terça-feira, 23 de outubro de 2007

Como proteger as crianças do abuso


“Pai, de 31 anos de idade, é condenado por ter mantido relações sexuais com a própria filha de 10 anos de idade, em Luanda”. “Cidadão de 30 anos viola menor de 11 anos em Saurimo”. “Jovem de 19 anos de idade é condenado, em Luanda, por engravidar a prima de 9 anos”. “Aos 12 anos, no Cazenga, uma menina fez o seu primeiro aborto. Ela foi engravidada pelo seu próprio pai, que a abusava sexualmente desde os 8 anos de idade”. “Criança angolana, de 8 anos, acusada de ser bruxa é torturada durante meses em Londres pela tia e dois amigos”. Isso até poderia ser minha invenção só para chamar a sua atenção. Mas, infelizmente, são violências que aconteceram e amplamente noticiadas pela grande mídia.

Estamos vivendo em tempos difíceis. Notícias como essas entristecem qualquer ser humano normal. O lar, local que deveria existir flores, agora é também um local de espinhos. É a infância sendo violentada. A violência infantil, usualmente é assunto ocultado, que fica restrito às quatro paredes de lares, escolas e igrejas. Praticar violência contra uma criança é crime.

As crianças abusadas dificilmente serão aquilo que deveriam ser na fase adulta. O abuso impede um desenvolvimento sadio tanto da personalidade como da sexualidade. A vergonha, a culpa e medo são sensações que as acompanharão, pelo menos se não buscarem ajuda psicológica. Mais tarde, no caso do abuso ocorrer em crianças, principalemente de sexo masculino, o desenvolvimento inadequado leva o indivíduo a se tornar também um abusador.

A evidência estatística indica que as proporções epidêmicas e a extensão global do abuso e da violência na família são crescentes. Pelo menos 95% das vítimas de abuso na família são mulheres. No Brasil, 100 crianças morrem por dia vítimas de maus-tratos, mais especificamente por negligência, violência física, abuso sexual e psicológico (Laboratório de Estudos da Criança/USP). Outros resultados de pesquisas mostram que, na internet, uma em cada 5 criança entre 10 a 17 anos já recebeu algum tipo de assédio sexual. Uma em cada 33 já recebeu uma solicitação sexual onde o abusador marcou um encontro pessoal em algum lugar, fez contato telefônico e/ou enviou alguma carta, presente ou até dinheiro e uma em cada 4 foi exposta, sem querer, a algum tipo de material sexual.

A sociedade não deve se calar. Precisa denunciar para que sejam punidos esses canalhas, para que se minore o sofrimento desses seres. Para tal, é fundamental que se saiba identificar alguns sintomas apresentados por crianças submetidas a essas humilhações.

Os abusos podem ser físicos. Nesse caso envolve a agressão, sacudir ou dar palmadas, queimar ou escaldar, chutar ou sufocar. Por negligência, que envolve o abandono, recusa em buscar tratamento para uma doença, supervisão inadequada, riscos à saúde dentro de casa, indiferença para com a necessidade da criança, nutrição emocional inadequada, recusa em procurar escola para a criança.

Além desses, vem também o abuso emocional que envolve o confinamento estrito, como num guarda-roupa (guarda-fato), educação inadequada, disciplina exagerada, permissão consciente para ingerir álcool ou drogas e situações ridículas. E, finalmente, abuso sexual que envolve contato sexual entre uma criança ou adolescente e um adulto ou pessoa significativamente mais velha e poderosa. Em alguns casos, o adulto obriga a criança a tocar-lhe os genitais, ou ele mesmo toca a genitália ou outras partes do corpo da criança. Há casos em que a criança é obrigada a tirar a roupa na presença do adulto, obrigar a criança a masturbar um adulto, ou presenciar o ato de masturbação, obrigar a assistir a um filme pornográfico, tirar fotos de criança nua, enfim.

As principais manifestações de uma criança exposta a essas desventuras, em termos gerais são facilmente perceptíveis. Apresenta um grave senso de perda, baixa estima própria, incapacidade de desabafar, ansiedade, vergonha, raiva e culpa. Na juventude, pode apresentar tonturas, desmaios, depressão, dificuldades para se relacionar, muita tristeza e culpa. A culpa nesse caso, normalmente, é por ter guardado silêncio ou por não ter feito nada para impedir o abuso. Muitos, infelizmente, se entregam à promiscuidade sexual, tentam o suicídio, perdem confiança na figura masculina ou feminina e não têm sucesso no que fazem.

Também, muitas vezes tornam-se emocionalmente frio(as) e distantes, para que ninguém saiba do problema, por terem sido traídas pelas pessoas tão próxima, e para manterem em sigilo o que consideram o horrível segredo de suas vidas.

Pode-se ainda acrescentar outros sintomas. Temor excessivo de ficar sozinha em casa, conhecimento ou interesse sexual por temas específicos, mudança notável de comportamento e rendimento escolar, relutância em voltar para casa, urina freqüente na cama, depressão e regressão a um comportamento muito infantil, distúrbios do sono e do apetite, falta de cuidade com a aparência ou necessidade exagerada de asseio, posse
de dinheiro sem explicação alguma, mudanças bruscas de comportamento, preocupação exagerada com crianças menores, negar-se a ficar sozinha com uma pessoa da família em particular, medo do escuro e choro freqüente sem razão visível.

Os indícios físicos de uma criança que está sendo abusada também são fáceis de serem percebidos: irritação inusitada na vagina ou ânus, dor no abdômen e infecções freqüentes na área vaginal ou anal, machucados que não podem ser explicados.

Os agressores, no entanto, provêm de todos os grupos e meios sociais, e têm todos os tipos de personalidade. Normalmente o perfil do abusador é o seguinte: usuário de drogas ou álcool, víciado em pornografia, gosto pelo isolamento e história de abuso sexual quando criança. Só enxerga as mulheres como uma propriedade ou como objeto sexual, tem baixa auto-estima e sente-se impotente e ineficaz no mundo. Ele pode aparentar ser vencedor, mas dentro dele mesmo sente-se derrotado; tem dificuldades em confiar nos outros e teme perder o controle.

Ainda, o agressor acredita que sua angústia emocional é causada por fatores externos. Normalmente cresceu em uma família violenta. Pessoas que experimentaram violência ou testemunharam situações abusivas no lar quando crianças crescem aprendendo a ver a violência como um comportamento normal e aceitável. Normalmente têm acesso à armas de fogos, facas, ou instrumentos letais. Além disso, no caso de pai, é um dominante, mãe muito submissa, ingênua e dependente do marido. As crianças não têm permissão para brincar com amigos fora de casa. A situação é favorecida nos casos de relacionamento sexual do casal ser insastifatório.

O governo sozinho não pode resolver o problema. Infelizmente, muitas vezes a sociedade olha com desprezo a criança ou mulher que reclama da violência sofrida. Normalmente a criança não denuncia, por temor. O agressor ameaça bate-la. Ainda soma-se o temor pela vida ou sentimento de que o abuso foi merecido devido à sua postura ou maneira de se vestir. Nestes casos cabe à irmã mais velha, à professora, ou igreja que detecte os sintomas e comunique às autoridades. Deve também manter diariamente uma conversa com a vítima para saber como está, encorajar a vítima a buscar ajuda profissional e terapeutas especializados.

Dizem os especialista, não é difícil, expor tudo que acontece com a abusada. Ela deve ser animada a falar ou desenhar que mágoa ou o que a preocupa. Quando a criança encontrar alguém em quem confiar, o restante vai ser fácil. Se não receber ajuda, a pessoa abusada costuma ser vítima de novos abusadores.

As crianças precisam ser alertadas de que ninguém tem o direito de tocar as partes íntimas do seu corpo, a menos que estejam doentes. Elas devem ser estimuladas a contar a seus pais, à professora ou outro adulto sempre que algum adulto lhes pedir que guardem segredo de um ato ou lhes faça comentários tolos sobre sexo, mostrar figuras pornográficas ou fazer gestos obscenos. Elas não devem permitir que um adulto tire fotografia delas, parcial ou totalmente despidas. Nunca devem abrir a porta quando estiverem sós. Elas devem contar aos pais sempre que alguém lhes oferecer presente ou dinheiro. Elas nunca devem dizer ao telefone que estão sozinhas em casa. Nunca devem entrar em casa ou carro de alguém sem prévia autorização verbal dos pais. Elas devem saber usar o telefone de emergência. Toda criança deve conhecer as três regras de “segurança e sobrevivência” para a prevenção do abuso: Dizer NÃO!. Afastar-se imediatamente e contar a alguém! Ah! não ignore qualquer alerta da criança sobre a possibilidade de estar sendo assediada por um adulto, mesmo que o acusado seja a pessoa que você tanto admira. Não tente negar essa possibilidade. A criança não inventa.. O futuro feliz das crianças depende disso.

Referências:

No Brasil, a Igreja Adventista do Sétimo Dia vem empreendendo uma cruzada de conscientização e combate à violência e ao abuso em todas as suas formas com a distribuição da revista intitulada “Quebrando o silêncio: dizendo não à violência”, de onde foi retirada, de forma resumida, esta matéria. A autoria das matérias são de Antonio Estrada (Doutor): Violência sexual; Nelia D. Oliveira: Ajudando a vítima de abuso. Sueli Ferreira de Oliveira: A infância violentada. Odiléia Lindquist (Pedagoga): Quem cala consente e outros colaboradores. O material está disponível em: http://www.quebrandoosilencio.com.br/ Acesso (22 de Outuubro de 2007).
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Pode ser lido também na REVISTAKUIA.COM
Reproduzido pelo blog Muestrário

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