terça-feira, 15 de março de 2011

Build Angola: há verdade ou fraude em tudo que se diz?


Diz-se que cada um de nós tem os seus 15 minutos de fama. A Build-Angola é a bola da vez, quando o assunto é construção civil em Angola.

Na verdade não sei se seria bem fama. Está no centro de uma espécie de "manifestação" ou do jogo verdade vs fraude. Os clientes queixam-se da morosidade na entrega de casas prometidas. Isso, segundo o Jornal o País, tem levado a alguns deles a desistir do projeto e têm estado a pedir de volta o dinheiro aplicado nas nas supostas “obras empatadas”.

Diferentemente de outras construtoras, as pessoas não estão a ver as realizações da Build-Angola, apesar de possuir bons projetos e preços acessíveis (http://is.gd/6JrOX9, http://is.gd/WQNH4C)

Build Angola é uma sociedade imobiliária de origem Brasileira (Build Brasil). O grupo desenvolve projetos habitacionais. Opera em Angola há seis anos. Paulo Sodré é um de seus sócios (http://is.gd/91voiA).

Projetos

O primeiro projeto lançado em Angola foi o “The One”, em 2007.

Em outubro de 2009 o grupo levou a Angola o Rei Pelé para divulgar o projeto “Quintas do Rio Bengo” condomínio fechado a 50 minutos de distância da capital Luanda.




Seguiu-se o projeto “Bem Morar” (abril)



Antes de finalizar o ano de 2010, lançou-se o projecto “Nosso Lar” com preços que variam entre USD 138.400,00 a 188.400,00 dólares


Lançou-se também o "Nossa Vila", com preços que variam entre U$D 127.500,00 a 147.500,00


Build Boulevard – Empreendimento exclusivo, complexo comercial e residencial com shopping ao ar livre, lojas corporativas e apartamentos residenciais. O centro comercial contará com um supermercado, academia, Pastelândia, entre outros estabelecimentos comerciais.


Reclamações


O projecto imobiliário Build Angola tem estado a ser acusado de "defraudar alguns dos seus clientes que se queixam da morosidade na entrega das prometidas casas e da quase inacção nas áreas reservadas à construção das residências". Muitas das reclamações circulam através de e-mails e outros encontram-se à disposição em diversos sites e blogs, inclusive a refutação da Build Angola. Seguem-se as principais reclamações:

1. Cliente agastada com Build Angola quer dinheiro de volta (ou http://is.gd/6JrOX9)

2. A verdade sobre a Build Angola

3. A Verdadeira história da Build Angola

4. Reclamação (Comentário)

Depois dessas reclamações espera-se que, primeiro, a Build não mude mais de nome e, segundo, construa as casas com recursos próprios. Assim, a decisão de comprar antes, durante ou depois da construção fica sob responsabilidade única do cliente. Por enquanto clientes é o que mais há em Angola.

Referência:

1. Cliente agastada com Build Angola quer dinheiro de volta

2. Devolve dinheiro a cliente

3. Grupo Build Angola lança o "Nosso Lar" (23 de Agosto, 2010)

4. Build Brasil 100% angolana tem projecto de USD 200 milhões

5. Build Brasil torna-se empresa de direito angolano
6.
Grupo investe no sector agro-pecuário

7. Bem morar como um rei Pelé

8. Imobiliária abre-se

sábado, 12 de março de 2011

Casamento tradicional na cultura umbundu

Por Adolfo Mundombe Huambo - 11 de Março, 2011

Momento em que um representante da família da noiva confirma a lista dos artigos entregues pelo noivo como parte do ovilombo

O casamento tradicional é um processo em que os aspectos económicos, sociais e religiosos estão, muitas vezes, misturados, sendo por isso difícil eliminar a linha divisória das águas.

O historiador Festo Sapalo afirmou, ao Jornal de Angola, que é o lugar de encontro de todos os membros de uma comunidade, os falecidos, os vivos e os que vão nascer.

Na cultura umbundu, o casamento tradicional é feito com apoios familiares e até de amigos. É, disse Festo Sapalo, “o drama em que cada um participa como actor e não como simples espectador”.

É, ainda, um dever, uma experiência fixada pela comunidade, um ritmo de vida, no qual devem tomar parte os membros da família e quem não participar é amaldiçoado e tratado como rebelde, acentuou.

Em geral, quando alguém não se casa, na cultura umbundu, significa que é rejeitado pela sociedade e pela comunidade, pois o casamento sistematiza, controla a vida social e organiza as relações entre parentes na afixação da filiação.

O percurso do matrimónio tradicional é uniformizado nos grupos ovimbundu, tal como o uso e costumes matrimoniais e o valor da virgindade, constituindo a essência da unidade cultural destes povos.

Aliança entre grupos

Com o casamento, entre os ovimbundu, a mulher e o homem formam um novo agregado, reforçam a amizade e a aliança entre famílias, tribos, reinos e amigos. Esta aliança, que se forma entre os dois grupos familiares, constitui o núcleo das relações profundas das famílias.

Nesta aliança, todos os membros da família colaboram na preservação dos valores culturais e na garantia da fecundidade e prolongamento do casamento. Os cônjuges, referiu Festo Sapalo, ficam valorizados e são compensados economicamente pelas duas famílias.

O matrimónio dos ovimbundu é uma aliança legítima entre as duas famílias, que une linhagens sem a intervenção das autoridades. Ambas baseiam-se na união, firmam um contrato.

O acto não diz só respeito a uma pessoa, ao rapaz ou à rapariga, compromete as duas famílias a que pertencem. Os jovens casam-se, juntam-se numa única família, resultante dos dois clãs e nasce a dimensão comunitária e social.

Na tradição umbundu, a esposa nunca perde a identidade de membro do seu grupo. Mesmo que o casamento termine, volta à sua família, à qual pertencem também os filhos.

Dentro do grupo do marido, ela conserva e simboliza a presença do seu agregado e certifica a união de famílias.

Apresentação aos familiares

Depois do jovem manifestar interesse e amor por uma rapariga, a primeira coisa a fazer é levar isso ao conhecimento dos tios, anunciando o sentimento. Nessa altura não é permitido ter relações sexuais.

Os tios do rapaz avaliam o comportamento da moça e a sua linhagem familiar.
Depois de chegarem a um acordo familiar, os tios do rapaz dirigem-se aos pais da rapariga, “batem à porta”, alegando que o seu filho gostou da filha deles e levam um valor monetário, símbolo de união dos dois.

A partir daquele momento, os pais da jovem levam ao conhecimento da comunidade que a filha “está ocupada” e aumentam o controlo sobre ela.

Alguns dias depois, os tios da menina enviam uma carta a discriminar os artigos que devem apresentar como dote (alambamento).

A família do rapaz prepara-se, marca a data do encontro com a contraparte, munidos, é claro, dos artigos e do valor monetário exigidos pela família da moça, como dote, que na língua nacional umbundu se chama “ovilombo”.

Entre estes artigos, há um fato para o pai, outro para a mãe, panos e roupas para as tias, um litro de aguardente, owalende (caporroto), bebida tradicional, um garrafão de vinho tinto, quatro ou mais grades de gasosa, igual número de grades de cerveja e tabaco em rama ou volume de cigarros, com respectiva remessa de fósforos.

À chegada com o dote, salientou Feste Sapalo, a família do pretendente é recebida e acolhida, com toda dignidade, numa sala, onde estão presentes os familiares da pretendida para testemunharem a recepção dos artigos entregues pela família do rapaz. No acto da entrega, os emissários do pretendente, tio e tia, apresentam os parentes que os acompanham, antes de se proceder à entrega dos artigos, que são conferidos e confirmados pela família da jovem.

Vista a encomenda, o tio indicado da parte da noiva retribui o gesto com parte da bebida trazida pela família do pretendente a noivo, o que em umbundu significa “okutiula ovolu” (pôr de volta os pés). Depois disso, seguem-se conversações entre as famílias, pormenorizando os hábitos e costumes da jovem para, no caso de ocorrer alguma desinteligência, o marido ter forma de repreender a mulher.

A partir daí, a família do noivo dá a conhecer à noiva o que ela não sabe sobre o futuro marido. Segue-se, no fim, um almoço de confraternização na casa da família dela e todos, alegres, felicitam o noivado da filha. A festa dura até dois dias.

De regresso com a noiva, no caminho, a tia dela exige dinheiro em cada entroncamento, riacho, rio, até chegar a casa do noivo, onde também encontra toda a família do marido em festa, satisfeita com a entrada de mais um membro no seu agregado.

Os rituais tradicionais do casamento continuam. Antes de entrar para o salão construído e decorado para a recepção aos noivos (otchingalala), passam por uma porta decorada com folhas de palmeira ou de bananeira, que chamam ombundi, onde do outro lado fica sentada a avó do noivo e ali depositam dinheiro, no pequeno balaio que ela tem entre as mãos.

Depois da festa, com comes e bebes no salão “octhingalala”, os noivos não passam juntos a noite. Ela dorme na sua nova casa, com mais de 30 crianças e jovens, com idades compreendidas entre os 4 e os 18 anos, denominadas “katalamba”, mais a tia.

O noivo dorme sozinho e logo ao amanhecer deve dirigir-se a casa “ etambo”, onde pernoitou a noiva, e antes de a saudar, entrega dinheiro e bate palmas três vezes. As meninas do grupo (corte) seguem a noiva e respondem à saudação. Só depois disso é que o noivo saúda a noiva.

Feito isto, prossegue a festa “okukuata epata”, em que a noiva cozinha para toda família para se apurar se de facto sabe cozinhar.

Ofertas e presentes

Os amigos e os familiares entregam sempre aos noivos um presente na hora da partida para servir de recordação em casa.

A família do marido vem depois à procura, na casa dos pais da noiva, dos utensílios domésticos, com canções de louvor.

Durante a lua-de-mel, não pode faltar a quissangua, bebida tradicional feita de milho fermentado (otchisangua), para dar a todos que forem de visita. Terminada a festa de casamento, juntam-se os noivos e recebem conselhos dos tios, padrinhos, familiares para uma boa partilha no lar.

Os casados ficam com duas meninas, que vão ajudar nas lides caseiras, até que a esposa tenha o primeiro filho.

Já depois de ter dois ou três filhos, os familiares da mulher agradecem a dádiva, com uma junta de cabritos, fuba e galinha. Ao atribuir os nomes aos filhos, ao homem, segundo o direito costumeiro, cabe dar o nome do primeiro ao quarto, só depois disso é que a mulher dá aos demais.

Sempre que falta de um artigo no novo lar, aos tios do noivo é exigido a reposição que está em falta com dinheiro.

No primeiro ano de casados, os noivos abrem a sua lavra com o apoio dos familiares.

O casamento tradicional na cultura umbundu é constituído por ritos de passagem e um acto jurídico, que exige diversas formalidades: alembamento, intermediários, testemunhas, contrato, cortejo, cerimónia de apresentação e festas.

Jovens desobedientes

Josefina Ngalo, de 78 anos, disse, ao Jornal de Angola, que actualmente “os jovens vivem de ilusões, não prevêem as consequências do que fazem e não abraçam os conselhos dos pais, nem tão-pouco os das tias”.

“Quando um adulto aconselha para uma boa partilha entre os casais, banalizam e dizem que esta é uma nova era, onde estes valores estão ultrapassados”, afirmou.

“Engravida-se e nem sequer o rapaz assume a paternidade, fica prejudicada a menina, o filho é sustentado pelos avós, tudo por falta de maturidade dos jovens”, referiu.

Josefina Ngalo recordou que antigamente o acompanhamento dos jovens era diferente, tanto para as raparigas como para os rapazes, que ouviam os conselhos dos tios e as tias “tinham a grande tarefa e paciência de ensinarem como partilhar a vida a dois”.

As tias também ensinavam as raparigas a lavar, engomar, cozinhar, a serem humildes perante o marido e até conhecimentos bíblicos.

Antigamente, referiu, cada linhagem familiar tinha onde ir buscar as noivas.
“Assim que o jovem atingisse a idade para contrair matrimónio, tinha já a noiva eleita pelos familiares, preparada para casar e eles seguiam os hábitos e costumes da terra”, frisou.

Embora com algumas adaptações, próprias do mundo dinâmico em que vivemos, Josefina Ngalo aconselha os jovens a seguirem “a tradição e os bons costumes de cada região”. “Sigam o procedimento de fazer o alambamento (o pedido) até o dia do casamento e cumprir com todos rituais de cada etnia, seja umbundu, kikongo, kimbundu, cokwe e outros, que dignificam a nossa tradição e cultura”, disse.
“Porque a nossa tradição e cultura é rica em valores”, sublinhou.

Saber perdoar no lar

O padre Adriano Katiavala lembrou que “a tolerância e a maturidade equilibrada é considerada pelos especialistas um dos pilares mais importantes no casamento” e que “é necessário saber renunciar, suportar a existência de elementos contraditórios e tolerar”.

“No início do casamento tudo é marcado pelas expectativas, saber se o outro vai ser aquilo com que sempre sonhou”, referiu, salientando que “o primeiro grande obstáculo é superar essa obsessão, o que é difícil porque cada um veio de um mundo diferente”. Para elas, disse, o ideal é ter um homem fiel, amoroso, inabalável, que a cubra de carinho e atenções.

Elas, salientou, precisam disso e para os homens, a mulher é aquela que ouve as ideias do parceiro.

O casamento, lembrou, é um acto antigo, nascido de costumes e incentivado pelo sentimento moral, religioso e cultural.

Custos

Os casamentos nem sempre são baratos, mas é preciso saber procurar a melhor forma de mantê-lo. “A afeição é um dos pontos principais para um casamento feliz, muitos depois de casados já não mostram o devido carinho como antes”, lamentou o padre.

Adriano Katiavala frisou que os mais velhos tinham a experiência, não só primavam pelos valores físicos e materiais, como por uma educação moral irrepreensível.

“Hoje gostamos de fazer casamentos luxuosos, que pode custar milhões por causa da indumentária”, disse.

“Se voltarmos ao passado, o importante no casamento não era a festa que se realizava, mas o tempo de partilha no casamento“, declarou, a concluir, o prelado católico.

Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/25/0/casamento_tradicional_na_cultura_umbundu

Mbemba-a-Nzinga um rei devoto



Filipe Zau* - 15 de Fevereiro, 2011

As mais evidentes manifestações de amizade entre os bacongo e os portugueses, encontram-se expressas nas várias cartas trocadas entre Mbemba-a-Nzinga, rei do Congo e D. Manuel e D. João III, reis de Portugal.

Mbemba-a-Nzinga (1509-1540) assumiu os destinos do Congo após a morte de seu pai, Nzinga-a-Nkuvu, em 1506, tendo sido baptizado com o nome de Afonso. Através dele, missionários e artífices afluem de Portugal ao Congo, levantam-se igrejas, constroem-se habitações, modificam-se costumes, queimam-se feitiços, desenvolve-se o comércio e cultivam-se novos produtos.

Em 1504, o rei D. Manuel mandou uma missão à foz do Zaire que levava entre outras coisas muitos livros de doutrina cristã para serem usados no ensino dos mistérios e verdades da fé. Em 1508, seguiram para Lisboa o irmão de D. Afonso do Congo, D. Manuel e seu filho D. Henrique para serem educados no Convento dos Lóios.

D. Henrique acabou por ser nomeado bispo de Útica in partibus. Não obstante o mau comportamento de alguns missionários em 1514, várias escolas primárias e um internato para 400 jovens foram aparecendo no reino do Congo, sobretudo nas províncias do Súndi, Bamba, Bata e Pango.

Com a "descoberta" do Caminho Marítimo para a Índia, o reino do Congo passou a ser considerado um depósito de escravos, especialmente pelos portugueses de S. Tomé, que, oficialmente (por meio de decretos), dominavam este tipo de comércio na costa atlântica. Ralph Delgado, nos quatro volumes que escreveu sobre a História de Angola, uma edição do Banco de Angola, refere que nas duas primeiras décadas de contacto, 60 mil escravos foram retirados do Congo e que de 1506 a 1575 foram exportados 345 mil.

O próprio clero, enviado para evangelizar, a pedido do soberano africano, encontrava-se também envolvido no negócio da venda de escravos e a atitude de alguns sacerdotes tornou-se, durante o último período do século XVI, cada vez menos compreensiva. A título de exemplo citemos uma carta enviada pelo padre Garcia Simões, ao provincial dos jesuítas a 20 de Outubro de 1575: "Quasi todos tê por averiguado que a conversão destes Barbaros não se alcançará por amor, senão depois que por armas forê sogeitos e Vassalhos del Rei Nosso Senhor".

No entanto, a crença do rei do Congo, manteve-se inabalável. Veja-se o teor da Carta de D. Afonso do Congo, pedindo ao rei de Portugal que lhe enviasse 50 padres para serem distribuídos pelo seu reino e pelas terras que tinham senhorios, a fim de, em cada haver, um vigário e seis padres. As anotações, para facilidade de interpretação de cada uma das cartas, são da autoria de António Luís Ferronha.

Carta a pedir padres

"Senhor – Nós Dom Afonso por graça de Deus Rei do Congo e Senhor dos Ambundus e da conquista de Panzelumbos, [Ambundus e Panzelungus, é uma fórmula adoptada por D. Afonso para dizer que domina estas populações. Em relação aos Ambundus há documentos que permitem esclarecer que, efectivamente, estes estiveram dependentes do Congo, mas em relação aos Panzelungos, há dúvidas], etc. Com aquele acatamento que devemos, beijamos as Reais mãos de Vossa Alteza a quem fazemos saber que bem podemos haver quarenta anos pouco mais ou menos, que nosso Senhor por sua piedade e misericórdia nos iluminou e nos mostrou caridade e tirou da escravidão em que vivíamos, a qual mercê Nosso Senhor nos fez sua misericórdia e querer, que nesta teoria seja seu novo e fé louvada e exaltada, a qual esperamos em Nosso Senhor que para sempre será, pois foi servido de nos abrir o santo e bom caminho para salvação de nossas almas, e a Vossa Alteza queira acrescentar a vida real estado para que sustenha este reino e lha mande os unguentos medicinais para nossa solução e deste Reino e poucos que vivem em esperança que por desígnio de Vossa Alteza que por muitas vezes temos escrito a el-Rei seu pai, que santa glória haja, a grande necessidade que temos de muito padres que visitarem a grande redondeza deste Reino e senhorios, ser limpo de muita lepra e sujidade de idolatria que por ele há, por ser grande terra e não termos com que a limpemos, a saber muitos padres para estarem repartidos pelo reino e senhorios para nosso senhor ser servido e sua santa fé católica ser acrescentada e nós seríamos consolados, vendo o que tanto desejamos por vermos a necessidade que este reino tem, e vermos a multidão das almas que se perdem, as quais por desígnio de Vossa Alteza se salvarem, e ante Nosso Senhor alcançarem grande mérito, o que queremos que fará muito inteiramente, pois é a primeira mercê que lhe pedimos depois que é rei, assim Senhor que pedimos a Vossa Alteza por a morte e paixão que nosso Senhor padeceu pelos pecadores, que nos mande cinquenta padres que mais havemos mister [Apesar de um determinado silêncio da parte do poder português, D. Afonso continuou a corresponder-se com o sucessor de D. Manuel I, D. João III, apresentando a este um autêntico programa religioso. "Havia 40 anos que Deus o havia tirado da escuridão, mas acontece estarmos cinco a seis meses sem missa nem sacramento, porque os oficiais de V.A. o querem assim." denunciava este abandono religioso. D. Afonso pretendia 50 padres para os distribuir pelas terras que refere, antes de morrer, porque se sentia velho e cansado. Em resposta D. João III lamenta imenso a conduta deplorável dos padres residentes no território e "a má vida" que levavam.]. Mas por não darmos tanta opressão a Vossa Alteza não lhe pedimos mais para repartirmos pelo Reino e senhorios, e nos lugares em que maneira lhe queremos nomear alguns senhorios que há neste Reino os maiores que para nomear todos por extenso seria fazer grande leitura, e enfadar Vossa Alteza.

Um senhorio que se chama Sundy [Uma das províncias do Congo] em temos feito senhor um nosso filho por nome D. Francisco que é terra muito grande e de muita gente em que poremos um vigário com seis padres onde estarão providos e abastados de tudo necessário. – Outro senhorio que se chama Bamba [outra província do Congo] de que temos feito senhor outro nosso filho por nome D. Henrique [O rei começa por colocar os seus familiares como chefes das várias regiões], em que é muita gente e grande terra onde há mister estar um vigário e seis padres e do necessário serão abastados, e sempre serão ocupados por a terra ser grande e muita gente.

- Outro senhorio que se chama Banta de muito mais gente onde há mister de estarem menos de oito padres e um vigário de que temos feito senhor uma pessoa principal de nosso reino por (nome) D. Jorge a que muito queremos por bondade. – Outro senhorio que se chama Huembo de que temos feito senhor um irmão nosso por nome D. Pedro, grande terra e de muita gente que há mister vigário e seis padres. Outro Senhorio que se chama Pango [Banta, Huembo e Pango, eram regiões com uma certa importância política no Congo] que temos dado ao bispo [D. Henrique, filho do rei, primeiro bispo negro, bispo de Útica] nosso amado e prezado filho para seus gastos que é grande terra e muito abastada onde há mister bem um vigário, e seis padres: e não queremos mais nomear a Vossa Alteza por não fazermos prolixa escrita. É assim senhor que desta maneira os repartiremos por este reino, e os outros andarão e acudirão aos lugares de mais necessidade, para que com boas e santas palavras, os admoestem e tragam o verdadeiro conhecimento, e bem deve Vossa Alteza de crer a necessidade que deve ter gente rústica e simples que não sabe mais que viver e morrer e para lhe dar a entender a verdade de nossa Fé, é necessária serem ensinados e doutrinados por continuação de tempo até virem a verdadeiros reconhecimentos e salvação, e desta maneira senhor se farão muito fruto se salvarão muita multidão de almas que se perdem por míngua de padres, para estarem desta maneira que Vossa Alteza dizemos para que com o santo baptismo e doutrina de nossa santa fé se salvarem por amor de nosso Senhor lhe pedimos que se lembre de nós e deste seu reino que esperando está pela misericórdia de nosso Senhor e por os unguentos para nossas chagas que são muitos padres, de que tanta necessidade este Reino tem para sua salvação, e salvando-se tantas almas rogarão ante Nosso Senhor por sua alteza pois por seu designo se salvam, assim senhor que lhe pedimos pelas chagas de nosso Senhor que nos desamparem mas antes nos mande visitar muito mais, que rei seu pai fazia, que agora temos mais necessidade que nunca, por sermos já de muita idade estarmos no derradeiro quartel de vossa vida e não sabemos a hora que Deus será servido de nos levar para si, e levaríamos muito contentamento em nosso dias, se Vossa Alteza nos mandasse esses padres para que deixássemos este reino e senhorios pacíficos no amor em serviço de nosso senhor e portanto senhor nos mande muito padres que são os unguentos medicinais para as chagas que estes povos deste reino tem abertas, e para que o inimigo mau da alma não tenha poder nem vigor nenhum sobre as almas, que em sua mão de Vossa Alteza está o remédio, que esperamos que o nome de Jesus Cristo e sua morte e paixão nos guardarão e chegarão a estado de salvação.

Senhor por muitas vezes nosso filho bispo nos requer e pede que o deixemos ir visitar esse Reino, com estes poucos padres que consigo tem, que são quatro que para oficiar uma missa não bastam quanto mais para tão grande Reino, e nós o não queremos deixar ir porque o Reino é tão grande que para o visitar todo há mister muitos padres para o ajudarem, e irem com ele, e também andando pelo reino alongado de nós, nós tememos de no-lo matarem com peçonha o que seria para nós grande dor e sentimento e não viveríamos após ele, muito grande é filho a que temos grande amor e com ele recebemos muita consolação e assim todo este Reino, e portanto o não deixamos ir e por força o retemos que não vá, não por ele o não desejar muito e no-lo requerer por muitas vezes, e esta é a causa porque o não faz nem tem feito até aqui, assim senhor que para isto e para todo que nesta lhe pedimos Vossa Alteza que haja por bem virem seis padres da religião para estarem com o nosso filho o bispo porque se criou neles e recebe muita consolação tê-los em sua companhia que três da mesma ordem que consigo trouxe quando veio a feitura se foi um para Portugal e os dois ficam para cedo se irem também, saiba Vossa Alteza o que de cá levam a si estes padres como todos os outros que a nosso reino vêm, e saberá Vossa Alteza e má companhia que de nós recebem em nosso reino a qual havemos de fazer e quanto nos Deus der vida: Nosso Senhor acrescente a sua vida e Real estado a seu santo serviço ámen, escrita em nossa cidade do Congo, a dezoito dias do mês de Março de mil quinhentos vinte e seis anos. D. João Teixeira escrivão da puridade a fez. [Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico, parte I, Maço.33, Doc.121]

Baltazar de Castro

O facto da região de Luanda ser favorável ao resgate de escravos, fornecer na altura uma concha com valor fiduciário, chamada nzimbu e, segundo informações da época, ser rica em prata, ferro e cobre, constituiu motivo suficiente para que os portugueses, tal como no reino do Congo, desejassem cristianizar também o Ngola e os seus súbditos e estender os seus interesses comerciais ao reino do Ndongo. Ao tempo do monarca D. Manuel, foi enviado Manuel Pacheco, como capitão do navio, e Baltazar de Castro, como escrivão, para contactarem Ngola Inene, no sentido de o evangelizarem, tal como as suas gentes.

O soberano português afirmava que embaixadores do reino do Ndongo haviam chegado ao reino do Congo e tinham lá informado, que este Ngola desejava cristianizar-se. Mas, Baltazar de Castro, após ter chegado à Kabasa – a "capital" itinerante dos ngola-a-kilwanji – foi preso, dado que não tinha sido aquele potentado que havia enviado embaixadores ao rei do Congo. Este, porém, não deixou de intervir, mandando um padre para converter o Ngola e um emissário para solicitar a libertação de Baltazar de Castro. O Ngola fez-se cristão, mas, segundo Felner, "depois sucederão cousas que deyxou de ho ser." Ao fim de seis anos, Baltazar de Castro, saiu do cativeiro, tendo chegado nu ao Congo, depois de ter passado por várias outras vicissitudes. Eis o que ele relata na sua carta de 15 de Outubro de 1526, ao rei D. João III:

"Senhor. Baltazar de Castro [Baltazar de Castro tinha sido enviado por D. Manuel com um regimento para "descobrir" o "reino" de Angola conjuntamente com Manuel Pacheco, que partiram em 1520. Este desembarcou no Cuanza e dirigiu-se à embala (residência) de Ngola Inene, que não recebeu o baptismo] reposteiro da câmara e cama que fui dél-Rei vosso pai que santa glória, faço saber a Vossa Alteza que el-Rei do Congo me tirou de cativo do poder de Angola [É importante porque é B. de Castro que denuncia o mito das serras de prata (serra de Cambambe): «As quais eu em seis anos na dita terra estive nunca vi» (A. Felner, Angola, p.97).], vim ter a esta cidade, no derradeiro dia do mês de Setembro de mil quinhentos e vinte seis, e el-Rei me deu de vestir que vinha nu, e aqui achei roupa, que minha fazenda era tomada ou embargada por Vossa Alteza, e se assim é, foi por falsa informação que naquilo em que me el-Rei vosso pai me encarregou e o servi com muita verdade e lealdade, do que eu esperava muita mercê porque a merecia e mereço como farei certo.

Angola matou o embaixador [O N’Gola que por corruptela originou Angola, tendo conhecimento do procedimento dos portugueses no Congo, hostilizou a presença destes no seu território. Para o estudo dos primeiros contactos entre portugueses e ambundu, são importantes as duas cartas de António Mendes, publicadas por A. Brásio (M.M.A, vol. II, docs, 171 e 173), e as do padre Gouveia (M.M.A., vol. II, docs. 179 e 180)] que lá foi a Vossa Alteza com e o porque em algum tempo o saberá Vossa Alteza, a minha detença em Congo é porque el-Rei do Congo mandou um homem Angola para que me tirasse e um clérigo para o fazer cristão, foi-o e depois sucederam coisas que deixou de o ser [o N’Gola recusou o cristianismo] as quais Vossa Alteza saberá pelo tempo, porque este homem que el-Rei de Congo lá mandou fez coisas por onde tudo se tornou a perder como digo e assim se tornou e me fez ficar a mim e eu escrevi o que se passava a el-Rei do Congo e que tivesse este homem até que eu visse, e el-Rei fê-lo assim, eu tive maneira para sair e chegando a esta cidade, tinha este homem dada fama de mim que eu era mouro e outras coisas e achei fama que ele diria que vira serras de prata na terra de Angola e pedras e outras coisas as quais eu em seis anos que na dita terra estive nunca vi porque [Desfaz o mito da prata em Angola, mas mesmo assim continua a ser alimentado pelos Jesuítas, que estavam interessados na conquista de Angola] o que da terra soube e o que nela há isso escrevi por Manuel Pacheco [este foi para Angola com Baltazar de Castro em 152.

O regimento que levaram era bem claro: "Outro sim, somos informado que no dito reino d’Angola há prata, porque se viu umas manilhas que vieram do rei do Congo, trabalheis para saber donde é a dita prata e assim de quaisquer outros metais"] quando me nela deixou, e isso aí agora e no mais assim que foi necessário tirar-se isto tudo a limpo pelo qual começamos demonta a qual acabada e tudo tirado a limpo me parece que el-Rei do Congo me deixara ir e mandará a certeza a Vossa Alteza de tudo, e porque el-Rei do Congo me parece quer pôr em obra descobrir o que há por este Rio acima e tem muita certeza de se poder navegar e o que el-Rei mais certo tem sabido e creio o escreve a Vossa Alteza, pelo qual peço a Vossa Alteza escreva a el-Rei do Congo que me encarregue deste descobrimento, porque me parece que se me na mão cair eu o tirarei a limpo com Vossa Alteza verá pois a tantos anos que isto está cego e se é alguma coisa saber-se-á. E se não é nada que se caiba no que receberei mercê. Angola se queixa muito do barão e de D. Pedro de Castro, e quando lhe vem a vontade também diz de (…) escrita a quinze de Outubro de 1526. - Nosso Senhor acrescente a vossa e Real estado a Vossa Alteza. - "Baltazar de Castro".

No verso desta carta lê-se o seguinte: "Para el-Rei Nosso Senhor" Arquivo nacional da Torre do Tombo, gav.20, Maç.4, Doc 21.

*Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais
Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/17/0/mbemba-a-nzinga_um_rei_devoto

O início da evangelização do reino do Congo


Por Filipe Zau *

Gerald J. Bender, no seu livro Angola sob Domínio Português – Mito e Realidade, afirma que, tanto o reino do Benin, como o reino do Congo, eram, em muitos aspectos, semelhantes ao pequeno reino de Portugal, cuja população rondava um milhão de habitantes. Em outros aspectos, tais como, o grau de centralização, controlo político, manufactura de vestuário e artefactos, talvez pudessem ultrapassar o reino de Portugal medievo. Por estas razões, as primeiras iniciativas diplomáticas de Portugal, junto destes dois reinos africanos, se caracterizaram pelo respeito mútuo e não, inicialmente, pelo espírito de conquista. Contudo, o reino africano mais apreciado pela coroa portuguesa era o do Congo.

No decurso da primeira viagem de Diogo Cão à foz do rio Congo, quatro dos seus homens ficaram, em Mbanza Kongo, na corte do manicongo Nzinga-a-Nkuvu, filho de Enku-a-Mutinu, segundo Eduardo dos Santos, o quinto monarca do Congo. Este sugeriu ao navegador português que, por sua vez, levasse para Lisboa quatro congueses. Um gesto que foi politicamente aproveitado por D. João II, que decidiu receber os africanos com a mais requintada hospitalidade real, “incluindo o melhor alimento, vestuário, alojamento, educação e, naturalmente, religião”, como forma de impressionar o manicongo. Complementarmente, os quatro portugueses, que, durante dois anos, ficaram em Mbanza Congo, acabaram por receber tratamento recíproco. “Assim Portugal e Congo puderam observar-se mutuamente no próprio seio dos respectivos reinos. Visivelmente impressionados pelos relatos dos seus emissários durante os primeiros dez anos de contacto, os dois reis trocaram embaixadores e presentes”.

O fracasso diplomático junto do reino do Benin

Em Os Negros em Portugal – Uma Presença Silenciosa de Luís Ramos Tinhorão, colhemos a informação de que, nesta mesma época, João Afonso de Aveiro levou da costa da Mina uma embaixada do rei do Benin, “senhor de huma bem dilatada província, copiosíssima de gente, a qual tem seu sítio entre terras que visinham com o castelo da Mina e o grande reino do Congo”. Porém, apesar das “várias mercês que lhe fez [o rei de Portugal ao embaixador africano], despachando-o juntamente com bons presentes para o “seo Rey”, este senhor do Benin, não se deixou impressionar. “D. João II mandou, em 1487, à região da Gâmbia e Senegal uma missão ao senhor dos jolofos, Bemey ou Beomi, e que lá chegou exactamente na época em que este era deposto por um irmão. Acolhido pelos portugueses na hora do infortúnio político, o rei Beomi foi levado a Portugal com 25 outros ‘homens todos da melhor nobreza da sua terra’, sendo recebido com muitas honras por D. João II, que, espertamente, idealizou, devolvê-lo ao Poder em troca de aliança, que permitisse a construção de uma fortaleza na boca do rio Çanaga ou Senegal. E a ideia, aliás, só não se concretizou porque, durante a viagem de volta, o capitão-mor da armada, Pedro Vaz da Cunha, suspeitando de próxima traição por parte de Beomi, o matou a punhaladas, fazendo fracassar a missão”. Foi na sequência deste revés, no reino do Benin, que D. João II procurou evitar, que o mesmo viesse a acontecer no reino do Congo.

Decidiu então que os nobres congueses, já cristianizados, que se encontravam em Portugal, regressassem a África acompanhados de uma grande embaixada. Logo, segundo o testemunho de Garcia de Resende, na Crónica de D. João II e Miscelânea, o soberano português tratou de mandar “(…) preparar uma armada, composta por três navios, que largou do Tejo, a 19 de Dezembro de 1490. Nela seguiam missionários, artífices e instrumentos religiosos, como: retábulos, paramentos, sinos, pedras de ara, cálices, missais, esculturas, etc.” Depois da chegada da armada ao porto de Mpinda, a 29 de Março de 1491, se dava início à cooperação efectiva entre o reino do Congo e reino de Portugal, com a consagração do baptismo do manicongo Nzinga-a-Nkuvu, a 3 de Maio de 1491, com o nome de João e de sua esposa Mani Mombada, a 4 de Junho desse mesmo ano, com o nome de Leonor, dia em que também foi benzida a primeira pedra para a construção da igreja em Mbanza Congo, dedicada a Santa Cruz. Depois do baptismo, o manicongo partiu para Nsundi para combater revoltosos.

Este tipo de proselitismo religioso permaneceu com D. Manuel, rei de Portugal, que sucedera a D. João II e, também, com D. Afonso (Mbemba-a-Nzinga), rei do Congo, que sucedera ao manicongo D. João. Em 1508, D. Afonso enviou a Portugal uma embaixada, da qual faziam parte, seu irmão D. Manuel e seu primo D. Pedro, este com o propósito de trazer para Mbanza Congo o modelo de organização do reino português.
Data de 1512, uma das primeiras cartas do manicongo Mbemba-a-Nzinga (D. Afonso I do Congo) esta dirigida ao Papa, informando-o da sua conversão ao cristianismo e o seu combate contra as idolatrias. Eis o seu teor:

Santíssimo em Cristo Pai. Beatíssimo Senhor, senhor nosso Júlio segundo, pela divina Providência Sumo Pontífice. Vosso devotíssimo filho D. Afonso pela graça de Deus rei de Manicongo, e senhor dos Ambundos, Guiné, manda beijar vossos beatíssimos pés com muita devoção. Bem cremos, Beatíssimo Pai, que tem vossa Santidade entendido como ele-Rei D. João de Portugal, segundo no nome, no começo, e logo após ele o católico Rei D. Manuel seu sucessor, com muita despesa, trabalhos, e indústria mandaram a estas terras pessoas religiosas, com a doutrina dos quais (sendo nós enganados pelo demónio, adorando ídolos) nos apartamos divinalmente de tamanho erro, e tamanho cativeiro, e de como reduzidos à Fé de nosso Senhor, e salvador Jesus Cristo tomando a água do santo baptismo, limpando-nos com ela da lepra, de que éramos cheios, apartando-nos dos errores gentílicos, que até então usáramos, lançando de nós todas as abusões diabólicas de Satanás, e seus enganos, de todo nosso coração, e vontade recebemos milagrosamente a Fé de nosso Senhor Jesus Cristo. Pela qual depois de sermos doutrinados e ensinados nela, sabendo nós que era costume dos Reis Cristãos mandarem obediência a vossa beatitude, como a verdadeiro Vigário de Jesus Cristo, e pastor de suas ovelhas, querendo nós como é razão nesta parte imitar em tão divino, e sagrado costume (na companhia e número dos quais o todo poderoso e misericordioso Senhor Deus, por sua clemência nos quis ajuntar, e unir para seguirmos a sua santa companhia, e católicos costumes) mandamos a vossa santidade nossos embaixadores, para lhe de nossa parte darem a acostumada, e devida obediência, como os outros Reis Cristãos fazem. Dos quais embaixadores, um é o meu muito amado e prezado filho D. Henrique, o qual el-Rei D. Manuel de Portugal, meu muito amado irmão em seus reinos mandou enviar, e instruir na sagrada escritura, e costumes da Fé católica, o outro é D. Pedro de Sousa, meu muito amando primo, aos quais, além de vós por eles ser dada nossa obediência, dissemos algumas coisas que de nossa parte diram a vossa beatitude, as quais lhe pedimos muito humildemente que ouça, e receba deles, e lhes dê tanta fé como se por nós mesmo fossem ditos diante de vossa beatitude, a qual Deus por sua misericórdia queira conservar em seu santo serviço.

Dada em a nossa cidade de Manicongo, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1512.” [Damião de Góis, Crónica de D. Manuel, Part. III, Cap.39, Univ. Coimbra, Coimbra]. Contudo, julgamos não ser credível, que a Guiné alguma vez tenha estado sob jurisdição do reino do Congo.

De acordo com a Breve Cronologia da História de Angola – 1489-1706, de Adriano Parreira, D. Henrique, filho do ntotela Afonso I, Mbemba-a-Nzinga, nasceu na província de Nsundi e, em Lisboa, passou a estar ligado à Congregação de São João Envangelista do Espírito Santo e, desde 1515, a residir no mosteiro de Santo Eloi. Partiu, posteriormente, para Roma, tendo, no dia 3 de Maio de 1518, recebido do Papa Leão X o título de bispo Uticense. Posteriormente, sempre acompanhado do seu parente Pedro de Sousa, voltou a Lisboa. Regressou ao reino do Kongo e, em 1521, voltou a Portugal e também a Roma, em 1523. Em 1526 detinha o título de senhor de Mpangu vindo a falecer antes de Março de 1639.

* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao/17/0/o_inicio_da_evangelizacao_do_reino_do_congo
09 de Novembro, 2010

terça-feira, 8 de março de 2011

Mãe presa com filhos menores há cinco meses

Julia Fato, uma jovem de 21 anos encontra-se detida há cinco meses na cadeia de Lunda-Norte com o dois filhos de 3 e 5 anos.

Tudo aconteceu quando a polícia encontrou na residência dela alguns quilos da liamba (maconha). Ela atribui a responsabilidade ao marido que cultivava o produto. O marido, segundo a Júlia, evadiu-se da residência quando percebeu a presença da polícia.

A Polícia não quis saber da conversa e levou a senhora para delegacia de polícia. A Júlia não possui família na cidade. O único familiar que possuia lá é o marido. A solução encontrada foi levar os dois filhos para pagarem pelo crime que não cometeram. As autoridades afirmam que processo já está em tribunal e a qualquer momento ela vai ser julgada”.

Essas crianças terão muito que contar... Aliás, o Psicólogo Manuel Zau afirmou que "às crianças, isso poderá no futuro causar um quadro de dores emocionais resultantes das influências dos vários comportamentos adquiridos na cadeia, desenvolvendo-se para tal um quadro triste e infeliz. Para além dos traumas psicológicos, poderão desenvolver comportamentos problemáticos mal ajustados que, em vez de ajudar, atrapalham as pessoas a lidarem bem com o dia-a-dia”.

Além disso, prossegue o Psicóllogo, "podem desenvolver-se nas crianças distúrbios de personalidade, que são padrões de comportamento não saudáveis, profundamente arreigados. “Esses padrões, normalmente, aparecem na adolescência e persistem durante grande parte da vida adulta. Entre eles estão tipos de personalidade paranóide (desconfiança excessiva), narcisista (ama a si próprio), dependente (ser um potencial delinquente), anti-social, entre outros”.

Ref: Novo Jornal, Edição nº 160

Forever-Angola fatura mais de 17 milhões de dólares


De acordo com Geraldo Calala, director-geral da Forever-Angola, com apenas dois escritórios um em Luanda e outro em Catumbela (Benguela), a empresa de suplementos alimentares atingiu receitas avaliadas em mais de 17 milhões de dólares, no ano de 2010, e prevê nos próximos tempos alcançar mais de 32 milhões de dólares.

A empresa fornece uma variedade de 250 suplementos, todos à base do "Chandala" ou melhor “Aloé Vera”.

Com 65 trabalhadores e mais de 100 mil distribuidores no país, a Forever-Angola está implantada como sucursal da Forever Internacional desde Maio de 2005 e ocupa o terceiro lugar no mercado africano, depois da Nigéria e da África do Sul, de um total de 145 países onde a marca está representada.

Se minha mãe soubesse que Chandala pode fazer tudo isso, estaríamos ricos. Se bem que, no caso da Forever, usam um tipo de Chandala diferente dentre as 40 ou mais espécies existentes.

Ref. H.Sebatião, Novo Jornal, 11 Fevereiro 2010, p 09

domingo, 6 de março de 2011

Movimento marca ato para derrubar o Rei da Swazilândia


Oposição contra Rei da Swazilândia

Os partidos da oposição da Swazilândia, a única monarquia absoluta da África Austral, convocaram para 14 de Abril manifestações para a deposição do que descrevem como o “regime totalitário do Rei Mswati III”, defendendo a realização de eleições democráticas.

A imprensa suazi refere que a oposição pretende que Mswati III, de 43 anos e no poder há um quarto de século, abdique do trono e dê lugar à formação de um governo de transição até à realização de eleições no país.

Os protestos visam também contestar o plano de redução de salários na função pública, anunciados pelas autoridades, e contam com o apoio da Cosatu, o maior movimento sindical da África do Sul, o mais poderoso país vizinho.

Os partidos swazis operam ilegalmente no país desde que foram banidos em 1973, ainda no reinado de Sobhuza, pai do actual monarca.

Mswati, 67º filho de Sobuzha, ascendeu ao trono em 1996 e mantém a matriz absolutista do regime e os costumes ultra-tradicionais da monarquia swazi, contando agora com 14 mulheres.

A poligamia do rei e as despesas em palácios e mordomias para cada uma das suas rainhas têm sido repudiados por vários quadrantes da sociedade swazi, preocupados o território ter dos mais elevados níveis de infecção por VIH/Sida e ser um dos mais pobres do mundo.

Novo Jornal. 4 Março 2011 p.25

terça-feira, 1 de março de 2011

Levantes no mundo árabe



Tunísia. A divulgação pelo site WikiLeaks de telegramas que revelarm casos de corrupção do governo e imolação de um universitário após a polícia apreender sua banca de frutas espalharam protestos por todo país. Acuado, o presidente Zine El Abidine Ben Ali, há 23 anos no poder, deixou o país em 14 de Janeiro. Atualmente enfrenta os efeitos de uma fulminante AVC (trombose).

Egito. A maior revolta popular inspirada no levante da Tunísia. Provocou a renúncia do Presidente Hosni Mubarak, após 18 dias de intensos protestos que deixaram 300 mortos e mais de 500 mil feridos. Mubarack entregou o poder ao Exército. A população comemorou nas ruas a saída do presidente, após 30 longos anos no cargo.

Sudão. Um joven sudanês de 25 anos de idade que havia ateado fogo ao prórpio corpo em Cartum morreu em decorrência dos ferrimentos. O descontamento generalizado com a economia e a política no norte do Sudão levou aos protestos esporâdicos nas últimas semanas.

Líbia. Os protestos que começaram na cidade de Benghazi se espalharam por várias cidades e ameaçam a ditadura de Muamar Khadafi, coronel que está no poder desde 1969.(isso mesmo, 1969). Em discurso transmitido pela TV ele prometeu lutar até a útima goat de sangue e ameçou aos manifestantes. A vilenta repressão já provocou a morte de milhares de mortos, o que já foi considerado como crimes de guerras.

Argélia. O governo anunciou o fim do estado de emergência em vigor há 19 anos em resposta aos protestos. Outras medidas, como corte de de preços de alimentos foram adotadas para conter os manifestantes. O presidente Abdelaziz Bouteflika foi eleito pela primeira vez em 1999, numa eleição considerada fraudulenta. Ele foi reeleito em 2004 e venceu o terceiro pleito em 2009 após a emenda constitucional para remover os limites de reeleição. Seu governo enfrenta críticas por desemprego, défict de suprimento de água e energia e corrupção.

Marrocos. O país já registrou protestos em Marrabech, Fez, Tânger e Rabat. Os manifestantes pedem reformas, o fim da corrupção e que o Rei Mohammed ceda parte de seus poderes. O país tem uma economi bem sucedida, um parlamento eleito e uma monarquia reformista. O Rei Mohammed é membro de uma dinastia Alaouite, que governa Marrocos há cerva de 350 anos.

Mauritânia. O mauritano Yacoub Ould Dahould ateou fogo ao próprio corpo em um protesto anti-governamental em 17 de Janeiro por estar "infeliz com a situação política no país e furioso com o governo.

Iêmen. Os manifestantes mantêm protestos contra o presidente Ali Abdallah Saleh, no poder há 32 anos. Em resposta, Saleh anunciou que não disputará outra eleição e a formação de um governo de "unidade nacional". Há protestos também a favor do governo. O iêmem é um dos países mais pobres do mundo árabe.

Omã. O país vive duas manifestações com cerca de 300 pessoas no centro de Mascate para pedir aumento salarial e reformas políticas. Apesar dos protestos, os manifestantes juraram lealdade ao sultão Qabus bin Said al-Said que governa o país desde 1970 e é benquisto pelas mudanças e modernizações que fez no país. Omã é uma Monarquia com o gabinete sendo apontado pelo sultão, que é também chefe de governo.

Iraque. Protestos em Wassit e Kut exigiam melhores serviços básicos entraram em confronto com a polícia e atearam fogo a prédios públicos. Ao contrário de revoltas em outros países do Oriente Médio, os Manifestantes iraquianos não têm exigido a destituição do governo, que foi eleito nas urnas e tomou posse há menos de 9 meses. Mas muitos deles fazem críticas ao primeiro-ministro Nuri al Maliki.

Jordânia. O Rei Abdullah deu posse no último dia 9 ao novo governo do país, comandado por um ex-general que prometeu ampliar as liberdades individuais em resposta aos protestos populares inspirados pela revolta da Tunísia e Egito. A Jordânia é uma monarquia constitucional, com o primeiro-Ministro sendo apontado pelo rei e eleições para Assembléia dos Deputados. O Rei Abdullah governa o pais desde 1999.

Globo.com

Elas perdem a dignidade cada vez mais?


Por Antunes Oliveira Salazar

Nos últimos tempos, as jovens angolanas vão se tornando assustadoras aos olhos dos homens, contrariamente ao que era de esperar e vão parecendo, cada vez mais, crentes assumidas da deusa “Ister” deusa da prostituição.

Tais acusações têm sido feitas pelos jovens na sequência de alguns comportamento das raparigas como é uso excessivo de álcool, a forma menos adequada de vestir e o exagero no pedido de dinheiro acontecendo, muitas vezes, quando mal conhecessem.

João Duarte de 19 anos de idade é um destes jovens que acusam as jovens e tudo porque teve, certo dia, relações sexuais com uma jovem que nem sequer lembra do nome dela. “Foi tudo rápido, encontrei-a na estrada pediu-me dinheiro de táxi, dei-lhe boleia até ao meu apartamento e tivemos relações sexuais, após de tudo pediu-me dez mil Kwanzas (100 dólares) alegando que tinha a irmã no hospital e que estava sem dinheiro” contou o rapaz que, diga-se ao abono da verdade, não é a melhor pessoa para apedrejar as jovens, pois participou do acto.

A mesma crítica não pode ser feita ao jovem Carlos Coelho que deixou de procurar uma moça com quem chegou a pensar namorar, tal logo conheceu, devido a beleza rara dela. A desistência deveu-se ao facto de dois dias depois do primeiro contacto e quando ainda nem conheciam-se bem, ele atendeu a uma mensagem a pedir que ele a ligasse.

“Descaradamente disse que ligou para duas situações: Primeiro para ouvir a minha voz e, segunda, par saber se eu pudesse lhe arranjar duzentos dólares para comprar um vestido”, recordo para depois acrescentar que decidiu nunca mais procurar a moça.

Fonte: Folha 8, sábado 26 de Fevereiro de 2011

Quanto mais o regime adiar pior será


Por William Tonet

Folha 8, 26 de Fevereiro de 2011

O desnorte, definitivamente, tomou conta de alguns dirigentes do regime e com isso o estalar do verniz. Ainda vai no adro a procissão no norte de África e Médio Oriente e já aqui, num despropósito (será), o secretário-geral do MPLA revisita uma frase dantesca de Oliveira Salazar: “EM ANGOLA E EM FORÇA”, disse-o em 1961, mandando avançar militares e canhões com objectivo de atirar a matar, contra quem se lhes opunha, por falta de liberdade. Resultado: após os levantamentos de 4 de Fevereiro, em Luanda e o 15 de Março de 1961, no norte de Angola, que marcam o início da guerra de libertação, abriu-se o caminho para a Liberdade.

Hoje, meio século depois (50 anos), a história se repete, mas agora com um dirigente negro e angolano, Dino Matross, que tal como Salazar, acredita que o seu regime está predestinado a perpetuar-se no poder, ao ameaçar, desalmadamente o derramar de sangue dos autóctones: “QUEM SE MANIFESTAR, VAI APANHAR!”. Isso, conhecendo bem a natureza deste MPLA, só tem uma interpretação: estes dirigentes não têm sentimento em relação ao nosso sofrido povo, porque para eles as nossas vidas valem menos do que a de um dos seus cães de estimação.

Dino Matross esqueceu-se de dizer porquê o actual MPLA quer violar de forma flagrante o artigo 47.º da Constituição da República de Angola (CRA) (liberdade de reunião e de manifestação), cujo texto o próprio partido no poder aprovou, impedindo que os cidadãos possam exigir mais LIBERDADE, DEMOCRACIA, MELHOR DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA, FIM DA LUTA CONTRA OS POBRES, FIM DO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DOS GOVERNANTES E COMBATE CERRADO A CORRUPÇÃO.

Disse o segundo homem do MPLA, não acredito que Roberto de Almeida o faria, não haver razões para as pessoas se manifestarem, por termos saído recentemente da guerra e estar-se a reconstruir o país. MENTIRA.

Uma esmagadora maioria tem razões suficientes para se manifestar. Eu tenho razões para o fazer, porque à pala da reconstrução existe muita discriminação e enriquecimento ilícito de uns poucos. A maioria não tem justiça, pois esta está ao serviço do partido no poder. A maioria não tem uma educação e saúde condigna, enquanto os filhos do Presidente da República e dos dirigentes não estudam nem se tratam no território. Ora ao abrigo do art.º 47.º da CRA, eu e os meus filhos, com os vizinhos, alguns dos meus colegas, alunos, amigos e consofredores podemos, desarmados e pacificamente, manifestar, reivindicando MUDANÇA, face à actual política de discriminatória do regime. Este acto é legítimo, por estar constitucionalmente consagrado. Pelo contrário, o inverso: MANDAR BATER (ASSASSINAR), soltar os assassinos para investir contra populares que acreditam ou têm de se subjugar às leis que o próprio MPLA aprova, não é verdadeiro.

É um mau exemplo Dino Matross estar a seguir o exemplo do filho e de Muamar Kadafhi de terem contratado bandidos e mercenários, bem como a aviação para atirar a matar contra o seu próprio povo. Quando assim se age, não estamos na presença de dirigentes, mas de assassinos, pois é o que se diz hoje serem o líder líbio e o filho, que se querem manter no poder, pelo sangue do próprio povo.

Este MPLA tem o marco do fim da guerra, disse-o Dino Matross, como início de uma nova era, esquecendo-se que os países democráticos fazem-se ou renovam-se, a nível das projecções das suas políticas em quatro anos, período, geralmente, de um mandato eleitoral. Compare-se o que fez o Presidente da República de Angola em 8 anos e Luís Inácio Lula da Silva, em igual período no Brasil. São muitas as diferenças, para além de Lula ter realizado e disputado duas eleições, sem batotas e fraudes grosseiras, ter pago a dívida externa do Brasil ao FMI, ter aumentado o salário mínimo, reduzido o desemprego, não ter feito com dinheiro público os seus filhos e amigos do Partido dos Trabalhadores milionários e por isso saiu e bem, com uma taxa de popularidade de cerca de 80 por cento.

Por tudo isso e mais, com a sombrinha da Constituição, tenho razões para manifestar-me publicamente e reivindicar direitos que me são surripiados todos os dias, com a agravante de, desde o fim da guerra, este MPLA não ter combatido a pobreza. O MPLA COMBATE OS POBRES, partindo as suas casas, retirando os seus terrenos, afastando-os das cidades, para dar aos novos ricos, na generalidade os filhos da corte. Uma grande diferença do que fazia Robin dos Bosques, que roubava aos ricos para dar aos pobres.

Tenho razões, para me manifestar, por o regime não pagar as dívidas aos empresários angolanos, muitos, os discriminados do próprio regime, pois só eles podem ser bem sucedidos, levando-os à falência ou ao suicídio, mas beneficiar os estrangeiros ou os mais bajuladores.

Isso foi dito por alguns militantes na reunião do MPLA com os empresários do MPLA, realizada no dia 22.02, em que muitos apontaram o dedo à direcção por ela lhes ter inclusive dado dinheiro por debaixo da mesa, entenda-se, corrompido e, depois, nikles de negócio... Como não se manifestar, quando os empresários de sucesso só têm uma cor política e na maioria o seu êxito está relacionado com a locupletação do erário público? Os actuais dirigentes, que se consideravam desde o início da revolução como socialistas e proletários, enganaram todo um povo, pois transformaram-se da noite para o dia em milionários proprietários, sem terem mesmo uma lojeca para justificar os milhões nas suas contas bancárias.

E quando alguém os questiona, sob esta postura ou a dificuldade, não sendo do sistema de ter acesso a financiamentos e oportunidades o caminho é uma campanha de diabolização, a abertura de processos dos mais escabrosos, a prisão e o assassinato, uma postura, muito parecida com a recorrida por regimes declaradamente ditadores, que acreditam que a exibição da força seja a melhor receita, para se travar com as mãos, os ventos da mudança, que inevitavelmente chegarão a Angola.

Dino Matross, até chegou a ser uma referências no início da revolução, eu mesmo ao longo da minha caminhada tive-o como exemplo, mas tenho de reconhecer e confessar-lhe que esta sua declaração decepcionou-me, por ser uma ORDEM DE MORTE aos esquadrões assassinos que por 50 dólares, não se importam de atirar contra cidadãos inocentes. E é para mim mais preocupante, porque me recordo da minha estúpida prisão em 27 de Maio de 1977, por não saber se a decisão partiu só do Cajó, meu canoa do campo de São Nicolau ou de algum dirigente superior a si ligado. Esta é infelizmente parte da história negra da actual direcção do MPLA, que se mantém no poder, subindo pelos corpos de cadáveres de muitos dos seus camaradas e restante povo, inocente.

Em momentos sensíveis as grandes orientações têm de ser dadas por pessoas ponderadamente responsáveis, para não se incendiar ainda mais a pradaria. Ninguém mais, diante da pobreza e do desemprego a que está votada a maioria se deixa iludir por um “simpático dirigente”. Há quem diga mesmo que exaltar, por estas alturas, o dicionário da mentira da vigarice e da imbecilidade é mais um rastilho nos corações discriminados das grandes massas populacionais. A política tem de saber afastar os governantes incompetentes e ouvir o clamor popular ao invés de os ameaçar de morte, contrariando o refrão comunista de: O MPLA É O POVO E O POVO É O MPLA”, se assim é como mandar o povo ser batido pelas tropas? É esta postura arrogante e ameaçadora que está a destruir um país que tinha tudo para dar certo, com base nas suas populações e povos generosos e sacrificados, pese as riquezas de vária ordem no seu solo e subsolo, apenas confiados a um pequeno grupo do poder, que alimenta a corrupção, na mesma proporção que aumenta o número dos pobres. Se realmente há justiça, devem ser rigorosamente julgados todos os culpados sem omitir os governantes que se aliaram nesta senda de agravar a vida dos autóctones angolanos que não vêm outra vida de resgatar a esperança manifestando-se contra os crimes cometidos todos os dias contra os cidadãos dos nossos povos.

Angola só será um país de todos autóctones, quando novas lideranças tiverem capacidade, diante do seu mapa-vivendis, malhado por vários povos Bantus, que o habitam, discutir um PROJECTO PAÍS: saber o que somos, o que queremos e para onde vamos.

Estes pressupostos são importantes para se definir o rumo a seguir. O contrário é trilhar os mesmos carreiros do colonialismo português, que ousadamente, acreditou que seria perpétuo o seu consulado por estas terras de Nzinga e Mandume.

Estamos a viver sob novos tempos, temos uma nova ditadura no mundo a DEMOCRACIA DO PETRÓLEO. Ela é pobre, mas é a que alimenta regimes que se perpetuam no poder com a força do fuzil e que resistem a mudar o sistema político.

Por tudo isso, quando a verdadeira manifestação sair, eu vou estar lá a gritar com todas as minhas energias ciente ser um DIREITO CONSTITUCIONAL, art.º 47.º, mas sem a ingenuidade de não estar preparado para receber a bala de um dos tropas, polícias ou bandido, que recebeu bem o recado do secretário-geral do MPLA, Julião Paulo Dino Matross. Foi assim em 27 de Maio de 1977, mas no século XXI, o resultado pode não ser o mesmo. Seguramente.