Até hoje, já fiz várias provas, fáceis e difíceis, possíveis e impossíveis. Tirei nota máxima em algumas e já cheguei a tirar zero noutras, mas não me lembro ter me deparado com uma pergunta tão difícil de responder como a que me fez nossa filha, então com 6 anos:
-Papai, estamos ficando pobres?
Em dezembro do ano antepassado, resolvemos sair para uma viagem de férias. Achávamos que nós merecíamos, depois de algumas vitórias que obtivemos. Nos programamos como fazem os políticos. Gastamos o dobro daquilo que prevíamos. No mês de janeiro, as entradas financeiras deixaram muito a desejar. A situação foi pior em fevereiro, mês do carnaval.
O início das aulas estava marcado para a semana seguinte ao carnaval. Para não corrermos riscos de gastarmos o pouco dinheiro que nos restava, resolvemos matricular nossa filha num colégio particular. Postos lá, obrigaram-nos a pagar a mensalidade de janeiro, fevereiro ou iriam diluí-las nas mensalidades seguintes. Além disso teríamos que pagar a taxa de matrícula ou taxa para eventos, no valor aproximado de uma mensalidade. A escola apresentou-nos a lista do material escolar, no valor de duas mensalidades. Com dificuldades, conseguimos pagar as duas mensalidades e a taxa de eventos. Naquele mês, não foi possível comprar o material escolar. Deixamos para fazê-lo no mês seguinte.
-Papai, estamos ficando pobres?
Em dezembro do ano antepassado, resolvemos sair para uma viagem de férias. Achávamos que nós merecíamos, depois de algumas vitórias que obtivemos. Nos programamos como fazem os políticos. Gastamos o dobro daquilo que prevíamos. No mês de janeiro, as entradas financeiras deixaram muito a desejar. A situação foi pior em fevereiro, mês do carnaval.
O início das aulas estava marcado para a semana seguinte ao carnaval. Para não corrermos riscos de gastarmos o pouco dinheiro que nos restava, resolvemos matricular nossa filha num colégio particular. Postos lá, obrigaram-nos a pagar a mensalidade de janeiro, fevereiro ou iriam diluí-las nas mensalidades seguintes. Além disso teríamos que pagar a taxa de matrícula ou taxa para eventos, no valor aproximado de uma mensalidade. A escola apresentou-nos a lista do material escolar, no valor de duas mensalidades. Com dificuldades, conseguimos pagar as duas mensalidades e a taxa de eventos. Naquele mês, não foi possível comprar o material escolar. Deixamos para fazê-lo no mês seguinte.
Nós não trabalhamos com cheques, nem com cartão de crédito, que é bom quando usado em nosso favor, como o cartão de débito. Com o cartão, sem o indivíduo não tiver boas reservas financeira, gasta o dinheiro que ainda não foi ganhou. Assim, é muito grande a alegria quando se adquire um cartão de crédito, no entanto, essa alegria é muito maior quando deixa-se de usá-lo. Aliás, a nossa vida financeira melhorou muito depois que abandonamos essas furiosas fábricas que estimulam consumo. Fugimos das dívidas. Paramos também de fazer empréstimos, principalmente no sistema bancário, porque sempre terminava em verdadeiro pesadelo. Paramos de enriquecer os outros. No início foi difícil. Aliás, abandonar qualquer vício como dependência química, permanência no poder, vaidade etc. é sempre difícil. Depende muito da força de vontade. Agora comprar só à vista. Pagando dessa maneira sempre conseguimos grandes descontos.
As aulas iniciaram. Faltavam 10 dias para que o próximo salário fosse depositado em nossas contas bancárias. A nossa filha foi às aulas. Já no primeiro dia recebemos o comunicado da escola proibindo a entrada dela, na escola, sem o material escolar, incluindo o uniforme, conforme previa o regimento interno. Tolerância zero. O que fazer? Soubemos de um aluno que cursou a classe dela no ano anterior e emprestou-nos quatro livros. Ficamos mais aliviados. No dia seguinte ela foi à escola com a mochila carregada de novos, mas velhos, livros.
Quando voltou, recebemos outro bilhetinho da professora. Ela pediu-nos para que apagássemos todas as respostas do livro. Eu passei a noite inteira me divertindo. Pior, a antigo proprietário não faltou nenhum dia! Gastei três borrachas. Entendi o que quer dizer LER, ou seja, lesão por esforços repetitivos.
Naquele mês, nós deixamos de pagar a taxa de lanches na cantina da escola. Para que ela também lanchasse, tínhamos que enviar a partir de casa. Na segunda-feira, ela levou a última nota de dinheiro que tinha, para que comprasse alguma coisa. Nesse mesmo dia, no meu almoço, no refeitório da instituição, serviram, como sobremesa, maças. Aproveitei levar a minha para casa.
Na manhã de terça-feira, ela a levou para seu lanche. A minha sobremesa naquele dia foi banana. Na quarta-feira a sobremesa foi pudim. No dia seguinte, um pouco antes de sairmos, ela perguntou-me onde estava o lanche. Revirei a casa. Encontrei apenas um limão. Tinha que fazer o milagre de multiplicação. Fiz, rapidamente, um sumo não muito forte para não amargar muito depois. Assim nos arrastamos naquela semana. Tivemos um fim de semana divertido. Esquecemos, por alguns instantes os embates da semana.
Na segunda-feira, antes de sairmos ela cobrou o lanche, novamente. Dessa vez, não consegui encontrar nem uma casca de limão. Ela não levaria marmita com arroz, feijão e glúten como lanche. Isso é patente dos pedreiros. Comecei a ficar preocupado com a situação. Tinha chegado o momento de sairmos. Pegamos o carro em direção à escola. Há duas quadras da escola o combustível acabou. Calmamente estacionei o carro e, como se nada tivesse acontecido, convidei-a para caminharmos um pouco, porque isso fazia bem para a saúde.
Assim que a deixei na escola, fui correndo para o trabalho. Ao voltar para casa à noite, por volta das 21 horas, encontrei a energia elétrica cortada ou seja, foi suspenso o fornecimento dessa energia tão importante para nós. Para minha sorte, encontrei todos dormindo. Pelo menos isso poupou-me de um grande constrangimento. Tentei fazer a minha agenda do dia seguinte, mas naquela escuridão... sem vela... Mesmo na escuridão, pelo menos consegui jantar.
Sem luz, no dia seguinte, tivemos que tomar banho de água fria. Ela suportou o frio e não reclamou. Antes de sairmos para a escola eu pedi para que ela fizesse uma oração ao papai do céu. Acreditava que naquela situação que nos encontrávamos a súplica dela seria facilmente atendida. Ela atendeu-me e depois de terminada, humildemente, parou e olhou bem para os meus olhos e perguntou-me:
- papai, estamos ficando pobres?
Foi uma facada. Nós poderíamos evitar essa situação se vivêssemos numa sociedade que nos ensinasse economizar, como acontece na China de hoje, onde as pessoas chegam a economizar 50% de seus rendimentos. Nós nem precisaríamos isso tudo. Bastava apenas 10% de nossos rendimentos. O que vejo são progagandas para que compremos isso, aquilo parcelado em "x" vezes. É difícil entrar na vida de dívidas e sair dela ileso.
O nosso padrão não cairia se, em vez, por exemplo, de gastar U$ 100,00 eu gastássemos U$ 90,00. Para manter o mesmo padrão, começaríamos por eliminar aqueles supérfluos. Tudo aquilo que compramos e não sabemos por que o fazemos. Aquelas compras sem pernas nem cabeça, por exemplo, doces, biscoitos recheados, cafezinho, cigarros etc.
Se eu tivesse hoje, 10% de todos os rendimentos que tive até hoje, seria um grande milionário. O dinheiro iria trabalhar por mim. Aproveitaria o espetáculo dos juros compostos. O próprio dinheiro atrairia dinheiro investindo em fundos de ações e renda fixa. Entretanto, nunca é tarde para começarmos a economizar. Se nenhuma medida for tomada, futuramente já não será mais pergunta, mas afirmação.
Tivemos um ano da virada de atitude. Aderimos ao partido do ser e não ter. Não vivemos de ilusão mais, nem correr desenfredamente atras da moda; aquela vida de muito luxo e muito desespero. As formigas são mais inteligentes nesse aspecto. Têm uma vida de muita luta, ordem e provisão. Hoje, com os devidos cortes, conseguimos viver, sem queda do padrão, com 80% dos nossos rendimentos. Aproveitamos doar os outros 10% aos orfanatos, hospital de câncer, instituições de caridade e igreja que tanto precisam desses recursos para minimizar o sofrimento de muitos. Hoje somos ricos de felicidade. Isso não tem preço.
Direitos de publicação: "Revista Kuia"
Você caro amigo é um milionário que soube transformar o sofrimento de sua vida em exemplo de dignidade e riqueza espiritual.
ResponderExcluirMário Augusto
Meu conterráneo, no nosso tempo, do Saidy Mingas foi pior...ou näo foi? nem lanche, nem carro para ir a escola...recordas aquela recta da salina da caponte à escola, com o sol do meio dia? a tua vida agora melhorou mano, já vives no Brazil éh, miúda estuda no colégio privado...vai da carro na escola..e ainda fantaseas...o pior é que a volta a dignidade e riquesa espiritual, foi producto das circunstáncias...já näo estou a ver, nem acreditar, você viver como nôs vivemos mesmo naquele tempo do chapanguele...até já näo queres mais voltar para a terra....chau mano...
ResponderExcluirkabazuca07@gmail.com
Caro Kabazuka,
ResponderExcluirFico muito feliz por ter passado aqui. Brother, como você viu, a luta continua, mas a gente um dia chega lá. Já que voc~e falou do Lobito, sinto muitas saudades dos tempos do Lobito. Nem me fales daquela reta, sendo saudado pelo flamingos. Na verdade a reta começa no bars africano ou, se preferir, na Canata. No comentário que fiz no club-k, eu disse que ia à estaçao do compoão, lembra? Pois é. Lá, perto do local onde as tias vendiam camarão e lagostas, é lá que eu ficava, observando o movimento.
Oh brô, se um dia tiver a oportunidade de viajar, respirar outros ares, dê um toque porque temos muito que conversar.
Desejo a você sucessos e muitas felicidades. Agora fala sério, saudades do club-k.net, é ou não é? Abração de seu compatriota Feliciano Cangue
Boas. texto muito bom amigo, fotografia da vida.
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