Por Ismael Mateus
Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009
“Por que razão JES quer continuar no poder? É difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder, ele ainda tenha objectivos por realizar”
O Presidente José Eduardo dos Santos participou como convidado especial na reunião dos mais poderosos estadistas do mundo.
Foi um convite especial que – tenhamos os pés bem assentes na terra - não faz de Angola uma potencia, mas dá-lhe uma visibilidade mundial por bons motivos e, sobretudo, representa um reconheci-mento internacional que José Eduardo dos Santos nunca teve.
Agora sim, depois da participação no G8 como reconhe-cimento internacional, o Presidente da República poderia usar a mesma expressão que usou em Agosto de 2002, em Washington, quando afirmou que se sentia como um capitão de barco que depois da tempestade tinha conseguido levar a nau a um porto seguro.
Do ponto de vista nacional esse marco foi de 2002, ano em que terminou a guerra, a 2008, ano das eleições.
Internacionalmente JES tem credibilidade e respeito dos parceiros regionais, mas nunca teve um reconhecimen-to de presença mundial, apesar de, ao longo dos seus 30 anos de poder, ter sempre procurado, sem sucesso, tal êxito internacional. O esforço de guerra, a gran-de propaganda política e ainda os imensos erros na estratégia de comunicação fizeram sem-pre muito «ruído» a uma imagem de JES como estadista de dimensão extra-nacional. Em finais dos anos 80 e princípios dos anos 90 fizeram-se os pri-meiros grandes ensaios. Os acordos tripartidos, a retirada dos cubanos e os acordos de Bicesse tiveram condimentos «à ocidente» que permitiriam que JES se passeasse pela cena mundial. Nada ocorreu para além de tímidas entrevistas na imprensa portuguesa. Vieram o Papa Joao II e as eleições e novamente a guerra. Mesmo com o sucesso do fim da guerra em Angola, JES não viu nenhum reconhecimento público internacional de grande expressão. Não recebeu prémios mundiais de paz nem diplomas de mérito de dimensão global. Por essa assinalável circunstância, tornaram-se imperdíveis três iniciativas muito divulgadas na época. Primeiro, a associação de intelectuais do Cazenga e depois Riquinho anunciaram a candidatura de JES ao Prémio Nobel da Paz. Depois foi criado um movimento de apoio à candidatura.
Desde 2002, o nosso país vem protagonizando um crescimento surpreendente. No triénio 2005-2007, Angola cresceu em média 20,1% ao ano, a segunda taxa mais elevada entre os 172 que integram a lista de um dos relatórios de 2008 do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao mesmo tempo consolidou a sua posição estratégica no continente, influenciando com a sua experiencia de paz a situação em países como a Cote D`Ivore, RDC, Zimbabwe, Guiné Bissau, São Tomé e Republica Centro Africana. Depois de Bongo, recentemente falecido, JES tornou-se no mais antigo presidente da África Central e Austral. É o mais velho chefe de Estado, mesmo que em idade seja mais novo que Mugabe e que Dennis Sassou Nguesso. Acresce-se também uma maior agressividade diplomática que nos últimos 24 meses possibilitaram o estreitamento de relações com os EUA, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, para além da liderança da OPEP. O Papa voltou a Angola (agora Bento XVI) mas, desta vez, para transmitir ao mundo não uma Angola amedrontada e ajoelhada em preces, como em 1992, mas um país novo, sorridente, confiante na paz. A imagem de JES como Presidente dos angolanos saiu também a ganhar e muito.
L`Aquila é a recompensa por tudo isso. É um reconhecimento do G8 pela influência crescente de Angola na vida africana e mundial. Por isso é que é justo reconhecer a assinatura de JES em tudo isso.
Também é por tudo isso que temos dificuldades em perceber por que razão JES quer continuar no poder. Dito de outro modo, por que razão alguém que conquista tudo isso e deixa o seu nome inscrito em tantos momentos da nossa história necessita ainda de se manter no poder?
Por várias vezes dissemos que não acreditámos que JES se candidate, mas os sinais que nos chegam deixam entender que estamos errados. A ver vamos. Seja como for, é difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder JES ainda tenha objectivos por realizar.
Internamente, JES não conseguirá atingir os 82% do MPLA, que, queira-se ou não, é a referência. O desgaste do MPLA é maior, sobrando para o seu líder e a imagem de JES já não é tão imaculada como antigamente. Hoje muita gente o responsabiliza directamente pelo estado das coisas. Portanto, se concorrer ganha, mas ganha com menos do que o MPLA e fá-lo-á com muito menos eleitores também. Mesmo os níveis de crescimento tenderão a baixar e mais tarde a fixarem-se.
Internacionalmente, quem vier jamais será o primeiro nestes palcos nem terá as mesmas dificuldades como abrir Angola ao mundo. Então para onde corre JES? A caminho dos 70 anos, trinta dos quais no poder, JES ainda tem necessidade de correr atrás de quê?
Não dá mesmo para entender senão com aquela frase conhecida: «é esse o poder do poder»
Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009, Ano VI - Edição n. º 324
Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009
“Por que razão JES quer continuar no poder? É difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder, ele ainda tenha objectivos por realizar”
O Presidente José Eduardo dos Santos participou como convidado especial na reunião dos mais poderosos estadistas do mundo.
Foi um convite especial que – tenhamos os pés bem assentes na terra - não faz de Angola uma potencia, mas dá-lhe uma visibilidade mundial por bons motivos e, sobretudo, representa um reconheci-mento internacional que José Eduardo dos Santos nunca teve.
Agora sim, depois da participação no G8 como reconhe-cimento internacional, o Presidente da República poderia usar a mesma expressão que usou em Agosto de 2002, em Washington, quando afirmou que se sentia como um capitão de barco que depois da tempestade tinha conseguido levar a nau a um porto seguro.
Do ponto de vista nacional esse marco foi de 2002, ano em que terminou a guerra, a 2008, ano das eleições.
Internacionalmente JES tem credibilidade e respeito dos parceiros regionais, mas nunca teve um reconhecimen-to de presença mundial, apesar de, ao longo dos seus 30 anos de poder, ter sempre procurado, sem sucesso, tal êxito internacional. O esforço de guerra, a gran-de propaganda política e ainda os imensos erros na estratégia de comunicação fizeram sem-pre muito «ruído» a uma imagem de JES como estadista de dimensão extra-nacional. Em finais dos anos 80 e princípios dos anos 90 fizeram-se os pri-meiros grandes ensaios. Os acordos tripartidos, a retirada dos cubanos e os acordos de Bicesse tiveram condimentos «à ocidente» que permitiriam que JES se passeasse pela cena mundial. Nada ocorreu para além de tímidas entrevistas na imprensa portuguesa. Vieram o Papa Joao II e as eleições e novamente a guerra. Mesmo com o sucesso do fim da guerra em Angola, JES não viu nenhum reconhecimento público internacional de grande expressão. Não recebeu prémios mundiais de paz nem diplomas de mérito de dimensão global. Por essa assinalável circunstância, tornaram-se imperdíveis três iniciativas muito divulgadas na época. Primeiro, a associação de intelectuais do Cazenga e depois Riquinho anunciaram a candidatura de JES ao Prémio Nobel da Paz. Depois foi criado um movimento de apoio à candidatura.
Desde 2002, o nosso país vem protagonizando um crescimento surpreendente. No triénio 2005-2007, Angola cresceu em média 20,1% ao ano, a segunda taxa mais elevada entre os 172 que integram a lista de um dos relatórios de 2008 do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao mesmo tempo consolidou a sua posição estratégica no continente, influenciando com a sua experiencia de paz a situação em países como a Cote D`Ivore, RDC, Zimbabwe, Guiné Bissau, São Tomé e Republica Centro Africana. Depois de Bongo, recentemente falecido, JES tornou-se no mais antigo presidente da África Central e Austral. É o mais velho chefe de Estado, mesmo que em idade seja mais novo que Mugabe e que Dennis Sassou Nguesso. Acresce-se também uma maior agressividade diplomática que nos últimos 24 meses possibilitaram o estreitamento de relações com os EUA, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, para além da liderança da OPEP. O Papa voltou a Angola (agora Bento XVI) mas, desta vez, para transmitir ao mundo não uma Angola amedrontada e ajoelhada em preces, como em 1992, mas um país novo, sorridente, confiante na paz. A imagem de JES como Presidente dos angolanos saiu também a ganhar e muito.
L`Aquila é a recompensa por tudo isso. É um reconhecimento do G8 pela influência crescente de Angola na vida africana e mundial. Por isso é que é justo reconhecer a assinatura de JES em tudo isso.
Também é por tudo isso que temos dificuldades em perceber por que razão JES quer continuar no poder. Dito de outro modo, por que razão alguém que conquista tudo isso e deixa o seu nome inscrito em tantos momentos da nossa história necessita ainda de se manter no poder?
Por várias vezes dissemos que não acreditámos que JES se candidate, mas os sinais que nos chegam deixam entender que estamos errados. A ver vamos. Seja como for, é difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder JES ainda tenha objectivos por realizar.
Internamente, JES não conseguirá atingir os 82% do MPLA, que, queira-se ou não, é a referência. O desgaste do MPLA é maior, sobrando para o seu líder e a imagem de JES já não é tão imaculada como antigamente. Hoje muita gente o responsabiliza directamente pelo estado das coisas. Portanto, se concorrer ganha, mas ganha com menos do que o MPLA e fá-lo-á com muito menos eleitores também. Mesmo os níveis de crescimento tenderão a baixar e mais tarde a fixarem-se.
Internacionalmente, quem vier jamais será o primeiro nestes palcos nem terá as mesmas dificuldades como abrir Angola ao mundo. Então para onde corre JES? A caminho dos 70 anos, trinta dos quais no poder, JES ainda tem necessidade de correr atrás de quê?
Não dá mesmo para entender senão com aquela frase conhecida: «é esse o poder do poder»
Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009, Ano VI - Edição n. º 324
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