quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A pobreza e a geração sem asas - Mário Cumandala


Por: Mário Cumandala (Economista)

No Egipto de José, houve previsão de fome. O Faraó de então teve um sonho, e José, o jovem escravo, não só interpretou o sonho, mais propôs soluções. Como reconhecimento de sua visão salvadora, foi comissionado pelo Farao a liderar a estratégia de amenizar esta maldição chamada fome e pobreza, quando ela se apresentasse.

A cimeira da FAO, acaba de acontecer mais uma vez em Roma, mais onde está o José de minha geração? Não pretendo ser depositário dos conhecimentos daquele jovem aldeão, mais simplesmente movido pelo desejo de ser parte do debate. Aqui esta a minha tese.

Existe comida para todo faminto, no planeta terra. O problema é que as pessoas com fome estão presas num círculo de pobreza severa. Eles não possuem recursos financeiros para comprarem comida, por isso estão constantemente mal nutridos, francos e muitas vezes doentes. Isto os torna menos capazes de serem agente económico produtivo. E assim o círculo de pobreza e fome, malditos perpetuam-se dos pais para o filhos… que herança. Esta espiral de descida contínua, se acaba quando eles e suas famílias desaparecem literalmente do planeta terra.

Para muitos, a educação, é e seria o único caminho para escaparem desta maldição de pobreza e fome para eles e seus filhos. A corrente estimativa, é de 32 mil pessoas morrendo todos os dias de fome, ou de doenças relacionadas com a fome e mal nutrição, conforme as Nações Unidas. Acredito que este número inclui, sim Angolanos, que muitos deles deviam ser parte desta grande nação, e a produzirem riqueza. Isto em termos estatísticos, equivalem a uma pessoa em cada 4 segundos. Infelizmente, são as crianças sempre as primeiras vitimas.

Vamos aos números:
· Hoje, quase metade da população mundial, 3 biliões de pessoas vivem de menos de $3 dia.

· O produto interno bruto (PIB) dos 47 países mais endividados do mundo, (população, 567 milhões) e menos do que a riqueza combinada de 7 países mais ricos do mundo.

· Aproximadamente 1 bilião de seres humanos, entraram no século XXI sem poderem ler um livro e assinarem seus nomes.

· Menos de um por cento (1%), que o mundo gasta todos os dias, com compra de material bélico, daria para em 2007, colocar toda criança na escola, mais isto não aconteceu.

·1 bilião de crianças, vivem com fome e em pobreza, (uma em cada duas crianças no mundo).

· 640 milhões de crianças, vivem sem lugar apropriado para as acomodar;

· 400 milhões, não tem acesso a agua potável;

· 270 milhões não tem acesso aos serviços médicos e medicamentosos;

· 11.9 milhões morreram em 2007, antes de completarem 5 anos ou seja 30 mil crianças por dia. Que genocídio!.

Vamos para a própria história do pensamento económico, e tentar desvendar a causa desta hecatombe mundial. E parte do pensamento ortodoxo clássico, de que toda a riqueza, provem dos recursos naturais, e estes, encontram-se no campo. Por isso, por mais de 800 anos, as cidades da idade media, sitiaram as periferias ou os campos, para destruírem a sua indústria de capital primitivo, forçando-os a venderem seus recursos a cidade. Consequentemente, a cidade/estado, combateu as outras cidades/estado, tudo por causa dos mesmos recursos.

As cidades estado/imperiais saíram a conquista de outras cidades imperiais, para o controlo dos recursos e comércio, que eram a fonte de suas riquezas. As nações imperiais Europeias, por isso, colonizaram o mundo inteiro, e até hoje continuam a batalhar, sobre quem deve controlar a fonte e o processo de produção de riqueza.

A Somália será o próximo exemplo. O Golfe do Éden, já está sendo uma dor de cabeça para a movimentação de recursos e riqueza. Hoje fragatas, amanhã bases militares.

As forças militares dos países ricos espalhadas hoje pelo mundo, estão ai pela mesma razão; controlo de recursos, monopolizar tecnologias industriais, mercados de bens e serviços, e a imposição de regras injustas de comércio.

Senão, onde estão os recursos naturais do Japão? Onde estão os recursos naturais da Correia do Sul, Singapura, Hong Kong, Taiwan? Onde estão os recursos naturais da antiga Europa Imperial, que hoje consome quase 20 vezes mais, do que os recursos que se encontram dentro de suas fronteiras?

E os Estados Unido da América, com 5 por centos da população mundial, consomem 30 por centos dos recursos mundiais. E importa notar, que os recursos naturais que geram riquezas, encontra-se no campo e nos países subdesenvolvidos, que são sem duvidas o “countryside” do mundo desenvolvido.

Sequelas: Depois da segunda grande guerra mundial, todo mundo navegava para a liberdade. Os novos lideres Africanos por exemplo, estavam planejando construir uma economia regional e emulando assim os Estados Unidos da América. Aqui esta a razão porque nações ricas de África, e América Latina, como Nigéria, Angola, África do Sul, o Norte de África, Brasil, Argentina, etc, foram constantemente desestabilizadas. Se estas nações, fossem permitidas a desenvolver-se, a meu ver, a riqueza mundial, também estaria nessas nações e não na Europa, América e Japão como e o caso hoje.

A verdade inalienável: virtualmente, toda nação que hoje e desenvolvida, fê-lo em oposição directa, ao desenvolvimento dos chamados politicamente países em vias de desenvolvimento, quando o que eles queriam dizer e mesmo “nações burras”. Isto sem duvidadas, continua a criar um ciclo de dependência aos países pobres, e mergulha-os ainda mais em dívidas com o Fundo, Clube de Paris e a China. Mas esta estrutura, é legal, e no século XXI, ela encarrega-se de assegurar e santificar o direito dos países desenvolvidos ao “pedação” da riqueza dos países pobres e seus exércitos de mão de obra barata. Veja-se isso bem exemplificado nos contratos de partilha dos sectores dos petróleo (PSAs) se em Angola ou em outros países. Salários de USD 2.000 mês, contra os USD 20.000 mês para os membros dos exércitos imperiais em serviço de seus países em Angola. Com este tipo de estrutura podem tanto o Parlamento e conselho de Ministros aprovarem orçamentos de USD 30b, 60b até mesmo 100 biliões, mais efeito económico (multplier effect) desejado que e a distribuição de riqueza, erradicação da pobreza, não serão alcançados.

Perigo permanente: Toda a nação que tentar livrar-se (break out) deste instrumento legalizado por eles (Ocidente), será imediatamente ostracizada, (Zimbabwe) embargados (Cuba, Irao), rapidamente levadas a pobreza e forçadas a voltar para dançar o tango ocidental.

Semelhantemente, aos exércitos expedicionários e cruzadas da idade média, o Fundo Monetário Internacional, (FMI), Banco Mundial, (BM, GATT, NAFTA, WTO, WHO), etc., são estruturas incumbidas de monitorar e obrigar as nações pobres dentro desta dependência.

Lógica: onde estariam a América, se uma nação poderosa, vendesse seus bens provenientes do campo, bem barato e abaixo do preço do mercado? Os agricultores americanos, não conseguiriam produzir e vender, portando iriam a bancarrota. Os fabricantes de matérias de agricultura, não venderiam. Negócios que dependem dos salários desses trabalhadores, também iriam a falência, tudo isso porque seria mais barato importar seus alimentos, do que cultivá-los. O mesmo seria com todas as indústrias.

Se um pais, e incapaz de proteger seu mercado interno, e tiver que importar tudo, como e o nosso caso em Angola, na verdade dentro destas nações, não existem o poder de compra suficiente para suportar a indústria local, e a pobreza portando, encontra assim guarida.

Será, que estas nações pobres, organizando-se em blocos e regiões comerciais fortes, recebendo o valor total de seus recursos naturais e humanos, podiam rapidamente atingir desenvolvimento, e erradicar a pobreza?

A meu ver os tais intelectuais, e economistas de fama internacional dos países ricos, muito embora honestos e querem acabar com a pobreza, não podem produzir soluções douradoras para os países pobres. Eles nunca vão defender o facto de que suas nações colocaram nossos países no ciclo de dependência que leva a pobreza e fome.

Finalmente se houver um abandono total no mundo desenvolvido de suas operações de desestabilização, violência e começarem a compartilhar os recursos e a riqueza que eles produzem, de forma justa e equitativa, a pobreza e fome, podem sim ser eliminados ainda em minha geração.

Luanda, 19 de Novembro, 2009

2 comentários:

  1. Obrigada Dr Cangue.
    Obrigada pela sua sabedoria.
    Deus o abençoe.
    Loma

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  2. Que Deus nos abençõe (a todos nós). Agradeço novamente sua participação.

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