Essa pesquisa coloca a capital do nosso país em posição de alerta. Não sou especialista no assunto, portanto aceitem meus comentários com as devidas reservas. Escrevo na modesta tentativa de explicitar uma forma de trabalho que tem dado certo.
Os estudiosos em assuntos comportamentais concordam que os principais motivos que levam o jovem a mergulhar no mundo das drogas, essencialmente são: problemas físicos, sociais, psicológicos, miséria, falta de perspectivas, falta de estrutura familiar, sentimento de exclusão, insegurança, ausência do Estado, entre outros. Muitas vezes o jovem experimenta as drogas para transgredir normas, alimentar e justificar sua contestação. Quando menos espera é a droga que o consome, pois os custos são altos para se manter o vício. Dessa forma, os dependentes dão lugar ao surgimento de um novo grupo: os viciados-criminosos.
Historicamente, a prática do consumo de drogas pelos seres humanos é milenar e universal. Parece que nunca existiu e nunca existirá sociedade sem drogas. Entretanto, em nossa sociedade, estabelecemos com as drogas e com os problemas a ela associados uma coexistência, no mínimo, paradoxal. O uso de drogas ainda pode ser considerado algo comum quando se pensa que algumas pessoas bebem socialmente, outras fumam ou ainda fazem uso indiscriminado de medicamentos sem prescrição médica. Assim, vivemos no mundo com a chamada “cultura de droga”, parecendo ter integrado a droga em nossa realidade existencial.
No caso do adolescente, é importante lembrarmos que ele se encontra numa etapa de desenvolvimento humano naturalmente crítica, cercada de conturbações e conflitos. Trata-se de um período da vida marcado por forte reestruturação das dimensões físicas e psicológicas e por outras mudanças intensas. Nessa etapa o jovem adolescente carrega consigo a árdua tarefa de abandonar o mundo infantil e construir sua identidade adulta, fundamental objetivo neste momento da vida. Nessa fase a presença da família, o envolvimento físico e emocional dos pais é de suma importância.
O jovem moderno é fruto de algumas transformações pelas quais a sociedade passa. Nas últimas décadas percebe-se uma aceleração no que se refere à mudança de valores, alguns destes, até então nunca vivenciados. Meios de comunicação como a Televisão, por exemplo, trouxeram reformulações no conhecimento e na educação, interferindo no comportamento do jovem.
A Televisão pode educar e “deseducar”. Tudo depende do usuário. Via de regra, a televisão prepara o telespectador para o mundo de trabalho e instiga prazeres típicos de consumo. A verdadeira educação provem do ambiente familiar e deveria consistir na transmissão dos conhecimentos, objetivando o desenvolvimento intelectual, físico, moral e estético. O que vemos hoje é a televisão fazendo o papel de “educador” dos filhos. Fundamentalmente, não trás nenhum benefício para a criança assistir programas de TV feitos para adultos. Quando uma criança vê na TV uma cena erótica da novela e não entende, pode criar suas próprias teorias para compreender o assunto e tirar conclusões que não correspondem à realidade. Talvez explique as elevadas taxas de maternidade na adolescência. Uma educação sistemática, muito rigorosa ou omissa por parte dos pais pode fazer com que o jovem acabe por se tornar presa fácil da “tóxico-mania”.
Infelizmente, a juventude está sendo cada vez mais encurralada. (As vezes me pergunto: porque novelas para um país que já produziu “Luandino Vieira”, Pepetela, Jorge Macedo, Boaventura Cardoso, Óscar Ribas, António Jacinto, João de Melo, o ensaísta Mário Pinto de Andrade, Uanhenga Xitu, Arnaldo Santos, Ana Paula Tavares, Manuel Rui Alves, João Maimona, Aies Almeida Santos etc.? Que nome teria a novela estrelada por esses atores?). A humanidade no seu avanço assombroso nos campos da ciência e da técnica aumenta cada vez mais a distância entre os campos da moral e da espiritualidade. Novos padrões ou modelos estão a cada momento sendo criados.
Quando a ciência e a racionalidade tomam conta de vários espaços da vida do homem, deixa-se de viver no mundo místico (possibilidade de conhecimento e do controle tanto da natureza quanto da sociedade). Cria-se, assim, uma época constituída por um vazio de mitos, uma época onde não há princípios, ou melhor, os princípios, por estarem desvinculados de seus mitos, suas crenças, acabam não sendo princípios que regem o mundo, mas regras que regem a razão.
O resultado ai está: uma geração de consumistas arrastados pela correnteza da sexualidade exarcebada e prematura, a banalização do sexo, o desprezo pela dor alheia, o apego à esperteza, à ganância... Assim, o jovem diante das escolhas que foi enfrentando, optou por uma maneira ineficiente de aliviar sua angústia, acomodando suas frustrações no uso de drogas, muitas vezes, tendo consciência que pode pagar um preço alto por esta experiência.
Em suma, a solução tem sido a prevenção, para reduzir o quanto mais possível seus índices. Esse enfrentamento deve ser feito com inteligência. O trabalho preventivo moderno impõe a participação conjunta da Escola e da família, já que são os dois alicerces fundamentais para a formação da personalidade do jovem. Nesse contexto, recomendam-se algumas atitudes: aumento de conversas entre pais e filhos, verificação diária dos deveres de casa dos filhos, proporcionar momentos de lazer e descontração à família e atenção constante aos filhos. Isso seria o mínimo que se espera. Os pais devem ficar atentos aos programas a que seus filhos assistem e conversar com os eles sobre os assuntos que eles vêem e explicar-lhes o que é correto ou não. Assim, teremos jovens alfabetizados em mídia, telespectadores críticos. Pesquisadores da área costumam brincar que a melhor maneira de ter sucesso na vida é escolher cuidadosamente os pais.
O papel da Escola, nessa conjuntura, é desenvolver o potencial criativo do educando e constantemente dar palestras sobre esse assunto. Por outro lado, a escola precisa resgatar o papel que dela se espera: estimular o processo de leitura e da criatividade oferecendo uma formação ampla que possibilite ao aluno sair da passividade, tornando-o ativo e cooperativo. A escola também pode dividir com os pais a função de educar a partir da realidade mostrada na mídia, trabalhando determinados conteúdos da TV em sala de aula. Se trabalharem esses conteúdos em discussões e questionamentos, farão uso dos programas de uma forma educativa.
No adágio popular tem-se dito que “não se deve dar peixe ao homem, mas ensinar-lhe a pescar”. Qual a importância de ensinar a pescar se não lhe garantirmos que terá rios não poluídos onde pescar? Assim, do Estado, espera-se que este garanta pré-escolas públicas, que iniciam as crianças na socialização; vagas para todos os jovens em idade escolar com políticas afirmativas (merenda escolar, bolsas etc.); Estado comprometido com uma universidade que ofereça perspectivas e oportunidades educacionais para a juventude. Uma medida, ainda polêmica já que vivemos na era do “é proibido proibir”, adotar regulmentos rígidos quanto ao consumo de cigarro em locais públicos como bares, restaurantes, hospitais, bibliotecas, recintos de trabalho, salas de aulas, transportes públicos etc.; restringir propagandas associadas ao fumo e consumo de bebidas alcoólicas; vetar a aparição em meios públicos de imagens que associem o cigarro e a bebida aos desportos, ao bom desempenho físico, êxito ou à sexualidade das pessoas em meios de comunicação; proibir que os atletas façam propagandas comerciais desses produtos; fazer constantemente campanhas educativas com celebridades e garantir a existência de parques de diversões, jardins etc entre outras medidas.
«Que droga é essa?»
por Feliciano José Ricardo Cangue
Fonte: AngoNotícias
URL: http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=10026
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