Eu pensei fazer um artigo sobre você. Mas achei que ficaria muito chato. Teria que fazer introdução, colocar na terceira pessoa, desenvolvimento e depois as conclusões. Prefiro fazer uma carta. Entrei em todos sites de busca na esperança de encontrar um "blog" ou um "e-mail" seu, mas isso não os encontrei. Dessa forma, esta carta acabará sendo aberta. Mas pode ficar tranqüilo porque ninguém ficará interessado em lê-la na íntegra uma vez que eu não sei escrever de forma brilhante.
Eu tenho acompanhado os feitos inéditos que você tem protagonizado nas ruas de Luanda e a sociedade não tem entendido seus gestos, mas eu sim (Eu tenho certeza que você deve estar pensando: "até que enfim que alguém está me entendendo"). Eu sou solidário à sua luta. Só tenho uma ressalva a fazer: acho que você tem nocauteado pessoas erradas. O objetivo da minha carta é mostrar a você as pessoas certas que precisam ser nocauteadas já no primeiro "round", aproveitando a sua imunidade por tabela.
Na sua última magnífica aparição pública, ao mesmo tempo feia porque em professor nem em mulher não se deve bater, eu vi várias manifestações de repúdio e muitos chegaram a lhe dar o ultimato. Eu sou contra ultimatos, mesmo que partam de muitas pessoas. Quando todos falam a mesma coisa é bom desconfiar. A maioria pode estar errada. Se todo mundo está falando a mesma coisa, isso não é garantia de que essa coisa é verdadeira. Ultimatum é coisa que os ingleses gostam de impor aos portugueses e isso, quase sempre, gera sentimento de vingança. Nós somos angolanos. Não há necessidade de começarmos a desenhar uma vingança. Precisamos trabalhar para que nada de pior ocorra.
Antes de mostrar as pessoas certas para você, não vou dizer surrar, ter uma "conversa" com elas, eu gostaria fazer dois comentários importantíssimos.
Primeiro. Você é considerado o “ondjaki” da nossa sociedade. A propósito, no início deste ano, assisti a uma entrevista do nosso escritor Ondjaki ao programa Roda Viva da TV Cultura do Brasil (Este canal de televisão só passa programas educativos. Eles não passam telenovelas, por exemplo). Ele foi brilhante. Não me lembro ter visto um angolano a ser sabatinado como ele na televisão brasileira. Num determinado momento um dos entrevistadores perguntou-lhe o que significa “ondjaki”. Ele afirmou: “guerreiro”.
Guerreiro, na verdade, é a forma clássica. Esse seria, por exemplo, o caso de Agamémnon, Aquiles, Heitor, Ajax, Menelau, Ulisses, Eneias e outros. Mas na linguagem coloquial, significa “confusionista” ou algo parecido. Por exemplo, quando numa aldeia há um menino "ondjaki", sempre que há uma confusão entre crianças, é certo que ele é uma das partes envolvidas. É aquela pessoa que gosta de se envolver em brigas etc.
A experiência mostra que não se resolve o problema de um “ondjaki” levá-lo a um psicólogo para um acompanhamento psicológico. Não acredito que essa seja a solução das inquietudes de um “guerreiro”. Há sério risco de ter o seu cérebro anestesiado. O mundo nosso nivela as pessoas por baixo. Não explora as potencialidades das pessoas. Eu sei que essas têm sido as fugas para mil problemas que vivemos. Viver dentro de uma panela de pressão é muito complicado.
Segundo: a imprensa gosta de enfatizar ou associar o seu nome ao de seu pai. Qualquer coisa que acontece, lá vem a Manchete: "Hélder Piedade dos Santos, filho do Primeiro Ministro de Angola". Por que isso não é feito com um "João Ninguém"? Não acho isso correto. Nenhum pai instrui seu filho para se meter em confusões e, por que quando isso ocorre ele passa a ser citado? Por outro lado, por ventura algum filho teve a oportunidade de pedir qual o pai que gostaria de ter? Ainda, nenhum pai cria o filho para ser confusionista. Normalmente todos pais procuram amigos saudáveis para seus filhos. Pai é pai, filho é filho e cada um deve ser responsável pelos seus atos. Quando isso não ocorre, eu acho que é uma falta de respeito.
Prezado camarada.
Vivemos numa época em que o respeito está em baixa. Jornalistas não respeitam seus leitores, pessoas com elevada escolaridade não respeitam pessoas com baixa escolaridade, os ricos não respeitam os pobres, os corruptos não respeitam os honestos, os vivos não respeitam mais os mortos, homens não respeitam mulheres, filhos não respeitam pais, taxistas andam com som ligado no volume máximo e se o passageiro solicitar a gentileza para baixá-lo, ele é posto, imediatamente, para fora da viatura, enfim.
Analisando com calma a atual situação, é fácil concluir que nós perdemos referências. Perdemos o sentido da verdadeira educação. Vemos pessoas carentes de estrutura familiar, pessoas de espírito mesquinho. As pessoas andam vazias, estressadas, frustradas, atropelam a todos e a tudo. Em vez de aprenderem com os erros dos outros, preferem errar para depois consertar.
Em muito, a televisão é responsável por tudo isso. Jovens são expostos exaustivamente a programas de TV. Normalmente eles não possuem um senso crítico. Dessa forma, elas são influenciáveis. Como conseqüência dão valor exagerado ao modismo e aos gastos fora dos padrões de vida, incluindo no produto o sentimento de prazer e de sucesso. As pessoas, hoje, são escravas dos meios de comunicação social. Elas vêem TV e nem discutem a informação. Recebem passivamente as mensagens sem analisar profundamente o que estão assistindo. São bombardeadas com mensagens e poucos analisam profundamente o que estão assistindo. Os especialistas recomendam que a televisão não seja assistida mais que uma ou duas horas quando é de boa qualidade por dia, desligar durante as refeições, etc. Para complicar ainda temos que carregar a novela, essa mala sem alça, que influencia a erotização prematura de crianças.
Se não bastasse, a escola deturpa a verdade sobre o sexo. Em vez da educação sexual (a beleza e a importância do sexo e o seu uso no momento certo), a escola transmite a técnica sexual (uso da camisinha, como fazer sexo). O problema não é só a escola, até a rádio. Há poucos dias escutei uma peça publicitária na qual, duas supostas adolescentes, uma perguntava a outra adoslecente se está última tinha levado a camisinha e a outra respondeu que não. (- Como vai se encontrar com o namorado sem camisinha?). A primeira emprestou uma e pediu para que a amiga levasse sempre pelo menos uma consigo. Por favor, vá até a TV e procure quem cuida do Departamento de telenovelas para “uma conversa”.
Em nossos dias muitos jornalistas perderam criatividade. Depois de um jogo fazem sempre aquela pergunta: “a quem você dedica a vitória ou o título?”. Essa pergunta é muito problemática. É encurralar o coitado. Não adianta dizer que não. Eu nem vou entrar no mérito da questão. A próxima vez que você estiver assistindo a um jogo e alguém fizer essa pergunta, não perca tempo. Se puder, saia logo ao estádio do jogo. Caso não seja possível, no dia seguinte marque um encontro com ele, para “uma conversa”.
Se um jogador goleador tiver a infelicidade de alguém lhe fazer a pergunta anterior e não dedicar o título à sua família, você pode também “conversar com ele”.
Eu tenho imaginado você na Assembléia. Imagina como ficaria bonito ser chamado deputado Hélder? Acho que o ambiente ficaria mais alegre. Mais animado. Você poderia aproveitar olhar junto dos partidos qual o aceitaria sair candidato. Não acredito que venha a ter dificuldades. Caso não logre sucesso, não se preocupe, porque tenho um amigo que está formalizando um partido. Ele teve dificuldades de criar a sigla do partido uma vez que quase todas as combinações possíveis já estavam tomadas. Com muita dificuldade apenas encontrou quatro letras disponíveis e formou o PFDP (Partido do Fórum Democrático da Porrada). Acho que ficando na Assembléia, a sua luta ganhariam outras dimensões, mais visibilidade e mais honra.
Ainda, nós vivemos num mundo de cultura meritocrática. Muitos estão sendo adestrados em escolas da vaidade em vez da humildade. A busca pelo título está muito desenfreada. Qualquer pessoa que você pergunte o nome ela enche o peito, empina o nariz e responde com aquele ar de superioridade que é "doutor, por exmplo, Melo" ( só para melar a situação). A corrida aos títulos está cegando muitas pessoas e estão a esquecer o princípio maior o de respeitar aos outros. Muitos “doutores” usam o título para burlar pessoas. Se algum dia você perguntar o nome de alguém e ela responder: eu sou "doutor" Venerado, você já sabe o que fazer (reveja alguns "tapes" do Mike Tyson dos bons tempos).
Você já pensou, por acaso ser "apóstolo"? Ah, eu estava esquecendo. Você poderia olhar a questão de pessoas que não gostam de pedir demissão, mesmo que tudo caia dos céus. Eu não quero cansá-lo mais. A lista não terminou, mas hoje fico por aqui. Agora ficarei na expectativa de boas notícias. Tenha coragem.
Recomendo que evite ser protegido. Os problemas nos preparam para a vida. O importante é sempre bom sabermos selecionar as nossas amizades. O antigo provérbio diz que o homem deve evitar dois tipos de pessoas: "os tolos com sorte e os néscios com iniciativa".
Tenha sucessos.
1 comentários:
Boa carta
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