quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Uma, mais uma, lição de Feliciano Cangue


O professor e engenheiro Feliciano Cangue é, há mais de dois anos, dono, senhor, barão, o rosto mais visível e o lápis mais afiado de um interessante blogue, que tem como título "Don't Cry for me Angola".

Sou "cliente" do referido espaço de liberdade onde (sem receio de perder o emprego, sem medo de ser abalroado por uma bala nas ruas de Luanda ou ainda de ver castrada a raiz do seu pensamento) de quando em vez (e também de vez quando) Feliciano Cangue manda cá umas para a praça capazes de pôr os políticos sérios (?) a pensar e, como não poderia deixar de ser, também capazes de fazer vibrar qualquer plateia com o mínimo senso de humor.

Por isso (e nada mais do que isso) sempre que posso vou - com a ligeireza do click do teclado de um computador ligado à net - até ao Brasil para ver o conteúdo do seu blogue. Faço-o, confesso, com muito gosto, pois doutro modo...

Mas, "Dont Cry for me Angola"? Olhe, cá por mim, penso que Angola e os angolanos deviam chorar sim senhor pelo Feliciano Cangue e o seu saber.

Seria um choro justificado na medida em que (também) não lhe é permitido, digo eu, colocar o seu saber ao serviço de Angola e dos angolanos.

Não lhe é permitido por não rezar, certamente, o mesmo terço de quem pensa que o Menos Pão Luz e Água é o fim e o princípio de tudo (e mais alguma coisa) em Angola. Não lhe é permitido por não frequentar a mesma missa e a mesma capela de quem se julga fadado para comandar.

Feliciano Cangue trocou, por razões várias e várias razões, a terra da Palanca Negra Gigante com as de Vera Cruz.

Tal troca terá decorrido do facto de ter, julgo eu, mais condições para exercer o seu trabalho intelectual e ter a liberdade de dizer alto e em bom som o que (não) pensa.

E é certamente por se sentir verdadeiramente um homem livre do outro lado do Atlântico (Brasil) que acedeu ao convite da jornalista Clara Onofre, ao serviço da "Global Voice", para uma entrevista onde debita a sua opinião sobre alguns blogues e blogueiros angolanos e o papel dos mesmos no que à participação cívico-política diz respeito no que tange à mudança de mentalidade que urge no nosso País.

Li com redobrada atenção a referida entrevista que, como não poderia deixar de ser, foi respescada pelo Notícias Lusófonas.

Entre as várias coisas interessantes ditas por Feliciano Cangue sublinhei, e cauciono, a ideia segundo a qual "não há como mudar o País com pessoas de hoje e com a mentalidade de ontem".

Não poderia estar mais de acordo, pois porto novo em cidade velha...destoa e de que maneira!.

À pergunta da jornalista Clara Onofre que diz qual foi para si o momento mais marcante dos últimos dez anos em Angola, Feliciano Cangue respondeu sem pestanejar: "o momento mais marcante ocorreu neste ano de 2009 quando se anunciou a criação de seis universidades públicas que se juntarão à única (Universidade Agostinho Neto, UAN) existente para totalizar sete".

Respeito (pois não tenho outra hipótese) a opinião de Feliciano Cangue, mas estou em total desacordo.

Não concordo pela simples razão de estas putativas universidades serem aquilo a que até a bem pouco tempo eram os chamados de pólos universitários da Universidade Agostinho Neto (UAN) e que, por sua vez, não reuniam condições nenhumas para tal.

Muitos destes pólos não passavam de quatro a seis salas sem o mínimo de condições. Ora, universidade é, tanto quanto julgo saber, coisa séria. Tão séria que demanda a existência de uma (boa) biblioteca digna deste nome e de um centro de investigação cientifica.

Das mais de cinco universidades privadas existentes em Angola, a única que tem uma biblioteca como deve ser e um centro de investigação cientifica é a Universidade Católica de Angola (UCAN). Tudo o resto anda a brincar às universidades.

Será crivel, por exemplo, que tenhamos no País universidades (?) que ousem ministrar o curso de medicina sem possuir um laboratório?

Isso revela, na minha modesta opinião, que os estrategas do Governo para área social (Educação) são autênticos brincalhões e que só dizem inverdades ao chefe do Governo.

Isso revela, na minha modesta opinião, que o Governo não está, nem um pouco mais ou menos, preocupado com uma das medulas ósseas de um País que se preze e queira efectivamente crescer, a Educação.

Isto já para não falar da Saúde, que em Angola deixou de ser um Direito para ser um negócio.

Quanto ao resto, estou plenamente de acordo. Estamos (sempre) juntos, amigo Feliciano Cangue.

jorgeeurico@noticiaslusofonas.com
30.12.2009

Fonte: http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=25012&catogory=Brasil

Nota: Há muito que acompanho o trabalho do Jornalista Jorge Eurico. Faz parte de formadores de opinião que fizeram minha cabeça. Já fiz um artigo no passado, publicado no "Club-k" onde deixei, no qual deixei isso claro.

Dele, gostaria muito, mas tive a (in)competência de não conseguir "copiar" a forma inteligente de comunicação que faz utilizando o recurso de parentisis (que apimenta um pouco seus artigos). Vejamos alguns exemplos:

"As (des)vantagens do CAN 2010";

As autoridades (in)competentes têm dito (alto e em bom som para os quatro cantos do mundo) que - depois de ter suado às estopinhas...

Estamos num País onde os tribunais (não) andam a reboque do poder político"
"Vivemos numa Angola onde os juizes (não) colocam o rabinho entre as pernas quando o processo (judicial) envolve figuras ligadas à, ou próximas, Cidade Alta
."

O acompanhei passo a passo no "Arauto I", notícias Lusófonas, de matérias que fez sobre o planalto central etc. Não sei explicar, mas (Jorge Eurico) faz parte de poucos formadores de opinião militantes da atualidade que (até hoje) não trocamos idéias.

"De coração mo irmão"(como diria um brasileiro a seu amigo chegado) foi uma grata surpresa ler o trabalho acima.

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