terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cumprir lei é coisa de partido pequeno



Segundo o Jornal de Angola na sua edição de 24 de setembro de 2012): "A Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais estabelece que os partidos políticos e coligações de partidos devem recolher os cartazes afixados para propaganda eleitoral durante o período da campanha até 30 dias após a realização das eleições".

As nossas eleições realizaram-se no dia 31 de Agosto. Se O jornal de Angola sair às ruas irá descobrir que  há partidos que não cumprem a lei. Ainda encontramos muitos cartazes, bandeirinhas, outdoors etc.

Embora eu esteja de acordo que a limpeza deveria ser obrigação das administrações municipais.  Imaginemos partidos ou coligações como FUMA que foram extintos, como poderiam ser penalizados numa eventualidade de não retirar as "sujeiras" que fizeram? Para todos efeitos lei é lei.  Nenhum partido pode afirmar que “L'etat c'est moi”.

Fotos acima feitas no dia 29 de Outubro

Discurso de “Estado da Nação” do presidente da UNITA


Réplica do Presidente da UNITA ao Discurso pronunciado por  Sua Excia. José Eduado dos Santos  no acto de sua investidura como Presidente da República de Angola  (Aqui com mais Samakuva)

22 DE OUTUBRO DE 2012





Angolanas e angolanos,

Caros compatriotas:

Antes de mais gostaria de agradecer todos quantos aceitaram o nosso convite de vir ate cá, para partilharem connosco o nosso ponto de vista sobre o nosso País e as nossas propostas de solução para muitos dos problemas que nos assolam.

Passadas as eleições e iniciado o novo ciclo legislativo, tornou-se quase imperativo fazê-lo, não só em obediência à um procedimento que já se vem tornando hábito, mas também no cumprimento de uma das competências de controlo político que a Lei nos confere enquanto Oposição.

A realização de eleições gerais criou, naturalmente, expectativas em vários sectores da nossa sociedade. Uma dessas expectativas era a de que com esse evento, o País encontraria oportunidade de mudar para melhor. A essa expectativa chamámos Mudança. “Mudança do totalitarismo para a verdadeira democracia; da exclusão para a inclusão e reconciliação; da paz militar para a paz social; da corrupção para a dignificação do homem e das instituições do Estado; da ilegitimidade política para a responsabilidade governativa; das fraudes e burlas para a transparência; de uma sociedade prenhe de injustiças para uma sociedade mais justa.

Para muitos angolanos como nós, isso não aconteceu. Ainda não foi desta vez que esta mudança ocorreu. Ao invés do optimismo que as eleições pareciam alimentar, elas vieram criar mais cepticismo e mais frustração. Há mesmo os que nos perguntaram se acreditamos numa mudança através de eleições.

Afinal, ainda não amadurecemos o suficiente de modo a permitir que as eleições sejam realizadas com transparência e na legalidade. Afinal ainda não foi desta vez que vencedores e vencidos saiem todos convencidos de que o resultado do pleito reflecte mesmo a vontade e a aspiração de todo um Povo. Afinal, mais uma vez, as palavras são mesmo só palavras. Embelezam discursos, anunciam vontades e intenções e não passam disso mesmo, porque no dia seguinte, confrontamo-nos com práticas diferentes.

Sim, companheiros: a nossa Angola caminha assim há décadas e tudo indica que vai ainda continuar a caminhar assim, sempre com dirigentes que se colocam acima da lei, que desrespeitam a Lei, a própria Lei Magna, que interpretam como lhes convém, porque eles, de tanto estarem no Poder, passaram a pensar como o Luís XIV da França que dizia que “L’etat c’est moi”, ou seja, o Estado sou eu.

Só isto é que justifica que, depois de um processo eleitoral eivado de vícios de violação da lei, o Presidente que no dia 26 de Setembro de 2012, no acto da sua investidura, com uma mão sobre a Constituição, perante milhares de personalidades nacionais e estrangeiras, tinha jurado cumprir a Constituição, três semanas depois, no dia 15 de Outubro de 2012 se recuse a dirigir ao País, na Assembleia Nacional, uma mensagem sobre o estado da Nação e sobre as políticas preconizadas para a resolução dos principais assuntos, promoção do bem estar dos angolanos e desenvolvimento do país, como a Constituição manda, no seu artigo 118.

Dirigir a mensagem à Nação é um dever do Presidente da República, não uma faculdade. É uma das suas competências. O Presidente, no respeito pelo princípio da reserva da Constituição, não tem competência para escolher o dia, nem o lugar nem o conteúdo da mensagem.

No seu artigo 118º, a Constituição da República de Angola define o lugar onde o Presidente deve dirigir a mensagem; define o conteúdo da mensagem; e define o dia para o fazer. O Presidente José Eduardo dos Santos, três semanas depois de ter jurado respeitar estes três requisitos, não respeitou nenhum deles.

Ostensivamente, mais uma vez, preferiu ofender os angolanos com o seu desprezo pela Constituição. Tal como tem feito ao longo dos últimos 33 anos!

Veio dizer arbitrariamente que o discurso que fez num outro dia e num outro lugar, a propósito de um outro evento, fica já a mensagem que a Constituição manda dirigir ao País.

No dia 15 de Outubro, o Presidente dos Santos escreveu outra Constituição, a dele. Não respeitou o lugar para dirigir a mensagem ao País: decidiu dirigir a mensagem na Praça da República, e não na Assembleia Nacional. Não respeitou o conteúdo: decidiu falar da sua putativa eleição, das eleições anteriores, da cerimónia de investura que ele organizou e da sua campanha eleitoral.

E não respeitou o dia para dirigir a mensagem ao País: a Constituição manda-lhe dirigir a mensagem no dia da abertura do ano parlamentar que nos termos do seu artigo 157 é no dia 15 de Outubro. O Presidente diz que dirigiu a mensagem no dia 26 de Setembro.

Portanto, mais uma vez, o Presidente José Eduardo dos Santos, agrediu a Constituição. Agrediu o Estado e ofendeu o soberano em Angola.

Todavia, o Estado angolano tem vários meios de garantia e institutos de defesa da sua Constituição. De um modo geral, as garantias de existência da Constituição consistem (1) na vinculação de todos os poderes públicos – incluindo o Presidente da República – à Constituição; e (2) na existência de competências de controlo, políticas e jurisdicionais, do cumprimento da Constituição.

O Estado constitucional democrático, atribui uma das competências de controlo político do cumprimento da Constituição à oposição. Cabe-nos, assim, no exercício do direito democrático de oposição, dirigir ao País a nossa mensagem sobre o discurso sobre o estado da Nação que o Senhor Presidente da República diz ter proferido no acto da sua investidura.

Em síntese, no dia 26 de Setembro, ouvimos o senhor Presidente da República dizer comprometer-se em:

• Manter a paz, aprofundar a democracia;

• Prosseguir com dinamismo a reconstrução e o desenvolvimento das infra-estruturas;

• Dedicar mais recursos a melhoria das condições sociais das pessoas, famílias, especialmente daquelas que têm pouco, ou quase nada para sobreviverem;

• Valorizar mais os quadros nacionais e os recursos naturais que o país tem para aumentar a riqueza nacional e fazer Angola crescer mais e distribuir melhor;

• Cooperar com todos os países e pugnar por um mundo mais justo e em paz;

• Contar com a força e a consciência patriótica da juventude angolana como aliada do Executivo na concretização destas tarefas para fazer de Angola um bom lugar para viver; e

• Servir a Nação com lealdade.

Com relação ao primeiro compromisso, “Manter a paz, aprofundar a democracia”, o presidente disse, logo no início, que estava a ser empossado “em conformidade com os resultados das Eleições Gerais do passado dia 31 de Agosto, e nos termos do artigo 114 da Constituição da República...”

Bom, isto é o que o Presidente diz. Mas na realidade, não houve, em nenhum dos dezoito círculos provinciais do país, apuramento da vontade dos eleitores, para se poder determinar de facto, a partir da contagem física das actas das mesas de voto, como manda a lei, quem foi o candidato escolhido pelo povo para governar Angola nos próximos cinco anos.

De acordo com os próprios documentos da Comissão Nacional Eleitoral, foi Luanda quem procedeu ao “apuramento provincial” de cada uma das províncias e foi Luanda quem ditou os resultados para cada uma delas. Os Plenários das CPE’s receberam esses resultados já “apurados”, introduziram ligeiras modificações resultantes da reapreciação dos boletins de voto considerados nulos e daqueles em relação aos quais tinha havido reclamações, e, no fim, assinaram as actas respectivas, também produzidas por Luanda.

Não houve, portanto, apuramento provincial efectuado pelos Plenários das Comissões Provinciais Eleitorais, com base nas actas das operações eleitorais, como manda a Lei.

Os resultados provinciais foram ditados por Luanda, transportados para as províncias por mensageiros especiais e assumidos pelas províncias, formalmente, em reuniões próprias, como atestam, por exemplo, as respectivas actas.

Como não há fraudes perfeitas, os seus autores deixam sempre uma pista. No caso, as próprias actas das províncias. Foram todas feitas por computador, a partir do mesmo arquivo, num formato diferente daquele que foi aprovado pelo Plenário da CNE.

A acta da reunião realizada pela CPE do Kuando Kubango, por exemplo, diz claramente que os dados foram fornecidos por Luanda. Vou ler uma passagem desta Acta:

“...O Plenário desta CPE/KK, reunido aos 5 de Setembro de 2012, na sala que albergou o Centro de Escrutínio Provincial, com a finalidade de se corrigir as diversas actas das assembleias de voto da província, conforme relatório de incidências e mesas por se gravar, fornecido pelo Centro de Escrutínio Nacional...”

As outras também têm um detalhe peculiar: as reuniões de apuramento de centenas de milhares de actas terminaram à mesma hora em que começaram.

• No Kwanza Sul, o apuramento das actas teria começado às 14H14 e terminado às 14H14 do dia 6 de Setembro.

• Na Huila, o apuramento das actas teria começado às 11H34 e terminado às 11H34 do dia 6 de Setembro.

• No Cunene, o apuramento das actas teria começado às 18H25 e terminado às 18H25.

• Em Cabinda, o apuramento das actas teria começado às 18H09 e terminado às 18H09 do dia 4 de Setembro.

• Em Luanda, o apuramento das actas teria começado às 16H46 e terminado às 16H46 do mesmo dia 6 de Setembro.

Foi assim em todos os círculos provinciais. Ou seja: as Comissões Provinciais Eleitorais não abriram os envelopes lacrados contendo as actas das operações eleitorais, para, a partir delas, e só com base nelas, apurar o número total de votos obtidos por cada lista, procedendo assim ao apuramento provincial definitivo, como estabelecem o nº 1 do art. 126º e o art. 128º da LOSEG.

Não tendo sido computadas as actas de operações eleitorais individualizadas de cada mesa de voto, então, não houve apuramento definitivo, porque só com base no apuramento definitivo é que se pode distribuir mandatos e proclamar o Presidente da República.

É também esta a interpretação que o Tribunal Constitucional faz da Constituição e da Lei. No seu Acórdão nº 224/2012, de 18 de Setembro de 2012 (págs. 16, 17), o Tribunal Constitucional confirma o entendimento da UNITA nos seguintes termos:

“O apuramento definitivo, nos termos da lei, e que serve de base à conversão de votos em assentos parlamentares é o que é feito exclusivamente com base nas actas das operações eleitorais contabilizados em cada círculo provincial e posteriormente na CNE para o cômputo nacional. Ainda que pudessem ter sido cometido erros de transcrição das actas das operações eleitorais para as actas síntese, esses erros não afectam nem prejudicam o apuramento definitivo que é feito com base nas actas de operações eleitorais individualizadas de cada mesa de voto”.

Se não houve apuramento com base nas actas das operações eleitorais, as únicas válidas para o efeito, então, não é verdade que o candidato José Eduardo dos Santos, foi eleito e “empossado em conformidade com os resultados das Eleições Gerais do passado dia 31 de Agosto”, porque não foi.

Também não é verdade que o candidato José Eduardo dos Santos foi empossado “nos termos do artigo 114 da Constituição da República...”, porque esta disposição manda empossar o Presidente eleito até 15 dias após a publicação oficial dos resultados eleitorais definitivos.

Ora, não há resultados eleitorais definitivos apurados nos termos da Lei. E os divulgados como definitivos foram-no no dia 7 de Setembro. O empossamento deveria ocorrer até ao dia 22! E não foi.

O Presidente disse também que “o país já realizou duas outras eleições democráticas e multipartidárias, em que uma clara maioria votou a favor do MPLA e do seu Líder”.

Isto também não é verdade, porque Angola, infelizmente ainda não realizou uma só eleição democrática. Nunca houve igualdade de tratamento para todos os concorrentes.

Em todas as eleições, a comunicação social pública jogou a favor de um Partido. Nunca houve, e não há ainda o ambiente democrático para a realização de eleições democráticas.

Mais uma vez, o cidadão José Eduardo dos Santos, atentou contra a paz e contra a democracia, quer como Presidente da República, quer como candidato.

Sabemos que utilizou os fundos públicos para construir a Cidade do Kilamba e que está a utilizar os apartamentos no Kilamba para fins privados, ligados à sua campanha eleitoral, como forma de agradecer “a todos aqueles que lhe ajudaram durante a campanha eleitoral”.

A lei não lhe permite fazer isso.

Angolanas e angolanos:

No dia 26 de Setembro, os angolanos ouviram as mesmas promessas de 30 anos atrás! O Presidente disse-nos ser sua prioridade “aprofundar” a democracia e garantir a liberdade de expressão e de criação, a igualdade de oportunidades e a justiça social.

Certo. Mas a democracia não se aprofunda sem prática. Tal como um músculo, é a prática diária que fortalece a democracia. Mas para ser praticada, ela precisa de existir: nos partidos políticos, na Administração Pública e na sociedade.

Desde 1992 que o Presidente fala em “aprofundar’ o que não existe. Não pode haver democracia enquanto não houver liberdade de expressão, igualdade de oportunidades de acesso à riqueza e pluralismo na titularidade e nos conteúdos da comunicação social.

Para haver democracia, senhor Presidente, a Cidade Alta deve deixar de utilizar os dinheiros públicos para monopolizar a economia. Não pode haver democracia enquanto a economia do País for dominada por uma só família ou por membros de um só Partido.

Não pode haver democracia, enquanto os donos da comunicação social são pessoas da mesma família política.

Não pode haver democracia enquanto para se ter negócios, ou ser consultor do Presidente, na terra do seu nascimento, os cidadãos têm de negar a sua identidade política, serem humilhados e fazer o papel de lacaios, tal como os colonos faziam com os renegados indígenas.

Não pode haver democracia enquanto a Administração eleitoral e os Tribunais não forem de facto independentes. É preciso que o País se liberte dessas amarras para que os angolanos possam saborear a verdadeira liberdade, beneficiar dos dividendos da paz e construir a democracia! Se isso não acontecer, então saibamos que a consciência patriótica da juventude angolana fará ressurgir o espírito do processo dos 50. São os jovens que irão quebrar essas amarras da nova ditadura. A juventude irá criar uma nova agenda. Ela anseia por quem lhes mostre um rumo seguro para o seu futuro.

Prezados compatriotas:

Ouvimos ainda o Senhor Presidente da República afirmar que “a consolidação do Estado e das suas instituições apresenta-se, neste contexto, como a garantia da estabilidade política, da paz e das liberdades democráticas”. Que assim seja, senhor Presidente. Porque aqui, desta Tribuna queremos afirmar que o povo angolano já não irá permitir a consolidação de mais uma ditadura em Angola. O Estado actual ainda não é democrático. É autoritário e como tal não garante as liberdades democráticas.

Onde estão os jovens Alves Kamulingui e Isaias Kassule? Não seria oportuno o senhor Presidente dizer alguma coisa sobre estes dois jovens? Quantos jornais diários o Estado promove para garantir o pluralismo de expressão política? Que estado democrático tem uma Administração Pública partidarizada?

Que Estado democrático é este que não consegue combater a corrupção, porque é ele mesmo que promove a corrupção e funda-se na corrupção?

Que estado democrático é este que promove monopólios entre os membros das mesmas famílias para controlar os preços e aprofundar as desigualdades?

As principais instituições desse Estado são pelo desrespeito da Constituição, pela corrupção, pela pobreza dos cidadãos, pelos monopólios, pelo nepotismo, pela exclusão. Como poderão, “garantir a estabilidade política, a paz e as liberdades democráticas”.

Angolanas e angolanos:

Faz pouco sentido falar-se de uma “Agenda 2025” a ser implementada pelo MPLA, se depois de 37 anos de governação, este Partido ainda não conseguiu resolver o problema da água. Ainda não foi capaz de apresentar uma carteira de projectos estruturantes para garantir água potável e energia para as famílias angolanas.

A propósito, sou da opinião que agora que as eleições já passaram, o MPLA e o senhor Presidente José Eduardo dos Santos, deviam pelo menos pedir desculpas ao Povo Angolano pelas inverdades que semearam na campanha. Se é verdade que o problema da falta da água e da energia resulta da falta de chuvas que não caíram no período anterior, então quando na campanha eleitoral andaram a pregar que haveria mais água potável e mais energia, já sabiam que os rios não tinham caudal suficiente para abastecer as barragens e os sistemas de abastecimento de água. Então significa que andaram a enganar o Povo. Se não sabiam, então deviam confessar a sua incompetência, porque isto seria de prever. E se essas explicações todas dos auxiliares dos auxiliares do senhor Presidente não correspondem a verdade, como também se houve de vários círculos, não seria esta oportunidade para o senhor Presidente, com a responsabilidade que tem, dar uma explicação que convença os cépticos? Ou isto tudo não conta porque a água nunca faltou na Cidade Alta?...

A democracia só triunfará se a Constituição for respeitada e o autoritarismo deixarem de existir na prática.

A paz e a estabilidade só estarão garantidas se as fraudes eleitorais acabarem e a legitimidade governativa resultar de processos eleitorais justos e transparentes, e não de manipulações da democracia e das instituições. Não fosse a contenção e responsabilidade da UNITA já teria havido acontecido em Angola novas situações complicadas, pois ninguém mais duvida da origem das maiorias actuais que têm governado o País.

O crescimento económico só será sustentável a longo prazo se se basear no conhecimento e no desenvolvimento humano da maioria, e não nos minerais ou na corrupção de uma minoria.

De 187 países com dados comparáveis, Angola está no 148º lugar de acordo com os Indicadores Internacionais de desenvolvimento Humano da Nações Unidas. Num país potencialmente rico, o povo ainda luta com dificuldades enormes para a satisfação de necessidades mais elementares.

De acordo com a SADC, apoiada nos dados da FAO, em Angola, cerca de 65 % da população vive com menos de 2 dólares por dia. O combate à pobreza, constituiu-se numa batalha transversal envolvendo a busca da educação de qualidade, da saúde, da habitação, do emprego, e da necessidade de resolução de problemas ligados à necessidades básicas como a água, e a luz.

O recurso à produção interna traria muitas vantagens como o emprego, segurança alimentar, crescimento dos padrões de vida e de renda, promoção da indústria, descongestionamento das principais cidades e aumento da competição no mercado. A agricultura seria um dos sectores com capacidade de empregar muitos cidadãos, para além de fixá-los à terra. Porém o regime não tem políticas para o efeito. Dos cerca de 30 milhões de hectares de área cultivável, o regime explora apenas quatro milhões. A SADC recomenda a disponibilização de 10 % do PIB no quadro da OGE, mas o regime cede apenas 3%.

A riqueza de alguns estará melhor protegida se a pobreza da maioria for aliviada e a solidariedade social e a genuína reconciliação nacional forem instituídas como prioridades de uma verdadeira Agenda Nacional de Consenso.

Angolanas e angolanos:

O Presidente Eduardo dos Santos disse também que pretende “prosseguir com dinamismo a reconstrução e o desenvolvimento das infra-estruturas”.

O estado da Nação nesse campo é crítico: Angola está a crescer, sim, mas está a crescer mal. O crescimento não é estruturante nem sustentável. Isso porque não é promovido por capacidades nacionais próprias. A economia continua ancorada no “offshore”, sendo que mais de 80% do PIB é produzido ou garantido por estrangeiros ou tecnologias não dominadas por angolanos.

A produção petrolífera é garantida por estrangeiros. A produção mineira contabilizada é garantida por estrangeiros. O produto nacional da construção civil, das telecomunicações, da indústria transformadora, da indústria financeira, da indústria hoteleira e demais serviços, são garantidos por estrangeiros.

Crescer mais nestas condições pode perigar a independência nacional e a soberania dos angolanos. Ao invés de garantir a assimilação das tecnologias por angolanos e defender o interesse nacional, os novos capitalistas angolanos demonstram ser antipatriotas, porque preferem sobre facturar e prejudicar Angola para eles aumentarem os seus lucros e comissões.

Preferem arranjar esquemas para fugir ao fisco, simular concursos, aumentar os preços ao consumidor, forjar contractos leoninos, emitir facturas falsas e fazer negócios consigo mesmos. E tudo isso por conta do OGE.

Crescer mais nestas condições é fazer crescer a corrupção! Angola não precisa deste crescimento. Angola rejeita este crescimento!

O executivo pode acelerar os projectos estruturantes para a produção e transporte de energia, a rede de estradas secundárias e terciárias, as redes de esgoto; os projectos para o aumento da oferta da telefonia móvel e os investimentos massivos na infra-estrutura para a educação.

Mas a que preço? Será capaz de garantir a boa gestão e a boa qualidade de centenas destes projectos? Tem capacidades criadas e angolanos treinados para garantir a sua manutenção regular?

Como é que o presidente pode falar de valorizar mais os quadros nacionais se o estrangeiro sente-se melhor em Angola do que o angolano?

O desemprego no Brasil, em Cuba, na China e em Portugal, está sendo resolvido por Angola, à custa do angolano. Malianos, senegaleses, libaneses, consideram Angola um Paraíso, especialmente porque não pagam os impostos que deviam pagar!

A corrupção fura tudo. Conseguem tudo o que querem: nos Serviços de Migração, nos Bancos, nos Notários, nas Administrações Municipais, na Polícia e até nos Tribunais. O Executivo do Presidente José Eduardo dos Santos facilita a ilegalidade e a corrupção. Os estrangeiros apenas tiram proveito. Até para fazer as fraudes eleitorais, o Executivo prefere aliar-se ao estrangeiro. Confia mais nos estrangeiros do que nos angolanos.

E como o Presidente pretende implementar a sua Agenda Angola 2025 a qualquer custo, não olha a meios! Por isso os angolanos não acreditam nas promessas do Presidente. Não acreditam quando o Presidente diz que quer melhorar “a vida das pessoas e das famílias, especialmente daquelas que têm pouco, ou quase nada para sobreviverem”. Este é o drama, senhor Presidente. Os angolanos não acreditam`.

É que se assim fosse, o Presidente não mandava pagar salários de Kz. 9,000.00/mês aos trabalhadores agrícolas no Kwando Kubango, nem de Kz.15,000.00. Não mandava maltratar as zungueiras, partir as casas dos pobres nem embebedar os jovens.

Se o Presidente quer mesmo acabar com o sofrimento e a miséria, então eu peço que institua já o salário mínimo de Kz. 50,000.00 para todos os sectores da economia, o público e o privado. A começar agora, antes do Natal!

Se o Presidente quer mesmo acabar com o sofrimento da maioria dos angolanos, eu peço-lhe que mande pagar as pensões atrasadas e devidas a todos desmobilizados, sem discriminações nem condições. A começar agora, antes do Natal!

Se o Presidente quer mesmo ser Presidente de todos os angolanos, eu peço-lhe a parar com despedimentos que estão a ocorrer só porque alguns cidadão são suspeitos de não terem votado no MPLA; peço-lhe para incluir nas nomeações para os cargos públicos também pessoas que não sejam do seu Partido ou comprados. A começar agora, antes do Natal!

Se o Presidente quer mesmo ser Presidente de todos os angolanos, eu peço-lhe a abrir a economia a todos. Abra as oportunidades de negócios para todos. Deia instruções aos Bancos, aos governadores aos Ministros, para pararem a prática da exclusão política e passarem a governar para todos! A partir de agora, antes do Natal!

Se o Presidente quer mesmo ser Presidente de todos os angolanos, mande parar, HOJE MESMO, a intolerância política! Desista do programa de reactivar as milícias do tempo do Partido único para agredir os direitos e as liberdades dos angolanos. Mande parar a censura na Televisão Pública e na Rádio Nacional. Mande acabar com a instrumentalização das autoridades tradicionais! Agora, antes do Natal!

Ser Presidente de todos, sem excepção, como prometeu, implica despartidarizar a sociedade, a Administração Pública e a economia. Significa começar a nomear as pessoas por mérito, parar a prática de utilizar fundos públicos para comprar consciências e agredir os direitos e liberdades dos angolanos.

Não basta querer ser Presidente de todos. É necessário que todos acreditem no Presidente José Eduardo dos Santos como seu Presidente. É assim na democracia.

Estes actos, se implementados, serão considerados pela comunidade nacional como uma demonstração inequívoca de crescimento! Crescimento moral e amadurecimento político. De facto, Angola precisa de crescer mais moral e politicamente. E precisa de crescer melhor economicamente.

Além de crescer mais, o Presidente também prometeu distribuir melhor! Esta promessa encerra duas virtudes: primeiro, exprime o reconhecimento de que a distribuição actual é desigual e iníqua. Segundo, manifesta a intenção de corrigir a má distribuição da riqueza nacional.

Se assim é, então, o primeiro passo é revelar com transparência qual é o tamanho da riqueza nacional. Onde é que ela está investida ou guardada, e em nome de quem está registada.

Quando a imprensa revela por exemplo que cerca de 47% das acções do Banco Africano de Investimentos (BAI) estão registadas em nome de titulares de cargos públicos, seus parentes directos ou empresas por eles geridas, é necessário que o Executivo faça Angola ser respeitada e esclareça se este capital continua a pertencer a Angola ou se foi mesmo transferido para certas famílias e porquê.

Quando se diz “distribuir melhor”, o Presidente está a falar de distribuição ou de redistribuição?

Seja como for, repito, o primeiro passo é revelar com transparência o tamanho da riqueza nacional. Onde é que ela está investida ou guardada, e em nome de quem está registada.

Convido o Senhor Presidente a declarar publicamente os seus bens, e a porção da riqueza nacional que esteja eventualmente em nome de dignatários angolanos e estrangeiros, pessoas singulares ou colectivas.

O segundo passo é definir os objectivos do slogan para permitir encontrar-se as melhores vias para a sua materialização.

Queremos distribuir melhor o que já existe ou apenas o que será produzido amanhã? Queremos distribuir em equidade e solidariedade ou queremos distribuir desigualdades? Queremos distribuir o todo ou os restos?

Queremos distribuir entre todos, para o benefício de todos, ou apenas entre os amigos, camaradas e comprados?

Queremos distribuir melhor para promovermos a solidariedade, a equidade e a justiça social ou para obter ganhos políticos e manter a hegemonia?

Em terceiro lugar, para distribuir melhor, Angola precisa de contabilizar com rigor o seu património e estabelecer medidas para proteger a sua riqueza, actual e potencial, no país e no estrangeiro.

Isto significa, por exemplo, manter as contas nacionais transparentes, tapar os buracos no OGE, acabar com os sacos azuis e os privilégios no sistema de contratação pública e aperfeiçoar o controlo da gestão das finanças públicas, incluindo as linhas de crédito.

Não se pode distribuir melhor sem transparência nos instrumentos e mecanismos de utilização dos fundos públicos. Há muito dinheiro que se desvia dos circuitos oficiais. Há muitos bens comprados pelo Estado que não são utilizados pelo Estado.

Para se distribuir melhor é necessário que o Presidente da República esteja disponível para combater a corrupção com a sua já adormecida tolerância zero!

Nesse sentido, é imperativo que os instrumentos de financiamento ao empresariado nacional recentemente criados, nomeadamente o Fundo de Garantia e o Fundo de Capital de Risco Promocional, e também do Banco de Desenvolvimento Angolano (BAD) sejam vigiados por mecanismos adequados de controlo para que as reservas nacionais não sejam investidas em empreendimentos de alto risco ou em esquemas de enriquecimento ilícito.

Prezados compatriotas:

O Presidente disse também que a grandeza de uma nação não se mede apenas pelas potencialidades dos seus recursos naturais, mas também pela nobreza de carácter, pela atitude e pelas competências dos seus cidadãos que são de facto a base dinamizadora desses recursos.

Todos concordamos que a nação angolana está mutilada no seu carácter e agredida nos seus valores. Mas quem tem a autoridade moral para resgatar esses valores se até líderes religiosos vão na onda de quem corrompe?

Angolanas e angolanos:

Exprimindo o sentimento e os anseios de uma acentuada maioria de angolanos, dentro e fora do país, a UNITA está muito preocupada com o estado da Nação. Angola precisa de uma transformação profunda das suas estruturas de poder e da cultura para o exercício.

A política não serve para ganhar dinheiro. A política é o motor da transformação social e da ambição de um futuro melhor. Os dirigentes de um país devem exercer os respectivos mandatos para os quais foram eleitos pelo Povo com total transparência. É por isso, que a política deve subordinar-se à ética.

A Nação angolana precisa de uma nova Constituição política. A actual Constituição da República ofende o Republicanismo e não reflecte o sentimento geral da colectividade. Os Angolanos querem um Estado Republicano e não um Estado tipo monarquia, em que todo o poder fique concentrado apenas numa pessoa. Num Estado de tipo Republicano, ninguém tem o direito de ofender a Constituição, subverter a democracia e manipular as instituições só para ficar décadas e décadas no poder.

A nação precisa de alcançar a democracia e a paz democrática para Cabinda. Por via do diálogo abrangente e inclusivo com todos os representantes legitimados também pelo povo cabindense. Angola deve promover uma solução político-administrativa que dê respostas plausíveis às aspirações do Povo do enclave. Essa solução pode ser encontrada no quadro da reforma do Estado Angolano.

No domínio cultural, a Nação também está mal. Acentuou-se a crise de identidade que se manifesta na perda dos valores da angolanidade. Temos, todos nós, que nos esforçar para converter a diversidade cultural e étnica do nosso País numa fonte de energias sinérgicas e positivas para o desenvolvimento de Angola.

O executivo não está a fazer o suficiente para promover actividades que valorizem a cultura angolana e preservem os valores culturais tradicionais, como as línguas, tradições, hábitos e costumes que correm risco de desaparecimento. Importa também incentivar a expressão de novas formas culturais, o estímulo das actividades artísticas - como a música, pintura, cinema e teatro – e a promoção de obras literárias angolanas.

Acima de tudo, é a Democracia e o pleno Estado de Direito que irão permitir o nascimento de uma Angola na qual cada uma das suas culturas será valorizada e protegida com as garantias necessárias para preservar as suas tradições. E, ao mesmo tempo, que cada cidadão, independentemente da Nação em que vive, se sinta e se reconheça plena e orgulhosamente como um Angolano.

Uma palavra para os parceiros de Angola:

Podemos estar em desacordo com as políticas do Executivo angolano, no plano interno. Mas este desacordo não se estende aos parceiros internacionais de Angola.

A UNITA acompanha com interesse a evolução dos investimentos estrangeiros em Angola. Esta deve honrar os compromissos do Estado angolano assumidos no plano internacional. Trabalharemos para a consolidação das relações de amizade entre povos e nações e da cooperação entre Estados e governos.

O quadro geopolítico e geoestratégico das relações internacionais tem vindo a atribuir ao continente africano cada vez mais relevância. A UNITA vai consolidar a identidade africana de Angola e incentivar a sua integração regional como factor de paz, de estabilidade e de desenvolvimento sustentado.

Quando for solicitada pelo soberano para governar, a UNITA vai empenhar-se activamente nos esforços diplomáticos com vista à prevenção e resolução dos conflitos.

Através das organizações internacionais que Angola integra, vamos levar a cabo processos de cooperação que facilitem e estimulem o desenvolvimento da sociedade Angolana e que permitam a sua afirmação e promoção para além das nossas fronteiras.

O know-how de algumas Organizações Internacionais especializadas, como por exemplo a Organização Mundial de Saúde, a Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, contribuirão para uma Angola voltada para o progresso, para o desenvolvimento sustentável e para a prosperidade!

Tal como afirmou o Presidente Dos Santos, também sob a liderança da UNITA, Angola continuará a respeitar todos os seus compromissos internacionais e aplicará todas as normas dos tratados internacionais de que é parte, ou a que aderiu.

Estamos comprometidos com as questões da defesa e protecção do ambiente e vamos bater-nos em todos os fóruns pelo respeito e aplicação das medidas e instrumentos que a comunidade internacional aprovou para garantir a sobrevivência do planeta e a protecção das gerações futuras.

Muito obrigado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Endiama "joga sujo" com funcionários da Sociedade Mineira de Lucapa (SML)


(Editado dia 29/10/2012 para retirar o parágrafo que cita  PCA da Endiama e acrescentar  parcialmente  o texto em azul, a pedido da Comissão Sindical)

A Comissão Sindical dos funcionários da Sociedade Mineira de Lucapa (SML) acusa o grupo Endiama de estar a dificultar ao máximo o cumprimento dos acordos firmados no fim do ano passado entre ambos. O acordo previa o pagamento de 24 meses de salários atrasados, regularização da situação dos funcionários junto ao INSS, pagamento de indemnizações, aposentadoria dos funcionários com idade para tal, entre outros.

Perto de completar um ano desse acordo, a SML afirma que a Estatal Endiama só pagou até o presente momento apenas salários de 2 meses.

A violação sistemática dos referidos acordos levou aos funcionários da 1) exploração e 2) produção a entrarem em greve novamente, excepto as áreas de 1)segurança, 2) abastecimento de água e luz, 3) cozinha e 4) clínica.

A SML acusa ainda a Endiama de estar a "jogar lama vermelha" no já delicado processo quando usa a figura do segundo Comandante Provincial da Polícia, o Senhor "JJ", sob o pretexto de procurar cidadãos estrangeiros que exercem actividades irregulares nos garimpos, para coagir os seguranças a aderir a uma outra empresa particular de segurança (Dikuari), sem a observação de leis trabalhistas, como será visto mais adiante. Embora os seguranças têm se opondo a essa imposição, isso tem gerado muita instabilidade no seio da classe.

Um dos membros da comissão sindical afirmou que, o que mais assusta em todo processo é a "arrogância, a insensibilidade e a falta do sentimento humano" dos dirigentes da estatal.

Por exemplo, no dia 20 de Junho, reunidos na Base do MB2 o Senhor Eng. Fernando Amaral garantiu aos seguranças que a partir daquela data se beneficiariam do subsídio mensal, o que não foi feito até agora. Embora não cumprindo com sua promessa, vindo de Luanda, mais uma vez marcou outra reunião de emergência onde comunicou que todos os seguranças do OSI de que  passariam para segurança Dikuari, comunicação essa que foi contestada. Isso fez aparecer o Segundo Comandate da Polícia Nacional,o Senhor "JJ", exibindo suas patentes,  obrigando os seguranças a aderir a nova empresa de segurança ou abandonar os postos. Os seguranças comunicaram o facto à Comissão Sindical. Disso resultou num encontro do dia 17 de outubro presidido pelo Comandante Municipal da Polícia, Senhor Ngangula, ladeado do chefe de Investigação O Sr. Edmundo e um dos representantes da suposta segurança de Dikuari.
O sindicalista cita ainda um caso recente que ocorreu durante a época da campanha eleitoral. Enquanto a Comissão Sindical se encontrava em Luanda, Secretário de Estado da Geologia e Minas, Eng. Mankenda Ambroise aproveitou a oportunidade para reunir-se com os funcionários e terá dito: "se o MPLA ganhar as eleições, os vossos salários serão pagos, as vossas indemnizações serão pagas e todo o vosso dinheiro será pago imediatamente".

Isso animou-os e todos envolveram-se activamente na campanha do partido que venceu as eleições. A decepção foi visível no rosto de um dos sindicalistas: "votamos em massa no "M". O partido venceu e até hoje ninguém mais tocou no assunto".

Por não  acreditarem mais que a Endiama faça o "fair play", a SML procurou instâncias judiciais para que a legalidade seja reposta. Assim, no passado dia 15 de Agosto ocorreu a primeira audiência na sala de Trabalho da Procuradoria Geral, em Luanda.

A segunda tentativa de reconciliação está novamente marcada para o dia 5 de Novembro.

Já sabendo das astúcias da Endiama, que as vésperas de audiências apresenta sempre alguma proposta para acalmar os ânimos, e depois cai tudo no esquecimento,  para o próximo dia 5 de Novembro e outros subsequentes, como forma de pressionar a estatal, o sindicato pretende envolver a imprensa Nacional (Club-k, Semanário Angolense, Folha 8, redes sociais etc) e Internacional (Voz da América, Lusa, Deutsche Welle, France Internationale etc) para que acompanhe o processo de perto.
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Luanda às escuras e sem água

Por Sousa Jamba

A democracia não é apenas a campanha eleitoral, o espectáculo, as promessas. A democracia é também a determinação de um empenho sério na concretização do que foi prometido. Nas últimas duas semanas, oiço de gente muito próxima a mim que em Luanda, não tem nem agua nem luz.

Há quem diz que isto não deveria surpreender ninguém; que a sociedade luandense sofreu muitas privações ao tempo da guerra e doutras convulsões. Há mesmo que diz que eu – que vivi uma boa parte da minha vida fora de Angola – não tenho o mínimo de legitimidade para falar sobre este assunto. Ao fim do dia, nunca sofri.

Outros insistem que os meus laços à UNITA que, segundo a sua visão, é em parte responsa vel pela privação que os luandenses estão a enfrentar, deveriam fazer com que me mantivesse calado quando o assunto fosse esse. Recuso calar-me por várias razões.

Angola é de todos nós. Há gente que às vezes pensa do país como se fosse uma família – com filhos da casa e enteados. O governo que saiu das últimas eleições é para to¬dos os angolanos – incluindo nós diáspora. Quando o governo não consegue providenciar serviços básicos, como a distribuição de agua e de luz, todos nós ficamos afectados.

É verdade que nas campanhas políticas há sempre alguns exageros, que temos que descontar. Em todo caso, durante o período préeleitoral, em que estive em Angola, deu-se a entender que, para o MPLA, as utilidades básicas, como a agua e a luz, nunca estariam em questão. Afinal, Angola estava é a caminho da industrialização.

Cá, no exterior, vimos os clipes, elegantíssimos, dos grandes projectos no país. Vimos, sim o clipe da barragem da Capanda, com o seu caudal poderoso, e os técnicos que iriam garantir electricida¬de para vários cantos do país. Os noticiários da TPA não eram nada mais do que publicidade a vários projectos que iriam garantir per-manentemente agua potável ao cidadão pacato. Em Luanda, tenho conhecidos que não vêem água potável nas suas casas há duas semanas. Com a luz, também está a ser o mesmo caso. A discrepância entre a Angola das televisões e a Angola real é mesmo gritante. Isto afecta todos os angolanos. Se não houver um esforço tremendo – em que os objectivos governamentais se alinham com a realidade no chão – então teremos uma nação cheia de cínicos sem fé nas instituições governamentais.

Um pouco adiante falarei mais sobre a Nigéria – país que tem muitas semelhanças com Angola. Estive na Nigéria quando certas figuras discutiam o seu papel na exploração do espaço (acabava-se de enviar-se um satélite para o espaço, cuja construção tinha tido capital nigeriano). A Nigeria Space Initiative (Iniciativa Nigeriana do Espaço), quando foi fundada em 2001, deu muito que falar. Só que me lembro, claramente, que havia nigerianos que morriam de risos quando observavam todo o espectáculo; eles perguntavam como é que um país que mal conseguia dar permanentemente água e luz aos seus cidadãos poderia ter um programa no espaço viável?

Na Nigéria, dizia-se que havia uma grande discrepância entre as aspirações da elite governamental e a realidade. Angola pode correr o mesmo risco. Vimos os clipes de grandes iniciativas industriais; hoje se fala de jovens a estudarem com velas e de cidadãos nas filas com os bidons.

Há, aqui, uma grande oportunidade para a oposição angolana. Não para tirar um proveito politico desta situação, mas para desencadear um verdadeiro debate sobre como desenvolver o país. Muitas vezes, sobretudo em épocas em que existem fundos, há uma tendência por parte dos governantes enveredarem para a construção de gigantesco projectos.

Angola tem muito a aprender da experiencia nigeriana. Ambos são os maiores produtores de petróleo na África a sul do Saara. Na Nigéria, como em Angola, há uma constante falta de electricidade – sobretudo na capital económica, Lagos, que tem uma população de quase dez milhões. Em 1977, no auge do boom nigeriano, construiu-se então a famosa aldeia do Festac – o grande festival da cultura negra e africana. Milhões e milhões de dólares foram gastos para o acontecimento. Hoje o Festac serve como uma lembrança de como os fundos do Estado não po¬dem ser desperdiçados.

O grande problema da Nigéria foi que muitos dos projectos eram movidos não necessariamente por necessidade – mas por uma questão de querer dar nas vistas. Não será este também o caso de Angola? A Nigéria é um bom exemplo do valor de uma avaliação séria da sustentabilidade de certas iniciativas económicas.

Cá, no exterior, estamos a ver muita publicidade à volta de várias iniciativas habitacionais em Luanda. Sim, sim, há mesmo estrageiros que vão se mordendo de inveja ao verem estes clipes. Mas, depois passamos a ver fotos de cidadãos com bidons à espera de agua. Na facebook, os angolanos não param de reclamar da falta de luz.

Como já disse várias vezes, há muitos aspectos de Angola que me fazem lembrar a Nigéria. Em certo momento, por exemplo, decidiu-se que o centro de Lagos deveria, também, ter os seus arranha-céus – à moda de Nova Iorque. Parece que são poucas as pessoas que pensaram na manutenção destes prédios. Há alguns anos atrás, em Lagos, eu estava a entrevistar uma entidade no seu escritório no vigésimo andar. Quando lhe solicitou o uso da casa de banho, o senhor pediu-me desculpas, dizendo que estava num estado péssimo. Disse ainda que o seu motorista iria me levar para o Hotel Hilton, onde a casa de banho estaria em condições. Um arranha-céu tem que ser construído num meio no qual haja garantias de energia e agua.

Em Angola, a oposição tem que inspirar um debate que vá aos pormenores; temos que avaliar seriamente as operações de em¬presas por detrás das utilidades básicas – água, electricidade, etc. Será que, no caso, por exemplo, da distribuidora de electricidade, se tem aqui uma empresa que está cada vez mais enferrujada por in¬terferências burocráticas e vindas do topo? O ideal não seria que o director geral desta empresa fosse alguém cuja nomeação tivesse a bênção do parlamento – ou de um conselho que representasse várias sensibilidades da nação? Este director teria um contrato de cinco anos, por exemplo, dentro do qual ele teria que traçar uma estratégia com ênfase na produção, formação de quadros e competitividade da empresa?

Ou será que deveria, talvez, haver várias pequenas empresas de eletricidade que iriam fornecer a cada município e as pessoas pagassem para os serviços da mesma forma como se paga para o carregamento de telefones?

Angola teria muito, talvez, a aprender da nossa vizinha Zâmbia, cujos líderes têm sido mais modestos e pragmáticos. É curioso que quando a Libéria quis que várias empresas participassem num concurso para passarem a dar eletricidade a diversas partes do país, duas empresas zambianas de eletricidade submeteram algumas propostas. Na Zâmbia, há duas empresas principais de electricidade – uma que abrange o público e outra cuja especialização é dar electricidade às minas de cobre e a várias outras indústrias. Afinal, uma EDEL teria muito que aprender de uma Zesco ou da Copperbelt Power Company da Zâmbia. Mas isto tudo requere certa modéstia e realismo – qualidades que, infelizmente, tem faltado em Angola. ■

S.A, EDIÇÃO 486• ANO VII, Sábado, 13 de Outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

Angola classifica-se para o CAN de 2013

A nossa Equipa Nacional de Futebol (Palancas Negras) classificou-se esta tarde para   o Campeonato Africano das Nações (CAN) (Taça das Confederações Africana  - Copa Africana de Futebol)  a realizar-se na África do Sul, em 2013 ao vencer o Zimbabwe (“Guerreiros”) .

Depois da derrota no Zimbabwe (1-3), os Palancas Negras viraram a eliminatória, no Estádio 11 de Novembro, em Luanda, com dois golos madrugadores de Manucho (2-0).

Vale lembrar que no quadro da FIFA, Angola ocupa a 83ª posição com 419 pontos, e o Zimbabwe é 89º com 396 pontos, ao passo que na CAF os Palancas Negras são 18º (3.010 pontos) e os Guerreiros 31º (2.961 pontos).

Parabéns "Palancas Negras"

Foto arquivo

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Jardim do Lobito



Benguela corre risco de entrar para história como a província de jardins polêmicos. Recentemente a imprensa estampou “ Lobito tem a rotunda mais cara do mundo"

A obra, situada na entrada da cidade do Lobito (quem vem do Sumbe, no antigo Posto de Controle, na rotatória de quem vai ao bairro 27 de Março - Lixeira ou Alto Liro) custou exatamente 680 mil dólares.  É Angola a crescer para distribuir melhor.

domingo, 7 de outubro de 2012

Viver a vida assim não dá

Não faz tanto tempo que fiz um artigo sobre Novelas "Novelas é o Crack da nossa sociedade" e num dos trechos escrevi "(a telenovela) invade a privacidade pessoal e dos nossos lares a níveis altíssimos, não respeita valores familiares, cria fantasias, transgride as leis gerais de educação, e ainda violenta o ensino que se dá aos filhos no lar".

Na semana passada, depois do almoço  em casa de um familiar, ele ligou o seu aparelho de TV  canal 1 da nossa gloriosa TPA 1,  que estava passando uma telenovela.

Eu, conhecendo os truques da telenovela,  pedi ao anfitrião que se não fosse incômodo trocassemos para outro canal. Afinal de contas, muitas crianças estavam presentes na sala e esse tipo de telenovela é traiçoeira, aliás, no Brasil só passa às 21horas.

Não demorou muitos segundos para que uma demorada cena imprópia para aquele horário aparecesse na 'telinha". Foi tão demorada  que deu tempo de ligar minha máquin fotográfica, me posicionar discretamente, para não chamar atenção dos presentes e fazer uma sequência de  15 fotos. Eu vi o contrangimento que a cena causou nos mais velhos.

Isso é uma nítida "apologia ao sexo com a exibição exaustiva do corpo feminino e da sexualidade levando muitos imitadores inconseqüentes". Depois os pais não sabem onde estão errando na educação de seus filhos.

Eu já escrevi sobre isso em 03 de Agosto de 2006 e parece muito atual.



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ministros e Governadores provinciais 2012



Ministros e Governadores (2012)
(Extintos os vice-Ministros)

DEPARTAMENTOS MINISTERIAIS AUXILIARES

 


1 - Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil
=>  Edeltrude Maurício Fernandes Gaspar da Costa

2 - Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança
=> Manuel Hélder Vieira Dias Júnior

3 - Ministro da Defesa Nacional
=>  Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem

4 - Ministro do Interior
=>  Ângelo de Barros Veiga Tavares

5 - Ministro das Relações Exteriores
=>  Georges Rebelo Pinto Chicoti

6 - Ministro da Economia
=>  Abraão Pio dos Santos Gourgel

7 - Ministro das Finanças
=>   Carlos Alberto Lopes

8 - Ministro do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial
=>  Job Graça

9 - Ministro da Administração do Território
=>   Bornito de Sousa Baltazar Diogo

10 - Ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social
=>   António Domingos da Costa Pitra Neto

11 - Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos
=>  Rui Jorge Carneiro Mangueira

12 - Ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria
=>   Kundi Paihama

13 - Ministro da Agricultura
=>   Pedro Afonso Canga

14 - Ministra das Pescas
=>  Victória Francisco Lopes Cristovão de Barros Neto

15 - Ministra da Indústria
=>   Bernarda Gonçalves Martins Henriques da Silva

16 - Ministro dos Petróleos
=>   José Maria Botelho de Vasconcelos

17 - Ministro da Geologia e Minas
=>   Manuel Francisco Queirós

18 - Ministra do Comércio
=>  Rosa Pedro Pacavira de Matos

19 - Ministro da Hotelaria e Turismo
=>   Pedro Mutinde

20  - Ministro da Construção
=>   Fernando Fonseca

21 - Ministro do Urbanismo e Habitação
=> José António da Conceição e Silva

22 - Ministro da Energia e Águas
=> João Baptista Borges

23 - Ministro dos Transportes
=>   Augusto da Silva Tomás

24 - Ministra do Ambiente
=>   Maria de Fátima Monteiro Jardim

25 - Ministro das Telecomunicações e das Tecnologias de Informação
=>   José de Carvalho da Rocha

26 - Ministra da Ciência e Tecnologia
=>   Maria Cândida pereira Teixeira

27 - Ministro da Comunicação Social
=>  José Luís de Matos

28 - Ministro da Saúde
=>  José Viera Dias Van-Dúnem

29 - Ministro da Educação
=>  Mpinda Simão

30 -Ministro da Ensino Superior
=> Adão do Nascimento

31 - Ministro da Cultura
=>  Rosa Maria Martins da Cruz e Silva

32  - Ministro da Assistência e Reinsercção Social
=>  João Baptista Kussumua

34 - Ministra da Família e Promoção da Mulher
=>  Maria Filomena Lobão Telo Delgado

35 -Ministro da Juventude e Desporto
=>  Manuel Gonçalves Muandumba

36 -Ministro dos Assuntos Parlamentares
=> Rosa Luís de Sousa Micolo

COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS E SERVIÇOS ESPECÍFICOS AUXILIARES

-Chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado
=>  Sebastião José António Martins

-Chefe dos Serviços de Inteligência e de Segurança Militar (ex- Casa Militar)
=>  António José Maria

-Chefe dos Serviços de Inteligência Externa
=>  André de Oliveira Sango

-Inspector Geral da Administração do Estado
=>  Joaquim Mande

COMPOSIÇÃO DOS GOVERNOS PROVINCIAIS


// Governador da Provincia de Luanda
=>  Bento Joaquim Sebastão Francisco Bento

// Governador da Província de Cabinda
=> Albina Matilde Barros da Lomba

// Governador  da Provincia do Zaire
=> José Joanes André

// Governador  da Província do Uíge
=> Paulo Pombolo

// Governador  da Província do Bengo
=> João Bernardo de Miranda

// Governador da Província do Kwanza Norte
=> Henrique André Júnior

// Governador  da Provincia de Malange
=> Norberto Fernandes dos Santos

// Governador  da Provincia da Lunda Norte
=> Ernesto Muangala

// Governadora  da Província da Lunda Sul
=> Cândida Maria Guilherme Narciso

// Governador  da Província do Moxico
=> João Ernesto dos Santos

// Governador  da Província do Kuanza Sul
=> Eusébio de Brito Teixeira

// Governador  da Provincia de Benguela
=> Armando da Cruz Neto

// Governador  da Província do Huambo
=> Fernando Faustino Muteka

// Governador  da Província do Bié
=> Álvaro Manuel de Boavida Neto

// Governador da Província do Namibe
=> Isaac Maria dos Anjos

// Governador  da Província da Huíla
=> João Marcelino Tyipinge

// Governador  da Província do Cunene
=>  António Didalelwa

// Governador  da Província do Kuando Kubango
=>  Francisco Higino Lopes Carneiro