Certo dia, a nossa equipe de futebol estava se preparando para ir ao outro Colégio, há cerca de 100 km, para disputar o título. Era a finalíssima mais esperada. Porém, estávamos desfalcados de melhores jogadores. Um dos atletas lembrou-se do nome de três excelentes jogadores que moravam num vilarejo perto do nosso Colégio. Imediatamente uma viatura foi enviada para lá com o intuito de convidá-los a integrar a nossa equipe. Eles atenderam ao convite, prontamente.
Os jogadores foram distribuídos nas mais diversas viaturas. A caravana saiu, promovendo um tremendo “buzinaço”. Durante a viagem, o chefe da delegação conversou com os nossos reforços:
- olha “Romário”, “Maradona” e “Rivaldo”: nós estamos indo disputar a uma partida com os nossos irmãos. Vocês precisam tomar alguns cuidados. Dentro dos nossos costumes, temos que tratar a todos de “irmãos”, ok? Por exemplo, se o João estiver com a bola, basta gritar: “irmão João, cruze a bola”. Se alguém lhe fizer uma falta dura, você tem que falar:
- “irmão!...”, nada de palavrões, certo?
- certo.
Lá, fomos muito bem recebidos. O jogo começou dentro do esperado e tudo estava “irmanado”, conforme a norma constituída. A nossa equipe estava perdendo, faltando 10 minutos para terminar o jogo, pelo placar de 2 a zero. Pior, não conseguíamos nos aproximar na grande área dos “irmãos”.
Os jogadores do banco de reserva dos “irmãos” já estavam em pé. Muitos já tinham começado a levantar os braços e balançá-los para sinalizar ao árbitro que o jogo estava terminando, como fazem as pequenas equipes.
“Maradona” analisou bem a situação, sacudiu o conformismo, pensou alto e disse aos outros:
- Não, não, não, não, não... menos hipocrisia. Vamos parar com esse negócio de “irmãos”. Isso só está sendo vantajoso para eles. Se continuarmos assim, perderemos o jogo. Agora temos que jogar. Se não for agora, quando? Temos que abandonar esse normativismo.
De repente, começamos a ouvir outro palavreado diferente e de todos os tipos.
- Oh, cara de melão, cruza essa mercadoria...
- cala a boca, filho do Tuta de Carvalho.
- cruza, cruza, aqui, aqui, oh.....putz... fruta que caiu.
Enquanto os “irmãos” ficavam boquiabertos, a nossa equipe empatou o jogo e ainda conseguiu virar o placar. O resultado final foi 3 para a realidade e 2 para a hipocrisia.
Se pararmos para pensar bem, nós vivemos numa sociedade de hipócritas, fingidos, cínicos, falsos. E não adianta dizer que não. Senão vejamos. Fiquemos só na política. Não sou contra a política. Ela é necessária para o desenvolvimento do país. Em si, não é errada. Mas a que temos por aí está falida. Está errada. Não está a altura das mudanças que o mundo exige. Não precisamos ficar contra a política, mas contra certas políticas. O que vemos é a política instrumentalizada. Vemos mais políticos oportunistas, que se aproveitam da ignorância do povo. E quem diz que o povo é ignorante não sou eu. Esse é o discurso oficial, pelo menos quando a discussão é a descentralização do poder ou eleição.
- Vamos descentralizar o poder?
- Não, o povo ainda não está preparado. Isso pode gerar muita confusão. Cada província pode pleitear a sua independência. O país saiu recentemente da guerra. As feridas ainda estão abertas. Por enquanto é melhor ficar assim...
- E as eleições?
- Vejamos bem, nós não temos pessoas preparadas....
Fala-se tanto em democracia e nada acontece. Fala-se em democracia nos partidos, mas ela não existe em alguns partidos; o que temos é a ditadura partidária. Eleição não sai do papel, nem que a cobra fume. Em nome da democracia, os piores grupos estão no poder. A democracia está a ser usada para a perpetuação no poder de muitos comunas. Podemos perceber facilmente que a elite política é formada por uma classe específica. Eles só pensam neles e no bem deles. As coisas não caminham. A viatura não sai da primeira marcha, quando o assunto é o desenvolvimento. Centralizam tudo para encobrir as vergonhosas gorduras. "De tão gorda, a porca não anda mais". A atual direção política que caiu em descrédito gera mais custos sociais que benefícios. Gerações e mais gerações estão sendo condenadas a viverem no inferno, eternamente. Eu não sei se lá haverá tanto espaço para tanta gente.
No passado, falar em política, igreja ou medicina era o ápice de sentimentos nobres. Hoje, no entanto, falar em “político” já soa muito mal. Melhor ser chamado de prostituto. Se alguém lhe disser:
- “você é um político”.
– O quê? Eu? Rapaz, eu vou te cumprir, hein? Você me chamou de corrupto, ladrão, sem vergonha, um verme, um parasita, sem caráter, que falta com a verdade? Eu? Preste atenção que político é a sua "mãe"!.
Qualquer desavisado consegue perceber que alguma coisa está errada. Como explicar por que muitos têm pouco e poucos têm muito? Em todos os lados presenciamos o desrespeito ao interesse coletivo. Não se consegue melhorar a vida social. A inaptidão dos dirigentes virou um problema insolúvel. Não há mais sabão capaz de lavar tanta sujeira. Aliás, nem mais água. É só prestar atenção que vem ano, sai ano, são as mesmas pessoas, os mesmos discursos, as mesmas nojentas mentiras que já viraram metáforas:
– Olha, a vida vai melhorar. Vamos construir escolas, teremos eleições no próximo ano (é um próximo ano contínuo. Sempre próximo ano) .
Aí, o povo se anima e eles esquecem tudo. Depois que o efeito da anestesia termina, eles vêm com o mesmo discurso:
– Olha, não podemos fazer eleições devido às chuvas, por falta de pessoas qualificadas. Vamos reunir o conselho da República.
Esta astúcia já está manjada há muito tempo. Parece até um carrossel, dá voltas e sempre as mesmas peças, os mesmos movimentos, os mesmos cavalinhos. Estão a nos transformar num bando de palhaços. Como ter pessoas qualificadas se não se investe em educação do povão? A educação, saúde, habitação, saneamento básico é dever de casa de qualquer governo.
Meus amados irmãos: não é possível, o país está se unificando pelo horror do desalento, da descrença apesar de termos um país tão rico. Eles esqueceram que são (ou deveriam ser) nossos empregados. Eu chego a acreditar que temos dois países. Um país de cima e outro de baixo. Um país real e outro fictício. No país de cima, daquele que se consideram o sal da terra, os santos dos santos, está tudo bem. Mas também convenhamos, tem que estar mesmo: escola dos filhos está garantida e não é tipo nacional, consequentemente a continuidade do sistema; ficou doente? Isso não é problema é só pegar o avião do marido e pronto, num abrir e fechar dos olhos já está na Europa. Nesse país, não tomam “chá com chá”; a mulher não foge de casa. E o dinheiro? Isso não é problema. É por isso que, aquilo que fazem por excelência, é enfiar ideologias goela abaixo no povo para que acredite que está tudo bem e tudo vai melhorar. E esse pensamento está se cristalizando.
Irmãos, o pecado dos homens é aceitar ilusões. Aqueles discursos subversivos sufocados por preconceitos elitistas para ninar, para embalar o cidadão. Não passam de conversa para o boi dormir. Para eles, ficar falando “irmãos” nesse ambiente é muito fácil. Tirando isso, o que mais funciona? Uma coisa que é bem gerida é a corrupção. Não adianta o lobo aparecer travestido de cordeirinho. O velho ditado diz que "Filho de rato, é ratinho; mesmo que mude de nome. É só fazer um teste: dar-lhe um pedaço de mandioca, que ficará dando suas mordidinhas." Ou seja, uma vez corrupto, corrupto até morrer. Corrupto não combate corrupção, a aperfeiçoa.
Irmãos e irmãs: as transformações que vemos estão na contramão da humanidade. São extremamente lentas, a passo de tartaruga. No entanto, o tempo está passando e passa muito rapidamente. Amanhece, entardece e anoitece muito mais rápido, não como nós gostaríamos que fosse. Para a pessoa que está com o jogo ganho, tudo isso é um detalhe. Entretanto, é fatal para aquele que está perdendo. É fatal a mistura de incompetência, preguiça, burocracia, lentidão e aquela fala mansa, calma e lenta é repugnante. Na vida, há tempo certo para se fazer determinadas coisas. Eles fazem tudo por tudo para vencer as pessoas pelo cansaço.
Parece-me que eu vivo no mundo das estrelas. Do alto é possível perceber que os dias passam e as coisas caminham para trás. As coisas caminharam tanto para trás que estamos 100 anos atrasados.
Por exemplo, só agora que temos o julgamento do ano. Em todos os lados já tiveram o “julgamento do século”. A Bélgica teve o julgamento de Marc Dutroux, o estuprador condenado à prisão perpétua. No tribunal internacional de Nuremberg ocorreu o julgamento de 22 criminosos de guerra nazis. Os Estados Unidos tiveram do cantor, sua excelência, Michael Jackson ou então o "sumo de laranja", O. J Simpson. (Vale lembrar que, nos julgamentos do século, é permitido à imprensa acompanhar a audiência).
Irmãos, sinto saudades dos velhos tempos de Ronald Reagan e do Leonid Brejinev. De um lado as forças do bem e do outro, as forças do mal. O combatente pela liberdade não se conformava com a mesmice. Ele pensou mais alto com o seu projeto guerra nas estrelas. É muita pena que ele descansa.
Irmãozinhos, nós os outros, porém, naufragamos e muito. Temos que encontrar o caminho que nos leve ao lugar de paz e do progresso. Acredito que políticos e partidos políticos alinhados com o progresso podem ser meios para uma vida melhor.
Meus irmãos, lembro-vos que a vida está muito difícil para a maioria da população. Vivemos em tempos bicudos. O jogo já está perdido para muitos. Para outros o tempo o tempo já se foi (embora). Cada minutos que passa, pode representar o fim de uma pessoa. O democrático Presidente Lula certo dia afirmou mais ou menos o seguinte: "o pobre que acredita no rico, ou o rico é muito esperto ou o pobre é muito besta". Continuar com o mesmo discurso? Não, não, não, não, por favor, menos hipocrisia, chegou a hora da mudança. Eleição já, para mudar.
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