quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Manifesto futurista da Universidade de Angola (I)


O presente manifesto está sendo publicado em três partes. Na primeira, apresentamos o quadro atual da Universidade de Angola. Na segunda, definimos o que é a Universidade e os seus principais pilares. Na terceira e última parte apresentamos as características principais da Universidade necessária para Angola.

O que é uma universidade? O que a Universidade acrescenta ou retira do indivíduo? Por que as pessoas procuram a Universidade? Ela é importante? Qual é a sua função? Para quem se destina? O melhor professor universitário é aquele que reprova a todos os alunos ou aquele que aprova a todos? Que Universidade procuramos? Perguntas como essas, com freqüência, surgem em nossas mentes e muitas vezes não encontramos respostas mais apropriadas para respondê-las.

A sociedade deposita grandes expectativas aos universitários, uma vez que vivemos um momento de profundas transformações e novos caminhos precisam ser encontrados. Infelizmente, essas expectativas nem sempre são correspondidas por vários motivos.

Primeiro, fazendo uma breve descrição intuitiva, a Universidade angolana é uma instituição social que surgiu com a finalidade de formar quadros para a administração pública. Nos seus primórdios, alguns dos alunos que a freqüentavam eram, essencialmente, os membros do partido e seus dependentes, os ex-combatentes, os Zés, os Franciscos, os da Silva etc. Alguns desses Franciscos da Silva, nem mesmo tinham concluído o ensino médio. Assim, supõe-se que conseguiram certificados de conclusão "por encomenda". Dessa maneira, deparamos-nos com um problema sério.

Deduz-se, então, que nessa Universidade, praticamente, os alunos tenham recebido “papinhas” sem coerência, ou seja, textos no nível dos alunos, ou seja, pouco consistentes. Isso pode ter dificultado o desenvolvimento mental de muitos. Dessa maneira, a Universidade durante muitos anos, deve ter formado verdadeiros “déspotas esclarecidos”.

Na verdade foram muitos os fatores que tolheram a possibilidade de efervescência cultural. Podemos aqui destacar o fato do país não ter vivido momento de plena liberdade de expressão. Em algumas escolas, por exemplo, constatou-se, a presença de censores dentro das salas de aulas. A grande mídia já chegou a noticiar a expulsão de professores, não por incompetência, ao contrário. A Universidade, praticamente, preserva esses princípios até hoje, embora, nos últimos anos, tenha havido uma tendência de massificação do ensino superior (intoxicação teórica), todavia, ela não foi acompanhada com a sua democratização.

Há um outro aspecto que merece realce. A Universidade, em linhas gerais, reprime, controla, classifica (o melhor ou o pior aluno ou outorga prêmios e estágios fora de Angola ao melhor estudante, por exemplo, de engenharia) homogeneíza, doutrina, discrimina, vigia (big brother), segrega, silencia, subestima, enclausura, ordena, individualiza e exclui, ou seja, trucida o aluno.

Ela exclui, por exemplo, quando não democratiza o acesso e a permanência no seu interior, ou quando se omite em exercer a sua função institucional e responsabilidades sociais, mantendo-se alheia às necessidades da maior parte da população, além de não incentivar o desenvolvimento científico e tecnológico.

Ainda, ela exclui quando reproduz e amplia os perversos mecanismos de exclusão social e péssima distribuição de renda na medida em que todas as dificuldades econômicas das famílias e da sociedade entram nas universidades com os alunos.

Também exclui pela escassez dos recursos humanos qualificados, recursos materiais inadequados e insuficientes, grandes distâncias entre residências e escolas, má localização e muitas vezes de acesso difícil, precariedades dos prédios, altas taxas de reprovação e repetência.

Não podemos pensar em conquistar o desenvolvimento com um quadro como esse. Não é a vontade política que irá desenvolver o nosso país, mas o preparo adequado dos nossos jovens. Preparar adequadamente o angolano será um diferencial decisivo para delimitar o grau de independência que tanto aspiramos.

O nosso país é culturalmente rico e também rico em riquezas naturais. Mesmo com tudo isso, ainda vivemos numa miséria. A independência só promoveu determinados grupos. Apesar de independente, desde 11 de Novembro de 1975, ainda não conhecemos a real e efetiva independência. Até hoje, somos um país periférico do terceiro ou quarto grau, porque sempre dependemos de países como a Rússia, Estados Unidos, Portugal, São Tomé e Príncipe, China, entre outros.

Outro aspecto, o país ainda não se recuperou dos efeitos nefastos de anos de ditadura, quando se faculta(va) roubar a vontade e não se pode fazer nada. Tudo (é) era enxovalhado de forma medieval. Subversão de notícias que proíbem que a nação fique sabendo, por exemplo, se o presidente está com gripe.

É verdade que nenhum país, que lidou com a ditadura de anos, passou a ser saudável de um dia para o outro. Várias vozes já se levantaram contra o ensino superior angolano. Esse é caso do professor Dr. Fernando Mourão ou como também reconheceu, recentemente, o professor universitário Carlos Zassala de que "o ensino em Angola ia mal". Por isso, a busca de uma proposta para a Universidade é um desafio coletivo de toda sociedade angolana. É chegado, portanto, o momento de desenvolvermos um novo paradigma para o ensino superior angolano.

Na segunda parte deste trabalho definiremos o que é a Universidade e os seus pilares principais. Na terceira parte mostraremos as características principais da Universidade necessária para Angola.


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