Certo dia Dostoievski afirmou: “para renovar o mundo, é preciso mudar”. Muitos se sentem ofendidos quando se fala em mudanças. É verdade que é desconfortável abandonarmos aquilo que conhecemos, aquilo que por muito tempo nos foi apresentado e acreditamos como verdadeiro, como insubstituível. Certo dia um meu amigo afirmou que preferia seguir a maioria; preferia seguir a tradição. E se a tradição ou a maioria estiver errada?
Eu pertenço a uma geração que, quando jogava futebol, só chutava bola para frente. Não interessava muito se a mesma caía aos pés adversários ou não. E havia uma lógica para isso: quanto mais a bola ficasse próxima das redes adversárias, maior era a chance de goleá-los. Entretanto, hoje, sabe-se que essa é uma condição necessária, mas não é suficiente.
Atualmente, no profissionalismo, uma partida de futebol, mais parece uma partida de xadrez. O mais importante não é apenas jogar, mas saber jogar. Muitas vezes a bola através de jogadas exaustivamente ensaiadas, chega até à grande área adversária. Ocorrendo uma impossibilidade de avançar, é recuada até o meio do campo para recomeço de uma outra jogada, o chamado “recuo estratégico”. Estar com a posse da bola também faz parte dos objetivos para se conseguir resultados no futebol. Isso é profissionalismo. Descobrir como se aprende a jogar é o que diferencia as pessoas inteligentes das menos inteligentes. É característica de um inteligente realizar, primeiro planos, para que obtenha, depois, os resultados. Isso envolve a modificação daquilo que se conhece. Essa é a forma para se tornar mais competitivo. Quanto mais competitivos forem os jogadores, isso se traduzirá em equipe também competitiva.
Porém, o que assusta é perceber que viver no amadorismo, ainda fascina algumas pessoas. O motivo é simples. O amador sempre mostra superioridade e ignorância. A ignorância se destaca na contribuição para o fracasso. No amadorismo, a bola tem que ser passada ao jogador “astro” da equipe, o “insubstituível”. Todos têm que se esforçar, ao máximo, para que as finalizações sejam feitas por esse jogador. Assim ele aparecerá em todas as resenhas desportivas noturnas.
No profissionalismo, entretanto, prevalece a idéia de conjunto, de equipe, um motivando o outro. Recebe a bola aquele que procura espaços vazios e se desloca. Nesse caso, os jogadores sabem que as oportunidades não estão mais à disposição. Precisam ser procuradas e criadas. Dessa maneira, vencem aquelas equipes que melhor conseguem reunir, selecionar e montar melhores estratégias.
Ainda, vencem equipes cujos dirigentes são capazes de cativarem liderados por meio de exemplo de vida. Líderes que têm a noção institucional do clube, a natureza doutrinária do sistema de “governo democrático” do futebol. Quando isso não ocorre, o que se vê só são atrapalhadas.
Numa das crônicas de José Sarney, por exemplo, ele cita um caso muito curioso, protagonizado pelo general Delgado, que brigou com o temido ditador Salazar, em Portugal. Depois disso fugiu para o Brasil. Ao falar das crueldades da polícia política portuguesa, referiu-se do caso de um aldeão que foi, com cesta de ovos, à cidade próxima, para vendê-los. Num determinado momento, houve uma discussão de preços e a polícia o enforcou. “Somente pelos ovos”? - perguntou um repórter, e ele respondeu prontamente: “não, pelo pescoço”. Isso chega a ser pitoresco!.
Pitoresco mesmo é ainda encontrarmos países, como é o caso de Angola, o nosso querido país, numa época da história humana em que as informações não são escassas, o que facilita o aprendizado, patinando no atoleiro. A experiência acumulada pela humanidade mostra que para se sair desse marasmo em que se encontra, para se construir uma nova sociedade, sociedade justa, não se deve apostar, tão somente, na sorte ou no “dar tempo ao tempo”.
Para darmos um passo para frente, as pessoas precisam abandonar os costumes de se entulharem de muitas informações de maneira superficial e fragmentada, porque isso causa muita confusão. O que mudará o país, para melhor, são os recursos ligados à competência, capazes de exercitar a criatividade. Pessoas que sejam capazes de fazer a história acontecer e não aquelas dispostas a fazerem parte dela. Isso exige mudança de mentalidade, e é aí que está o nó que não conseguimos desatar. Isso deixa perplexo a qualquer um.
Todos os países podem atingir elevado grau de desenvolvimento, a menos que decidam que não querem, ou que não saibam que podem. O mais importante é que cada país descubra os seus caminhos e não procurar dar eternas justificativas de dificuldades que já passaram.
Aliás, as dificuldades são momentos favoráveis para que se corrijam rumos de vida que não deram certo, de tal maneira que o país se torne mais poderoso. Isso envolve otimismo e não dúvidas nem pessimismo. Além do mais, a dúvida leva à perda da guerra antes mesmo da primeira batalha. No futebol profissional, derrota é admitida como derrota, não é definida como fracasso. Fracasso, no futebol, é quando se tem o mesmo jogador, o tempo todo, e ainda alguém ache que não precisa mudá-lo. Pior é quando os adeptos (torcedores) acham o mesmo. Aí é o fim da picada! E se até mesmo os maiores clubes de futebol do mundo se muda, se substitui, se troca de jogadores e de treinadores não seria diferente numa administração pública.
A última frase não foi escrita por mim, mas completou bem a ideia. Agradeço ao autor.
Publicado no portal Club-k-angola.com
Eu pertenço a uma geração que, quando jogava futebol, só chutava bola para frente. Não interessava muito se a mesma caía aos pés adversários ou não. E havia uma lógica para isso: quanto mais a bola ficasse próxima das redes adversárias, maior era a chance de goleá-los. Entretanto, hoje, sabe-se que essa é uma condição necessária, mas não é suficiente.
Atualmente, no profissionalismo, uma partida de futebol, mais parece uma partida de xadrez. O mais importante não é apenas jogar, mas saber jogar. Muitas vezes a bola através de jogadas exaustivamente ensaiadas, chega até à grande área adversária. Ocorrendo uma impossibilidade de avançar, é recuada até o meio do campo para recomeço de uma outra jogada, o chamado “recuo estratégico”. Estar com a posse da bola também faz parte dos objetivos para se conseguir resultados no futebol. Isso é profissionalismo. Descobrir como se aprende a jogar é o que diferencia as pessoas inteligentes das menos inteligentes. É característica de um inteligente realizar, primeiro planos, para que obtenha, depois, os resultados. Isso envolve a modificação daquilo que se conhece. Essa é a forma para se tornar mais competitivo. Quanto mais competitivos forem os jogadores, isso se traduzirá em equipe também competitiva.
Porém, o que assusta é perceber que viver no amadorismo, ainda fascina algumas pessoas. O motivo é simples. O amador sempre mostra superioridade e ignorância. A ignorância se destaca na contribuição para o fracasso. No amadorismo, a bola tem que ser passada ao jogador “astro” da equipe, o “insubstituível”. Todos têm que se esforçar, ao máximo, para que as finalizações sejam feitas por esse jogador. Assim ele aparecerá em todas as resenhas desportivas noturnas.
No profissionalismo, entretanto, prevalece a idéia de conjunto, de equipe, um motivando o outro. Recebe a bola aquele que procura espaços vazios e se desloca. Nesse caso, os jogadores sabem que as oportunidades não estão mais à disposição. Precisam ser procuradas e criadas. Dessa maneira, vencem aquelas equipes que melhor conseguem reunir, selecionar e montar melhores estratégias.
Ainda, vencem equipes cujos dirigentes são capazes de cativarem liderados por meio de exemplo de vida. Líderes que têm a noção institucional do clube, a natureza doutrinária do sistema de “governo democrático” do futebol. Quando isso não ocorre, o que se vê só são atrapalhadas.
Numa das crônicas de José Sarney, por exemplo, ele cita um caso muito curioso, protagonizado pelo general Delgado, que brigou com o temido ditador Salazar, em Portugal. Depois disso fugiu para o Brasil. Ao falar das crueldades da polícia política portuguesa, referiu-se do caso de um aldeão que foi, com cesta de ovos, à cidade próxima, para vendê-los. Num determinado momento, houve uma discussão de preços e a polícia o enforcou. “Somente pelos ovos”? - perguntou um repórter, e ele respondeu prontamente: “não, pelo pescoço”. Isso chega a ser pitoresco!.
Pitoresco mesmo é ainda encontrarmos países, como é o caso de Angola, o nosso querido país, numa época da história humana em que as informações não são escassas, o que facilita o aprendizado, patinando no atoleiro. A experiência acumulada pela humanidade mostra que para se sair desse marasmo em que se encontra, para se construir uma nova sociedade, sociedade justa, não se deve apostar, tão somente, na sorte ou no “dar tempo ao tempo”.
Para darmos um passo para frente, as pessoas precisam abandonar os costumes de se entulharem de muitas informações de maneira superficial e fragmentada, porque isso causa muita confusão. O que mudará o país, para melhor, são os recursos ligados à competência, capazes de exercitar a criatividade. Pessoas que sejam capazes de fazer a história acontecer e não aquelas dispostas a fazerem parte dela. Isso exige mudança de mentalidade, e é aí que está o nó que não conseguimos desatar. Isso deixa perplexo a qualquer um.
Todos os países podem atingir elevado grau de desenvolvimento, a menos que decidam que não querem, ou que não saibam que podem. O mais importante é que cada país descubra os seus caminhos e não procurar dar eternas justificativas de dificuldades que já passaram.
Aliás, as dificuldades são momentos favoráveis para que se corrijam rumos de vida que não deram certo, de tal maneira que o país se torne mais poderoso. Isso envolve otimismo e não dúvidas nem pessimismo. Além do mais, a dúvida leva à perda da guerra antes mesmo da primeira batalha. No futebol profissional, derrota é admitida como derrota, não é definida como fracasso. Fracasso, no futebol, é quando se tem o mesmo jogador, o tempo todo, e ainda alguém ache que não precisa mudá-lo. Pior é quando os adeptos (torcedores) acham o mesmo. Aí é o fim da picada! E se até mesmo os maiores clubes de futebol do mundo se muda, se substitui, se troca de jogadores e de treinadores não seria diferente numa administração pública.
A última frase não foi escrita por mim, mas completou bem a ideia. Agradeço ao autor.
Publicado no portal Club-k-angola.com
"A jogada que a política precisa aprender" Angola24horas.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário