Durante semanas a fio andámos pelas ruas de Luanda, para percebermos o mundo das prostitutas. Nalgumas zonas, o visual das “meninas da vida desprevenida” atrai até o mais distraído dos homens. Noutras áreas a falta de higiene afugenta os clientes. As meninas menos higiénicas são encontradas junto à zona da Chicala, à entrada da Ilha de Luanda, na parte traseira da Fortaleza, e noutros pontos da Baixa da cidade.
Junto à discoteca Zorba e por trás do Hotel Turismo, às portas da discoteca D. Quixote, na Baixa da cidade, é possível encontrar as prostitutas mais caras, com roupa de “grife”, perfume de marca, sobretudo às sextas-feiras. Outro “ponto de encontro” é a discoteca W-Club (ex-Chiwawa), ao Miramar.
Os preços que as “prostitutas de luxo” praticam só assustam quem lida com a situação pela primeira vez. O preço de “uma rápida”, ronda os quatro mil kwanzas. As meninas só reduzem o preço, se ao cair da madrugada tiverem registado pouca clientela. Carros de quase todas as marcas e modelos, até dos mais caros, são vistos a altas horas da noite a circularem pela cidade à procura de prostitutas. O serviço de uma prostituta, por noite, pode custar até cem dólares.
A Polícia Nacional anda a “travar” o negócio nas ruas de Luanda, mas elas têm meios sofisticados para escapar dos agentes policiais.
Na noite de uma sexta-feira, junto à discoteca Palos, parámos a viatura, respondendo ao sinal de uma prostituta. Durante a conversa, Ana D. soltou uma carta importante do seu baralho de segredos: “se concordares, ficamos numa boa em minha casa e sempre que quiseres é só me ligar. Assim, evitas procurar gajas em vão”. E disse mais: “se quiseres um trabalho bem completo, incluindo strip tease, podemos negociar outro preço”.
Descobrimos que funciona um circuito de prostituição ao domicílio, e Ana D. está nesse circuito. Os aposentos são no Bairro Azul. A mobília é de qualidade. Ana disse que deixou de trabalhar há dois meses numa loja de roupas. Para “curtir” com um cliente durante uma noite, na sua casa, a jovem prostituta cobra 150 dólares. Revelou que nem sempre é possível cobrar tal preço, “tudo depende das circunstâncias”, frisou com um sorriso atraente.
Paula veste mini-saia preta e uma blusa da mesma cor. Tem cabelos longos e voz afectuosa: “se não és medroso podemos ir para minha casa, mas vais pagar 100 dólares”. Paula diz que “atende” nove clientes por dia, e ainda lhe sobra a noite para um “serviço especial”.
Mora no Bairro Mártires de Kifangondo e a casa tem uma decoração avermelhada e romântica. É tudo muito limpo e asseado. Põe um CD de Celine Dion e logo a seguir avança Bonga. Paula garante que a sua família não sabe da sua vida e nem sempre anda no “negócio”.
Tal como a Ana, Paula exige sempre aos clientes o preservativo: “não é qualquer um que trago a casa. Às vezes o coração dá um palpite que vale a pena e nunca me enganei ”.
A nossa reportagem registou casos semelhantes de prostitutas que praticam o serviço/negócio do sexo no domicílio, particularmente às sextas-feiras e sábados. Aos domingos, a maré é baixa e quase não aparecem clientes.
O importante é saber as causas
O sociólogo José Garcia Lencastre disse que “na nossa sociedade a prostituição tem uma imagem negativa” e uma das consequências para quem pratica este estilo de vida é dificilmente verem-se livres do passado, quando abandonam a prostituição.
A prostituição em Angola tem causas económicas, assegura o sociólogo, apontando que devido à guerra, muitas mulheres perderam os maridos e não conseguem, com o salário que auferem, sustentar a família.
A prostituição em Angola não consta das profissões reconhecidas legalmente. A sua prática é ilegal, disse José Garcia Lencastre. Por isso, as mulheres que assim procedem não têm acompanhamento médico.
“Estamos a entrar nas consequências que esta prática pode trazer porque elas não sabem com quem se estão a prostituir e correm o risco de se infectarem com o VIH/Sida. Muitas não usam métodos de prevenção contra inúmeras doenças venéreas, seja nas ruas de Luanda ou no mercado Roque Santeiro”.
Recuperar prostitutas
José Garcia Lencastre vai mais longe ao afirmar que as autoridades devem tomar medidas, entre oficializar ou impedir. “Mas, não vai ser fácil”, reconheceu, referindo que “se temos a actividade das kínguilas que é ilegal e ninguém consegue legalizar, quanto mais pretender legalizar a prostituição”. Recuperar as prostitutas, dando formação profissional e enquadrá-las no mercado de trabalho para auferirem salário, incentivando-as a abandonar a actividade, é uma das saídas sugeridas por José Garcia Lencastre. É caso para dizer que a repressão policial, por si mesma, não resolve o problema.
A palavra de Deus
“Há pessoas que têm dinheiro e gastam-no na prostituição. A prostituição tem tornado muitos pobres em grandes ricos, em magnatas. Hoje, a prostituição tem quase o mesmo valor do diamante ou do petróleo. A Bíblia não aprova tal acto, até porque a Bíblia diz que a prostituição é impureza e Cristo veio para a purificar”, diz o reverendo Francisco Domingos Sebastião, da Igreja Assembleia de Deus Pentecostal.
Segundo o reverendo, quando Jesus Cristo diz: “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens”, está justamente a apontar para esta impureza. A única forma de salvar este “peixe” que está quase em estado de putrefacção é salgar com a palavra de Deus.
A igreja não é a favor da prostituição e o seu trabalho é purificar os impuros por meio da pregação do evangelho de Jesus Cristo, acrescenta o reverendo Francisco Sebastião. E refere que o apóstolo S. Paulo aconselhou os cristãos a afastarem-se da prostituição.
A prostituição é condenável diante de Deus, assegura o reverendo, porque quando Deus fez o homem e a mulher dizendo que estarão juntos até que a morte os separe, não fez duas ou três mulheres para Adão, mas apenas uma, logo, Deus, a partir deste pressuposto, não aprova o envolvimento extraconjugal.
Francisco Domingos Sebastião esclareceu que Deus apenas reconhece o casamento monogâmico. A monogamia é o princípio de Deus: um homem e uma mulher. E o apóstolo Paulo reforça este pensamento, quando diz que há realmente coisas que o têm preocupado por causa da prostituição, aconselhando que cada mulher tenha o seu próprio marido e cada homem tenha a sua própria mulher.
A expressão “própria” aponta para exclusividade, uma particularidade, titularidade, e não uma mistura, diz o prelado pentecostal, porque a sociedade angolana procura inculcar nos seus cidadãos uma nova cultura de promiscuidade, mas a promiscuidade não é a orientação que encontramos na palavra de Deus e não é aprovado.
“Temos certeza que a própria sociedade não aprova a prostituição, porque não encontramos pessoas que se prostituem abertamente, fazem isso escondidamente e se assim procedem é por saberem que a sociedade não aprova”.
06 Jan 2009
Fonte: Jornal de Angola
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