário. Assim, ou Kassoma vai para a Assembleia Nacional e Nandó fica com a vice- presidência. Ou Kassoma passa à vice-presidência e Nandó mantém- se. Mas neste caso Roberto de Al-meida continuaria a ser um bicudo problema.

Só JES saberá deslindar este in-trincado novelo que foi ele mesmo quem teceu. ■

Fonte: SA, Edição 335 , 26 de Setembro de 2009





Veja artigos relacionados
Composição étnica do Governo está desequilibrada: 56% são Kimbundus

http://cangue.blogspot.com/2010/02/composicao-etnica-do-governo-angolano.html


Paulo Kassoma não foi nomeado Vice-Presidente, provavelmente, por ser Ovimbundu
http://cangue.blogspot.com/2010/02/paulo-kassoma-nao-foi-nomeado-vice.html

Uma das sedes do CAN deveria ser no Huambo

http://cangue.blogspot.com/2010/01/uma-das-sedes-do-can-deveria-ser-no.html

O grito de Liberdade do Divaldo





Por Maurílio Luielo

Divaldo Martins, destacado membro da nossa corporação policial, veio a terreiro recentemente, como cidadão (que nele pré-existe) reclamar por uma certa falta de liberdade que pare-ce caracterizar a nossa sociedade nos últimos tempos.

Na perspectiva do Divaldo as pessoas parecem mesmo impedidas de pensar e as que se atrevem a fazê-lo são rotuladas de «Contra». A maioria mesmo prefere engrossar a falange dos «Pró» e desta feita evitar problemas com o «sistema». Disse o Divaldo também que por isso muitas pessoas da sua geração preferem viver caladas e muitos preferem afogar o seu silêncio bebendo excessiva-mente. As reflexões do Divaldo, tão inofensivas quanto isto, suscitaram segundo ele uma reacção inusitada de familiares e amigos que, movidos das melhores intenções obviamente o aconselharam a ter cuidado, a não se meter com o sistema, enfim, a viver calado.

Subscrevo por inteiro as teses do Divaldo pois vivo diariamente experiência semelhante. Desde que há cerca de nove meses começou a saga de «Ovisonehua» tenho me confrontado com estes dois grupos de pessoas: aquelas que consideram ser um enorme atrevimento da minha parte emitir opiniões como o tenho feito e aquelas que, de maneira geral, concordam com as minhas opiniões e me encorajam a prosseguir. Os primeiros geralmente se apresentam como amigos ou enviam recados por via de pessoas que me são próximas aconselhando- me a desistir desta «empreitada» ou limitar-me a escrever sobre bioquímica e medicina (sou médico e ensino bioquímica na Faculdade de Medicina).

Dizem eles que escrevendo desta forma me arrisco a comprometer definitivamente a minha carreira profissional que, diga-se de passagem, vai bem e obrigado! Mas, para mim, o maior indicador do deficit de liberdade que caracteriza a nossa sociedade hoje é o facto de que entre os elogios que me são mais frequentemente dirigidos é de que eu sou muito corajoso. Corajoso pelo simples facto de questionar algumas posições públicas de pessoas do establishment!!!

Ou seja aquilo que para mim é um mero exercício de cidadania é visto por muita gente como um acto de coragem. Só isto ilustra bem como anda engatinhando a nossa democra-cia, sete anos depois do alcance definitivo da Paz e um ano após a realização das eleições legislativas. O Divaldo entende que este estado de coisas se deve sobretudo a uma auto-demissão das pessoas que, para se esquivar, atribuem responsabilidade a este ente intangível que é o «sistema». Considero, que não é de todo inocente esta justificação e também entendo que o sistema não é tão intangível como parece.

Existe de facto uma acção concertada que visa condicionar as pessoas e mantê-las dóceis aos desígnios do «sistema». A estratégia inclui ac-ções aparentemente desconexas mas totalmente integradas que visam intimidar e condicionar a progressão social das pessoas e os exemplos infelizmente são muitos. Contudo, entendo que a resposta para se opor a isso não é a resignação mas o enfrenta-mento, pelos meios disponíveis, e, os jornais, ao veicularem livre-mente opiniões diferentes cons-tituem um espaço privilegiado para o efeito.

Como diz Alexis Tocqueville «... para se viver livre é necessário habituar-se a uma existência plena de agitação, de movimento, de perigo; velar sem cessar e lançar a todo o momento um olhar inquieto em torno de si: este é o preço da liberdade». Isto significa que a liberdade não se compadece com o medo pois ela não é oferecida de bandeja mas sim resulta de luta, a liberdade é uma conquista e por isso deve-mos vigiar para que ela não nos seja subtraída. Diz Thomas Jeffer-son que «o preço da liberdade é a eterna vigilância». Ceder à inti-midação seria por isso renunciar à liberdade e aceitar a opressão e a humilhação, isto é, renunciar à cidadania. Depende de nós o ca-minho a trilhar pois como tam-bém nos alerta Tocqueville «... na diversidade de caminhos que as nações podem percorrer para a realização da democracia o factor mais importante para defini-los é a acção política do seu povo».

Depende de nós, angolanos, se cedemos à intimidação e renun-ciamos à liberdade ou lutamos por nossa liberdade exercendo a cidadania. A história de Angola é, todavia, uma história de luta e de conquistas, que permitiu pôr cobro à opressão e humilhação colonial, derrubar a «ditadura do proletariado» e estou certo que este espírito de luta não permitirá que um punhado de angolanos se aproveite dos privilégios que obtêm do exercício do poder para subjugar todo um povo. A escolha dos angolanos será inequivocamente pela liberdade e a verdadeira democracia.

Para Stuart Mill «a liberdade não é um luxo que deve interessar apenas a uma minoria esclarecida; ela é antes de mais nada o substrato necessário para o desenvolvimento de toda a humanidade. E o é principalmente porque ela torna possível a manifestação da diversidade, a qual, por sua vez, é o ingrediente necessário para se alcançar a verdade». Entende ainda Mill que «o dano peculiar de silenciar a expressão de uma opi-nião é o de que se está roubando à raça humana, tanto a posteridade quanto a geração actual e ainda mais aqueles que discordam da opinião do que aqueles que a sus-tentam. Se a opinião é correcta, eles são privados da oportunida-de de trocar o erro pela verdade; se é errónea, eles perdem – o que é quase um tão grande benefício – a percepção mais clara e a im-pressão mais vívida da verdade, produzidas por sua colisão com o erro».

Liberdade e Igualdade são os mais elevados valores da democracia e que inspiram a Carta Universal dos Direitos Humanos. Retomando Alexis Tocqueville podemos entender que «é a igualdade que torna os homens inde-pendentes uns dos outros, que os faz contrair o hábito e o gosto de seguir apenas a sua vontade em suas acções particulares, e esta inteira independência de que gozam, em relação a seus iguais, os predispõe a considerar com descontentamento toda autoridade e lhes sugere logo a ideia e o amor da liberdade política».

Isto sugere que embora as instituições possam ajudar na manutenção das liberdades e direitos fundamentais, é na acção política dos cidadãos que reside a garantia de sua existência real na democracia. As eleições de 2008 consagraram uma verdadeira «tirania da maio-ria» e a insensibilidade e arrogância que caracterizaram a acção do executivo neste primeiro ano sugerem isso mesmo. Sem contrapor uma acção política à altura seria oferecer terreno à acção desta tirania que ameaça nossas incipientes conquistas democráticas. Calarmo-nos diante de tantas tropelias é sermos permissivos ao autoritarismo que ameaça ostensivamente nossa existência democrática.

Por isso aqueles que se deixaram dominar pelo medo deveriam ao menos permitir que aqueles que ainda levantam suas vozes o façam a fav or da liberdade comum e da democracia pois a liberdade de expressão é a mais elementar das liberdades.■

Fonte: SA, Edição 335 , 26 de Setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O ensino superior






É um dado adquirido que sem educação não há desenvolvimento. Os estados que optaram pela luta contra o subdesenvolvimento fazem avultados investimentos na melhoria da prestação de serviços ao nívelda educação e ensino.

O caminho para chegar ao desenvolvimento passa também pela existência de boas infra-estruturas escolares, de bons professores e programas nos diferentes níveis. Não interessa só termos uma quantidade razoável de instituições de ensino universitário, públicas ou privadas. É preciso que essas instituições tenham condições para transmitir conhecimentos aos alunos que são os futuros quadros que terão de resolver os múltiplos problemas do país.

A expansão da rede de instituições de ensino superior deve ser acompanhada por um aumento da qualidade do corpo docente que lecciona nas diferentes universidades do país, a fim de que os quadros que nelas são formados possam resolver os complexos problemas da sociedade.

As instituições de ensino superior, públicas ou privadas, devem absorver para o seu quadro docente pessoas que realmente dispõem de conhecimentos que garantam uma boa formação a todos os que a elas recorrem.

Deve haver rigor no recrutamento de professores universitários. Não se deve banalizar o ensino superior, recorrendo-se a pessoas que não têm conhecimentos suficientes para assegurar uma boa formação dos alunos de instituições de ensino superior. Não se pode recrutar por recrutar, só para ter professores a ministrar todas as disciplinas, quando na verdade não há professores com qualidade para ensinarem as materias aos alunos.

Os critérios de selecção e recrutamento de professores universitários para as instituições de ensino público e privado devem dar prioridade à excelência, de modo a que tenhamos bons professores a leccionar. (...)

Jornal de Angola, 24 de Setembro de 2009: Editorial
http://jornaldeangola.sapo.ao/19/42/o_ensino_superior

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

MPLA premeditou o golpe baixo? - Ismael Mateus



Por Ismael Mateus



Luanda - Dando como certa a informação do presidente da bancada parlamentar do MPLA, Bornito de Sousa, de que a proposta das eleições atípicas não é não só nova como o MPLA delas já sabia, então o caso é mais grave do que se imaginava.


"O MPLA nos enganou a todos"

Na verdade, do extracto da resolução do Bureau Político de 13 de Março nada se infere sobre esta matéria.

O próprio líder parlamentar explica que o BP decidiu que fosse ‹‹orientado um grupo técnico para elaborar uma proposta adoptando o sistema presidencialista com processo directo na eleição do Presidente da República››, e isso não remete, nem de perto nem de longe, para as eleições atípicas defendidas pelo Presidente.

Pelo contrário, reforça a idéia do compromisso eleitoral que o partido maioritário assumiu com a sociedade. Tecnicamente,a proposta avançada pelo Presidente da República é de eleições indirectas. As sul-africanas são indirectas. Para que o formato apresentado pelo Presidente da República passe a ser de eleições directas, o MPLA tem de deixar cair a ratifcação ou confrmação no Parlamento.

Bornito de Sousa, na conferência de imprensa, e Carlos Feijó na TVZimbo deram o devido sinal técnico de que só por essa via as indirectas do Presidente Eduardo dos Santos podem passar a directas.Tudo indica,portanto,que o MPLA adopte a proposta atípica do Presidente, sem a ratificação no Parlamento como no caso sul-africano.

E assim,com essa ‹‹engenharia jurídica›› o discurso político se torna sustentável visto que em teoria não deixam de ser eleições directas. O problema é que havia o compromisso de serem feitas eleições legislativas presidenciais.

Este modelo de directas dispensa a dupla votação, visto que é uma eleição presidencial com suporte partidário. Pensamos que seria mais honesto afirmar-se que houve uma evolução e que agora o maioritário passa a defender isso. Tentar convencer-nos de que não se trata de algo novo pode ser mais grave do que se pensa.

Em primeiro lugar, se o BP assumiu uma posição sobre isso em Março, não faz sentido que na proposta do MPLA,apresentada a 25 de Maio,e ratificada pelo seu CC a 27de Março,não se tenha incluído já o modelo atípico.Se o espírito da resolução do BP fosse o das atípicas,não faria sentido o comunicado final do CC e as declarações subseqüentes de diversos dirigentes.

Por outro,estaríamos também perante um grave caso de desonestidade intelectual e política já que se realmente a pretensão do MPLA é antiga, chegaríamos facilmente à conclusão que sempre houve afinal uma agenda secreta. Ou seja quando o MPLA nas conferências provinciais e na conferência nacional pediu aos militantes, simpatizantes e amigos que apoiassem a idéia das eleições separadas afinal já havia uma agenda secreta.

Quando se fizeram afirmações sobre as presidenciais em 2009,já havia afinal membros do BP e CC do MPLA que sabiam que elas não se iriam realizam e de que havia planos de só as realizar,no modelo de atípicas, em 2012. Na verdade, a conferência de imprensa de Bornito de Sousa levanta problemas mais graves do que a simples dês-coordenação entre o MPLA e o seu presidente.

Uma (dis) sintonia é normal em política e, no caso do MPLA,só se torna notícia porque os próprios dirigentes do MPLA se remeteram a um endeusamento do Presidente Eduardo dos Santos. Em política seria natural, internamente as correntes de opinião se debateriam,e no final o partido sairia mais reforçado aos olhos dos cidadãos.O temor em ter um pensamento diferente do cda Presidente é de tal que para muitos parece um crime lesa-pátria ou algo contra a linha política e ideológica vigente. A intenção de fazer arranjos a algo que é visível e mais do evidente vai certamente levar muita gente a tentar vir explicar o inexplicável e assim complicar ainda mais as coisas.

Corre-se agora o risco de cometer um erro maior, passando-se à sociedade a idéia de que o MPLA nos enganou a todos. Se afinal o MPLA sempre quis as atípicas e tinha até tomado decisões sobre isso, deveria ter esclarecido a sua posição, não só antes das eleições legislativas como depois. As implicações desse silêncio estão agora à vista com a discussão sobre o mandato deste parlamento e sobre a conveniência da realização das eleições a meio do mandato.

A ser verdade que o MPLA afinal já sabia e tinha tomado decisões sobre isso,não temos dúvidas de que se tratou de um golpe baixo, um golpe que não digno de um partido com as responsabilidades do MPLA.

Uma clara desonestidade intelectual. Não acreditamos francamente que o MPLA seja capaz de uma jogada destas.Mas se foi,se nos levou a todos a um acto eleitoral com uma agenda escondida, se nos levou a pensar em eleições separadas quando havia o objectivo de eleições únicas (um sistema presidencialista sob modelo eleitoral parlamentar), então o mandato dado pelo povo em 2008 deve ser imediatamente interrompido.

A ser verdade a idéia de que o MPLA tinha a agenda secreta,o mandato popular de 2008 foi obtido de modo enganoso,por omissão de informações e indução,propositada e intencional,dos cidadãos em erro quanto à expectativa de eleições presidenciais.

O acordo que o MPLA fez com os seus militantes e com a sociedade angolana,através do seu programa político, é de um modelo de eleição do Presidente da República por sufrágio universal,directo e secreto. Se havia outra interpretação,à margem do que é habitual,o MPLA tinha o dever de precisar e esclarecer o alcance da sua ideia.

Ou o MPLA não tem e não omitiu a verdade e agora se cola ao seu Presidente, admitindo, por isso, uma evolução ou então omitiu a agenda secreta e assume que enganou os eleitores. E se houve manipulação do eleitorado, então teremos todos de ir a votos e o MPLA nem pode sequer ter moral para vir reclamar do seu confortável 82%.

É uma questão de coragem política e intelectual decência e de respeito pelos eleitores.Certamente até vai ganhar mas fá-lo dizendo a verdade, sem agendas secretas,se é verdade que as tinha.


Fonte: SA

Albertina localiza a mãe




Há poucos dias esreveu-nos a jovem Albertina Ngombo. Ela é filha de um ex-estudante angolano na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com uma cidadã soviética. Era o desejo dela encontrar a mãe.

O Blog "Hukalilile" publicou (http://cangue.blogspot.com/2009/01/filhos-de-ex-estudantes-na-russia.html ) o pedido e o encaminhou ao Centro responsável em localizar pais e filhos de ex-estudantes na URSS. Hoje recebemos a seguinte nota dela (23 de setembro):

Carissimos,

Quero agradecer a ajuda que me foi dada por vocês. Apos 26 anos eu finalmente e com a vossa ajuda encontrei a minha mãe.

Nós já entramos em contacto por telefone. Apesar de eu ja não falar a língua, tive ajuda e assim conseguimos falar.

Isso para mim ainda parece um sonho, que so se tornará em realidade quando eu estiver com ela pessoalmente. Vamos voltar a falar e nessa altura combinar tudo.Obrigada por tudo de coração.

Não sei o que mais dizer, senão um muito obrigada.

Albertina Andrevna Ngombo


Albertina, os nossos parabéns. Recupere o tempo perdido. "Quem procura acha, aqui".


Veja a lista completa
(http://cangue.blogspot.com/2009/01/filhos-de-ex-estudantes-na-russia.html )

Oportunidades para profissionais Angolanos experientes residentes no Brasil



Publicidade

O Fórum de Recrutamento ‘Careers in Africa’ está prestes a ter lugar, no Rio de Janeiro, de 16 a 18 de Outubro de 2009!

Este ano, surgiram, além de posições para recém licenciados e jovens em inicio de carreira, excelentes oportunidades para profissionais que procuram posições estratégicas e cargos de gerência em operações em Angola.

Se tiver amigos ou colegas de nacionalidade Angolana que já têm carreiras estabelecidas no Brasil ( 2 anos de experiência ou mais) e que estejam interessados em participar deste Fórum devem agarrar esta oportunidade.

Como exemplo, uma das empresas que procura este tipo de profissionais é a Puma Energy, que está recrutando para:
Analista de Negócios

Gerente de Recursos Humanos
Coordenador de Marketing
Gerente de Operações e Logística
Perfis Comerciais/Vendas

Mais oportunidades em
www.careersinafrica.com/pumaenergy. Em alternativa a registrar-se no nosso website, pode enviar o seu CV para o email francisca.matos@globalcc.net ou ana.chaves@globalcc.net .

Não perca tempo em espalhar a palavra e ajude-se a si e aos seus contactos a voltar para casa com uma óptima posição!

Francisca Múrias de Matos
International Recruiter
Global Career Company
Tel: +44 (0) 208 834 0315
Email:
francisca.matos@globalcc.net
Address: Landmark House, Hammersmith Bridge Road , London W6 9EJ

"Na Global eu acredito"
Feliciano Cangue

Dirigentes do MPLA «são desonestos»

Conhecido pela frontalidade com que critica o desempenho do governo de Angola, o Frei João Domingo(na foto), da congregação dos Dominicanos, acusou os dirigentes do MPLA de serem “desonestos”.

As declarações, segundo o Novo Jornal, surgiu na sequência de uma homilia do domingo último, em que Frei João Domingos disse que os angolanos não se podem cala “mesmo que isso custe a morte”.

Numa referência às últimas declarações de elementos da direcção do partido maioritário sobre as eleições presidências, o frei disse que os mesmos têm manifestado uma clara falta de honestidade. “Esta mudança que o MPLA está a fazer é realmente para enganar as pessoas. Nos, afinal andamos a ser enganados”, sustentou o sacerdote católico.

Em declarações ao NJ, o religioso reiterou na íntegra o que dissera aos seus fies durante a homilia do último domingo: “Não nos podemos calar mesmo que nos custe a morte” .

Segundo o mesmo, o que mais o tem inquietado é a “corrupção exagerada e muita trafulhice” sem que nada se investigue, tendo avisado que se estas práticas não forem travadas, serão muito prejudiciais para os angolanos.

O sacerdote diz-se ainda consciente que os próximos dirigentes também poderão não ser os melhores, mas que em relação aos que actualmente ocupam cargos de poder, a sociedade civil deve ter um papel de “pressão, denúncia e acusação”.

Muitos governantes têm grandes carros, aparentemente reluzentes, mais podres por dentro, numerosas amantes e muita riqueza roubada ao povo”, acusou.

Nas suas observações, o líder religioso disse que estas atitudes dos políticos angolanos muitas vezes não são questionadas pela população por falta de informação e, fundamentalmente, porque não possui formação académica suficiente para entender determinados fenómenos.

Tudo o que recomendamos é que pratiquemos os valores que Jesus Cristo recomenda que são a honestidade, solidariedade, dedicação ao outro, justiça, amor, seriedade e a vida”, concluiu o feri dominicano.

Novo Jornal


"Governantes angolanos matam pessoas que falam" – diz Frei João Domingos

Luanda - Frei João Domingos, o profeta do nosso tempo, no seu estilo crítico, afirmou na sua homilia de hoje (Domingos), que Jesus viveu ao lado do seu povo, encarnando todo seu sofrimento e dor, conhece a realidade do povo e os nossos políticos e governantes não, porque só estão preocupados com os seus interesses, suas famílias e próximos.

"Não podemos nos calar mesmo que nos custe a morte"

Disse ainda que por causa de muita corrupção e injustiça inviabilizam o andamento do sector judiciário que se pode demonstrar nos entraves aos processos quando eles são os réus. Por isso, muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro.

Diante deste quadro, o Frei chamou atenção aos angolanos para não se calarem, "que continuem a falar e a denunciar as injustiças, para que este país seja diferente", asseverou o Frei João Domingos. A sua recomendação foi mais longe ao dizer que não podem ser calar mesmo que nos custe a morte, assim como aconteceu com muitos angolanos, a exemplo de Jesus.

Nos exemplos de injustiça, expropriação e desvalorização do povo apresentou os desalojamentos forçados, que são feitos para beneficiar um pequeno grupo de generais e outros membros do grupo dominante!

Tendo em conta a crise de valores em que o país se encontra, o frei … recomendou aos angolanos sem excepção para que pratiquemos os valores que Jesus Cristo recomenda: solidariedade, justiça, amor, honestidade, dedicação ao outro, seriedade, paz, a vida, etc.

Curiosamente, não se esqueceu do CAN, que na sua perspectiva de nada vale se não temos bons jogadores, empenhados. De nada vale também se o povo sofre e passa fome, porque o valor de uns países vale pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas.

Recorde-se que a homilia tinha como tema a identidade de Jesus que se sintetiza na superação do sofrimento, no bem e não na dor como algumas pessoas erradamente pensam.



Club-k.net, 14/09/2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Pedido atípico: "presidente renuncie!"


Samakuva pede renúncia do Presidente da República, quando comemora 30 anos no poder


O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que defende a eleição indirectas atípicas em que, segundo explicações de figuras de proa do MPLA, significa que cada partido vai apresentar a sua lista de candidatos a deputados e que o cabeça de cada uma das listas será depois submetido a votação na Assembleia Nacional.

Em função dos pronunciamentos do Estadista angolano, Isaías Samakuva convocou a imprensa para afirmar que ficou com a impressão de que o Presidente da República não quer mais eleições presidências no país. “Chegamos a conclusão de que melhor seria se o Presidente renunciasse ao cargo que ocupa”, afirmou, peremptório,o líder da UNITA.

“A optimismo do qual o Presidente da República falou é que mata a nossa democracia”, acrescentou.

Caso o modelo proposto vinque, para o líder da UNITA, o sistema democrático em Angola estará em risco.

Ao mesmo tempo, frisou que o órgão do poder que mais carece de legitimidade em Angola é a Presidência da República.

Para travar o avanço desta tendência, Samakuva pede que os angolanos não se calem e chama a discussão, alertando que o está em causa é o futuro do país.

Pelo rumo dos acontecimentos, o líder do «Galo Negro», lamenta que o processo para a elaboração da futura Constituição do país “não está a ser conduzido seriamente, dando como exemplo o facto de que o Grupo Técnico constituído pela Assembleia Nacional não se reúne há 30 dias, embora membros do MPLA no seio do grupo estejam a fazer declarações que tendem a impor ao país a vontade de uma memória.

Diante do silêncio gerado pela sua afirmação (feita num tom nunca antes registado), Samakuva fez questão de dizer que é este mesmo o seu entendimento, tendo acrescentando que as declarações do Presidente angolano aquando da visita de Jacob Zuma, seu homólogo sul-africano “agitaram as águas”. “Mais uma vez o Chefe de Estado falou aos angolanos apenas na presença de estrangeiros, não falou directamente aos angolanos”, lamentou.

Angolense

domingo, 20 de setembro de 2009

A vida de Agostiho Neto na ótica da viúva Maria Eugênia Neto



Recensão de uma entrevista à LAC
Maria Eugénia faz revelações marcantes sobre a vida de Neto


A semana que agora finda foi marcada pela evocação da morte e nascimento do primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto. Com essa efeméride como pano de fundo, o programa «Café da manhã», da Luanda Antena Comercial (LAC), convidou Maria Eugénia Neto para uma abordagem da vida de Neto que acabou por derivar para outras questões não menos importantes relacionadas com a trajectória do MPLA. E que revelações!

Falando sobre o modo como Agostinho Neto lidava com as contradições internas do partido e, principalmente, sobre o afastamento de outros políticos, em episódios como os Revolta Activa, Maria Eugénia Neto negou qualquer motivação deliberada de afastar adversários por parte de Neto. E acha até desonesta a forma como certos sectores do próprio MPLA apoiam tal ideia.

«Acho isso uma grande desonestidade da parte deles. Eles afastaram-se porque as coisas eram difíceis. E quando o comboio chegou eles queriam a parte do leão», afirmou a viúva de Agostinho Neto, acentuando que foi um aproveitamento que os membros da Revolta Activa pretendiam fazer já que abandonaram Neto nos momentos difíceis e depois queriam os louros. «Acho que eles se portaram muito mal porque os problemas discutem-se dentro do movimento e eles o deixaram sozinho com toda a luta armada. Quando eles souberam que as coisas estavam próximas fizeram a revolta activa, fez-se a revolta de leste, fez-se isso tudo. Agora descobre- se que Kaunda era da CIA. Há um livro que o Kissinger escreveu que diz exactamente isso. E sabe-se também que o Chipendaera da PIDE e assim se justifica muita coisa».

Ainda relativamente à Revolta Activa, Eugénia Neto refere-se aos seus membros como homens que agiram de maneira injusta e criminosa. Para tanto, ela socorre-se do canal televisivo português «RTP-Memórias», afirmando que o mesmo tem passado, ou passou, muito conteúdo relacionado com esse episódio da história do MPLA.

Para demonstrar que Agostinho Neto, naquela altura, estava mesmo sozinho, Eugénia Neto arrola os acordos que Jonas Savimbi teria alegadamente feito com o general português Bettencourt com o propósito de abater o líder do MPLA. «Ainda noutro dia quando eu estava em Portugal, vi o homem que fez os acordos com Savimbi, o General Bettencourt, dizer que o único objectivo era abater o Neto. Os outros eram vendidos. Agora as coisas estão a vir à tona, e vão vir mais».

Eugénia Neto abordava sem rodeio sobre estas e outras situações que ela considerou desonrosas para aqueles nacionalistas e intelectuais. Mas foi quando falava sobre a geração seguinte que o discurso se tornou mais cáustico. «Depois é que vêm esses nossos. Uma garotada – não tem outro nome – que se meteram armados em líderes e não teve respeito por aquilo que os outros tinham passado na guerrilha. Pode ser que os guerrilheiros não lhes tivessem dado a importância que eles julgaram que mereciam, mas isso não justifica eles venderem-se à União Soviética e a outras forças, os portugueses incluídos.» ■

Fuga de Portugal e o racismo entre os guerrilheiros

Não se podia abordar Neto sem se fazer história. Aliás, falar de Agostinho Neto hoje é falar da história de um homem e de um país quase em simultâneo. Foi isso que Maria Eugénia Neto fez durante a longa entrevista concedida à LAC.

A viúva de Agostinho Neto conta que antes de chegarem a Kinshasa passaram por Marrocos onde foram recebidos por Mário Pinto de Andrade, que na altura era o presidente do MPLA, e por representantes do partido local que apoiava o movimento angolano. Depois de um mês partem para Kinshasa.

Mais perto de Angola, Neto e sua família ficam expostos ao perigo. Foi em Kinshasa que Eugénia Neto ficou grávida de Leda, a última filha, e havia uma fome muito grande. Segundo ela, quase nada havia nada para comer e o pouco que conseguiam era através de umas raparigas cabo-verdianas casadas com angolanos, as quais, infiltrando-se entre os portugueses que tinham supermercados, conseguia algum alimento. «Quando eu ia às compras ficava sempre com medo de que me iam matar. O ambiente era de terror lá em Kinshasa», diz.

Maria Eugénia admitiu ter havido muito racismo entre os guerrilheiros. Ela conta que «o povo chegava a Kinshasa já esbaforido devido aos ataques bárbaros» que a FNLA fazia, matando, indiscriminadamente, brancos e pretos.

«Chegaram a matar perto de 5 mil bailundos que trabalhavam nas roças. No caminho, a FNLA mandava as mulheres matarem os filhos que fossem mestiços», conta Eugénia Neto, para quem havia um racismo em relação aos mestiços que chegava a ser pior em relação aos brancos.

«Foi dessa gente que fugiu que saiu muitos desses dirigentes que na altura o presidente Neto começou a congregar, a politizar e a educar». ■


Morte do primeiro presidente continua a ser um enigma«O PRESIDENTE NETO ESTAVA DOENTE, MAS AS DOENÇAS TAMBÉM PODEM SER PASSADAS E AÍ EU NÃO SEI», DIZ EUGÉNIA NETO


Maria Eugenia não esclareceu exactamente se Neto foi assassinado como alguns advogam. A esposa do primeiro presidente de Angola disse apenas, enigmaticamente, que o marido estava efectivamente doente, deixando a hipótese de assassinato a flutuar. «O presidente Neto estava doente, mas as doenças também podem ser passadas e aí eu não sei», disse.

Eugénia Neto revelou que não resultou de vontade própria de Agostinho Neto a evacuação para a União Soviética. Segundo ela, a URSS não estava interessada em que uma personalidade como Neto ascendesse ao poder e, num período crítico, deixou de apoiar Angola.

«A ideia de fazer o tratamento na união soviética não era de Agostinho Neto. Ele não quis. Eduardo dos Santos, médico, mandou-me sair do quarto para eu não influenciar. E no fim de uma hora ele disse: “ufh, consegui!” E Neto dizia: “Eduardo não me leve para a União Soviética. Pode estar aí muita coisa”».

Questionada sobre se a possibilidade de Agostinho Neto fazer o tratamento em Cuba mudaria alguma coisa, Maria Eugenia diz: «Talvez. Porque um país quando tem um exército armado estrangeiro dentro dele nunca é bom. Sempre pode controlar tudo, mas às vezes as armas falam mais alto. Mas estava-se à espera de uma médica especialista em fígado que nunca chegou».

A viúva do primeiro presidente de Angola lamenta ainda o facto de nem os filhos terem sido avisados da morte do pai. «Não houve ninguém que foi lá avisar os filhos.
E ao longo desses anos eu tenho ficado com este peso. Ele é filho da pátria, ele deixou os seus filhos para educar esses homens que estão no poder. Educou-lhes, deu-lhes bolsas, deu-lhes dinheiro, deu-lhes poder e nós não temos nada. Eu estava lá junto com a minha cunhada que está numa conferência. E eu queria ver o meu marido porque depois o trouxeram para um quarto junto do nosso, mas Eduardo dos Santos não me deixou. E às duas horas da manhã chamam-nos e quando chegamos Agostinho Neto já estava morto». ■


Sobre o 27 de Maio
Agostinho Neto terá dito:
«Até tu, monstro Imortal?!»


De acordo com o relato de Eugénia Neto, Monstro Imortal, mítico comandante das FAPLA morto no decurso dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, tinha sido criado em casa dos pais de Agostinho. «Foi traidor duas, ou três vezes. Neto confiou nele e o mandou para a primeira região. Eles não mereceram isso, foram esses da primeira região que se portaram mal.»

«Neto mandou, não sei quantos grupos. Uns dos que chegou com sucesso que foi o do Monstro e depois o do Ingo. Chegaram só vinte e tal porque [os restantes] se perderam no caminho. Neto fez tudo que pode pela primeira região, agora, eles lá começaram a ficar com poder sem serem controlados pela direcção do movimento e começaram a fazer asneiras», contou Eugénia Neto.

«Eu quando fui a Cabo Verde estava lá o nosso embaixador Kiluanje e eu disse: “Oh, camarada Kiluanje! Como é que vocês arranjam essa brincadeira desse fraccionismo? O que foi que fizeram que não queriam que a direcção soubesse? Porque que vocês mataram o Casimiro? Disse em resposta: ele começou a trocar com o povo galinha por lápis. Então, ele tinha fome e o povo recebia a instrução. Mesmo que não estivesse certo, eles tinham que chamar atenção. Não é matar uma pessoa porque esteve a trocar lápis por galinha. Foi desculpa, eles estavam a sentir-se donos absolutos. Fizeram caça às bruxas e a tal primeira região estava já toda desbaratada. Por isso é que o camarada presidente queria reforçar», continua a relatar Eugénia Neto.

«Os outros que saíam de lá e iam pedir coisas a Brazzaville faziam exigências que o MPLA não podia aceitar. Eles não se portaram nada bem e isso tem que se estudar um dia para eles não se armarem em vítima e grandes heróis.»

«Há aí muitos erros de muita gente porque o presidente Neto não estava a lutar contra os portugueses para pôr outro. Era aceitável ouvir conselhos mas é como ele disse: nós somos nós próprios. Vamos buscar os conselhos onde nós entendermos, vamos fazer o nosso socialismo em relação às condições que temos aqui e o grau de desenvolvimento do nosso povo. Mas depois teve que mudar as coisas quando viu que as coisas não estavam a ser assim e o país precisava de ir pra frente. E aí começou a desgraça.»

«Agostinho Neto não era conhecido como uma pessoa violenta, essas coisas fizeram sem ele saber. Eu disse isso na minha entrevista e ficaram todos chateados comigo. Eu perguntei-lhe:” estão aonde as listas?” E onde é que está o documento que ele mandou que dizia “ninguém liquida ninguém sem a minha assinatura?”» ■

Eugénia Neto dixit

«Eles não estavam interessados em que uma personalidade como Agostinho Neto ascendesse ao poder. E eu acho que eles não se deram conta exactamente da personalidade que era Agostinho Neto, nem do a
poio popular que ele tinha aqui. Porque se eles tivessem acho que teriam jogado doutra maneira. A partir de certo momento eles (MPLA) cobraram a ajuda que deram só no fim. O MPLA teve momentos muito difíceis. Parece que só uma força divina sempre o amparou até chegar à meta.»

(Eugénia Neto fez este comentário em resposta à pergunta se também achava, tal como a opinião publica na época, que a União Soviética estaria por trás da morte de Neto. A resposta foi um «não sei» duvidoso.)

«Durante esses anos Neto nunca desfez a frente. Ele sempre conservou o MPLA. Durante todo processo da luta, ele nunca fez partido ao contrário da FRELIMO e do Amílcar que fizeram logo partido. E ele só fez aqui pressionado... Ele que era acusado de presidencialista manteve sempre a frente, ouviu sempre o que todos disseram, tinha todas as etnias no comité central, etc.» (A respeito de um Neto aglutinador.)

«O Presidente Neto nunca deixou pôr aqui bases. Sempre procurou estar no centro. Não apoiar nem uns nem outros. Quem éramos nós para tomar partido pela União Soviética ou pela China? Sempre seguiu a política dos não alinhados e foi isso que ele quis: levar Angola para o não-alinhamento.» (Referindo-se ao comportamento dos adeptos de Nito Alves, a quem chamou de «garotada».)

«Eles fazem isso por malandrice porque os filhos deles são mestiços. Canalhamente fazem isso. Neto nunca discriminou ninguém. Se ele em relação aos negros de todo o mundo, como descrevia na sua poesia, sacrificou-se aqui em Angola por causa dos negros da África do Sul, da Namíbia e do Zimbabué, como é que ele ia discriminar? São acusações dos bandidos.»(Sobre as acusações a respeito de um alegado favorecimento de Agostinho Neto aos mestiços dentro do MPLA.)

«Neto precisava dos intelectuais. Nãos os podia pôr de lado. Sabia que o país não podia ir para frente se não tivesse quadros. Esse é jogo de cintura que ele teve de fazer com uns e com outros, com uma série de etnias…» (Recusando acusações de que Neto se opunha aos intelectuais.) eugénia Neto dixit

«Os homens fazem sempre muitos erros e a desumanidade é que estraga tudo. O poder estraga tudo, as relações, tudo. É complicado para os que perdem.» (Referindo-se à morte de Neto.)

«O partido MPLA tem dado suficiente atenção à figura de Neto?»

A pergunta que ficou em branco

Maria Eugénia Neto respondeu a todas as perguntas que lhe foram feitas no «Café da manhã» da LAC sem meias palavras. Menos uma em que não só recusou-se a falar como devolveu a mesma pergunta ao jornalista. A questão era: «O partido MPLA tem dado suficiente atenção à figura de Neto?» Revelando algum embaraço, Maria Eugénia recusou-se a responder, nem mesmo diante da insistência do hábil jornalista. «Vocês jornalistas, militantes e outros querem sempre que eu responda a isso. Respondam vocês!», disse ela. Para não ser mais incomodada, como parecia estar a ser pela insistência da pergunta ela, em meios a sorrisos disse:«É melhor não fazer essas perguntas». ■

Os últimos meses do Presidente Neto
Por Francisco J. da Cruz *

No princípio de 1978 Angola enfrentava grandes desafios nacionais, regionais e internacionais que preocupavam o Presidente Agostinho Neto. Meses antes, o seu regime enfrentara uma tentativa de golpe de estado cujas sequelas ainda se faziam sentir, mesmo depois da realização do I Congresso do Partido em Dezembro de 1977 em que esta organização política adoptou os princípios marxista-leninistas e passou a designar-se de MPLA - Partido do Trabalho. A insurreição da UNITA começava a ganhar terreno no planalto central não obstante as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) beneficiarem do apoio e da experiência de militares cubanos. Por outro lado, a economia nacional estava em crise, não respondia às medidas socialistas adoptadas pelo MPLA e a solução parecia passar nomeadamente pela introdução de empresas privadas e incentivos aos investimentos por parte de companhias multinacionais. Para Neto, era necessário garantir a segurança das fronteiras de Angola para estancar as actividades militares da FNLA no norte e da UNITA no sul, facto que passava por uma aproximação diplomática ao Zaíre e um maior envolvimento no processo de independência da Namíbia cujas negociações tinham entrado numa fase crítica com o Grupo de Contacto constituído por representantes dos cinco países ocidentais, três dos quais membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, França e Reino Unido), a Alemanha e o Canadá. Na aplicação desta estratégia, o presidente angolano começou a compreender as limitações do apoio soviético aos interesses angolanos e em que medida alguns dos desígnios de Moscovo na região até chegavam a ser diferentes dos de Luanda. No primeiro trimestre as FAPLA tinham registado algum sucesso numa ofensiva contra as forças da UNITA no sudeste de Angola para cortar as suas rotas de apoio logístico a partir da Namíbia. Milhares de angolanos atravessaram o rio Kavango para se refugiar em território namibiano enquanto as autoridades angolanas anunciavam a 28 de Março que Jonas Savimbi tinha sido forçado a abandonar a área numa operação que envolveu um helicóptero sul-africano que veio em seu auxílio.

No dia 1 de Maio, o Almirante Stansfield Turner, director da Agência Central de Inteligência americana (CIA), e o David Aaron, o adjunto do Conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, contactaram o Senador Dick Clark para avaliarem a possibilidade da administração Carter providenciar apoio militar à UNITA. Clark, que foi o autor da emenda que efectivamente proibiu a ajuda sigilosa a Savimbi sem aprovação do Congresso, disse a ambos que a UNITA não era elegível para assistência americana. No dia 25 de Maio, o próprio Presidente Jimmy Carter negou ter conhecimento de qualquer plano americano para apoiar UNITA. No dia 13 de Maio, forças militares da Frente de Libertação Nacional do Congo (FNLC), constituído por antigos gendarmes catangueses opostos ao Presidente zairense Mobutu Sese Seko e baseados em território angolano, voltaram a atacar a região do Shaba, tendo tomado a cidade mineira de Kolwezi. Ao contrário da sua primeira invasão em Março de 1977, desta vez os rebeldes estavam bem treinados e organizados, tendo controlado rapidamente mais localidades perante a ineficácia do exército zairense. Porém, Mobutu solicitou o apoio dos seus aliados ocidentais e nos dias 16 e 17 de Maio pára-quedistas belgas e franceses foram lançados em Kolwezi para apoiar as tropas zairenses. No dia 19 de Maio a FNLC era forçada a regressar às suas bases em Angola.

Reconciliação com Mobutu

Desde a primeira invasão dos rebeldes zairenses, surgiram fortes indícios de que unidades militares angolanas teriam participado na chamada guerra do Shaba, em território zairense, ao lado da FNLC, facto refutado energicamente pelas autoridades angolanas. Numa declaração do Conselho da Revolução de 27 de Maio, o Presidente Neto negou veementemente qualquer cumplicidade nos ataques no Shaba. A 10 de Junho, numa comunicação radiofónica, ele não só voltou a desmentir o envolvimento angolano na invasão ao território zairense, mas também estendeu a mão à Mobutu ao afirmar que as boas relações entre Angola e o Zaire eram necessárias para a paz e desenvolvimento nesta parte de África. Na mesma altura, Neto enviou uma mensagem pessoal ao Presidente americano Jimmy Carter, através do Representante de Angola junto das Nações Unidas, Elísio de Figueiredo, na qual expressava o seu desejo em alcançar um ambiente de reconciliação e boa vizinhança com Zaire e manter melhores relações com Washington. Num discurso proferido a 20 de Junho, o Secretário de Estado Cyrus Vance dava indicações de uma certa mudança na postura política americana em relação ao regime de Luanda ao afirmar que Washington pretendia trabalhar ‹‹de forma mais normal›› com o governo de Angola.

Um dia depois chegava a Luanda o Representante Adjunto americano no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Embaixador Donald McHenry, para discutir com as autoridades angolanas formas de melhorar as relações entre ambos os países afectadas pela presença cubana em Angola. O número dois e confidente do Embaixador americano nas Nações Unidas, Andrew Young, que desempenhava também as funções de Presidente do Grupo de Contacto para a questão da Namíbia, foi recebido pelo Primeiro-ministro Lopo do Nascimento nesta deslocação de três dias que não tinha sido sequer anunciada. O Presidente Agostinho Neto estaria interessado em obter não só o reconhecimento diplomático de Washington, mas também apoio financeiro americano e maior legitimidade internacional para o seu governo.

O Embaixador McHenry voltou a Luanda de 10 a 12 de Julho para novos contactos em cujas discussões chegaram a participar da parte angolana o próprio Presidente Neto e o Ministro da Defesa, Henrique ‹‹Iko›› Carreira, particularmente na questão das condições para a normalização das relações com o Zaire. Neto teria exigido três concessões da parte do seu homólogo zairense: a expulsão de Holden Roberto, líder da FNLA, do Zaíre e a desactivação da base de Kamina cujo aeroporto estava a ser usado para o abastecimento logístico da UNITA. A parte americana esperava de Angola um apoio mais activo às iniciativas do Grupo de Contacto para a solução da questão namibiana, cuja independência até fazia parte da estratégia angolana. Para Neto, a reconciliação com Mobutu poderia não só contribuir para o fim das operações militares das forças da FNLA no norte de Angola, mas também influenciar o reconhecimento do seu governo pelo ocidente, particularmente os Estados Unidos da América. Paradoxalmente existia, portanto, uma certa convergência de posições e interesses entre Luanda e Washington. Depois da visita de McHenry, os contactos entre as autoridades angolanas e zairenses evoluíram rapidamente, tendo as duas partes realizado uma reunião em Brazzaville, a 17 de Julho, para encontrarem uma base de entendimento e de concórdia. Três dias depois, durante a Cimeira da Organização da Unidade Africana (OUA) em Cartum, capital do Sudão, Neto e Mobutu encontravam-se secretamente para conversações organizadas pelo Presidente da Guiné Conacri, Seko Toure, com o apoio da Bélgica, antiga potência colonial do Zaíre. No dia 30 de Julho, ambos os governos anunciavam o estabelecimento das relações diplomáticas tendo como pilares a repatriação dos refugiados, a abertura do Caminho de Ferro de Benguela e a criação de uma Comissão de Controlo sob os auspícios da OUA para monitorar quaisquer movimentos militares ao longo da fronteira comum.

De 19 a 21 de Agosto o Presidente Neto realizou uma visita histórica a Kinshasa que ajudou a consolidar a confiança entre os dois líderes. Em 15 de Outubro, Mobutu deslocou-se a Luanda, tendo os dois chefes de Estado assinado um pacto de reconciliação para cessar com o apoio aos movimentos rebeldes nos seus respectivos países. Mobutu comprometeu-se a não permitir a realização de operações militares da FNLA a partir do território zairense enquanto Neto prometeu que não toleraria que a FNLC voltasse a invadir a província do Shaba usando Angola.

Mudanças Para os Desafios Nacionais

A 10 de Dezembro de 1978, no final de quatro dias de uma reunião do Comité Central, o Presidente Neto iniciou uma série de mudanças a nível do governo e do partido para aumentar a sua autoridade e poder, melhorar o balanço étnico, racial e ideológico nas várias estruturas de direcção do país e combater indícios de incompetência e corrupção. Agostinho Neto procedeu a uma remodelação do seu governo, tendo exonerado o Primeiro-ministro Lopo do Nascimento, o Primeiro Vice-primeiro- ministro José Eduardo dos Santos – entretanto nomeado posteriormente Ministro do Plano - e o Segundo Vice-primeiro-ministro Carlos Rocha Dilolwa. Neto aboliu estas posições, deixando de ter ‹‹intermediários›› e passando a lidar directamente com os membros do governo. Os ministros e vice ministros da Habitação, Construção e Comércio Interno foram também substituídos. Dentro dos esforços para reactivar uma economia cada vez mais em crise, o presidente angolano anunciou apoio aos empresários privados nas áreas da construção e transportes rodoviários. O afastamento do economista Dilolwa – que também era Ministro do Plano - na altura co-presidente da Comissão Angola-Cuba e considerado pró-soviético, levantou especulações em relação ao rumo político e às opções económicas que o presidente Neto pretendia a levar. Até porque além de deixar o governo, o antigo Segundo Vice-primeiro-ministro foi também excluído do Bureau Político e do Comité Central, ao contrário de Lopo do Nascimento que manteve o seu assento nesta última estrutura de direcção do MPLA-PT. Ambos tinham ascendido ao Bureau Político no primeiro congresso do partido realizado de 4 a 6 de Dezembro de 1977.

Apesar de ser muito próximo do Presidente, pesara sobre Dilolwa o facto de ter firmado, alegadamente sem a aprovação de Neto, um acordo com Cuba para o envio de mais seis mil técnicos para Angola. No caso de Lopo do Nascimento, ainda a 7 de Outubro tivera a responsabilidade de renegociar o Tratado de Amizade e Cooperação Angola-União Soviética. O afastamento de ambos veio reforçar a posição de Neto num sistema presidencial já considerado muito centralizado. O Presidente Agostinho Neto procedeu a mais mudanças dentro da sua estratégia para fazer face aos desafios políticos, económicos e sociais que o país enfrentava. Elevou os comissários provinciais (governadores) a nível ministerial, ao mesmo tempo que quase todos passaram a fazer parte do Comité Central. Henrique ‹‹Iko›› Carreira manteve a posição de Ministro da Defesa, enquanto Paulo Jorge viu o seu Ministério dos Negócios Estrangeiros reforçado pela Cooperação para incluir a assistência económica.

Outros membros do MPLA continuaram a sua ascensão militar e política, nomeadamente o representante nas negociações angolano-zairenses, Pascoal Luvualo, promovido a membro efectivo do Bureau Político com Evaristo Kimba, governador de Cabinda. O Bureau Político foi reorganizado para reflectir maior representatividade política, passando a ser constituído por Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos, João Luís Neto ‹‹Xietu››, Lúcio Lara, Henrique ‹‹Iko›› Carreira, António França Ndalu, Pascoal Luvualo, Ambrósio Lukoki, Rodrigues João Lopes ‹‹Ludy››, Pedro Maria Tonha ‹‹Pedale›› e Evaristo Domingos ‹‹Kimba››. Estas medidas políticas foram acompanhadas de uma amnistia parcial que incluiu a saída da cadeia e o regresso do exílio de membros da Revolta Activa e a reintegração na sociedade angolana de certos quadros da FNLA.

Em meados de 1979, o Presidente Neto decidiu dissolver a Direcção de Informação e Segurança (DISA) cuja imagem ficara manchada pelos seus excessos na esteira da intentona de 27 de Maio de 1977, tendo demitido o seu director, Ludy Kissassunda e o seu adjunto, Henrique Santos ‹‹Onambwe››, no quadro de uma reorganização profunda dos serviços de inteligência.

Em Busca de Novas Relações Mantendo Velhos Aliados

No dia 17 de Março de 1979, o Presidente Agostinho Neto chegou a Havana, numa visita que não tinha sido anunciada, quando corriam rumores segundo os quais as relações entre Angola e Cuba estariam em crise. Nas suas intervenções, o Chefe de Estado angolano afirmou que as forças cubanas permaneceriam em Angola até ao fim da agressão sul africana, ao mesmo tempo que defendeu um incremento da cooperação entre ambos os países.

Entretanto o processo de desanuviamento entre Luanda e Washington continuava a dar alguns passos, embora tímidos. Assim é que o Secretário de Estado Assistente para os Assuntos Africanos, Richard M. Moose, declarou a 18 de Abril que embora os Estados Unidos da América não tivessem ainda reconhecido o Governo de Luanda, era possível ‹‹trabalhar construtivamente com os Angolanos em problemas de segurança regional››. Para ele, Angola desempenharia ‹‹um papel crucial›› na busca de uma solução para a independência da Namíbia.

A política externa do Presidente Agostinho Neto tinha como objectivo minimizar o apoio internacional da UNITA e do que ainda restava da FNLA e da FLEC, ao mesmo tempo estabelecer relações diplomáticas com um número cada vez maior de países por razões económicas e de segurança. Dentro desta sua estratégia, em certas ocasiões o Presidente Neto enviou a Washington como seu ‹‹emissário especial›› um amigo de longa data, Arménio Ferreira, médico radicado em Portugal que fora seu colega de escola e na Casa dos Estudantes do Império em Lisboa. Com este mandato, Arménio chegou a manter contactos com altos funcionários americanos envolvidos no ‹‹dossier Angola››, tais como Richard Moose e Donald McHenry e o próprio Conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski. Os encontros mais relevantes tiveram lugar nos dias 29 de Julho e 9 e 16 de Agosto em que Arménio esteve reunido no Departamento de Estado e na Casa Branca para discutir a normalização das relações entre Luanda e Washington e a questão da independência da Namíbia. ■


Fim da Era Neto

No dia 10 de Setembro, o Presidente Agostinho Neto faleceu vítima de ‹‹prolongada doença››, em Moscovo, para onde se deslocara em visita oficial. Antes desta fatídica partida para a capital da União Soviética, Neto exarara um decreto que estipulava que ‹‹enquanto durar a minha ausência›› o Ministro do Plano, José Eduardo dos Santos, na altura um jovem de 37 anos, exerceria interinamente as funções de Chefe de Estado. Angola mergulhou numa verdadeira comoção nacional quando foi anunciada a morte de Neto. Até porque nas últimas semanas este visitara várias províncias e fizera intervenções públicas como se de uma derradeira digressão de despedida se tratasse. O Bureau Político do MPLA anunciou que o Comité Central tomaria uma decisão sobre o seu sucessor depois dos 45 dias de óbito.

Porém, no dia 20 de Setembro, ou seja, três dias depois do funeral, José Eduardo dos Santos era escolhido para dirigir os destinos do Partido, do Governo e das Forças Armadas. Nesse dia, o Comité Central anunciou também a promoção de outras figuras que teriamdesempenhado um papel activo nas iniciativas políticas e diplomáticas do falecido Presidente Agostinho Neto nos últimos dois anos da sua vida, incluindo a aproximação com o seu homólogo Mobutu Sese Seko, do Zaíre. Foram nomeadamente os casos de Alexandre Rodrigues ‹‹Kito››, um dos quatro oficiais mais graduados do exército nacional com a patente de Tenente Coronel, promovido a membro do Bureau Político, Paulo Jorge, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Roberto de Almeida, Ministro do Comércio Externo.

Na sua intervenção na cerimónia de tomada de posse como Presidente da República, no dia 21 de Setembro, José Eduardo dos Santos deu algumas indicações do que poderia ser a sua linha de orientação política - assente no que um dia, ainda enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros, chamou de ‹‹pragmatismo responsável›› - ao não agradecer explicitamente a União Soviética e Cuba pelo apoio providenciado ao MPLA e ao abster-se de criticar ou atacar abertamente quer os Estados Unidos da América, quer a UNITA. O sucessor de Neto deixou claro que sendo Angola um país em vias de desenvolvimento, não poderia resolver os seus problemas sem a ajuda da cooperação internacional. Neste contexto, reafirmou a legitimidade de todos os acordos, protocolos e outros instrumentos legais subscritos pelo Governo angolano que até essa altura estavam válidos, ao mesmo tempo que adiantou que Angola continuaria a manter relações diplomáticas com todos os países que respeitassem a sua soberania nacional. ■

* Analista Político diplomata de Carreira

Entrevista esclarecedora
Foi bastante esclarecedora a entrevista de Irene Neto ao Novo Jornal.

O raciocínio escorreito, a frontalidade, o profundo domínio das matérias não surpreenderam porque estes são já uma imagem de marca da médica, politica e escritora.

Interessantes foram as razões que ela revelou para a sua curta passagem pelo Ministério das Relações Exteriores. Num país em que a maior parte dos titulares de cargos públicos pensa que devem arrastar- se nos postos até lhes faltar a última gota de sangue, Irene permaneceu apenas 3 anos à testa do pelouro da Cooperação do Ministério das Relações Exteriores. Na entrevista, Irene Neto deixou quase claro que foi ‹‹empurrada›› porta fora porque alguém se indispunha por causa da sua ‹‹frontalidade, capacidade de argumentação e vontade de mudar››.

Mas são as novas gerações, nomeadamente aquelas que nasceram depois dos anos 80, que deverão estar muito agradecidas a Irene Neto. Na verdade, os jovens que não tiveram nenhum contacto com Agostinho ficam agora a dever à Irene Neto o facto de ficarem a saber que o primeiro Presidente da República Popular de Angola não era homem dado a cultivar unhas, ou seja, a ‹‹abarbatar›› património público para proveito pessoal e dos seus.

Agostinho Neto, segundo a filha, não ‹‹acumulou patrimónios nem privatizou haveres e activos do Estado para seu benefício ou para benefício dos seus filhos.››

A revelação (para os mais novos) é simultaneamente importante e intrigante. Ao aludir a pessoas que privatizam haveres e activos do Estado em proveito próprio, em que é que Irene Neto estaria a pensar? Por ventura estaria a referir-se à Movicel, privatizada, muito recentemente, não se sabe em proveito de quem? Ou Irene - que ao longo da entrevista mostrou que não tem memória curta – tinha a Nova Cimangola em mente?

Seja quais forem as respostas, a entrevista de Irene Neto ao Novo Jornal é um documento a guardar. Para que amanhã ninguém venha dizer que foi por falta de avisos que cometerem excessos... ■

Fonte: Semanário angolense, 334, 19 de Setembro de 2009.


Agostinho Neto, lutador sanguinário e a versão União Soviética
Terça, 08 Abril 2008 15:34

Russia - As relações entre Agostinho Neto, dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e os dirigentes da União Soviética poucas vezes foram pacíficas. Os documentos dos arquivos soviéticos revelam que a desconfiança mútua era uma das principais razões para a conflitualidade entre as partes.

Isso é particularmente evidente nas vésperas do 25 de Abril de 1974, num período de crise que teve início em 1972 e só terminou em 1975, quando Angola adquiriu a independência.
Nos finais de 1972, Agostinho Neto assinou um acordo com Holden Roberto com vista à criação de uma frente unida do MPLA e da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), onde Neto teria aceite ser o "número dois" da nova organização.

Esta notícia foi mal recebida em Moscovo. Piotr Evsiukov, funcionário do Departamento de Relações Internacionais do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), escreveu a propósito: "Esse passo desorientou completamente os partidários e membros do MPLA, bem como a nós."

Em Janeiro de 1973, Agostinho Neto chega a Moscovo, à frente de uma delegação do MPLA, para tentar convencer a direcção soviética de que esse acordo era "uma nova etapa para o movimento" e devia permitir ao MPLA chegar aos "centros vitalmente importantes do país", porque, até então, o caminho dos combatentes do MPLA era cortado pelas autoridades do Zaire, que apoiavam a FNLA. Neto sublinhou que, embora Holden Roberto chefiasse a nova frente, ele, enquanto vice-presidente, iria dirigir o secretariado, o fornecimento de víveres e armas, os assuntos militares, acrescentando que "o MPLA continuará a existir como organização, embora em união com a FNLA".

O dirigente do MPLA falou também de "comportamento estranho" de algumas pessoas que tentaram utilizar "o tribalismo e o regionalismo", o que revelava um aumento crescente da tensão no interior dessa organização. A posição soviética sobre todos esses problemas está bem patente num relatório elaborado, a 21 de Dezembro de 1973, pelo general Vladimir Kulikov, chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da URSS, para o Comité Central do PCUS.

Depois de constatar que, "nos últimos tempos, o movimento de libertação nacional em Angola tem vindo a enfraquecer" e que "o principal partido combatente, o MPLA... atravessa uma séria crise", o general Kulikov aponta as causas dessa situação: "O facto de o presidente do MPLA, Neto, e a sua equipa ignorarem o problema nacional na formação dos órgãos dirigentes, a subvalorização do trabalho político-educativo e os métodos autoritários de direcção conduziram à agudização brusca das contradições tribais e à cisão no partido."

Vladimir Kulikov não tem dúvidas em apontar o dedo crítico a Agostinho Neto: "Em vez de esclarecer as causas da crise, Neto tentou esmagar à força o descontentamento crescente. Neto desconfiou sempre dos quadros preparados na URSS, que lhe poderiam prestar a ajuda indispensável, vendo neles condutores da influência soviética."

"Tendo anunciado, no início do ano corrente", continua o general soviético, "a existência de uma conjura no MPLA, Neto fuzilou os cinco mais activos adversários seus. Chipenda, considerado a segunda pessoa na direcção, foi acusado de estar envolvido na conjura e demitido de todos os cargos. Só a interferência das autoridades zambianas impediu Neto de o liquidar fisicamente."
As repressões descritas não surtiram o efeito esperado. Pelo contrário, fizeram aumentar o descontentamento entre os combatentes do MPLA. "Em Agosto do presente ano, revoltaram-se os combatentes dos principais acampamentos do MPLA no território da Zâmbia, que foram apoiados por parte dos destacamentos que se encontravam em Angola. Os revoltosos estabeleceram contactos com Chipenda e exigiram a convocação de uma conferência regional para eleger uma nova direcção. Neto recusou-se a satisfazer essa exigência e suspendeu os fornecimentos aos revoltosos", continua o general Kulikov. E acrescenta: "Isso levou à suspensão das acções armadas em Angola. Muitos combatentes foram obrigados a regressar à Zâmbia. O número de destacamentos militares do MPLA diminuiu de cinco mil para três mil homens. Os portugueses estabeleceram o controlo de uma série de regiões libertadas e tiveram a possibilidade de enviar parte das suas forças repressivas de Angola para a Guiné-Bissau."

Vladimir Kulikov volta a atirar para Agostinho Neto todas as culpas da situação lastimosa em que se encontra o MPLA: "Por insistência do Comité de Libertação da Organização de Unidade Africana e das autoridades da Zâmbia, foram criadas, em Novembro, comissões de reconciliação de seguidores de Neto e Chipenda. Contudo, elas não conseguiram resultados positivos até agora. Neto protela de todas as formas o trabalho das comissões."

O enfraquecimento do MPLA é acompanhado do reforço das posições da FNLA. "Com o apoio do Presidente Mobutu, formam-se no Zaire destacamentos militares da FNLA, cresce a actividade da Frente na política internacional. Actualmente, Holden encontra-se de visita à República Popular da China e, proximamente, tenciona visitar a Roménia", constata Kulikov, que conclui: "No momento actual, o MPLA praticamente não leva a cabo operações militares nem a partir do território da Zâmbia, nem a partir do território do Zaire."

A fim de resolver a crise, Kulikov propõe as seguintes medidas: "1) Encarregar os embaixadores soviéticos na Zâmbia e na República Popular do Congo de transmitir a Neto e a Chipenda a nossa preocupação face à actual situação no MPLA e chamar a sua atenção para a importância da adopção de medidas urgentes, a fim de superar a crise e recomeçar a luta de libertação. Lembrar-lhes que do estado da luta depende a ajuda que a União Soviética prestará ao MPLA; 2) Se for decidido convidar o Presidente do Zaire, Mobutu, a visitar a União Soviética, discutir com ele o problema das perspectivas da luta conjunta do MPLA e da FNLA em Angola no plano do estudo da necessidade de estabelecermos contactos com a organização da FNLA de Holden Roberto."

A 7 de Janeiro de 1974, R. Ulianovski, vice-chefe da Secção Internacional do Comité Central do PCUS, junta a esse documento outro, que constitui o resumo do primeiro, mas contém uma explicação das lutas tribais no MPLA: "O Movimento Popular de Libertação de Angola atravessa uma séria crise, provocada pela luta pelo poder na direcção e por contradições entre tribos." "O MPLA", continua Ulianovski, "dirige a luta armada de libertação nacional em Angola, que tinha lugar principalmente na Frente Oriental a partir do território da Zâmbia. A tribo umbundo constitui a massa fundamental de combatentes da frente. Porém, na direcção do partido há um único representante dessa tribo: Daniel Chipenda. Activistas do MPLA exigiram a realização de um congresso do partido para eleger uma direcção com representação proporcional das tribos. Agostinho Neto, presidente do MPLA, acusou D. Chipenda e os activistas umbundo de traição e excluiu-os do partido."

Depois de discutida a situação, o Comité Central do PCUS decidiu enviar um telegrama ao embaixador soviético, onde se lhe recomenda encontrar-se com Chipenda e Neto para superar a cisão no MPLA. E para que não fosse de mãos vazias, o CC do PCUS recomenda: "Informe que os pedidos do MPLA sobre a prestação de ajuda militar e material para o ano de 1973 foram satisfeitos. O material para o MPLA foi fornecido para a República Popular do Congo e a Tanzânia. Todavia, as contradições no MPLA dificultam a prestação de ajuda por parte de organizações soviéticas ao partido."

Fonte: darussia.blogspot.com

http://club-k-angola.com/index.php/preto-a-branco/1-agostinho-neto-lutador-sanguino-e-a-versunisovica.html

URSS recebeu bem a nomeação de José Eduardo dos Santos dirigente do MPLA e de Angola

A nomeação de José Eduardo dos Santos para os cargos de secretário-geral do MPLA e de Angola, em 1979, foi bem recebida na capital soviética, não só porque ele tinha estudado na URSS, mas também devido às relações tensas com o seu antecessor nesses cargos: Agostinho Neto.

As divergências entre Agostinho Neto eram antigas, tendo começado logo após o estabelecimento de relações entre eles. Em 1963, Nikita Khrutchov esteve perto de reconhecer Holden Roberto e a FNLA, não fora a pronta intervenção de Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português, que na altura se encontrava em Moscovo.

Em 1972, os dirigentes soviéticos recebem com descontentamento a notícia da aliança feita entre o MPLA e o FNLA, bem como, no ano seguinte, a notícia de que Agostinho Neto ordenou o fuzilamento de cinco dirigentes do MPLA, tendo Joaquim Chipenda escapado à morte devido à intervenção das autoridades zambianas.

As relações entre Agostinho Neto e a URSS não melhoraram também depois da proclamação da independência de Angola em Novembro de 1975.

O general soviético Vladimir Varennikov, que realizou duas missões de serviço em Angola (1982 e 1983), explica nas suas memórias, as razões do isolamento a que Agostinho Neto e o seu movimento chegaram em Outubro-Novembro de 1975: “Porque Neto e os seus correligionários estavam sentados em Luanda e ele não estava em condições de impor a mais elementar ordem na vida e actividade desta enorme capital e, depois, tentar, através dela, influir na província”.

Karen Brutentz recorda outro facto que ilustra os atritos graves entre a direcção soviética e Agostinho Neto. Na véspera do Congresso do MPLA, realizado em Dezembro de 1975, Moscovo enviou a Luanda funcionários comunistas para darem orientação ideológica aos camaradas angolanos, mas estes não lhes prestaram ouvidos.
“Os nossos consultores, que tinham sido enviados para Angola na véspera do congresso constituinte do MPLA, aconselhavam insistentemente a não formar um partido,
mas a apostar no “movimento”, na “frente”, o que permitiria atrair para as suas fileiras outras forças. Porém, Neto não lhes deu ouvidos.

As relações entre o dirigente angolano e o Kremlin deterioraram-se ainda mais durante o chamado “golpe de Nito Alves”, em Maio de 1977, tendo Agostinho Neto considerado que o “levantamento” tinha sido inspirado pela União Soviética.
“Fomos apanhados de surpresa por esses acontecimentos. Nito Alves tinha participado no Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o que era um sinal de inteira confiança de Moscovo”, declarou à Lusa um tradutor militar russo que se encontrava em Luanda na altura.

As divergências entre o dirigente angolano e o Kremlin levaram mesmo alguns, nomeadamente a sua esposa, Eugénia Neto, a avançar a versão de que Agostinho Neto não teria falecido de morte natural na mesa de operações em Moscovo, mas alguns dos soviéticos que estiveram envolvidos nesse caso afirmaram à Lusa que foi um erro operar Neto, porque “já não havia nada a fazer”.

http://darussia.blogspot.com/2009/09/urss-recebeu-bem-nomeacao-de-jose.html


URSS quase apoiou FNLA e admitiu apostar em Savimbi

Lisboa - A ideia de que a União Soviética (URSS) sempre esteve de alma e coração com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), que assumiu o poder após a independência, é falsa. No início dos anos 1960, Moscovo esteve prestes a reconhecer a rival FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), o que só não aconteceu devido à intervenção do líder comunista português, Álvaro Cunhal.


* João Manuel Rocha
Fonte: Publico


Livro revela: "Russos envolvidos na morte de Savimbi"
e "desconfiança mútua" entre Moscovo e Agostinho Neto

Já na época de Mikhail Gorbatchov, responsáveis de Moscovo viam com bons olhos Jonas Savimbi e a sua UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e o último líder soviético encorajou o diálogo que o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, estava disposto a iniciar com os adversários políticos. As novidades constam do livro Angola - O princípio do fim da União Soviética, de José Milhazes, editado pela Nova Vega e ontem lançado em Lisboa. Baseado em fontes russas, documentos, artigos e entrevistas, revela episódios inéditos e mostra que não havia unanimidade em Moscovo sobre a intervenção na ex-colónia portuguesa.

O quase reconhecimento da FNLA como "legítimo representante" angolano chegou a ser ordenado pelo então líder soviético Nikita Krutchov, em 1963. 0 episódio revela "a confusão que reinava em Moscovo em relação à sua política africana". Documentação citada indica que, paralelamente aos contactos com o MPLA, a espionagem soviética procurou estabelecer laços com a UPA (União dos Povos de Angola), antecessora da FNLA, e a UNITA. José Milhazes, ex-correspondente do PÚBLICO em Moscovo, cita as memórias de Piotr Evsiukov, um alto funcionário que, durante 15 anos, dirigiu os contactos com os movimentos de libertação, segundo o qual, sem a intervenção de Cunhal, a URSS teria reconhecido FNLA de Holden Roberto.

O apoio militar que se revelou fundamental para o MPLA em 1975 também não se concretizou sem dúvidas de Moscovo. "Não havia unanimidade face à intervenção das tropas cubanas em Angola e ao envolvimento da URSS", escreveu Milhazes. A partir de testemunhos de responsáveis soviéticos, concluiu que "Cuba decidiu intervir militarmente em Angola com ou sem autorização de Moscovo" e que no terreno havia "sérias divergências" entre o comando das tropas cubanas e os conselheiros soviéticos.

A boa impressão que Savimbi causou, em 1988, ao então ministro de Negócios Estrangeiros de Moscovo, num encontro na ONU, fez com que a URSS tenha estado "próxima de apostar em Jonas Savimbi", revela Milhazes. "Depois do encontro de [Eduard] Chevarnadze com Savimbi, em Nova Iorque, em Moscovo quase surgiram hesitações: em que apostar em Angola?", contou ao autor o então embaixador em Luanda, Vladimir Kazimirov.

No mesmo ano, José Eduardo dos Santos encontrou-se com Gorbatchov e informou-o de que ia conversar sobre a UNITA com o rei Hassan II, de Marrocos, ao qual Savimbi teria admitido afastar-se, se isso contribuísse "para a solução positiva do problema". No diálogo, relatado, no livro, o actual Presidente admitiu a integração de elementos da força inimiga no processo político. "Não como militantes da UNITA, mas como particulares. Alguns farão parte do Governo", disse.

Atritos graves

Outra das revelações do livro é o fuzilamento, em 1973, por ordem de Agostinho Neto, de cinco adversários no MPLA, acusados de uma conjura em que também estaria envolvido Daniel Chipenda, "número dois" da organização. O facto desagradou aos soviéticos, tal como o acordo, assinado em 1972, para uma frente MPLA/FNLA onde Agostinho Neto teria aceite ser "número dois". Os documentos citados revelam uma "desconfiança mútua" entre os dirigentes de Moscovo e o primeiro Presidente angolano e "indecisões na direcção política" sobre quem apoiar que se prolongaram até muito perto da independência.

Os "atritos graves" com Neto levaram já diversos estudiosos a considerar que os soviéticos incentivaram o então ministro do Interior, Nito Alves, a liderar a contestação ao rumo do MPLA, numa acção que culminou com milhares de mortos. Milhazes escreve que Neto não só acreditou nessa tese como "foi de propósito a Moscovo pedir explicações" a Brejnev, então secretário-geral soviético, e exigiu o afastamento de dirigentes da representação militar em Luanda. O autor confirma que "os soviéticos depositavam confiança" em Nito Alves, mas não conseguiu ser conclusivo sobre o seu papel nesse episódio devido à dificuldade de acesso aos arquivos soviéticos e ao silêncio e contradições dos entrevistados.

Já sobre os rumores de que Neto foi assassinado durante uma operação, em 1979, Milhazes diz que são "um disparate". "As autoridades soviéticas não queriam que Agostinho Neto fosse operado em Moscovo, pois sabiam do seu real estado de saúde, mas, por outro lado, não podiam recusar, para não afectar a credibilidade do país", escreveu. O autor é também de opinião que, sem esquecer o Afeganistão, a intervenção em Angola ajudou à queda da URSS. "A estrutura soviética fica, do ponto de vista económico e até militar, fortemente abalada."

Muito depois do fim do comunismo
"Russos envolvidos na morte de Savimbi"

O autor de Angola - O princípio do fim da União Soviética está convencido de que "os serviços secretos russos" estiveram envolvidos na morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, ocorrida em 2003, já muito depois das mudanças políticas em Moscovo. No livro, depois de recordar tentativas anteriores de aniquilamento nos anos de 1980, através de bombardeamentos aéreos contra a "toca de Savimbi", José Milhazes lembra referências da imprensa russa à colaboração dos serviços secretos na morte do dirigente rebelde. Agora em declarações ao PÙBLICO, foi ainda mais incisivo e disse que essa ideia foi reforçada por informações recolhidas recentemente. "Os ser4viços secretos russos estiveram envolvidos na morte de Savimbi. Já era incómodo para todos. Para russos para americanos, para todos. Toda a gente pensava que sem a liquidação de um deles (Savimbi ou José Eduardo dos Santos), não havia possibilidade de reconciliação".

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