A sociedade angolana, caracterizada por uma pluralidade étnica e racial, terá que lutar muito para minimizar alguns dos males que a afeta: o preconceito, racismo e à discriminação racial. Preconceito é uma atitude discriminatória baseada unicamente na aparência e na empatia que resultam em injustiças.
Historicamente, eu não sei quando surgiu, mas é muito provável que tenhamos herdado essa prática do sistema colonialista português que o estimulava para dividir irmãos e facilitar a dominação. Em nossos dias estão sendo aprimorados os seus mecanismos com destreza.
O preconceito é uma ferida interior que dói sem ser vista. Aliás, já se tornaram purulentas. No entanto, poucos conseguem distinguir os seus efeitos maléficos e ocultos. Constantemente, na política e na sociedade organizada, ainda vemos um tremendo esforço no sentido de incutir na população diversos preconceitos.
Como exemplo, há poucos dias mais feridas foram abertas quando assistimos ao domínio da irracionalidade sobre o bom senso. A linda filha de N´zinga Mbandi (1582 - 1663), a jovem Micaela Reis, que reside em Portugal, digna representante de Angola na diáspora, foi coroada miss de Angola 2007. Até ai, tudo bem. Porém, (há sempre um porém) não demorou muito para que os portadores de preconceitos especiais desfilassem também o seu veneno da deselegância na passarela.
- A miss não pode ser cidadã que reside fora do país, mas alguém que vive os problemas do povo. Além de mais, ela é feia (que coisa feia) e só venceu porque a sorte bateu a porta dela (falta de humildade). E, finalmente, ela não trará a coroa de “miss universo” para Angola.
Outras pessoas apelaram para o racismo: - ela é mulata. Eu pergunto: qual foi a miss que levou a coroa de “miss universo” para Angola? A pessoa que vive fora do país, não vive, porventura, os problemas do seu povo? Porventura a Micaela, a merecida miss, ganhou só porque representou a diáspora? Quem, entre nós, teve a oportunidade de pedir a cor com a qual gostaria nascer?
Muitas pessoas pararam no tempo. Esse problema no mundo da beleza, na verdade, não é novo. Até eu que acompanho de longe as disputas de “miss” já percebi que as contestações de títulos são cenas que se repetem ano após ano, mas sempre em argumentos preconceituosos. Por exemplo, a Zenilde Josias, da cidade das Acácias, que não era da diáspora, também teve seu título contestado. Até a mumuila Stiviandra Oliveira também. Será que no próximo ano teremos mais um capítulo?
O preconceituoso é uma pessoa infeliz. A estupidez do preconceito dos nossos dias não tem limites nem vergonha.Trabalha em turma e em turno; é uma célula maligna que não fica quieta. Contamina as outras e se propaga numa rapidez extraordinária. É uma enfermidade que destrói a vida e, portanto, precisa ser curada. O pior, é que nenhum médico é capaz de detectá-la. É o cavalo de tróia. A sociedade não pode mais tolerar esse lado da estupidez humana. O preconceito não se limita somente em ambientes de beleza. Na política e outros setores também. Ele está a levar o nosso país para a mediocridade. Está a dividir irmãos.
Num dos meus artigos anteriores, um comentador arrogante escreveu mais ou menos assim: “se a UNITA vencer as eleições, nós de Luanda estamos perdidos”. Um outro fez comentários jocosos contra o povo Bakongo que muitas contribuições deram e continuam dando para o nosso país.
O que se esconde atrás do preconceito, complexo de inferioridade? Vaidade? Na recente história política brasileira ocorreu um fato semelhante. Em 1989, quando o então candidato Lula disputava com o candidato Collor de Melo, as oligarquias espalharam o terrorismo. Segundo eles, caso Lula vencesse a eleição presidencial, a economia brasileira iria quebrar e os empresários abandonariam o Brasil. Até que, pensando bem, fazia sentido (ai é que mora o perigo) porque Lula tem instrução primária e nunca dirigiu uma cidade sequer. O povo ficou com muito medo de perder emprego, alguns com temor de perseguição etc. Naquele ano ele perdeu a eleição.
Como na vida, mais cedo ou mais tarde a verdade se revela. Hoje, depois que “a esperança venceu o medo”, estamos vendo que as oligarquias, na verdade, eram orgulhosas e não queriam ser comparadas com o ex-metalúrgico Lula. Na tentativa de se perpetuarem no poder estimularam e inocularam o vírus alicerçado no preconceito. A história mostrou que os programas de Lula deram um banho nos anteriores e como prova disso ele foi reeleito, para mais um mandato.
Coincidência ou não, ontem li, um artigo intitulado “Sebastião Veloso resgata a honra sem desperdiçar munições e latim”. O mesmo dizia que ele (que é da UNITA) “acabou por surpreender (preconceito!) meio mundo” em função de excelente desempenho como ministro da Saúde. Isso, como foi o caso do Lula, é uma amostra de que devemos nos despojar de preconceitos arraigados em nós. Hoje a sociedade ainda é preconceituosa com os adultos, com religiosos, por motivos de raça, sexo, condição física ou mental, até por ter nascido nesta ou naquela província, etc. Devido a isso é evidente que alguns grupos sejam tratados com mais vantagens sociais, econômicas, educacionais que os outros, infelizmente.
Nesta tribuna eu já afirmei inúmeras vezes que, para acabarmos com o atraso (preconceito), para além de admitirmos que ele existe, temos que investir na educação e não no campeonato africano das nações (de futebol). No nosso mundo tudo muda de forma rápida, por que nós temos que ser camaleões? O nosso irmão Cabazuca prefere que as coisas caminhem devagar, no estilo de Martinho da Vila.
O outro, que diz ter o “sentido da cidadania”, acha que “o futuro de Angola não passa pela mudança radical”. Até aí, tudo bem, é opinião pessoal. Já é um preconceito afirmar que uma eventual vitória da UNITA levaria a uma corrida de seus ministros a tirarem o atraso de 30 anos, em termos de saquearem as riquezas do país ou achar que o povo não sabe votar (Para além de preconceituoso ele aprova e estimula a corrupção).
Todos, assim como Martin Luther King e Nelson Mandela devemos sonhar com uma sociedade onde os negros, os mulatos (que são negros, não sei por que dessa divisão) e os brancos que ninguém seja ofendido, humilhado ou discriminado devido à raça, condição social, religiosa ou qualquer outra. Sempre que alguém proferir palavras preconceituosas, seja para miss ou partido político ou a seu irmão, talvez não saiba, mas está a abrir novas feridas. Por menor que seja o ferimento, causa muita dor ao corpo. Não devemos, portanto, encarar o preconceito com algo natural. A hora é de procurarmos formas de curarmos as feridas e não fazermos outras.
No dia da disputa do título de “miss universo” eu estarei atento para torcer pela filha da N´zinga Mbandi (Por que não colocar a figura dela na moeda nacional, no Kwanza? preconceito?). Se não houvesse interesses em jogos nessas disputas, bem que a filha de Reis levaria esse “caneco” para Angola, para alegria de todos, inclusive dos preconceituosos. Talvez esse fosse o primeiro passo para começarmos a curar as feridas. A vida é muito curta devemos aproveitá-la para coisas saudáveis.
Faço uma dedicação póstuma deste artigo à secretária executiva do Comitê Miss Angola, Carla Soares, assassinada pelo ex-companheiro.
«Como curar as feridas?»
Feliciano J. R. Cangüe
em 21 de Dezembro de 2006
Fonte: Club-k.net
Historicamente, eu não sei quando surgiu, mas é muito provável que tenhamos herdado essa prática do sistema colonialista português que o estimulava para dividir irmãos e facilitar a dominação. Em nossos dias estão sendo aprimorados os seus mecanismos com destreza.
O preconceito é uma ferida interior que dói sem ser vista. Aliás, já se tornaram purulentas. No entanto, poucos conseguem distinguir os seus efeitos maléficos e ocultos. Constantemente, na política e na sociedade organizada, ainda vemos um tremendo esforço no sentido de incutir na população diversos preconceitos.
Como exemplo, há poucos dias mais feridas foram abertas quando assistimos ao domínio da irracionalidade sobre o bom senso. A linda filha de N´zinga Mbandi (1582 - 1663), a jovem Micaela Reis, que reside em Portugal, digna representante de Angola na diáspora, foi coroada miss de Angola 2007. Até ai, tudo bem. Porém, (há sempre um porém) não demorou muito para que os portadores de preconceitos especiais desfilassem também o seu veneno da deselegância na passarela.
- A miss não pode ser cidadã que reside fora do país, mas alguém que vive os problemas do povo. Além de mais, ela é feia (que coisa feia) e só venceu porque a sorte bateu a porta dela (falta de humildade). E, finalmente, ela não trará a coroa de “miss universo” para Angola.
Outras pessoas apelaram para o racismo: - ela é mulata. Eu pergunto: qual foi a miss que levou a coroa de “miss universo” para Angola? A pessoa que vive fora do país, não vive, porventura, os problemas do seu povo? Porventura a Micaela, a merecida miss, ganhou só porque representou a diáspora? Quem, entre nós, teve a oportunidade de pedir a cor com a qual gostaria nascer?
Muitas pessoas pararam no tempo. Esse problema no mundo da beleza, na verdade, não é novo. Até eu que acompanho de longe as disputas de “miss” já percebi que as contestações de títulos são cenas que se repetem ano após ano, mas sempre em argumentos preconceituosos. Por exemplo, a Zenilde Josias, da cidade das Acácias, que não era da diáspora, também teve seu título contestado. Até a mumuila Stiviandra Oliveira também. Será que no próximo ano teremos mais um capítulo?
O preconceituoso é uma pessoa infeliz. A estupidez do preconceito dos nossos dias não tem limites nem vergonha.Trabalha em turma e em turno; é uma célula maligna que não fica quieta. Contamina as outras e se propaga numa rapidez extraordinária. É uma enfermidade que destrói a vida e, portanto, precisa ser curada. O pior, é que nenhum médico é capaz de detectá-la. É o cavalo de tróia. A sociedade não pode mais tolerar esse lado da estupidez humana. O preconceito não se limita somente em ambientes de beleza. Na política e outros setores também. Ele está a levar o nosso país para a mediocridade. Está a dividir irmãos.
Num dos meus artigos anteriores, um comentador arrogante escreveu mais ou menos assim: “se a UNITA vencer as eleições, nós de Luanda estamos perdidos”. Um outro fez comentários jocosos contra o povo Bakongo que muitas contribuições deram e continuam dando para o nosso país.
O que se esconde atrás do preconceito, complexo de inferioridade? Vaidade? Na recente história política brasileira ocorreu um fato semelhante. Em 1989, quando o então candidato Lula disputava com o candidato Collor de Melo, as oligarquias espalharam o terrorismo. Segundo eles, caso Lula vencesse a eleição presidencial, a economia brasileira iria quebrar e os empresários abandonariam o Brasil. Até que, pensando bem, fazia sentido (ai é que mora o perigo) porque Lula tem instrução primária e nunca dirigiu uma cidade sequer. O povo ficou com muito medo de perder emprego, alguns com temor de perseguição etc. Naquele ano ele perdeu a eleição.
Como na vida, mais cedo ou mais tarde a verdade se revela. Hoje, depois que “a esperança venceu o medo”, estamos vendo que as oligarquias, na verdade, eram orgulhosas e não queriam ser comparadas com o ex-metalúrgico Lula. Na tentativa de se perpetuarem no poder estimularam e inocularam o vírus alicerçado no preconceito. A história mostrou que os programas de Lula deram um banho nos anteriores e como prova disso ele foi reeleito, para mais um mandato.
Coincidência ou não, ontem li, um artigo intitulado “Sebastião Veloso resgata a honra sem desperdiçar munições e latim”. O mesmo dizia que ele (que é da UNITA) “acabou por surpreender (preconceito!) meio mundo” em função de excelente desempenho como ministro da Saúde. Isso, como foi o caso do Lula, é uma amostra de que devemos nos despojar de preconceitos arraigados em nós. Hoje a sociedade ainda é preconceituosa com os adultos, com religiosos, por motivos de raça, sexo, condição física ou mental, até por ter nascido nesta ou naquela província, etc. Devido a isso é evidente que alguns grupos sejam tratados com mais vantagens sociais, econômicas, educacionais que os outros, infelizmente.
Nesta tribuna eu já afirmei inúmeras vezes que, para acabarmos com o atraso (preconceito), para além de admitirmos que ele existe, temos que investir na educação e não no campeonato africano das nações (de futebol). No nosso mundo tudo muda de forma rápida, por que nós temos que ser camaleões? O nosso irmão Cabazuca prefere que as coisas caminhem devagar, no estilo de Martinho da Vila.
O outro, que diz ter o “sentido da cidadania”, acha que “o futuro de Angola não passa pela mudança radical”. Até aí, tudo bem, é opinião pessoal. Já é um preconceito afirmar que uma eventual vitória da UNITA levaria a uma corrida de seus ministros a tirarem o atraso de 30 anos, em termos de saquearem as riquezas do país ou achar que o povo não sabe votar (Para além de preconceituoso ele aprova e estimula a corrupção).
Todos, assim como Martin Luther King e Nelson Mandela devemos sonhar com uma sociedade onde os negros, os mulatos (que são negros, não sei por que dessa divisão) e os brancos que ninguém seja ofendido, humilhado ou discriminado devido à raça, condição social, religiosa ou qualquer outra. Sempre que alguém proferir palavras preconceituosas, seja para miss ou partido político ou a seu irmão, talvez não saiba, mas está a abrir novas feridas. Por menor que seja o ferimento, causa muita dor ao corpo. Não devemos, portanto, encarar o preconceito com algo natural. A hora é de procurarmos formas de curarmos as feridas e não fazermos outras.
No dia da disputa do título de “miss universo” eu estarei atento para torcer pela filha da N´zinga Mbandi (Por que não colocar a figura dela na moeda nacional, no Kwanza? preconceito?). Se não houvesse interesses em jogos nessas disputas, bem que a filha de Reis levaria esse “caneco” para Angola, para alegria de todos, inclusive dos preconceituosos. Talvez esse fosse o primeiro passo para começarmos a curar as feridas. A vida é muito curta devemos aproveitá-la para coisas saudáveis.
Faço uma dedicação póstuma deste artigo à secretária executiva do Comitê Miss Angola, Carla Soares, assassinada pelo ex-companheiro.
«Como curar as feridas?»
Feliciano J. R. Cangüe
em 21 de Dezembro de 2006
Fonte: Club-k.net
Caro amigo, no Brasil,principalmente no nordeste as grandes oligarquias comandam a ferro e fogo, principalmente a população das áreas rurais(campo). O Nordeste do brasil é uma grande Angola, na sua verdadeira essência , e como cidadão temos que lutar pela igualdade social,cultural, porque somos todos iguais. Visite o meu Blog e entenda melhor o meu comentário. Abraços fraterno do Amigo do Brasil Africano
ResponderExcluirMário Augusto
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Mulatos não é e nunca serão negros
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