Ao remontar a história, eu constatei que o desenvolvimento se assenta sobre o tripé: educação, desenvolvimento de estradas e da metalurgia. Em poucas palavras, a educação (formação da cidadania plena, saúde, saneamento básico, respeito ao meio ambiente etc.) é uma necessidade social. Não podemos pensar em desenvolvimento se não prepararmos, adequadamente, o jovem para um mundo em constantes transformações (em vez de memorizar datas, entender o processo, por exemplo). Os valores humanos são os requisitos fundamentais nesse processo.
O progresso das nações é também medido em função do desenvolvimento do transporte sobre rodas, isto é, à sua rede de transportes e à velocidade com que pode transportar de um lugar para outro as pessoas e produtos. Em termos de conjunto, o desenvolvimento é como uma equipe de futebol onde, para estar no topo da tabela de classificação, os três setores: a defesa (educação), meio de campo (transportes) e ataque (metalurgia) precisam estar sintonizados.
Voltemos à boa notícia. O aço é um material de engenharia excepcionalmente versátil e de baixo custo. O seu impacto é sentido em todas as partes. O aço é o oxigênio da construção civil, indústria automotiva, construção naval, parques de diversões, plataformas off-shore, linha branca (eletrodomésticos) etc. A Inglaterra saiu na frente no processo da revolução industrial, essencialmente, por possuir grandes reservas de minério de ferro, carvão mineral e a metalurgia muito avançada para época. As máquinas que eram feitas de madeira passam a ser de aço. A revolução metalúrgica também contagiou outros países como a França e uma de suas realizações foi a construção da Torre Eiffel em 1889 (cem anos depois). Hoje vemos aranhas-céu por toda parte.
A cidade de São Paulo, por exemplo, inaugura, em média, um prédio a cada 20 horas, tudo isso graças “ao aço”. Em 2004 o seu consumo global foi de 935 milhões de toneladas (produtos finais). Atualmente o mercado mundial do aço depende, essencialmente, da China que consome cerca de 25% da demanda mundial. E é exatamente os chineses que são os nossos sócios, majoritários; trocando em números, 51% das ações durante os próximos 15 anos.
Nessa lógica, já que a parceria é com o gigante, gigante também deveria ser o tempo de casamento, 84 anos, por exemplo. Eu vou apenas destacar duas importantes conseqüências imediatas devido à siderurgia. A primeira é a reciclagem de sucatas metálicas que poluem, visualmente, muitos centros urbanos e, dependendo do local em que se encontrem, podem atrair animais perigosos ou causar doenças como a dengue.
Vale aqui ressaltar que com a reciclagem de 1 tonelada de aço conservam-se aproximadamente 1.250 quilos de minério de ferro, 500 quilos de carvão e 20 quilos de calcário, ou seja, menos agressão ao meio ambiente. Em todo mundo são reciclados, anualmente, mais de 362 milhões de toneladas de aço; Aproximadamente 30% do aço utilizado em carrocerias de automóveis é constituído de aço reciclado.
A segunda é estimular o desenvolvimento da engenharia “made in Angola”. Onde há engenheiros, existe sempre a possibilidade de concretização dos sonhos de uma vida mais confortável, de um país com mais progresso. Eu, não querendo ser muito pretensioso, chego a imaginar que se tivéssemos hoje 694 atacantes (arquitetos, engenheiros e agrônomos) angolanos atuantes na área, alcançaríamos notáveis progressos semelhantes aos da gloriosa seleção nacional de futebol, mesmo com poucos recursos. Eu acredito que, em algum lugar do mundo, os recursos existem sim e estão à espera de bons projetos. No entanto, ao contrário de futebol, a profissão de engenheiro que começou como uma atividade militar (setor de ataque) está em decadência, lamentavelmente.
No passado, ad vulgarem sensum, a maioria dos pais sonhava em ter um genro engenheiro e hoje é a tristeza do pai. A tristeza do pai, inicialmente, se deve ao tempo que não dá tempo. Em média, levamos 8 anos para concluirmos o curso programado para 5 anos (uma parte da deficiência se deve à educação básica que deveria preparar o jovem para vida). Seguem-se dois anos de desemprego. Depois, é submetido àqueles testes de seleção ilógicos, o jovem engenheiro. O engenheiro jovem acaba professor de matemática do ensino fundamental, sem didática, ou ingressa numa empresa multinacional em posição gerencial, a um salário muito baixo, miserável. Nesse cenário fazer engenharia é um verdadeiro naufrágio; é carregar uma cruz de aço pesado: nada, nada e nada.
Agora que não sou tão mais moço, eu acredito (poderia até ser a voz que clama pelo deserto) que essa situação será revertida. É o renascimento da engenharia. Os avanços obtidos na siderurgia, em virtude de sua grande versatilidade, irradiam-se e estimulam os demais, ab uno disce omnes. O aço deve colocar o angolano no centro da construção nacional (não mais reconstrução). Eu não sei se nós ficaremos com 49% do aço produzido, não me preocupei, não me preocupo com isso. Eu me preocupo sim é com os demais setores da linha de frente que comecem a fazer o aquecimento porque o jogo vai começar ou a colocar a barba de molho porque a partir de dezembro só vai ecoar: fogo, fogo, fogo, fogo. Isso é preparar o ataque para fazer um golo a cada 20 minutos. Nesse caso sobraria até um para ser dedicado também aos que acreditam num mundo do amanhã. Eu creio que até o ano de 2089 (trezentos anos depois) teremos também a nossa torre Eiffel (essa data coincidiria, exatamente, com o fim da parceria com a China se a parceria fosse de 84 anos).
Numa primeira leitura, mesmo que a capacidade instalada de 126 mil toneladas de aço para 2006 possa parecer modesta para alguns, num mercado em que o consumo ascende a um milhão de toneladas, eu, voluntariamente e por amor a causa, acredito que a Siderurgia Nacional de Angola está a dar um “pequeno passo para a metalurgia, um grande salto” para o desenvolvimento e progresso da Angola. Essa é a verdadeira notícia de aço.
«A notícia de Aço»,
por Feliciano J.R. Cangue
Fonte: Angola Acontece
URL: http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=10026
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