quinta-feira, 12 de abril de 2012

Dono de clínica reprodutiva pode ser pai de 600 filhos



Esta é uma daquelas notícias deprimentes.

Análises de DNA revelam que austríaco era principal doador de centro de fertilização que funcionou por 30 anos em Londres

LONDRES. Nos anos 1940, Bertold Wiesner fundou uma clínica de fertilização em Lon­dres com a controversa polí­tica de ser seletivo na escolha dos doadores. Apenas pesso­as próximas à família, com ní­vel de inteligência alto e os padrões físicos considerados por ele adequados estariam aptas. O que não se sabia, no entanto, era que ele levava a diretriz ao extremo: o biólogo de origem austríaca era ele próprio um doador de esper­ma frequente e pode ser pai de até 600 das 1.500 crianças geradas na clínica, que funci­onou até os anos 1970.

A suspeita foi levantada por David Gollanez. Em 1965, então com 12 anos, seus pais lhe re­velaram que ele fora concebi­do por inseminação artificial na clínica de fertilização Lon-don Barton, mas não disseram quem era seu pai biológico. Já adulto, o advogado londrino percebeu ter grande seme­lhança com Wiesner e decidiu investigar.

— Uma estimativa conserva­dora é de que ele fazia cerca de 20 doações por ano. Usando números padrões de quantos nascimentos cada doação ge­ra, estimo que ele seja respon­sável por entre 300 e 600 crian­ças — disse Gollancz ao jornal "The Sunday Times".

Até agora, foram feitos testes de DNA em 18 pessoas nascidas entre 1943 e 1962 graças ao tra­tamento na clínica London Barton, que ficava na elegante regi­ão de Portiand Place. E os resul­tados apontaram que 12 dos examinados, entre eles Gol­lancz, eram filhos de Wiesner, que morreu em 1972 com 70 anos.

Gollancz já localizou 11 meio-irmãos, entre eles o documentarista e cineasta canadense Bary Stevens. É difícil saber quantos filhos exatamente o médico concebeu e quem são eles, porque sua mulher, Mary Barton, que morreu há 11 anos, destruiu todos os arquivos da cUnica. O estabelecimento era procurado sobretudo por cli­entes de classe média e alta, in­cluindo um lorde.

— Ele era o responsável por encontrar os doadores. Então, é possível que não te­nha contado à mulher e que ela acreditasse que as doa­ções vinham de diferentes homens — disse Stevens.

Em debates sobre insemi­nação artificial organizados pelo governo britânico em 1959, Mary Barton contou que fazia as escolhas por ra­ça, cor e estatura. Todos os doadores, disse na época, eram escolhidos entre pes­soas inteligentes.

— Eu não aceitaria um doador que não estivesse acima da mé­dia. Se é para conceber uma cri­ança de forma deliberada, as exi­gências têm que estar acima da média—afirmou então Mary, se­gundo o jornal "Daily Mail".

Risco de que fílhos do biólogo tenham se casado

O caso levanta a possibilida­de, ainda que pequena, de que alguns desses 600 filhos te­nham se casado e tenham tido bebês, que carregariam os ris­cos habituais decorrentes de casais consanguíneos.

Hoje é mais difícil que algo semelhante ocorra. No Reino Unido, a lei determina que ca­da doador de esperma só pode fertilizar um máximo de dez fa­mílias — uma mesma família pode ter vários filhos de um mesmo doador. Além disso, é obrigatória a manutenção de dados para o caso de uma pes­soa nascida por inseminação artificial eventualmente que­rer descobrir quem é seu pai biológico. David GoUancz acredita que não é o suficiente:

— Eu queria que constasse nas certidões de nascimento o nome do doador do esper­ma ou dos óvulos. Muitos pais que os recebem nunca dizem a seus filhos que foram concebidos dessa forma, o que significa que eles nunca vão saber como encontrar o doador — lamenta.

Nascido na Áustria, mas naturalizado britânico, o cientista Bertold Wiesner morreu aos 70 anos, em 1972.

O Globo / O Mundo , 10 / 04 / 2012

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