Atualmente, a Universidade se encontra em meio a uma revolução tecnológica, necessitando fazer a sua própria insurreição. Ela precisa deixar de ser guardiã das tradições e privilégios das classes abastadas.
Na minha perspectiva, a Universidade (pública) não pode somente ser freqüentada pelos filhos de classes altas e, quando conseguem, nas particulares, os demais, mas em cursos de menor prestígio social. O “povão” deve ter acesso ao saber mais elaborado para que tenha condições de se proteger contra a exploração das classes dominantes (muitas vezes nojentas) e se organizar para construção de uma sociedade menos excludente e realmente democrática.
Dessa forma, o que se espera da Universidade futurista de Angola:
1) Uma universidade sustentável, autônoma, administrativa, financeiramente e independente frente a partidos ou organizações políticas e não submissa aos governos Central, Provincial e Municipal. Vários estudiosos houve que mostraram que ela não pode cumprir suas finalidades, se os regimes políticos cercearem sua liberdade.
2) Uma Universidade aberta. Aulas transmitidas pela televisão, rádio, internet, ou outros meios similares, tornando desnecessário que os alunos estejam presentes nas salas de aula, sem fazer distinção entre esses diplomas e os obtidos por meio de presença às aulas. Além disso, com a flexibilização do tempo de duração dos cursos. Uma Universidade que mantenha cursos noturnos e por correspondência a todos os trabalhadores capazes de freqüentá-los com vista a sua formação ou aperfeiçoamento.
3) Uma Universidade para todos. Criar cursos superiores de curta duração, com foco no mercado, para tender i) profissionais diversos; ii) profissionais que desejam ingressar rapidamente no mercado de trabalho ou fazer reorientação profissional e iii) aos pobres que estão distantes da universidade. O acesso da população pobre ao ensino superior é um dos pilares mais importantes para o desenvolvimento sustentável do país.
4) Uma universidade que reúna as melhores condições intelectuais e técnicas para resolver os problemas do povo angolano.
5) Uma Universidade cujos universitários se aventurem na criação de novos conhecimentos, ou seja, com a criação de nova Universidade. Todo universitário angolano do futuro deve ser empreendedor, com espírito de liderança, criativo (não no sentido esperado pelas empresas). Em vez de perder tempo enviando currículos para todos os lados, deverão ser eles a recebê-los.
6) Universidade que adote o conhecido “sistema francês de ensino”, no qual são criadas faculdades isoladas em todas as cidades do país. Para tal pode-se conceber uma universidade itinerante ou volante, ou seja, os professores periodicamente mudam de cidade para cidade até que elas ganhem autonomia. Vale lembrar que, o surgimento da Universidade não decorreu da existência de instituições de ensino médio, mas foi a pré-condição para o surgimento das demais escolas (principalmente as técnicas).
7) Uma Universidade que defenda a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
8) Uma Universidade dinâmica cujo diploma deve ter prazo de validade, como acontece com os documentos de identificação. É sabido que o conhecimento não é absoluto. Na Universidade não se adquire um estoque de conhecimento que o graduado pode usar por toda vida. Hoje, o conhecimento está em fluxo contínuo e tem de ser constantemente atualizado pelo ex-aluno, ou seja, conhecimento científico e técnico se transforma rapidamente. Muito daquilo que o universitário aprende não lhe servirá alguns anos mais tarde. Na Universidade Angolana do futuro, os professores devem ser submetidos a concursos públicos periódicos. Por outro lado, a universidade deverá criar mecanismos de aperfeiçoamento contínuo dos professores.
9) Universidades unificadas sem fronteiras entre elas.
10) Uma universidade que prime pelo ensino superior próximo da realidade;
11) Uma universidade que congregue à sua incumbência a formação e desenvolvimento do ser humano comprometido pelos princípios de justiça social, respeito ao meio ambiente, superação das desigualdades, promoção da saúde, respeito e às diferenças.
12) Uma Universidade que não crie barreiras aos estudantes interessando nela ingressar. O ingresso deve ser livre. As vagas dos cursos superiores não devem ser limitadas. É errado o pensamento segundo o qual há necessidade para regular as vagas de cursos superiores devido à supersaturação de profissionais. Emprego é política do Governo e do Estado. Não é preocupação da Universidade se o aluno terá emprego ou não depois de formado. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. “A prosperidade de um país não depende de da abundância das suas rendas, nem da pugnacidade potencial das suas riquezas, nem ainda da beleza e imponência dos seus edifícios públicos. A prosperidade de um país consiste no número dos cidadãos cultos, na quantidade de seus homens educados”. Martinho Lutero
13) Uma Universidade que não monopolize o conhecimento. Deve ser divulgado de todas as formas, meios e recursos disponíveis; Deverá criar e fortalecer as editoras, televisões e rádios universitárias com o objetivo de promover diálogos com a sociedade por meio de amplo programa de divulgação científica; Além disso, deverá construir, de modo sistemático, de convênios, programas e redes comuns de comunicação com as instituições de ensino superior de outros países, estabelecendo consórcios que possam assegurar intercâmbio de professores, técnicos, estudantes, projetos comuns de pesquisa, publicações, etc.
14) Uma Universidade que não se orgulhe em ter, entre seus professores cínicos, arrogantes e usurpadores de títulos. Assim, professor universitário da Universidade de Angola sem o Doutorado não deverá exigir que seus colegas e alunos o tratem de ‘doutorzinho”. Mestre para aquele que tiver mestrado e título profissional (Professor engenheiro, Psicólogo, Médico, Fisioterapeuta etc.) para aquele que tiver a simples graduação. Humildade, acima de tudo, como fazem os verdadeiros sábios.
15) Uma Universidade que acabe com a tendência de cada professor achar que sua área de especialidade é fundamental para a formação do aluno; Uma universidade que promova flexibilidade curricular e não sobrecarregue o aluno com créditos do próprio curso. Isso é a severa restrição, a que o aluno curso disciplinas de cursos fora de origem.
16) Uma Universidade que se apresente como instituição pública, gratuita, autônoma, democrática e socialmente referenciada;
17) Uma Universidade que valorize a produção acadêmica de qualidade, apoiando institucionalmente projetos de ensino, de pesquisa e de extensão;
18) Uma Universidade que respeite às opiniões, valores, idéias e posições políticas da comunidade; repúdio a qualquer tipo de discriminação; garantia permanente de espaço democrático nas avaliações críticas, nas discussões e na tomada de decisões; respeito ao corpo docente, técnico-administrativo e discente, valorizando os talentos, atuando sem perseguições e preconceitos de qualquer natureza e apoio às atividades estudantis; e levar em conta recomendações do professor Buarque “para que tenhamos uma educação de qualidade, será preciso mudar três imagens que integram uma única: a formação, a remuneração e a dedicação - a cabeça, o bolso e coração - do professor”.
19) Uma Universidade em que o professor deverá criar procedimentos didáticos compatíveis com as necessidades das disciplinas e ministrar, pelo menos, uma aula fora do ambiente escolar, como em jardins, praia ou até num “barzinho”.
20) Uma Universidade que avalie o desempenho didático e pedagógico do professor e sendo reprovado num determinado número de vezes, ele deverá ser convidado a abandonar a Universidade. Uma Universidade que bana os mestres que não querem ensinar (quando sabem) e alunos que não fazem esforço para aprender.
21) Uma Universidade que incorpore a utilização dos modernos meios de ensino à distância, sintonizada com a sociedade, mais comprometida com o desenvolvimento nacional e regional, fortemente irmanada ao setor produtivo, mais comprometida com a qualidade, etc. fortalecer e melhorar a articulação entre as editoras universitárias, as redes de TV e as rádios universitárias com o objetivo de promover diálogos com a sociedade por meio de amplo programa de divulgação científica; constituir, de modo sistemático, convênios, programas e redes comuns de comunicação com as instituições de ensino superior de outros países, estabelecendo consórcios que possam assegurar intercâmbio de professores, técnicos e estudantes, projetos comuns de pesquisa, publicações, etc.
22) Uma Universidade que estimule a expansão e consolidação da pós-graduação no país, promova congressos nacionais que reúnam os pesquisadores do país para a troca de experiências.
Esses pontos são essenciais para que possamos socializar, sociabilizar, difundir a cultura, harmonizar e enriquecer culturalmente o povo angolano. Para além disso, fomentar a capacidade crítica e o comportamento cético, atenuar as desigualdades e termos um povo feliz e país mais próspero.
Com suas idéias, colaboram com este manifesto: A. M.BURMESTER (2002); Adriana Aparecida Guimarães (2002); Conrado VASSELAI (2001); Cristovam Buarque (1994; 2003); Darcy Ribeiro et al. (1962); David Carneiro (1972); Dermeval Saviani (1986); Feliciano J.R. Cangüe (2006); Fragoso Filho (1984); James Marcovitch (1998); Luiz Davidovich (2005); Maristela D. Fração (2006), Méri de Oliveira Polichuk (1995); Polichuk (1995). R. Barbosa E A. A. P Videira ( 2005).Silva Neto, (1999); Khôi, (1970).
Manifesto futurista da Universidade de Angola (I)
Manifesto futurista da Universidade de Angola (II)
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