Como se diz na gíria, governar a cidade de Luanda é como que participar numa “corrida de fundo com barreiras”, tal é a complexidade e a dimensão dos problemas que a urbe carrega.
Por congregar no seu seio todos os poderes de decisão do país, este aspecto tem sido encarado por alguns sectores da sociedade como a verdadeira “pedra no sapato” das figuras que foram, até agora, chamadas a governar Luanda.
Por meio alguma interferência do Governo Central, quer na adjudicação de projectos estruturantes, quer na implementação prática de algumas políticas especificamente concebidas para esta província, a verdade é que foram os governadores que acabaram por assumir o ónus da questão.
Apesar de ser um cargo muito cobiçado por membros da nomenclatura política, este posto funciona como uma “faca de dois gumes”, na medida em que dá muita visibilidade, mas também pode ser visto como a “morte anunciada”, do ponto de vista político, a julgar pelo desgaste da imagem já que a cada dia que passa crescem os problemas e as soluções, estas, tardam a surgir.
O que mais joga a desfavor dos governadores de Luanda são os interesses em jogo, o que torna difícil concilia-los, já que é aqui onde residem “os pesos pesados da política ”.
Por mais que tentam evitar, acabam sempre, os gestores da capital, por chocar com interesses estabelecidos, o que dificulta enormemente o seu exercício.
Por isso, ao cabo de 34 anos, esta província teve um total de 17 entidades que a administraram, cuja designação iniciou com a de Comissário Municipal de Luanda, mais tarde Comissário Provincial e, por último, Governador, tendo por meio sido dirigida também, em duas ocasiões, por Comissões de Gestão.
Cada uma das distintas personalidades que administrou Luanda teve o seu percurso, a sua história, a sua marca e devido a vários factores, cada um deles foi “apeado” do cargo, à medida da dimensão dos problemas vividos na época, muitos dos quais se arrastam até aos dias de hoje.
Lixo, ruas esburacadas, falta de energia eléctrica, deficiente saneamento básico, falta de água, ocupação desordenada de terrenos, delinquência juvenil, perda de valores cívicos e morais, construções José Meireles anárquicas, trânsito caótico, são os principais problemas existentes em Luanda, desde há muitos anos, cujas soluções são cada vez mais uma incerteza.
Por causa destes e de outros problemas conjunturais, reza a história que quer os comissários provinciais, quer a maioria dos governadores, tiveram pouco menos de dois anos à frente dos destinos da província.
Aqui, excepção é feita a Aníbal Rocha, que teve um mandato de cinco anos consecutivos.
O percurso Um ano após a proclamação da Independência nacional, a gestão da província de Luanda foi confiada a uma Comissão de Gestão, chefiada pelo nacionalista Agostinho Mendes de Carvalho.
O desenvolvimento do processo político angolano levou o Estado a decretar a existência de Comissariados Municipais. Luanda teve dois Comissários: Lourenço Vaz Contreiras, de 76 a 77, e Romão da Silva, de 1977 a 1980.
À medida que a organização político – administrativa avança, criam-se os Comissariados Provinciais. Luanda vê passar seis, entre eles Pedro Fortunato, Afonso VanDúnem “Mbinda”, novamente Mendes de Carvalho e Romão da Silva, depois Evaristo Domingos “Kimba” e Mariano Garcia “Puku”.
Nenhum deles durou mais de 2 anos no cadeirão mais importante da Província, aliás média temporal que ainda hoje se mantém.
Por razões que se perdem na História, Flávio Fernandes coordena mais uma Comissão de Gestão de pouca duração, sendo, de seguida, nomeados mais dois Comissários Provinciais: Cristóvão da Cunha e Luís Gonzaga Wawuty.
Passado este período histórico, criam-se os Governos Provinciais.
O primeiro Governador foi Kundy Payama (91/93), cuja experiência administrativa criou alguns anticorpos, embora fosse tido como disciplinador, frontal e às vezes “sem papas na língua”. Sentiu-se perdido numa cidade com a dimensão e os problemas de Luanda.
Seguiu-se Rui de Carvalho (93/94), exradialista que projectou o slogan:”Vamos Salvar Luanda”.
Tentou reunir as boas vontades da sociedade civil para o fazer, mas não teve o tempo suficiente para implementar o seu programa.
De 94 a 97, entra em cena Justino Fernandes. Demora no posto, como o está a fazer na FAF, mas sem resultados palpáveis. Prometeu transformar a Avenida 4 de Fevereiro numa das melhores marginais do Mundo, assim como a Zona Verde do Alvalade.
De lá para cá, a intenção não passou mesmo disso.
Segue-se Aníbal Rocha, também ex-jornalista e funcionário público, que fica conhecido e amado pela população e colaboradores pela edificação das passagens superiores e inferiores na Baixa de Luanda.
Manteve-se no posto de 97 a 2002.
Um recorde. Ainda há quem sinta saudades da sua gestão e, principalmente, da sua maneira de lidar com os munícipes.
Após a sua saída, assume o cargo Simão Paulo, de triste memória.
Saído da EDEL, este engenheiro não conseguiu dar energia eléctrica aos citadinos. Ficou na “boca do povo” devido a um famoso episódio de viollênca doméstica, entretanto tornado público, que lhe valeu a alcunha de Simão Pauladas. Tentou resolver o problema da zona da Gajajeira, um ruidoso e desorganizado mercado de rua (“Arreiou arreiou”) mas o tiro saiu-lhe pela culatra, Foi exonerado pelo Presidente da República com um violento “puxão de orelhas” público. Nessa altura a cidade estava afundada em toneladas de lixo e as ocupações anárquicas tinham começado a ganhar corpo.
“Inventa” o Zango, mas a qualidade das obras e a política de exclusão social cria grandes conflitos. Chegou a ser confrontado pelos moradores em diversas ocasiões.
Para remediar a situação, embora sem o conseguir, cria-se mais uma Comissão de Gestão coordenada por Higino Carneiro, o também conhecido general “4x4 ou Todo-Terreno”, integrada por António VanDúnem, e Job Capapinha, o menos mediático e, ao que se dizia, também o menos qualificado dos três, mas que viria a assumir os destinos de Luanda de 2005 a 2008.
Tido como comunicador, ágil a lidar com as massas, Job Capapinha levou um passivo ao GPL, ao ser acusado de ter “vendido todos os terrenos do bairro do Golfe”. O seu consulado ficou marcado pelo esbanjamento de dinheiros públicos sem as convincentes explicações. Afundam-se a Elisal e a Encib e criam-se empresas, como cogumelos, para “tapar os furos” existentes. Capapinha foi ruidosamente apupado em plena Cidadela, na final do Campeonato Africano de Andebol,na presença do Chefe de Estado. Daí à a sua exoneração foi um passo.
Nessa altura entra em cena Francisca do Espírito Santo como vice Governadora para a Área Social, depois assume interinamente a função de Governadora e finalmente é nomeada efectiva em 2008, mantendo-se no posto até finais de 2010.
No cômputo geral, “Tia Chica”, como também é conhecida, foi a “habitante”do edifício sede do GPL que mais tempo demorou, a julgar pelo seu percurso.
Agastado com o rumo negativo que Luanda ia tomando nos últimos tempos, o Presidente da República foi dando sinais de que pretendia mudar a governação da capital, através de diversos discursos públicos. A entrega da gestão das novas centralidades à Sonangol foi um dos muitos avisos feitos pelo PR à navegação.
Em 2010 é substituída por José Maria dos Santos, que retirado das “terras do fim do mundo” (Kuando Kubango, onde foi vice-governador), começou logo por evocar o nome de Deus como seu guia, sua fonte de iluminação para resolver os problemas de Luanda.
Todas as semanas efectua visitas-surpresa de campo, o que está a agradar a alguns círculos. Dizem que José Maria dos Santos entrou a “sprintar” e todos estão de olhos nele para ver se chega ao fim da corrida.
Fonte http://www.opais.net/pt/opais/?id=1929&det=18710
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