terça-feira, 27 de outubro de 2009

A UNITA, a Constituição e a imprensa - João Melo


Por João Melo

A UNITA fez uma jogada de relações públicas básica e elementar: preparou um documento, em forma de matriz, com as supostas diferenças entre o seu anteprojecto de Constituição e o do MPLA: 53 no total. Em seguida, distribuiu-o aos meios de comunicação social. O maior partido da oposição não fez senão o seu dever.

Lamentavelmente, a quase totalidade dos órgãos de comunicação não fez o deles.Eu explico-me. Até onde eu li, o único jornal diário do país (estatal) [Jornal de Angola, acréscimo nosso] não fez uma menção sequer ao documento da UNITA.

Pessoalmente, já estou cansado de dizê-lo: além de anti-democrático, isso é um erro. Em contrapartida, a maioria dos jornais privados deu idêntica demonstração de que lhes falta uma postura rigorosamente democrática e profissional, embora de sinal contrário.


Com efeito, tais meios pegaram no press release do partido de Isaías Samakuva e chaparam-no nas suas páginas como se, à primeira vista, de um trabalho seu se tratasse; não destacaram, como deviam, que aquele era um documento da UNITA e, menos ainda, procuraram o partido visado para comentá-lo, propiciando assim o recomendado contraditório.

Qualquer um que tenha umas luzes sobre comunicação de marketing (incluindo, portanto, o marketing político) sabe que as redacções têm um funcionamento burocrático e tendencialmente preguiçoso, pelo que a propensão para o “jornalismo administrativo” é quase geral, em especial nos dias de hoje, em que os jornais têm a forte concorrência dos meios electrónicos (rádio, televisão e Internet).

Eu explico o que é o “jornalismo administrativo”: é aquele que se limita a reproduzir o material promocional (comunicados, press releases, etc.) recebido das fontes, sem buscar o contraditório e sem cruzá-lo com outras fontes. Não é à toa, por isso, que, presentemente, as re-lações públicas são cada vez mais eficientes (e mais baratas) do que a publicidade tradicional.

A Constituição é um assunto muito sério, a que a imprensa, necessariamente, de-ve prestar a máxima atenção e cobertura. Mas, como jornalista profissional há 35 anos (de momento emprestado à política) e também como professor de marketing e comunicação, não resisto a acrescentar que os meios de comunicação, se realmente estiverem interessados em tratar desse tema da forma o mais completa e objectiva possível, precisam, desde logo, de destacar os seus melhores jornalis-tas políticos para o acompanharem.

Além disso, estes últimos têm de estudar a sério o assunto, ouvindo, sempre que necessário, os especialistas, para não servirem muitas vezes de meros altifalantes de afirmações ignorantes ou deliberadamente mistificadoras.

Se os jornais se quiserem posicionar sobre o debate constitucional em curso, devem fazê-lo em editorial ou em artigos de opinião devidamente assinados (com o nome próprio).

Mas pegar em declarações dos actores directamente interessados nesse debate (os partidos) e transformá-las, por vezes, em manchetes, sem o cuidado elementar de colocá-las entre aspas ou, pior, ainda, transcrever na íntegra documentos produzidos por esses actores, sem ouvir outras fontes, não abona a favor da competência profissional (para já não mencionar a integridade) dos meios e jornalistas que assim procederem.

Uma nota final acerca de uma manchete de primeira página publicada na última edição do semanário que gentilmente abriga esta coluna:”MPLA vota Constituição sozinho”. É mentira. O que se passou é que a Comissão Técnica, no cumprimento de um mandato da Comissão Constitucional, aprovou no dia 30 de Setembro os três anteprojectos que deverão ser submetidos a debate público, dos quais o último (resultante da fusão entre as propostas do MPLA e da Nova Democracia) defende a eleição do presidente da República no quadro das listas partidárias, em eleição directa conjunta para o parlamento e a presidência.

Os referidos anteprojectos foram aprovados por todos os membros da Comissão Técnica, excepto o último, que não contou com os votos dos técnicos indicados pela UNITA, que faltaram à reunião (mas os do PRS, por exemplo, aprovaram-no). Os meios que quiserem saber a verdade poderão requerer à Comissão Técnica as actas referentes ao assunto.

É imperioso esclarecer o público que ainda não se trata da Constituição. São três anteprojectos, reflectindo três grandes matrizes, as quais vão agora a discussão popular. A pergunta, portanto, é: quem não está interessado em discutir, mas, sim, pretende insistir em velhas estratégias de bloqueio, que já fizeram os angolanos perder tanto tempo?

Fonte:http://www.angola24horas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1377:a-unita-a-constituicao-e-a-imprensa&catid=14:opiniao&Itemid=24

Felizes da vida, vamos construindo pedra a pedra o nosso Estado democrático totalitário - Ismael Mateus


Por Ismael Mateus

Luanda - Pouca gente percebe porque razão o mesmo MPLA, que opera mudanças na economia ou nas infra-estruturas, demonstre tanta dificuldade em adoptar práticas mais democráticas na sua acção politico- partidário e governamental. O que se passa afinal? O que realmente impede o MPLA de se democratizar mais e democratizar mais a sociedade?

Não basta existirem partidos políticos ou jornais privados. Não basta termos instituições formais. É preciso mudar a mentalidade de partido único e implantar, a todos os níveis, uma cultura da diversidade. Diversidade de opinião, de pensamento, de acção, de formas de ver os problemas e o país. É essa cultura da diversidade que gera uma disputa qualificada, propostas de governo, leis e decisões mais qualificadas que, por sua vez, geram também dirigentes de melhor qualidade. Algumas pessoas falam da falta de cultura democrática dos dirigentes do MPLA mas, para nós, esse é um argumento frágil.

Do topo à base, o partido está recheado de quadros competentes e genuinamente democráticos. Muitos deles também têm dificuldade em compreender a dificuldade de adopção de práticas que levem a uma maior liberdade do pensamento, a debates sobre a ideologia e a práticas mais modernas. Ninguém compreende o unanimismo, a não eleição por voto secreto, a ausência de múltiplas candidaturas e a ausência de correntes de opinião. É uma democracia à MPLA, sem uma disputa eleitoral interna clara, transparente e livre. Quando hoje os partidos já falam em voto directo dos militantes, em disputas primárias e eleição electrónica, a ‹‹democracia interna›› baseada no bilhetinho, na indicação superior e no braço no ar remete o maioritário a um estágio rudimentar de evolução democrática, o que acaba por se reflectir, naturalmente, na sua condução do país.

Algumas das acções do MPLA são mesmo de um atraso quase pré-históricas e aprisionam o país a essa democracia rudimentar. Os comités de especialidade, por exemplo. A sua existência subordina o saber técnico e os interesses da classe profissional à vontade política. Através deles, um médico, um engenheiro ou um jornalista não precisa, mesmo para representação da classe, de ser reconhecido pelos seus pares. Pode até nem ser conhecido pelos seus colegas. Entra em cena o comité do MPLA que, pela sua militante e só por isso, faz desse médico, engenheiro ou jornalista um líder ou representante de uma classe que não o conhece nem reconhece como um dos seus melhores técnicos. Torna-se um técnico de grandeza e competência reconhecidas por militância. São esses médicos do partido, engenheiros do partido, jornalistas do partido e generais do partido, que dirigem o país no topo e a nível intermédio. Os resultados em termos de competência profissional estão à vista.

Nomear os reitores das universidades, quando já se instalava uma cultura do voto nos meios académicos, não é antidemocrático, tal como não é votar com o braço no ar no grupo parlamentar. Mas reconheçamos que alguém que queira assumir um cargo académico necessita de autonomia de pensamento e liberdade académica. A nomeação política dos reitores é, à partida, um condicionamento dessa autonomia. Quem quiser, merecidamente, chegar a reitor não precisa mais de fortalecer a sua carreira ou apresentar um projecto académico inovador que conquiste o respeito e o eleitorado. Agora, basta circular pelos andares do Kremlim, inscrever-se num comité de especialidade e esperar cair nas graças do secretário de Estado. O MPLA retrocedeu aos tempos da nomeação política, colocando os reitores à mercê, outra vez, do aval político e, de uma forma mais presente, condicionando a liberdade académica. A competência de avaliar o mérito e a qualidade do candidato deixa de pertencer à academia e passa a ser da alçada discricionária de um político.

É um óbvio retrocesso do processo democrático. Nada disso tira o mérito pessoal de muitos dos nomeados nem a certeza de que muitos deles vão fazer um excelente trabalho. Mas mesmo esses, fazendo ou não bom trabalho, viverão com uma espada política sobre as suas cabeças. Uma entrevista menos conseguida, uma opinião técnica menos simpática ou até a má disposição de um político pode custar-lhes o cargo. Não tarda vão começar a aparecer as teses sobre os discursos ou sobre o papel visionário deste ou daquele, os prémios honnoris causa e as moções de apoio e agradecimento aos governantes. Por outras palavras, mesmo que alguém ascenda por mérito, isso não é uma conquista directa e pessoal mas sim por interposta pessoa do mesmo modo que o não ter mérito nada importa se essa pessoa entender elevar alguém à categoria de reitor. Quanto isso vai custar ao país? Que repercussões teremos disso ao nível da qualidade das insti-tuições e do ensino?

Os primeiros secretários do MPLA foram indicados pelo secretariado do Bureau Politico. O vice-presidente da República vai ser indicado. O presidente da JMPLA, que é o viveiro do partido maioritário, foi indicado e foi candidato único e de preferência oriundo da mesma região do seu antecessor. E assim por força desta prática não há dirigente intermédio que possa reclamar legitimidade própria conquistada pelo voto. Todos têm uma instrumental dependência das estruturas superiores. É assim que se garante o unanimismo. Quem se atreve a estar em desacordo sabe que a sua futura nomeação passa a não estar garantida e o seu nome deixa de constar entre os indicáveis, seja para o que for. É um estado clientelar, é verdade, mas, mais do que isso, é um caminho para o totalitarismo. Já temos um culto de personalidade de tal ordem que se confundem símbolos do país com caras de pessoas.

A inclusão de caras, sejam elas de quem for, num documento pessoal dos cidadãos, num documento de futuro e de união dos angolanos mostra a cegueira que se vai instalando. Olhemos para a história mundial. Este é um filme que já vimos a acontecer, tal e qual, até com os movimentos patrióticos de defesa dessas ideias. Estamos com indícios que nos podem levar a um estado ‹‹democrático›› totalitarista, um único partido, um único pensamento, uma única forma de ver a vida e os problemas. A persistente manipulação da imprensa pública, o acesso condicionado a quem não seja do sistema; o uso do voto democrático para a concentração e acumulação de poderes individuais são sintomas sérios que devem ser lidos com a devida atenção. Até algumas respostas às críticas parecem as mesmas. Nalguns casos da história mundial recente, quando eram feitas críticas à falta de democracia, os governantes respondiam apontando para o número de obras que se erguiam. Não é que elas não existam, mas parecenos um exagero dar exemplos de estradas quando se fala de liberdade de pensamento e correntes ideológicas.

As tristes novelas da liberdade condicional de Fernando Miala e da pressão à Luísa Rogério, só para citar estes, demonstram que nem mesmo a justiça consegue fugir ao receio de não agradar ‹‹às estruturas superiores››. Os grupos de grande credibilidade na sociedade - como os juristas e os professores universitários - estão a prestar um péssimo serviço ao país. Esses juristas e professores universitários funcionam como os coveiros da democracia. Alguém a mata brutalmente, mas são eles (sobretudo os mais jovens, aspirantes a qualquer coisa e a qualquer preço) quem vêm retocar o cadáver, até parecer que foi uma morte natural, necessária e feliz. Sabem que assim os seus nomes passam a figurar entre os indicáveis. É o tal viveiro de que se fala na Jota e fora dela.

Na economia, o quadro é o mesmo. Com o aval do sistema, alguns escolhidos fizeram-se grandes empresários. Uns têm o bom senso de reinvestirem no país, darem empregos a angolanos e contribuírem para o crescimento do país. Outros nem isso. Resolvem insultar-nos a todos ao usarem o nosso dinheiro, que lhes foi parar às mãos sem qualquer mérito, para contratarem estrangeiros sem qualquer valia técnica e pessoal. Ninguém discute tais coisas no MPLA. Nem a origem da riqueza nem o compromisso com a economia nacional. Nem sequer o papel, diríamos até a obrigatoriedade moral de formar gente nossa, trabalhar com angolanos e possibilitar e gerar mais riqueza a outros angolanos.

Felizes da vida, vamos construindo pedra a pedra o nosso Estado democrático totalitário que, como em muitas coisas, é uma criação nossa, tal como a mentalidade do silencio ‹‹xe menino, não fala política››. Depois dos intelectuais, dos juristas, dos jornalistas, dos professores universitários e dos magistrados, só falta a igreja acreditar e nos fazer acreditar que essa democracia rudimentar é abençoada por Deus. É preocupante ver já tantas igrejas e tantas mensagens de elogio e o uso dos púlpitos para agradecimentos e elogios ao governo. Parece que alguns lideres morais começam também a sentir a necessidade de elogiar, agradar para que as estruturas superiores concedam mais apoios, mais terrenos e mais atenção às igrejas. O problema não é obviamente o elogio, mas a falta de críticas quando há críticas a fazer e a eventualidade do recurso ao elogio para possíveis benesses do Estado. É um caminho sinuoso.


Será mesmo isso que nós queremos para o nosso país?

Fonte:Semanário angolense. EDIÇÃO 339 · ANO VII, Sábado, 24 de Outubro de 2009.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Celso Malavoloneke é contra a partidarização do Jornal de Angola






Por Celso Malavoloneke

Ao Caríssimo José Ribeiro,
Director do Jornal de Angola,

Tomo este espaço para traçar estas breves linhas para, antes de mais manifestar a minha solidariedade e espírito de coleguismo para si e a pléiade de profissionais que dia a dia labutam para trazer o nosso matutino às ruas. Quem sabe destas lides – eu certamente menos que a maioria da malta aí – sabe também que esta não é hoje, nunca foi antes uma tarefa fácil. Exige valentia, galhardia, sacrifício e sobretudo muito amor a esta profissão de jornalista que muitos já rotulam como a área parente pobre das ciências de comunicação: mais pobre certamente que as relações públicas, mais incompreendida e menos compensatória que a publicidade.

Por isso, o meu reconhecimento sincero a todos os colegas – e não vou cometer o erro de esquecer os profissionais que não sendo exactamente ligados à área do jornalismo, como os paginadores, os técnicos de informática, os administrativos e outros, tão indispensáveis são para que toda a máquina funcione e “de manhã-manhãzinha” o Jornal esteja nas ruas de Luanda e voando para todo o País – o meu reconhecimento sincero, dizia, é sobretudo de um grande admirador vosso.

Porém, em jeito de senão sem bela, caro Director, aproveito o ensejo de ir-me confessando gradualmente surpreendido – e não é exactamente uma agradável surpresa – com assumido pendor unilateralista das matérias por vós tratadas. Percebo isso, seja no volume das matérias ligadas ao partido maioritário, em relação aos da oposição, seja na relação entre as organizações da sociedade civil mais pró-governamental em relação à mais “independente” (as aspas são propositadas).

Ocorre-me então que esse fenómeno seja fruto de uma acentuada auto-censura de jornalistas que não queiram ser percebidos como simpatizantes com factos, eventos, instituições ou indivíduos “fora do sistema”, por um lado, ou então por aqueles outros, às vezes investidos de funções de direcção ou chefia que acham – e da sua sinceridade ninguém tem certamente sequer o direito de duvidar – que pelo facto de o vosso e nosso Jornal ser sustentado com fundos públicos, assim deve proceder. Ou ainda que dirigentes do Governo assim também pensem e exerçam o seu poder para vetar as informações ligadas à oposição ou a correntes divergentes das oficiais. Ou um bocado destas e doutras coisas semelhantes. Seja o que for que esteja por trás disso, representa uma mancha ao excelente trabalho que fazeis todos os dias e essa será talvez a maior razão que me leva a escrever-vos estas linhas.

Sei que o caro José Ribeiro, com a verticalidade e coerência que o caracteriza e com a experiência que tem demonstrado concordará comigo que exactamente pelo facto de o JA ser um órgão público deve fazer o seu melhor para levar a Informação a todos os cidadãos, incluindo aqueles que não votaram no partido actualmente no Governo. Porque apesar deste facto, eles também contribuem para o seu sucesso com os seus impostos e isso dá-lhes o direito de sentirem-se incluídos no processo de “gatekeeping”.

E parece-me que o argumento da falta de matérias noticiosas é constantemente desmentida pelos líderes da oposição e da chamada sociedade civil “independente”, pelo que talvez um esforço no alcance destas fontes redundasse na melhoria do vosso já excelente trabalho. A situação como está cria suspeições, vicia o jogo democrático porque dá a impressão de querer-se manipular a Informação – um sacrilégio em todas as escolas modernas de jornalismo, a não ser que justificadas pelo interesse público, o que nesse caso peca pelo inverso.

As recentes declarações do líder da UNITA, acrescidas às de outros líderes da oposição – as conferências de imprensa desse partido poderiam por exemplo ser melhor cobertas para que as suas mensagens fossem melhor percebidas – assim como as queixas de variados sectores da nossa sociedade, por recorrentes acabam por manchar o nosso jornalismo.

Com essa mania de sentir-me um apaixonado por essas coisas da comunicação social – curvo-me entretanto ao facto que em Angola como em África a idade e a experiência são um posto que todos devem respeitar, ao que no caso do caro Director junto uma consideração pessoal muito especial – tomo a iniciativa de escrever estas linhas com pedido de publicação, na esperança suscite uma reflexão já necessária sobre estas coisas. No caso do JA para um jornalismo não apenas de qualidade e referência técnica, mas também isento, plural e construído na ética que sustenta a beleza de fazer jornalismo. Apesar de tudo. Apesar de todos.

Termino expressando a minha esperança que não se melindrem comigo e publiquem estas linhas. Claro, como todos os motes para reflexão só valem por isso mesmo. Motes de reflexão e pouco mais...

* Celso Malavoloneke, Comunicólogo, Coordenador Adjunto da Licenciatura de Comunicação Social e Relações Internacionais da Universidade Privada de Angola – UPRA

Fonte: Club_k, Domingo, 18 Outubro 2009 11:55
http://www.club-k-angola.com/index.php/about-joomla/the-community/3698-celso-malavoloneke-escreve-a-jose-ribeiro-para-chamada-de-atencao-da-linha-partidarizada-do-jornal-de-angola.html


Resposta

A sua carta foi recebida no nosso correio electrónico com a classificação “indesejada”. Vá-se lá saber porquê, o sistema, neste caso o tecnológico, prega-nos também destas partidas. Recusamo-nos, no entanto, a ceder aos ditames da tecnologia e publicamos a carta que cordialmente nos escreveu, em tom muito diferente dos “mimos”, muitos dos quais injustos e até ofensivos, com que nos tem brindado no Semanário Angolense. A reflexão serena e madura é incompatível com o insulto.

No fundo o que está em causa na sua carta é saber se devemos dar crédito a mais uma posição manipuladora da UNITA contra o Jornal de Angola. Essa posição foi manifestada, uma vez mais, nos últimos dias. Se antes Samakuva se queixava do Jornal de Angola não cobrir as suas actividades, hoje exige do jornal uma “melhor cobertura” das suas conferências de imprensa. Muita coisa mudou em Angola e na imprensa angolana, a única que parece não mudar é a UNITA.

Como bem diz o senhor, o líder desse partido pretende manchar, sem qualquer legitimidade, o jornalismo feito pelo 0, que se tem vindo a afirmar, com muito esforço, como um jornalismo abrangente, responsável e influente. E isso não agrada à UNITA e aos políticos desonestos. Se os padrões de jornalismo do líder da UNITA são o “Terra Angolana” e a “Rádio Despertar”, estamos mesmo a ver para onde Isaías Samakuva gostaria de conduzir-nos.

Uma das práticas que norteiam o jornalismo feito pelo Jornal de Angola é a prática do exemplo e da ética. Gostaríamos de ver os profissionais de outras esferas, incluindo políticos e académicos, fazer o mesmo. O Estatuto Editorial do Jornal de Angola assenta em princípios e técnicas do bom jornalismo, universal, imparcial e objectivo que o senhor, como comunicólogo e coordenador da licenciatura de Comunicação Social da Universidade UPRA, deve conhecer muito bem.

Se procurasse investigar os factos que estão aí ao alcance de todos, melhor do que ninguém perceberia que os ataques que a UNITA faz ao Jornal de Angola nada têm a ver com a auto-censura dos jornalistas ou a má qualidade do jornalismo ou ainda o “gatekeeping”, mas com a tentativa de aproveitamento político de um partido que sempre teve da imprensa nacional e internacional uma noção “instrumentalista” e “lobbista”, o mesmo que gostaria de fazer com o Jornal de Angola. É disso apenas que se trata.

Somos suficientemente humildes para sermos os primeiros críticos do nosso trabalho. Temos procurado corrigir o que está mal e fazer o melhor que podemos, mas não aceitamos pressões políticas ilegítimas como as que a UNITA tem vindo a fazer sobre o Jornal de Angola.

Quanto à qualidade e referências técnicas a que se refere, deve saber, com certeza, que alguns dos 50 (cinquenta!) Licenciados que a UPRA acaba de “lançar no mercado” vieram ao Jornal de Angola oferecer a sua colaboração. Deve saber também que o Jornal de Angola teve de recorrer a um profissional de jornalismo de longa data, apenas para ensinar a esses jovens licenciados o que há de mais básico no jornalismo, tão fraca é a sua formação. É uma tarefa que nos dá muito prazer, formar licenciados que saem das Universidades, mas creia que ajudaria imenso à qualidade do Jornal se os licenciados nos chegassem melhor preparados. Como vê, o problema está, fundamentalmente, no “newsmaking”.

Finalmente, a ideia de que os órgãos do Estado devem fazer jornalismo equilibrado e os órgãos privados mau jornalismo é uma ideia perigosa. Não é segredo para ninguém que muitos órgãos privados também recebem fundos públicos. A UNITA, por exemplo, recebe fundos públicos e nem por isso se esforça por oferecer um serviço de qualidade. Antes pelo contrário.


Lamento aberto à direcção do Jornal de Angola - Celso Malavoloneke

Luanda - No passado dia 18 de Outubro, enderecei uma carta ao Director do Jornal de Angola, onde entre outras coisas fazia alguns “motes para reflexão” como então chamei a alguns reparos técnicos. Quis na altura e quero agora ressaltar o profissionalismo e espírito de missão dos colegas desse nosso único diário, quase todos eles amigos, camaradas, companheiros de muitas lutas, enquanto juntos fazemos “as estórias e a história do nosso jornalismo” como diria o saudoso Sebastião Coelho. Por isso, tomo um extremo cuidado nesta carta aberta que é afinal um verdadeiro lamento, para jamais ferir estes camaradas de trincheira com essa mágoa que me vai no peito.

A minha carta mereceu uma resposta “da Direcção do Jornal de Angola”. As aspas devem-se ao facto que de tão malcriada, arrogante e ofensiva, duvidei desde o princípio que ela tivesse originado do diplomata urbano, afável e probo que é o José Ribeiro, ou do humilde e competentíssimo mestre que é o Filomeno Manaças, ou outro qualquer dos membros do Conselho de Direcção do Jornal de Angola que eu conheço e que me conhecem. Uns poucos telefonemas chegaram para dar-me razão, dali o cuidado neste lamento. A dita resposta foi parida por um “apêndice anómalo da própria Direcção” como frizou humorísticamente um jornalista sénior daquela casa. Mas mandam as regras que seja ao Zé Ribeiro que enderece este lamento, até porque a ele cabe a responsabilidade primeira e última na selecção de quem em seu nome fala e do JA também. Podendo como contribuinte imiscuir-me se calhar nisso, deixo no entanto estar. Já me basta ter que dizer públicamente a um dos maiores mestres deste nosso “pobre” jornalismo que a sua habitual elevação não se coaduna com a arrogância da tal “resposta” que de tão soez, ataca os próprios jovens que ao longo da sua vida prima como poucos por formar. Com a vida, com a palavra, com as obras. Mas lá chegaremos...



Como sabem, não sou, nunca fui membro do partido UNITA, assim como nunca fui nem sou membro do MPLA ou de qualquer outro partido político. Sou e sempre fui uma pessoa com um passado humanitário, cívico e profissional com o qual me identifico e cujo presente satisfaz-me plenamente. De formas que quando escrevi aquela simples missiva que quis “mote para reflexão” não o fiz em nome da UNITA, apesar de ter referenciado uma intervenção do seu líder que me pareceu oportuna. Dali que não faz qualquer sentido que ela tenha sido usada para um ataque – desnecessário, descabido e soez, na minha opinião – contra este partido. Tive ao longo de mais de 20 anos o privilégio de privar, trabalhar, pensar e construir Angola com membros lídimos de qualquer destes dois partidos e posso afirmar que todos eles, sem excepção, são patriotas que amam este País e por ele dariam quiçá a vida. Não devemos confundir a luta política que eles fazem – aliás benéfica à democracia – com ódios viscerais de qualquer espécie. De formas que, vindo da Direcção do Jornal de Angola, um órgão público, aquilo não ficou bem. É minha esperança que o Director Ribeiro e o próprio Ministério da Comunicação Social identifiquem o autor do rascunho da tal resposta e o submetam a uma lavagem profunda na banheira de democracia que estamos a encher com tanto sacrifício. Isso se for angolano. Se não o for, mandem-no embora, que é mal gasto o dinheiro e benesses gastos com arautos das tempestades que já tanto mal nos fizeram. É que, da mesma maneira que, hoje por hoje, já não importamos as bananas da América porque podem trazer-nos doenças, porque haveríamos de importar jornalistas que trazem-nos o ódio, a intolerância e o buçalismo que impede-nos de discutir em paz as nossas diferenças?



De formas que, Senhor Director, escrevi aquela carta na condição de mim mesmo e – com orgulho e humildade o digo – do primeiro filho desta terra que as nossas universidades pariram enquanto técnico superior de Comunicação Social. O dia que atitudes como essa que lamento ou a minha própria consciência me fizerem optar por um partido (e a UNITA ou o MPLA podem ser um deles ou outro ainda que nem exista) assumi-lo-ei. Então falarei em seu nome se para isso tiver prerrogativas e quem responder poderá insultá-lo e vilipendiá-lo como quiser na certeza porém que receberá a resposta adequada. Mas não sendo esse o caso, um pedido de desculpas da vossa parte à UNITA – que aliás não é um “meio de comunicação privado” como diz a dita “resposta”, mas um partido político que tem direito aos fundos públicos pelos votos que obteve e se faz ou não um bom serviço isso é problema dos seus militantes e não nosso – ofendida por algo com que não tinha nada a ver, ficaria mais conforme à probidade dos verdadeiros homens que compõem a Direcção do Jornal de Angola. Dos outros não sei, nem quero saber.



Quanto aos recém licenciados em Comunicação Social da UPRA: Caro Director Ribeiro, algo está muito mal nisso tudo. Essa baixeza não é sua, nunca foi vossa, eu não compreendo realmente o que pretenderam em assim destratar os jovens, mulheres e homens que dia a dia galhardamente procuram melhorar a sua formação. Se eles não saem da UPRA bem formados, nós os patriotas responsáveis sabemos que isso deve-se às más opções que a nossa geração (a vossa mais que a minha, creio, por força da idade) fizemos depois da Independência. Portanto, a culpa não é deles mas tão nossa que devemos-lhes as desculpas que a sua generosidade nunca nos pediu. Por isso é que, nós que assumimos essa responsabilidade sem medos nem complexos, lutamos dia a dia, algumas vezes sem bibliografia, outras vezes sem docentes sem salas condignas, algumas vezes ainda com salários atrasados para corrigir isso mesmo da única maneira que sabemos: trabalhando com coragem e espírito de missão patriótica. Dali que esse ataque – estranhamente parecido ao discurso habitual nos colonos saudosistas beberricando aguardente nas tabernas das margens do Tejo, graças a Deus uma (má) espécie em vias de extinção – doa mais ainda vindo de alguém como o senhor que até agora ocupou um lugar importante nesta luta.



Talvez aqui coubesse uma nota de esclarecimento: Nem as três instituições académicas superiores que ministram cursos de Comunicação (a UPRA, a Faculdade de Letras da UAN e a Universidade Independente) puseram ainda 50 licenciados no mercado. Quam nos dera que assim fosse. Serão uns vinte, se tanto, entre os quais alguns jornalistas séniores do JA que não são maus jornalistas não senhor! E aos quais duvido que o tal “profissional de jornalismo de longa data” (pobre dele!) tenha alguma lição a dar a não ser de missivas como esta. E esse exíguo número deve-se exactamente ao rigor que procura-se imprimir na outorga do grau de licenciado. Dir-nos-ão que os nossos cursos superiores são piores que os da Sorbonne, Coimbra ou Lisboa onde uns e outros andaram. Não responderemos, por razões óbvias...

Resumindo: Se fui eu quem escreveu a tal ben(mal)dita carta, porquê não atacar a mim ao invés de fazê-lo a jovens que estão a fazer o que nós fizemos quando éramos da sua idade, isto é, formar-se com sabe Deus quanto sacrifício? Porque não dizer então que eu sou mal formado (apesar de 20 anos de carreira em organizações internacionais incluindo as Nações Unidas) não sei falar ou escrever português (faço-o em cinco línguas nacionais e três internacionais, graças a Deus) ou porquê não se assume então os complexos de alguns “cooperantes” e assumimos de uma vez por todas que os formados neste país não prestam?

E fico-me por aqui. Lamento deveras ter tido que escrever este... lamento. Deus é testemunha do quanto faria para não ter que fazê-lo. Mas acontece que a terra é muito nossa, por ela lutamos e sofremos, e o Jornal de Angola também – e isso não é negociável. É da nossa terra, é nosso, é parte importante na construção da nossa angolanidade, da nossa nacionalidade por isso a todos os angolanos diz respeito.

E em nota de rodapé, Director: Que estória é essa de eu ser “indesejado” no vosso sistema informático – se é que é só nisso...? E quantos outros angolanos, para além de mim estão na mesma “categoria? Em termos de gestão de um órgão de informação ké’isso?!? Alguma disa qualquer? Não será por essas e por outras que os líderes da Oposição e arredores queixam-se do que se queixam?

Bem, no que me diz respeito eu lhe peço, de joelhos se preciso: Tire-me daí!!!


Semanário angolense entra na Briga

O regresso de «outros tempos» no Jornal de Angola

A vergonhosa reacção do Jornal de Angola a sugestões do professor universitário Celso Malavoloneque confirma aquilo que muitos já sabiam: o único diário oficioso do pais é inteira e exclusivamente controlado por estrangeiros. Ali, os angolanos, aqueles que aguentaram o jornal nos momentos mais difíceis por que passou este país – e está a falar-se de um Manaças, de um Oswaldo, de uma Luísa Rogério, de um Ambrósio Clemente, de um Aleluia, etc. etc. – perderam completamente espaço. Ao que parece, o próprio director geral da publicação, António José Ribeiro, tornou-se refém de dois expatriados que, pasme-se, ele próprio contratou como seus assessores. De outro modo, o Jornal de Angola não teria aquela surpreendente reacção a sugestões de um angolano que pretende que uma entidade pública preste melhor serviço à sociedade. Depois de mais essa vergonhosa submissão a dois estrangeiros, o que dirão o MCS e o próprio MPLA? Assobiarão para o lado? ■

Semanário angolense: EDIÇÃO 339 · ANO VII, Sábado, 24 de Outubro de 2009.

sábado, 17 de outubro de 2009

Porquê os generais não escrevem?


Enquanto sul-africanos, portugueses, cubanos e norte-americanos se dedicam a escrever sobre o mais recente período da história do nosso país, entre as nossas quatro paredes o deserto é assustador neste capítulo.

Ou seja não há quase nada escrito por parte daqueles que conduziram as operações à testa tropas governamentais. Numa só palavra: não há uma visão do «lado de cá» sobre a longa guerra civil iniciada em 1975.

Não se sabe se por alguma «ordem superior» ou se por incapacidade intrínseca dos próprios, o facto é que nenhum oficial subalterno ou superior das antigas FAPLA tomou algum do seu tempo para registar em memórias um período tão intenso e importante tanto para eles quanto para o país. Em boa verdade, de tão ocupados com os seus negócios privados, a nata do generalato das antigas FAPLA hoje parece ter-se esquecido completamente do passado. Negócios de diamantes, construção civil, petróleo, pescas, segurança privada, aviação civil, banca, etc., etc., hoje não permitem que os antigos cabos de guerra das FAPLA libertem algum do seu tempo para dar a sua versão ou partilhar com outros angolanos as suas perspectivas sobre os últimos 30 anos do país, marcados por uma guerra de que eles não foram meros testemunhas.

Não se devendo perder de vista que a esperança de vida dos angolanos do sexo masculino é actualmente de 42 anos, barreira que muitos dos generais que estiveram na guerra já ultrapassaram faz tempo, estando agora a viver praticamente de «borla», pode ser que não haja tempo para eles dizerem de sua justiça e verdade sobre o que efectivamente viveram e sabem.

Há quem sustente que a pouca qualificação académica de alguns dos generais que lideraram as épicas batalhas contra o exército sul-africano seria um intransponível obstáculo para registar em livro as suas experiências. Não é de menosprezar de todo essa possibilidade. Afinal, são do conhecimento público episódios de que em plena frente de combate não puderam, por exemplo, localizar com certeza a posição do inimigo no mapa porque não sabiam fazer a conversão da escala de 1 para 1,5 milhões.

Mas país que se preze não pode perder a sua memória por tão pouco. Historiadores, sociólogos e até mesmo jornalistas, por exemplo, podem perfeitamente cobrir a falta de luz. Bastaria que tais generais e outros intervenientes nas guerras se predispusessem a dar os seus honestos depoimentos. É assim que se faz em todo o mundo e mesmo em Angola tal prática não seria inédita, sendo exemplo disso mesmo o livro lançado o ano passado pelo general reformado da UNITA Samuel Tchiwale, com assinalável sucesso.

Ao centrarem as suas preocupações mais nos negócios relegando para último plano uma tarefa tão ingente como é a de contar aos angolanos a sua verdade sobre a história recente do país, os oficiais generais e superiores que serviram as tropas governamentais estão a prestar um péssimo serviço à pátria e principalmente às gerações vindouras.

Da forma célere como a carruagem do tempo anda, daqui a 30 anos, quando os generais das FAPLA e das FAA estiverem sete palmos abaixo da terra (afinal, são comuns mortais), a história recente de Angola poderá ter apenas uma versão, a dos generais sul-africanos, que proclamam esmagadoras vitórias sobre as forças governamentais angolanas. Como é óbvio, isto pode apagar todos os triunfos reclamados pelo governo de Angola, o que é uma pena, porque não poucas as pessoas que sabem que em muitos casos as versões sul- africanas são fantasiosas.

Por isso mesmo aos oficiais generais do «lado de cá» impõe-se a obrigação moral de fazerem a sua parte. Nada os substituirá. Por mais melhores esforços que façam os historiadores e pesquisadores.

Numa empreitada como esta, o próprio MPLA não pode colocar-se acima de muro.

Reclamando ser «dono» de mais de 4 milhões de militantes, muitos deles participantes directos das mais emblemáticas batalhas travadas neste país, ao MPLA também impõe-se a obrigação de pedir à legião dos seus seguidores um contributo activo para que a história recente de Angola seja escrita de acordo com a visão daqueles que a fizeram. ■


Fonte: SA, EDIÇÃO 338, 17 de OutubrO de 2009

TPA, Rádio Nacional e Jornal de Angola, são obstáculo à democracia


O Presidente da UNITA foi mais longe desta vez, nas suas críticas à chamada imprensa pública angolana. Isaías Samakuva afirmou que “a TPA, a Rádio Nacional e o Jornal de Angola tornaram-se nos principais obstáculos ao amadurecimento da democracia angolana”.

O líder do maior partido da oposição falava num encontro com deputados da UNITA, na véspera do início da segunda sessão legislativa da legislatura inerente ao mandato de 2008 a 2012.

“A Assembleia representativa de todos os angolanos não pode permitir que estes órgãos, que pertencem a todos os angolanos, continuem a atentar contra o pluralismo de expressão, que é um dos fundamentos da República de Angola” - sublinhou.

Samakuva insiste que “não há liberdade na imprensa pública”. Do seu ponto de vista, “o Governo deixou de dialogar e asfixiou a democracia”, ao invés de reforçá-la.

Responsabiliza ainda o governo pelas assimetrias entre os angolanos. “Ao invés de promover a unidade nacional, o Governo aumenta o fosso entre ricos e pobres, promove as desigualdades e institucionaliza a exclusão social.”- reforçou.

Uma marginalização que atribui àquilo a que chama de filosofia do Governo, segundo a qual,“quem não está connosco é contra nós”.

Apostolado

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cresce o número de blogueiros angolanos


A força dos blogues angolanistas não dá mais para se esconder. O Jornal de Angola se rendeu a essa realidade.

Num artigo assinado por Isaquiel Cori (tentei encontrar o blog dele mas não o encontrei) publicou uma matéria intitulada "Cresce o número de blogueiros angolanos", no qual, obviamente, reconhece e mostram o crescimento dos blogues angolanos. Até ai foi um bom começo.

No entanto, a matéria errou muito ao não citar, pelo menos, dois blogues: o pululu, que está entre os "50 melhores para se conhecer o mundo" segundo a o Jornal "Gazeta do povo", de Curitiba, Brasil, que já concorreu a inúmeros prêmios internacionais, líder sem rival entre os blogues angolanos, segundo o "Afrigator" e esqueceu também de citar o "Blogs que falam de Angola" que é hoje, a "Assembléia geral" dos blogues angolanos ou que falem de Angola.

Para se fazer esse tipo de trabalho é necessário que se renuncie todo tipo de preconceito. Aqui fica a minha sugestão para futuros trabalos. A seguir a reprodução da referida matéria.

Cresce o número de blogueiros angolanos
por Isaquiel Cori
Fotografia: Paulo Mulaza

Um número crescente de cidadãos angolanos temerariamente aventura-se pela criação de blogues, actualmente um dos principais vectores de inclusão e difusão de conteúdos na Internet.

“Navegar é preciso”. Não já pelos mares desconhecidos a que aludia o poeta português Fernando Pessoa, mas pelo universo virtual da Internet. Além de permitir o acesso à informação, a Net, naquilo que tem de mais democratizante, possibilita, a quem quer que seja, incluir nela a própria visão do mundo, passando, assim, o indivíduo de mero receptor a produtor de conteúdos.

De “celebridades” a pessoas simples, qualquer um pode criar, gratuitamente, o seu blog e introduzir nele, com uma liberdade apenas limitada pelo senso de responsabilidade, ideias, imagens e vídeos.

Através de uma pesquisa na Web, verificamos que cresce a quantidade de blogueiros (ou bloguistas) angolanos activos. Os blogs manifestamente angolanos, como acontece em todo o mundo, variam bastante de temática. Uns são mais intimistas e parecem obedecer a uma necessidade profunda de exaltação do ego. É o caso do blog “Mundo de Polly”, cuja autora, estudante de engenharia, tem 18 anos. Ela diz no seu perfil: “Eu gosto muito de mim e nenhum ser que saiu debaixo de uma pedra a rastejar vai mudar isso. Estou-me nas tintas para o que dizem de mim. Não sou superior, supero-me”.

Outros blogues tendem a ser de carácter mais informativo e opinativo. É o caso do “Morro da Maianga”, “um espaço de abordagem crítica sobre os mais variados temas da actualidade angolana e internacional (…)”. O seu autor é o jornalista Reginaldo Silva, um dos blogueiros angolanos mais regulares e antigos, ainda do tempo em que os blogs não eram um recurso oferecido gratuitamente pela Internet.

Entre essas duas tendências temáticas existe todo um mundo de diversidade. O limite é a criatividade e a imaginação do autor.

O que move os blogueiros

O que faz com que uma pessoa, a partir de um determinado momento, decida criar e alimentar regularmente o seu blogue? Certamente, a necessidade de comunicar algo, de saltar a barreira do isolamento e estabelecer pontes com o outro. “Dado o quase total desconhecimento da nossa literatura a nível nacional, nas escolas, universidades, etc., achei que seria útil criar um espaço de consulta e informação (…). Deste modo dou a conhecer as minhas obras e, por consequência, um pouco da literatura angolana”, afirma Fragata de Morais, escritor.

Fragata de Morais é autor de um blogue em que divulga as suas peças literárias, inéditas ou editadas em livro, bem como fotos suas em eventos públicos. O blogue apresenta também mais de uma dezena de links para sites de temática literária e cultural.

Reginaldo Silva disse ao Jornal de Angola que o seu actual blogue, criado em Junho do ano passado, “resultou de uma necessidade (…) de poder comunicar com terceiros sem intermediários e sem ter que pedir nem prestar contas a ninguém”.
“Isso dá-me uma grande alegria e satisfação, quer como jornalista, quer apenas como cidadão angolano e do mundo que sente necessidade de partilhar informações e opiniões com os seus semelhantes”, sublinhou.

Luciano Canhanga, também jornalista, criou o blogue “Mesu ma Jikuka”, em Abril de 1995, no contexto limitado de um curso que estava a frequentar em Portugal. Hoje Canhanga subiu a fasquia da sua ambição e mantém o blogue activo como “forma de poder contribuir para uma informação plural, com notícias e reflexões sobre temas da actualidade”. O blogueiro confessa sentir-se realizado, dado o crescente número de leitores e comentaristas. “O que mais me satisfaz é ser várias vezes ponto de partida para reportagens dos media angolanos. Textos meus foram republicados por jornais impressos e outros blogues. Isso é reconfortante”, disse.

A percepção de que o blogue está a ser útil e consultado por centenas e até milhares de pessoas espalhadas pelo mundo inteiro é um autêntico combustível para a criatividade dos blogueiros. A maior parte dos provedores de blogues disponibiliza uma ferramenta para contagem e determinação do país de origem dos internautas visitantes. Daí é possível aferir, naturalmente, o quanto o blogue é ou não popular. Por exemplo, de Junho de 2008 a 13 de Outubro deste ano, o blogue “Morro da Maianga” recebeu cerca de 18 mil visitas.

Difusão e promoção

Na qualidade de habitantes do mundo virtual, os blogueiros tendem a estabelecer entre si relações de cumplicidade, que se materializam através das várias ligações (links) entre blogues. Essa é uma das vias para sua promoção. Mas não há promoção maior do que quando o blogue é alojado no site de uma instituição prestigiada. “Acabei de receber, há dias, um e-mail da Harvard University, dos Estados Unidos, que me informava que tinha colocado o meu blogue para os seus estudantes, no seu site. É uma satisfação, logicamente”, revela Fragata de Morais, cujo blogue está, igualmente, alojado nos sites das universidades angolanas Lusíada e Metodista.

A criação e difusão de blogues em Angola ainda encontram bastantes limitações. Num universo de 14 milhões de habitantes, cerca de 41 mil pessoas, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações, utilizam a Internet em Angola.

As evidências apontam para o facto da grande maioria ter acesso à Web apenas a partir do local de trabalho, isto é, condicionada pela ocupação laboral. E há a visão generalizada de que a Internet é, acima de tudo, um local de recolha de saberes e não, também, de colocação de saberes.

Essa realidade, que para outros blogueiros podia ser considerada deprimente, não o é para Reginaldo Silva: “Devo confessar que a minha actividade como bloguista é, sem dúvida, aquela que mais me tem realizado como profissional e não só, desde que há mais de trinta anos entrei, pela porta da RNA, na comunicação social”.

Figuras públicas

Um forte indício do quanto a Internet ainda está longe de ser dominada pelos angolanos reside no facto de parte significativa das personalidades do mundo das artes, dos espectáculos e da media, vulgarmente denominadas figuras públicas, não possuir um blogue. Se têm um endereço electrónico já é muito.

Víctor Hugo Mendes, apresentador do programa “Dia a dia”, da TPA 2, confessa que não tem blogue. “Mas faço uso das redes de relacionamento e consulto blogues que divulgam coisas importantes. Nas minhas páginas de relacionamento divulgo fotos e textos sobre os lugares onde passo”.

A cantora Pérola garante que até Novembro tem disponível o seu blogue. “Terá o básico: o meu historial, discografia, agenda, fotos e a possibilidade dos meus fãs interagirem comigo”.

Autora de dois discos de sucesso, “Os meus sentimentos” e “Cara e coroa”, Pérola, que não esconde a intenção de internacionalizar a carreira, diz que sempre navegou na Internet e que a criação do seu blogue “é uma forma de personalizar” o trabalho.
Love Kabungula, futebolista do 1º de Agosto e dos Palancas Negras, afirma que não tem blogue. Nem e-mail. “Não faço muita frequência da Internet por uma questão de tempo. Mas já tenho necessidade de ter um blogue, por causa das muitas pessoas que desejam aprofundar os seus conhecimentos a meu respeito”. E o craque remata: “Até a próxima semana crio um blogue”.

O apresentador Victor Hugo Mendes reconhece o enorme défice de internautas entre as nossas figuras públicas. “Muitos acham que ainda é desnecessário fazer recurso à Internet. Em dez artistas ou músicos se calhar apenas um possui e-mail”.

O calcanhar de Aquiles

Para o comunicólogo Adilson Garcia o fenómeno blogue “é um pouco parecido àquilo que a Internet se tornou hoje em dia: uma rede de informação individualizada, onde somos muitos, parecemos estar juntos e unidos mas cada um faz a sua comunicação separadamente”.

No seu entender contribui para o sucesso dos blogues a “dificuldade de acesso e protagonismo nos meios de comunicação convencionais (rádio, jornal, TV). No fundo, o blogue é um meio de cada um postar a sua visão sobre determinado assunto ou situação. Há uma maior liberdade de expressão, ninguém censura os textos ou as imagens e os assuntos são ilimitados”.

Adilson Garcia reconhece que há em Angola, ainda, um grande défice de cultura informática. “Os computadores são vendidos a preços especulativos, não existem computadores para todos nas escolas, nos circuitos privados o acesso a eles é caro, o serviço de Internet é dispendioso, e a cultura informática ainda é pouco acessível e divulgada”.

A maneira de fazer com que os cidadãos angolanos sejam mais activos na Internet, isto é, produtores e não meros consumidores de conteúdos, segundo Adilson Garcia, passa, necessariamente, pela “divulgação da cultura informática nas escolas, criação de cibercafés e centros especializados de formação”.

Mas, aqui está o calcanhar de Aquiles, o fundamental mesmo é “melhorar as políticas de preços dos serviços de Internet no país, que são muito caros”.


Fonte:
http://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/cresce_o_numero_de_blogueiros_angolanos

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bilhete de identidade atípico



O novo Bilhete de identidade, que entrou em vigor em Angola a partir do dia 01 de outubro de 2008, apresenta entre as grandes novidades: ficar pronto em 15 minutos e a inserção dos rostos do antigo e do atual presidente da república no novo documento, nomeadamente José Agostinho Neto e Eduardo dos Santos. Tudo sem aprovação da Assembleia Nacional.

Este B.I. substitui o anterior que gerou muita polêmica por ser racista (constava a raça a que o indivíduo pertencia: negra, mista ou clara (raça ou cor?) e profissão). Muitos não entendiam as reais motivações de tais exigências.

Esse novo fato está a gerar mais polêmica que o anterior. Pelos vistos o governo adora mesmo polemizar.



Veja:

Novo BI com caras de dois presidentes
http://cangue.blogspot.com/2009/10/bilhete-de-identidade-atipico.html


A cidade de Ukuma completa 46 anos


A cidade que me viu nascer completa, hoje, 46 anos de elevação à categoria de Município. O aniversário de Ukuma coincide com o meu aniversário (dia 15 de outubro) que o dia internacional de lavar as mãos ou dia do professor em muitos lugares, como o Brasil.

A minha alegria é maior porque há uma semana nasceu o meu segundo filho, que é cara de seu pai, graças a Deus.

A Rádio Novo Tempo, presente em inúmeras cidades do Brasil enviou-me um forte abraço. Agradeço ao carinho deste grande meio de comunicação.

Assembleia Nacional inicia a segunda sessão


A Assembleia Nacional iniciou hoje, dia 15 de outubro, dia internacional da lava~gem de mãoes, a segunda sessão legislativa da legislatura inerente ao mandato de 2008 a 2012.

Um dos maiores desafios que os deputados terão pela frente é a provação da nova constituição.

Aproveitou-se a oportunidade para o lançamento da pedra fundamental daquilo que será a mais "imponentes casa das leis da África", em estílo neoclássico.

Por que parou, parou porquê?







Durante a campanha eleitoral de 2008, no momento de imenso fervor patriótico, fazia-se muita peças publicitárias como as apresentadas acima. No entanto, agora já não se faz mais. O que está acontecendo? Esperar as próximas eleições para que se repita a dose? E se as cores da bandeira mudarem?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Príncipe e os seus ventríloquos - Nelson Pestana (Bonavena)


"Agora é a vez dos ventríloquos do Príncipe explicarem, primeiro aos “militantes” e depois a toda a sociedade como o chefe quer ser visto na lei como chefe. Políticos, técnicos e técnicos-políticos todos se misturam para aparelhar o partido do chefe para defender a sua vontade e para que esta apareça como sendo a vontade de todos nós ou, pelo menos, da maioria, depois de um “amplo debate”. Mas, por um momento, as instituições públicas envolvidas no dito processo constituinte fazem um parêntese e ficam à espera que o chefe arrume a sua própria casa para depois então cumprirem o seu papel legitimador."

- Por Nelson Pestana (Bonavena)*

Já era de prever: José Eduardo dos Santos não iria aceitar aparecer como o mau da fita. Como aquele que contra a vontade nacional, impôs um modelo bizarramente atípico de legitimar a continuidade do seu poder vitalício. Afinal ele, falando sobretudo para o interior do seu grupo, já nos tinha intimidado a todos, quando disse, num contexto em que tinha que usar uma linguagem moderada e diplomática, que ele era o Presidente de um partido que goza de uma maioria (abusiva) e, por isso, não iria permitir que a sua vontade “atípica” não se tornasse lei.

Perante a reacção da opinião pública, a instabilidade nas suas hostes, lançou os seus ventríloquos para nos convencerem que essa sua anormalidade política é uma normalidade jurídico-doutrinária. Antes, chamou dois “evangelistas” para nos explicarem o “novo evangelho”, nem que para isso tivessem que dizer uma coisa e o seu contrário, tivessem que desdizer tudo o que tinham dito até então. Pouco importava para ele que estes “evangelistas”, para atingir o seu desiderato, tivessem que empenhar os seus créditos políticos, académicos e pessoais, degradando-se aos nossos olhos. A primeira acção era drenar a hemorragia provocada pelas suas declarações, par aque ele não aparecesse como o responsável da destabilização, da incerteza e do descrédito do processo constituinte que estava em curso. Não podendo reerguer a árvore, então que se escondesse o machado que a tinha derrubado e, sobretudo, a mão que tinha guiado a acção do machado. O mais importante é que a imposição do chefe aparecesse, no final, como a decisão de todos. Então, havia, primeiro, a necessidade de dizerem todos a mesma coisa. Começando por dizer que sempre estiveram de acordo com o que chefe, que já o tinham dito antes e que não havia falta de “sintonia” entre eles e a pretensão bizarra (= atípica) do chefe. Mas, acontece que alguns estavam de acordo com o que chefe tinha dito mas não sabiam bem o que ele tinha dito. Havia que dizer que todos já tinham discutido, antes, no interior do grupo mas não tinham escrito na sua proposta de Constituição porque queriam fazer prova de “evolução do pensamento”. Perante um tal estado de desarrumação, o chefe apercebeu-se que era preciso um maestro para os ensaiar, para que todos eles pudessem dizer, uns com maior acerto, outros com menos, a mesma coisa, mesmo porque a primeira tentativa pública de salvar a loiça partida pelo chefe tinha metido muita água.

Assistimos então a uma coisa fenomenal (=atípica) que foi a “escolarização” do bureau político de JES para que o seu “esperto” explicasse aos seus membros a posição do partido. Para que depois estes fossem, pelo país, num esforço coordenado centralmente, “explicar aos militantes do Mpla a posição do partido”. Para depois “o partido”, reunido em Congresso, sufragar a vontade bizarra (= atípica) do chefe como linha programática, em nome da “estabilidade política extraordinária” do país. No fim das contas, JES aparece não como o político que não consegue controlar a sua libido dominandi, tornando-se politicamente cada vez mais autista, mas como o “esforçado cidadão” que faz o favor à Nação de garantir a estabilidade ao país. Uma estabilidade que pelos vistos só pode ser garantida pela ditadura autocrática. E, portanto, como em todos os partidos autoritários, “os militantes”, não sendo eles próprios o “partido”, devem colocar-se ao serviço do partido do Chefe. E, por isto, não há nada de incoerente em tudo isto, pois a vontade do “partido” não é (nem pode ser) o resultado da vontade dos militantes. Ela é expressão do chefe iluminado e é transmitida de cima para baixo, no bom estilo corporativo.

É essa vontade do partido-chefe que tem que ser explicada “as tropas de choque”, pelos ventríloquos do chefe (e suas declinações instrumentais). O chefe não queria a eleição do Presidente da República por “sufrágio universal directo”, em eleição própria, a duas voltas, para que a escolha dos cidadãos seja a mais próxima possível da vontade dele, como prescreve a Constituição actual, como está no programa eleitoral de todas as formações políticas angolanas (incluindo o partido do chefe), como está na proposta de Constituição que o partido de poder apresentou à Comissão Constitucional e à opinião pública.

Depois, o chefe mudou de opinião, “evoluiu” no pensamento, a caminho do reforço da ditadura e, então, mandou construir uma “teoria” para legitimar todas estas suas pretensões. A vinda de Jacob Zuma precipitou as coisas e ele anunciou o “novo evangelho”, ainda com imprecisões, o que deu lugar a um apuramento em função da denúncia e da reacção da opinião pública.

Agora é a vez dos ventríloquos do Príncipe explicarem, primeiro aos “militantes” e depois a toda a sociedade como o chefe quer ser visto na lei como chefe. Políticos, técnicos e técnicos-políticos todos se misturam para aparelhar o partido do chefe para defender a sua vontade e para que esta apareça como sendo a vontade de todos nós ou, pelo menos, da maioria, depois de um “amplo debate”. Mas, por um momento, as instituições públicas envolvidas no dito processo constituinte fazem um parêntese e ficam à espera que o chefe arrume a sua própria casa para depois então cumprirem o seu papel legitimador. A linguagem utilizada, e particularmente as inflexões operadas, apelam ao não dito, a uma língua subliminar que entende que a estabilidade do país (a dita “estabilidade politica extraordinária”) está, não no fortalecimento das suas intuições mas na continuidade do poder do Príncipe.

Os meus leitores habituais hão de se lembrar do que escrevi nos meus textos, nomeadamente, “Viva la Muerte”, “O leão e as cabras” e “As glórias do general – já vi este filme”. Desenganem-se! Tudo segue uma linha coerente de perpetuação do poder autocrático.

Nelson Pestana (Bonavena)*
*Cientista político


Fonte: http://www.club-k-angola.com/index.php/about-joomla/the-community/3664-o-principe-e-os-seus-ventriloquos-por-nelson-pestana.html

http://www.angola24horas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1346:o-principe-e-os-seus-ventriloquos&catid=14:opiniao&Itemid=24

domingo, 11 de outubro de 2009

Angola e Congos à beira de uma crise Político-Diplomática



Os Governos das República dos Congos estão a expulsar os naturais de Angola que se encontram nesses países, quer em situação legal quer ilegalmente. A medida das autoridades desses países é uma retaliação pela expulsão de alguns milhares de congoleses ilegais em território angolano, em especial a trabalhar nas zonas diamantíferas, que podem estar envolvidos em redes de tráfico de pedras preciosas. Recentemente, o ministro da Defesa, Kundi Payhama, caracterizara o fenómeno da imigração ilegal em Angola como "uma invasão silenciosa" , que ameaça a segurança interna e a estabilidade económica e social do país

Por Panguinho de Oliveira

Uma crise político-diplomática poderá estar a desenhar-se nas relações históricas entre Angola e os Congos Brazaville e Kinshasa.

O problema começou com as diversas operações de repatriamento de alegados congoleses residentes em Angola ilegalmente, levadas a cabo nos últimos anos. O Congo-Brazaville, ordenou na última semana o encerramento das suas fronteiras com Angola. O caso ganhou outros contornos quando na sequência dessas acções de explulsão. Ocorreram cinco mortes entre cidadãos congoleses.

Os alegados maus tratos e violência dos actos de repatriamento, atribuídos a Angola, provocou a repulsa por entre a população e governo do Congo-Kinshasa. A resposta está a criar pânico entre as autoridades angolanas que buscam uma base de diálogo. Os contornos da situação com o nosso colaborador Panguinho e Oliveira.

Fonte: http://www.voanews.com/portuguese/2009-10-10-voa1.cfm

As cores de casas, segundo pesquisa, estão relacionadas com sucesso profissional



Sua casa é pintada de azul? É a cor do sucesso




O amigo leitor deste blog "Hukalilile" acredita que a cor da casa pode determinar o sucesso profissional e pessoal?

Pois é. Um estudo divulgado em 01/10/2009 afirma que as pessoas que moram em casas pintadas de azul ganham mais e se dão melhor na vida. O salário médio de um profissional vivendo numa casa azul é de USD$ 61,8 mil ao ano e dirige um Audi TT para ir ao trabalho.

Mais: esse profissional viaja ao exterior nas férias ao menos duas vezes ao ano para lugares exóticos como o Caribe.

A pesquisa, realizada pela empresa Sandtex Paints, no Reino Unido, entrevistou 3 mil proprietários de casas e revelou que 23% das pessoas que moram em casas pintadas de azul já conseguiram chegar ao nível de diretoria em empresas.

Outros 31% já ascenderam a cargos de gerência e supervisão, chefiando equipes de pelo menos três pessoas.

Além da carreira, as pessoas que moram em casas azuis são bem sucedidas também na vida pessoal, diz a pesquisa. Em geral, são pessoas com um relacionamento estável, dois filhos e quatro grandes amigos.

Pelo menos 14% podem se dar ao luxo de contratar uma cozinheira para ajudar nos jantares para amigos, 11% contam com empregada para as tarefas domésticas, e 8% possuem babá para cuidar das crianças.

A segunda cor de maior sucesso para pintar uma casa é a vermelha, com moradores ganhando algo em torno de USD$ 38,3 mil ao ano

Terceira posição vem a cor branca, com ganhos na faixa de R$ 38,2 mil anuais,

Quarta: a cor creme, com USD$ 38,1 mil ao ano.

Os moradores de casas pintadas na cor bege ganham, em média, USD$ 33,9 mil ao ano. Cinza? USD$ 30,97 mil anuais.

A pesquisa revelou ainda que as pessoas que moram em casas pintadas de verde são as que enfrentam mais dificuldades na vida profissional – ganhando apenas USD$ 21,1 mil no ano. Os moradores de casas verdes trabalham em grande parte no atacado ou varejo, muitos não chegaram à faculdade e estão longe de ocupar um cargo de chefia. Apesar disso, estão contentes com sua vida familiar, dois filhos e um carro de segunda mão.

Segundo Victoria Jones, porta-voz da Sandtex Paints, que organizou a pesquisa divulgada no jornal "Daily Telegraph", isso mostra que “as pessoas decoram suas casas dependendo de como anda sua vida pessoal e profissional”. Mas acrescenta: “Também deixa claro que dinheiro não é tudo na vida e sim o quanto se é feliz com a família e os amigos”.

Acho que vou ter que pintar minha casa...

Agora vejamos as cores das casas do interior do país e de Luanda:






ANNUAL EARNINGS BY HOUSE COLOUR

Blue £38,000
Red £23,500
White £23,400
Magnolia £23,100
Beige £20,800
Orange £20,000
Purple £19,600
Grey £19,000
Yellow £18,500
Brown £18,400
Pink £14,500
Green £13,100

Fonte:
1. http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/1,,EMI96175-16367,00.html
ou
2. http://www.72point.com/press-archive/People-in-blue-houses-most-successful

sábado, 10 de outubro de 2009

Pensar e ter opinião são privilégios dos poderosos - Ismael Mateus


A chamada à DNIC da Luísa Rogério, Victor Silva e Ana Margoso e outros que se seguirão é demasiado conveniente. Todos sabem que os jornalistas gostam de defender os seus colegas, sobretudo num caso como este, em que está em causa o direito à opinião, no caso de Luísa Rogério, e o exercício profissional do jornalismo, nos casos da Ana Margoso e do seu director.

É um exercício conveniente. Nas próximas semanas ninguém falará de atípicas e de indirectas ou directas nem do presidencialismo parlamentar. Os jornalistas vão entrar no debate, se é crime ou não, vão perguntar-se se a DNIC não tem casos mais urgentes e anteriores; vão querer mobilizar a opinião pública, que é a única arma que os pobres dos jornalistas têm contra gente tão poderosa.

É por isso que o poder é uma coisa que todos querem. O poder compra tudo. O poder pode tudo. Um amigo jornalista confidenciou que está a ler um livro recentemente lançado em Paris com o título ‹‹O Poder enlouquece››, onde se contam histórias inacreditáveis sobre a forma como o poder se enrosca nas nossas entranhas e pouco a pouco consome o que há de melhor em nós. Começa pelo estômago e por isso é que se diz que os poderosos falam de barriga cheia, ou seja, não precisam de suar, dar no duro, não têm a dimensão do valor do trabalho. Tudo lhes cai do céu, por herança ou por apropriação, pouco importa. O poder depois ataca o coração. Perde-se a sensibilidade, renuncia-se às origens pobres, aos amigos pobres e às causas dos pobres ou dos não poderosos.

Finalmente, ataca os olhos. O poder cega. Cega mais do que qualquer doença, já aparentemente o afectado vê mas perde a capacidade de perceber o que vê. Os jornalistas e mais meia dúzia de milhões de angolanos que já atingiram a maioridade não são poderosos e como tal não se devem comportar como se tivessem poder. Num mundo moderno e avançado como o nosso, é inaceitável, inconcebível, intolerável permitir a ousadia da existência de um pensamento, seja lá ao abrigo de que direito – pouco importa que perigue interesses superiormente definidos.

Num passado recente tínhamos um slogan que na verdade foi dos slogans mais clarividentes desta nossa epopeia pós colonial: quem manda, manda, quem não manda, cumpre. Se todos nós tivéssemos em nossas casas, cabeças, mesas de trabalho e carros esse slogan bem visível, se cada um colocasse esse slogan no seu despertador, no toque do telemóvel ou se isso fosse ensinado às nossas crianças desde o infantário pouparíamos rios de tinta ao país e debates sem qualquer utilidade. Quem não manda cumpre e não pensa. Não tem opinião. Aliás é bom dizer também que isso de ter opinião é um modernismo que não se ajusta ao estágio de desenvolvimento do nosso país.

O pobre não tem tempo para ter opinião.Anda de candongueiro, luta pelo pão diário, espera o salário no fim do mês. Não resta tempo para ter opinião. É por isso que os jornalistas, que são reconhecidamente pobres, mesmo aqueles que já não andam de candongueiro, deveriam ter a humildade de não ter opinião. Deveriam ter a coragem de endossar essa capacidade humana de pensar – que infelizmente os pobres também têm – a quem possa dar uso cabal a essa vantagem que o homem tem sobre outros animais. Então cada pobre deveria encontrar um conhecido com poder e conceder a esse individuo a liberdade de pensar por ele, tal como há centenas de anos nessa Europa hoje democrática os senhorios, donos dos escravos e até maridos eram donos da vontade – isso mesmo da vontade – dos inquilinos, mulheres e escravos.Podiam decidir por eles e estes ainda se deveriam mostrar muito agradecidos.

No nosso país o caminho é esse. Chegaremos a esse sublime momento da dignidade humana em que teremos de delegar o pensamento e a vontade a quem tenha poder, vida descansa, luxos e estrutura emocional para isso. No nosso dia-a-dia, todos os que procuram exprimir o pensamento sofrem incríveis pressões. Colegas de trabalho, amigos, familiares todos temem pela vida de quem ouse pensar. Todos acham que seria preferível colocar a nossa capacidade de pensar, empacota-la, transformar-nos em eunucos do pensamento e entregar isso a quem de direito. Fazem por bem. Querem o nosso bem. Pensar, ter opinião não é coisa para pobre e sem poder.

É isso que esses jornalistas e mais meia dúzia de milhões de angolanos já com maioridade não percebem. Não percebem que é fundamental para a sua própria sobrevivência que não pensem, que não tenham vontade senão aquela vontade de deixar as suas vidas nas mãos de quem tem direito isso ou quem lhes diga o caminho correcto para as suas tristes vidas.

É por isso que essa ida à DNIC é conveniente. Pode ser que alguém apreenda a lição. Nem todos podem e saber jogar futebol. Nem todos podem ter o X5 tal como nem todos podem pensar ou saber usufruir cabalmente da sua própria vontade. Porque será que esses imbecis dos jornalistas não percebem isso?

PS: para quem não tem nem vontade, nem direito à opinião nem direito ao pensamento, imbecil é uma palavra simpática. Sorriam quando alguém, vos chamar de imbecis ■

SEMANARIO-ANGOLENSE.COM
, EDIÇÃO 337 · ANO VII

Revista Kuia deste mês está demais


Todos que adquirem a última edição da Revista Kuia (outubro de 2009), lá encontrarão mais um nosso artigo e outros como:

“A MUSICA AFRICANA É A MATRIARCA DAS TENDÊNCIAS RÍTMICAS MAIS MODERNAS”

O TÍTULO DE DOUTOR ESTÁ A SER PROFUNDAMENTE BANALIZADO E PROFANA DO NA NOSSA SOCIEDADE

O TURISMO EM ANGOLA É UMA REALIDADE

VIOLENCIA DOMESTICA, MULHER AGREDIDA PELO MARIDO

ANGOLA MAIS UMA VEZ NA BOLSA INTERNACIONAL DE TURISMO NA ALEMANHA

MC DOGMILSON RAPPER ANGOLANO NO BRASIL

ASSOCIAÇÃO 4 DE ABRIL OS ANGOLANOS NA NORUEGA

SISTEMA DO ENSINO NA DÍASPORA

PSICOLOGIA E AS CIÊNCIAS PSICOLÓGICAS

e muito mais.

ANUNCIAR CUSTA MUITO BARATO









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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Obama é o homem da paz de 2009

O presidente norte-americano Barack Obama, 48, está rindo atóa. Não é por acaso. Acaba de levar o prêmio nobel da paz edição 2009, por seus esforços para reduzir os estoques de armas nucleares e por seu trabalho pela paz mundial.

Obama foi escolhido por um comitê formado por cinco membros, em Oslo, Noruega. O homem da paz deixará de ser da classe média. A partir de dezembro estará riquinho. Tudo porque levará 10 milhões de coroas suecas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Congo endurece contra Angola e perde a ternura

O imbróglio em que Angola e Congo se meteram só vem confirmar a minha velha tese de que não há países amigos nem irmãos. O que existe mesmo são países com interesses mutuamente vantajosos. Pode existir, sim, países vizinhos ou inimigos.

Tudo começou quando Angola expulsou, em massa, imigrantes congoleses ilegais. Muitos deles se dedicavam à exploração e comercialização ilegal de diamantes, que se estimam chegar perto de 300 milhões de dólares anuais. Isso, segundo autoridades angolanas, coloca em risco à estabilidade e soberania do país.

Por sua vez, como retalhação a República Democrática do Congo (RDC), que muita ajuda recebeu de Angola, contrariando a terceira lei de Newton (ação e reação) começou a expulsar angolanos, só que tanto aqueles que se encontravam em situação ilegal quanto legal num ato nitidamente discriminatório contra nossos irmãos. Até pessoas que lá viviam por 40 anos. Já se fala em mais de 15 mil agolanos que deverão retornar para casa. Muitos deles, segundo relatos, chegam a caminhar até 100 km para atingirem a fronteira angolana.

Os angolanos que desembarcam no teritório angolano, muitos deles pais de "filhos" congoleses ou contraíram núpcias com congolesas, contam que seus bens, obtidos com muito sacrifício, estão a ser saqueados, além de sofrer ofensas morais e físicas. Alguns chegaram a ser detidos.

Os dirigentes angolanos parece que estão em estado de choque. Pouco ou nada dizem, como se estivessem arrependidos pela ação praticada. A única medida tomada, para além de ajudar aos expulsos, foi suspender os voos da companhia aérea TAAG à RDC.

O momento é de se manter calma.

Partidos da oposição estão à beira de um ataque de nervos


DECLARAÇÃO

Os Partidos da oposição parlamentar, FNLA, PRS e UNITA;
Os Partidos Políticos da Oposição Extraparlamentar, PDP-ANA e POC; e
A Comissão Instaladora do Bloco Democrático,

Reuniram-se em Luanda para analisar os actos do Presidente da República relativos à não convocação da eleição presidencial e ao desenvolvimento do processo constituinte. No final, deliberaram tornar público o seguinte:

A 24ª Reunião do Conselho da República recomendou, e o Presidente da República aceitou, realizar as eleições para a normalização constitucional dos órgãos de soberania do Estado em 2008 e em 2009.

Marcadas as eleições presidenciais para o ano de 2009 e aprovado o respectivo orçamento, o Presidente da República em exercício, decidiu advogar em causa própria e estender o seu próprio mandato. Fê-lo em dois tempos: primeiro, por não convocar, de Janeiro a Junho, sem qualquer justificação, a eleição presidencial já marcada para 2009; segundo, por orientar publicamente, em Agosto de 2009, por via do processo constituinte, a anulação do instituto da eleição presidencial.

A não convocação da eleição do Presidente da II República nos termos da Lei Constitucional, constitui um atentado a dois princípios estruturantes da República: o princípio democrático e o princípio do Estado de Direito.

A agressão do princípio democrático, como princípio fundamental estruturante, significa que o Presidente da transição violou também os princípios constitucionais gerais que o concretizam, nomeadamente, o princípio da soberania da vontade popular, o princípio do sufrágio universal e o princípio de renovação dos titulares dos cargos públicos.

Ao agredir o princípio estruturante do Estado de Direito, o Presidente da República violou também os sub-princípios da constitucionalidade, da prevalência da lei e o princípio da vinculação do legislador aos direitos fundamentais dos cidadãos, em particular ao direito dos angolanos de eleger, de cinco em cinco anos, o seu Presidente da República.

Nesta base, o Presidente da República fez ruir as traves mestras da ordem jurídico-constitucional em que assenta a legitimidade do órgão Presidente da República. Nem a Assembleia Nacional, nem os Partidos Políticos, nem o Conselho da República, têm agora mandato ou competência para dispor do mandato do órgão electivo e representativo Presidente da República.

Somente o povo soberano de Angola pode conferir legitimidade ao titular do órgão Presidente da República através do sufrágio directo, secreto e igual, para o período de 2009 a 2013, correspondente ao mandato de cinco anos previsto na Lei Constitucional.

Sem este sufrágio, o órgão Presidente da República transforma-se num poder à margem da Lei Constitucional e a ela não juridicamente vinculado.

A Lei manda que a eleição para a normalização do órgão Presidente da República seja feita por sufrágio universal directo, secreto e igual, através de lista uninominal, num sistema maioritário a duas voltas. Esta eleição deve ser feita através de um Boletim de Voto exclusivo, diferente do boletim de voto que elege os deputados, porque o Presidente da República é um órgão distinto e separado da Assembleia Nacional.

II. Sobre o Processo Constituinte

As Forças políticas constataram que o MPLA utilizou a Comissão Técnica da Comissão Constitucional para distrair a opinião pública, ganhar tempo e inviabilizar a realização da eleição presidencial em 2009. Depois de seis meses de trabalho, a Comissão Técnica não foi capaz de aproximar as propostas apresentadas em Maio. As propostas apresentadas pelos Partidos políticos continuam praticamente intactas.

Constatamos ainda que o MPLA, abusando do poder, introduziu pela janela e na calada da noite a proposta constitucional que advoga “uma eleição por sufrágio universal directo, em que o Presidente da República è o cabeça de lista” dos candidatos a Deputados. Esta proposta agride os limites materiais para a elaboração da Constituição de Angola, fixados pelo Artigo 159º da Lei Constitucional, nomeadamente o princípio da separação de poderes entre os órgãos de soberania e o princípio do sufrágio universal, directo e secreto para a eleição do Presidente da República.

Este documento entrou fora dos prazos legais e o seu conteúdo não é típico nem atípico. È um modelo próprio, que não tem nada a ver com as eleições presidenciais, porque, de facto, acaba com elas. O que o MPLA quer é que não haja mais eleições presidenciais em Angola.

As forças políticas signatárias declaram-se indisponíveis para pactuar em fraudes constitucionais, pelo que não irão aprovar nada que atente contra a Lei Constitucional e contra a soberania do povo angolano.

As forças políticas signatárias exortam os Deputados à Assembleia Nacional, em particular os membros da Comissão Constitucional, a pautar a sua conduta pela Lei, para não defraudarem o poder de representação que lhes foi conferido pelo povo angolano, único detentor do poder constituinte.

As forças políticas signatárias apelam ao patriotismo e ao bom senso de todos os angolanos visando a elaboração de uma Constituição de bases universais que sirva para unir e não para dividir nem para excluir os angolanos. Queremos uma Angola unida, verdadeiramente democrática, onde os titulares do poder de representação tenham poderes limitados e o exerçam nos limites da Constituição e da vontade soberana e referendada do povo angolano.

A Constituição de um país não deve estar sujeita a violações legitimadas por interesses particulares de maiorias sazonais. Antes, deve servir para consolidar e fortalecer a igualdade, a estabilidade democrática e o Estado de Direito. O fim permanente de qualquer Lei Fundamental é a limitação do poder. Só se limita o poder dos titulares do poder, se estes se subordinarem à Lei. Só assim se realiza o fim permanente da nossa Lei Fundamental – a limitação do poder.

Luanda, 8 de Outubro de 2009

As Forças Políticas Signatárias
FNLA
PRS
UNITA
PDP-ANA
PARTIDO DA OPOSIÇÃO CIVIL - POC BLOCO DEMOCRÁTICO

Os ovimbundus são traidores ou alguns ovimbundus da UNITA ?


Unita: a Traição como a Separação do Trigo e do Joio

Por PEDRO KUFUNA

O significado de traição, conforme se lê em qualquer dicionário, nem sempre é o mais exacto. Define-se a traição, ora como um acto de infidelidade ora como uma perfídia. Diga o que se disser, não há dúvida de que a acepção mais exacta pode ser encontrada na conduta de Judas, que vendeu Cristo por trinta moedas. Eis a essência da traição, ou seja, a pressuposição de que se trai para obter contrapartidas financeiras ou de outro tipo.

A UNITA, fundada em 1965, é o Partido, por razões pouco desconhecidas, onde as traições têm sido mais frequentes, ao ponto de, muitas vozes, afirmarem, o que é obviamente incorrecto, que a traição é uma das características dos sulanos.

Seja como for, a primeira traição na UNITA ocorreu em 1970, numa altura em que a UNITA já tinha as suas posições consolidadas no Leste de Angola. Castro Bango, um dos responsáveis pelas células clandestinas da UNITA em Nova Lisboa (actual Huambo), foi o primeiro lobo a vestir-se de pele de cordeiro. A traição de Bango, que lhe valera avultadas somas de dinheiro, fora paga pela PIDE (polícia secreta portuguesa). Tudo aponta no sentido de o plano para intersectar, e depois aniquilar Jonas Malheiro Savimbi , fora concebido por Aníbal São José Lopes e Óscar Cardoso, o criador dos “flechas”, com a luz verde de Costa Gomes, na altura Comandante da Região Militar de Angola. Não lhes faltou o apoio do Comando Militar Leste e das Subdelegações da PIDE naquela região. Note-se que a PIDE funcionava como “anjo da guarda” das Forças Armadas Portuguesas.

Castro Bango só não conseguiu o seu intento por mera casualidade: esteve no Luso (actual Luena) com Jonatão Chinguji, na altura, o responsável pelo Comité clandestino da UNITA nessa cidade e, conseguiria, conforme o plano esboçado pela PIDE, um encontro com Jonas Savimbi, na Chicala. Uma semana depois, já com Castro Bango na cidade do Luso, as Forças Armadas Portugueses atacaram a coluna de Jonas Savimbi, que escapou por um fio. Sorte igual não tiveram os responsáveis dos Comités Clandestinos da UNITA no Moxico, Nova Lisboa e Benguela. Isso explica porque, nesse ano, as masmorras da PIDE receberam, como nunca, o maior número de prisioneiros políticos da UNITA. Fazia parte: Jonatão Chingunji, Martinho Epalanga,o Reverendo Mussili, apenas para citar alguns.

Castro Bango, não se sabe por que razões, ou, provavelmente, por remorso, recusara-se a buscar refúgio em Portugal. É para se dizer que desconhecia que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Preso pela Unita, logo depois do 25 de Abril, foi executado na cadeia do ACMOL, no Huambo, no dia 11 de Novembro de 1975.

O percurso político da Unita, no período que se seguiu à independência nacional, foi marcado por várias deserções e traições. No que concerne às deserções, é importante assinalar que nem todas podem ser consideradas como traições. É o caso, por exemplo,

De Jorge Chicoty, um jovem ambicioso, inteligente, formado em Geografia Rural no Canadá, que, a dada altura, decidira bater com as portas à UNITA. Chicoty, depois de fundar o FDA (Frente para a Democracia de Angola), passaria para o MPLA. É, actualmente, membro do Comité Central desse partido e Vice-ministro para as Relações Exteriores. Outros casos são o de Fátima Roque, Paulo Tjipilika, actualmente Provedor da Justiça no governo de Angola e José

Ndele (integrante do colégio presidencial no governo de Transição em 1975 e já falecido). Estes últimos, desentenderam-se com Jonas Savimbi e criaram o que viria a chamar-se de Tendência de Reflexão Democrática, com mais dois elementos que, foram, depois de Castro Bando, os maiores traidores da Unita. Tratam-se de Miguel Nzau Puna e Tony da Costa Fernandes, ambos fundadores da Unita, que, por seis milhões de dólares (não recebidos até hoje na totalidade), não hesitaram em trair a força política que haviam fundado e dedicado grande parte das suas vidas. Rezavam no contrato, funções diplomáticas e uma reforma dourada. Como tal, deviam vir a público e “diabolizar” a imagem de Jonas Savimbi com objectivo de reduzir, ao máximo, o número de votos. A estratégia consistia em explorar e manipular, até à exaustão, a “queima das bruxas” e a morte de Tito Chingunji o que foi, de facto, conseguido. Posto isso, foi oferecido a Nzau Puna, o cargo de embaixador extraordinário e plenipotenciário da República de Angola, no Canadá, enquanto a Tony da Costa foi atribuída à mesma função, em Londres e, mais tarde, na Índia. Pouco se sabe do desempenho diplomático dos dois, embora Tony da Costa se tenha destacado, em Londres, mais pelas saias que pela diplomacia. Nzau Puna é, actualmente, deputado do MPLA.

Não deixa de ser frustrante e desencorajante ver o percurso desses dois homens que, da UPA-FNLA, fundaram a UNITA para, finalmente, acabaram por militar na força que mais dores de cabeça lhes dera, o MPLA.

Não é por acaso que se diz que os traidores só merecem desprezo. No entanto, as coisas não terminaram por aí. Nos confrontos que decorreram em Angola logo após as eleições legislativas, de 1992, o MPLA aprendeu uma lição que lhe iria servir para arquitectar sua estratégia político-militar: em tempo de guerra mais importante que aliciar os políticos é fazê-lo às altas patentes militares do exército adversário. Assim, através de promessas de promoção ao generalato, com todas as regalias a ela subjacentes (vida faustosa sustentada por diamantes) foi concertado um plano de aliciamento dessas altas patentes.

De 1992 em diante assistimos, tal qual numa passarela, a deserção e, a correspondente, traição de vários oficiais. Só para citar os mais representativos, temos o caso dos Generais Adriano Makevela Mackenzie (actual chefe da Direcção Principal de Preparação de Tropas e Ensino do Estado-Maior General das FAA) e membro influente do consórcio Thales/Sadissa/Importex; Jacinto Ricardo Bandua (abandonou a Unita em 1999,foi ajudante de campo de Jonas Savimbi e chefe da logística militar). As suas informações foram cruciais para a desestruturação militar da UNITA no Bailundo e no Andulo; Diógenes Malaquias, “o Implacável” (ex-chefe da Divisão de Operações do Estado maior general da UNITA). Este rendeu-se no ano 2000 e desempenhou um papel determinante na localização de Jonas Malheiro Savimbi; Sachipengo Nunda, hoje vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Angola. Foi precisamente Sachipengo Nunda e os coronéis Kivo e Calado que perseguiram Jonas Savimbi até ser localizado e morto.

Pode parecer caricato, e até anedótico, mas não nos esqueçamos que, para maior desprezo dos seus adversários, foram precisamente Nunda e Implacável a quem o governo delegara para o “armistício” com o que restava da ala militar da UNITA.

Terminada a guerra, e quando se pensava que o suborno e as traições eram coisas do passado, eis que somos surpreendidos, nas eleições legislativas de 2008, com outras traições que criaram um mal-estar aos angolanos, e mostrar quão viciado é o faire politique em Angola. Dessa vez coube a Jorge Valentim vestir-se da pele de cordeiro: a troco de 8 milhões de dólares deveria fazer a campanha do MPLA, em Umbundu, na área rural de Benguela. Para além de Jorge Alicerces Valentim houve igualmente outras tantas traições, embora sem os efeitos causados por estes. É de citar Marcial Muji Itengo, ex-governador da Lunda Sul e o caso de Adolfo Aparício, antigo secretário da UNITA do Kwanza Norte, que diante do incumprimento do MPLA, em cumprir com o prometido, e devido às guinadas do estômago pediu a UNITA que lhe perdoassem.

É esta a forma, excessivamente inquietante de se fazer política, que mostra que a relação entre a política e a ideologia, em Angola, é ainda uma miragem.

Quer se goste ou não da UNITA, a verdade é que esta força política ainda será por muito tempo a segunda força política do país, podendo, inclusivamente, em eleições justas livres e transparentes, subverter a tendência. E dada a sua amplitude nacional e a experiência governativa herdada do GURN ninguém duvida que tem os condimentos necessários para governar Angola. É tudo uma questão de tempo.

Sobre as traições, apesar das suas consequências devastadores, são um mal que veio por bem: têm permitido extirpar as ervas daninhas da horta.

Fonte: http://www.ovimbundu.org/Cronicas/Politica/Unita-a-Traicao-como-a-Separacao-do-Trigo-e-do-Joio.html