quinta-feira, 30 de julho de 2009

A razão dos mudos - Divaldo Martins


Por Divaldo Martins


Luanda - Na semana passada publiquei um artigo em que, entre outras coisas, falei do que pensava em relação ao tempo que vivemos, um tempo em que as pessoas não falam, porque têm medo de pensar, e onde os que falam parecem subverter o sistema, o que quer que isso seja. Disse também que, por isso, criamos uma sociedade dos Prós e dos Contra, onde os Prós preferem viver calados de boca aberta, e os Contras são os que aceitam pensar e por isso cometem a «imprudência» de falar.

Para além disso, disse que a minha geração, ao contrário do que parece, não está contente com a sua forma de existência, e que os da minha geração vivem a reclamar calados de boca aberta, em murmúrios e em silêncios, simplesmente porque têm medo, e bebem para silenciar o pensamento, como o poeta que fumava ópio para esquecer. E disse mais coisas. Disse que é tempo de esgrimirmos ideias e valorizarmos a excelência, tempo de aprendermos a ser livres e respeitar a liberdade, para permitir que cada um de nós consiga libertar a excelência escondida no silêncio do seu medo.

Por lapso, este artigo foi publicado com uma foto em que estou uniformizado. Naturalmente, como se compreenderá, aquelas opiniões não vinculam a Polícia, como instituição, nem a mim enquanto oficial da corporação, em relação a qual mantenho total respeito e equidistância nos comentários que produzo, por uma questão de ética e disciplina. Aquelas opiniões vinculam tão-somente o cidadão que pré-existe e que se mantém para além de qualquer categoria funcional, esta sim, passageira. Por isso, aproveito a oportunidade para me desculpar dos enganos que este lapso, do qual lamento bastante, possa ter causado, e em relação ao qual já solicitei ao jornal que fizesse a devida ressalva.

Entretanto, por causa daquele artigo recebi um telefonema dos meus pais. O meu pai é das pessoas mais calmas que conheço, porque vive aceitando as coisas da vida como uma inevitabilidade, e por isso se conforma e não faz ondas, tudo lhe parece normal e vive bem assim. Mas naquele dia, enquanto lhe explicava que não tinha dito nada de mal, ele perguntou-me se estava a tentar levar um tiro da cabeça, e antes que eu respondesse que não, passou o telefone à minha mãe, a pessoa mais stressada do mundo. Como eu esperava, a minha mãe não falou, gritou e me deixou sem perceber se era um ataque de histeria ou o início de uma trombose o que lhe fazia tremer a voz daquela maneira.

Porque cometi a «imprudência» de falar, o meu telefone não parou de tocar, a minha caixa de correio inundou de mensagens. Entre elogios e comentários, um amigo, formado em relações internacionais, funcionário do Ministério da Saúde, depois de me aconselhar um vivo «cuidado», perguntou-me se queria ser um revolucionário. «Se temos medo não é porque somos burros, tu sabes porquê», disse ele. Um outro contemporâneo, ex-colega da licenciatura, acusou-me de ter sido «imprudente» e disse que leu o artigo com preocupação, principalmente «por causa da nossa relação de amizade». Uma amiga disse-me que o chefe perguntou-lhe se eu tinha algum «padrinho» na cozinha, porque «nesse país não é possível alguém dizer o que pensa, sem ter medo». Eu respondi que o meu padrinho é Deus, e que o próprio medo é que me dá coragem.

No meio de tudo isso, entre várias e longas discussões, entre críticas e argumentos, algumas pessoas pediram-me simplesmente para deixar de «falar», o que na verdade significa deixar de pensar, porque estou a ser conotado como «alguém do contra» que pretende colocar as pessoas contra. Fiquei confuso, quase gritei indignado, como a minha mãe. Sou contra quem, perguntei. Estou a colocar as pessoas contra o quê, Deus do céu.
«Contra o sistema», disseram todos, com a reverência de quem fala de um ser superior.

«Mas o que é o sistema, afinal? Quais são, quem são as pessoas que fazem parte desse sistema? Contra quem me estou a colocar? Contra quem estou a colocar as pessoas?» Alguns argumentaram, inventaram teorias, mas quando perguntei, nenhum conseguiu identificar e explicar o que é afinal o sistema e quem são as pessoas que fazem parte dele. E não conseguiram identificar porque, na verdade, o sistema não existe. O sistema somos todos nós, o sistema é o nosso próprio medo. O sistema é o kambumbú da nossa infância, é o fantasma que nos faz temer as ideias, o monstro invisível que nos faz ter medo de pensar para não corrermos o risco de falar.

Todos com quem falei concordaram que era verdade, que vivemos num tempo de surdos e mudos, de jogos de cintura, de gritos silenciosos, mas argumentaram para me criticar, que «há verdades que não podem ser ditas». «Escreve sobre outras coisas, coisas boas, essas não», disse-me a minha mãe, já mais calma, no fim da conversa. Fiquei sem saber o que dizer. Se não posso falar sobre verdades, pra quê escrever, afinal? Para dizer o que não penso, ou falar sem pensar? O melhor é me calar.

Depois de algum tempo, recolhi-me. Deixei de atender o telefone e de responder as mensagens. Nos primeiros instantes desse tempo só pra mim, confesso que fiquei preocupado, cheguei mesmo a sentir medo por causa do que me disseram. Senti muito medo. Mas, por causa disso mesmo, e contra o que todos me aconselharam, decidi escrever de novo, com a forte convicção de que de uma discussão podem surgir desentendimentos, podem ficar pessoas prejudicadas, mas no final acabará por nascer a luz. Neste ou noutro tempo qualquer, mas aqui neste lugar.

Naturalmente que em nenhuma circunstância, ao escrever o que escrevi, pretendi causar problemas a quem quer que fosse, principalmente aos que me são próximos, à minha família, aos meus amigos; em nenhuma circunstância pensei em colocar alguém contra quem quer que fosse, ou estar contra quem quer que fosse, muito menos contra um fantasma que ninguém consegue identificar sem ser pelo nome de «sistema».

Não temos que ser, necessariamente, contra ou a favor quando decidimos fazer alguma coisa, ou quando criticamos o que nos parece mal. Eu não sou contra nada, nem contra ninguém. E se sou a favor, sou a favor da cidadania responsável e defensor da excelência. E acredito que estas só podem existir onde houver liberdade, porque entendo que a liberdade é uma condição imprescindível da condição humana e, por isso, não é possível renunciarmos a liberdade e ainda assim continuarmos vivos, pelo menos como homens. Foi por isso que se aboliu a escravatura, foi por isso que se combateram os colonos. Pelo resgate da nossa condição de humanos. E julgo que ninguém, em qualquer sociedade que se pretenda constituir num espaço de liberdade e democracia, pode estar contra isso.

O que eu pretendi foi precisamente chamar atenção sobre esse fantasma que paira em cada gesto, como uma sombra da história, em cada silêncio, como um grito do passado, porque, por mais que eu me esforce, por mais que me chamem de ingénuo, irresponsável e imaturo, eu recuso-me a acreditar que exista uma intenção deliberada de se criar nas pessoas o medo que ouvi na voz dos meus pais e dos meus amigos. Não acredito que haja a intenção de se construir uma sociedade que acredita em monstros sem rosto, como crianças assustadas com pesadelos de infância, os kambumbús que vivem nas sombras.

Eu acredito que nós, cidadãos, todos e cada um, é que construímos esse fantasma no nosso quotidiano, moldamo-lo com o nosso silêncio sobre verdades que não podem ser ditas, requintamo-lo com a omissão dos nossos gestos que desistiram da excelência, damos-lhe força quando abdicámos de ser competentes e alimentamo-lo todos os dias quando fazemos sorrisos fingidos, enquanto fazemos jogos de cintura para fintar o país. Enganando o país, a fingir que somos dos Prós, simplesmente porque não falamos, não fazemos e só dançamos, enganamos a nós mesmos.

Também não sou revolucionário, nem pretendo ser. Como disse um dos meus amigos, a galeria dos heróis já está cheia. Quem me conhece sabe que sou contra qualquer tipo de violência. A única revolução em que acredito é a da possibilidade de superação das pessoas, é a da capacidade de mudar o mundo, mudando pessoas, da força da vontade de fazer melhor todos os dias, da certeza de que o bem realizado por cada um torna o todo melhor, agora e amanhã, para todos e para cada um de nós.

Portanto, para mim não existe sistema nenhum! Para mim não existe sistema, para além do fantasma alimentado pelas nossas omissões e pela renúncia da nossa cidadania, provocadas pelo próprio medo, que nos faz acreditar que o melhor é mesmo não falar, porque falando corremos o risco de levar um tiro na cabeça ou perder o emprego, ou o carro do serviço; ou, se ainda assim quisermos falar, não dizer verdades, ou seja, falar só de «coisas boas», como sugeriu o medo da minha mãe.

Não consigo deixar de ficar chocado com isso, mas não consigo ficar chocado e não falar sobre isso. Talvez seja esse o meu mal. Por isso, talvez um dia pare de escrever, talvez um dia pare de falar, mas não agora. Talvez um dia, queira Deus que sim, fale com os meus netos sobre esse tempo, com nostalgia, mas sem medo, contando, fazendo-os rir, sobre os gritos que um dia a bisavô deles me fez ao telefone, porque cometi a imprudência de dizer o que pensava. Espero que nesse dia, naquele tempo de amanhã, os meus netos não acreditem em mim, e pensem que as minhas palavras são delírios de um velho louco que não se cansa de falar.

Fonte: Divaldo Martins
http://club-k-angola.com/index.php/opiniao/17-opiniao/3152-a-razao-dos-mudos-divaldo-martins.html

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quiseram correr com os brancos de Angola


Entrevista a Leonor Figueiredo e Pré-publicação do seu livro "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola"

“Quiseram correr com os brancos de Angola"

O pai desapareceu em Angola há 34 anos. A filha investigou e escreveu um livro que revela uma rede de prisões clandestinas E uma lista oficial de nomes de portugueses desaparecidos.

Já conseguiu fazer o luto do seu pai?

Acho que este livro me veio ajudar a fazê-lo. Conheço pessoas que nunca fizeram o luto de um familiar desaparecido. Nem conseguem abordar o assunto. Estou muito satisfeita por falar no meu pai e nas muitas vítimas desconhecidas e escondidas da descolonização de Angola que descobri. Passou muito tempo. Quando era adolescente, nem queria falar no assunto porque pensava que o que tinha acontecido ao meu pai era uma coisa extraordinária. Mas não. Houve muitas centenas de portugueses que foram vítimas da guerra política em Angola.

Publica uma lista inédita, do MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros), com mais de duas centenas de nomes de portugueses desaparecidos em Angola. Como pode ter sido abafada tantos anos?

A pasta tinha sido desclassificada há pouco tempo. E mesmo assim não estavam lá os documentos todos. Nos arquivos do nosso Estado, há muitas coisas que não podes consultar. São secretas; são muito secretas. E portanto, nunca virão à leitura do público. Esta, por acaso, foi desclassificada e eu tive a sorte de dar com ela, porque ia precisamente à procura do meu pai.

O seu pai consta dessa lista, tal como outras pessoas com quem falou para escrever este livro.

Exactamente. Eu tinha este know-how da minha adolescência, de ouvir a minha mãe e outras pessoas contar histórias de Angola que não eram faladas em Portugal. O meu pai desapareceu, mas alguns dos “desaparecidos” vieram depois a aparecer nas prisões, com acusações absurdas. Não estou a dizer que são todos inocentes. Mas o ambiente era de repressão e qualquer coisa servia para atingir os fins políticos.
Essas prisões eram ilegais, clandestinas...

Claro. O que quer dizer que Portugal entregou Angola ao MPLA muito mais cedo do que se pensava. Cerca de meio ano antes.

O próprio MNE admitiu, em 1977, segundo os documentos que pública, que o MPLA prendeu portugueses antes da independência?

Exactamente.

Como define então a descolonização?

A descolonização de Angola ainda tem muito para revelar. As pastas governamentais têm que ser todas desclassificadas. Um balanço faz-se com números, com casos, não se pode ficar eternamente a divagar em teorias ou preconceitos e a ouvir sempre os mesmos.

Parece-lhe possível que desapareçam algumas das pastas que estão classificadas?

É evidente. Eu própria, nas pastas que tive acesso, vi que faltavam muitos documentos.

Como é que teve coragem para começar esta investigação?

Nunca tinha pensado em pegar no assunto, até que, há uns anos, começaram a ser publicados livros de fotografias de Angola e Moçambique. Eu fiz essa reportagem, e nessa altura, em conversa com a Zita Seabra [editora da Alêtheia], que procurava material sobre as ex-colónias, disse-lhe a brincar: ‘se eu algum dia contasse a história da minha família...’. Diz-me ela: “escreva que eu publico”. E esta pequena conversa veio abrir um cofre que estava fechado a sete chaves, há muitos anos. Nós não mandamos na nossa cabeça, não é? Saltou qualquer coisa e decidi: ‘vou escrever a história do meu pai.’ Eu sempre achei que nós, retornados – e eu odeio esta palavra –, fomos mal compreendidos cá.

A ideia que se fazia cá de Angola estava desvirtuada...

Completamente. Angola era um território moderno, independentemente do sistema político que vigorava. E ainda bem que houve o 25 de Abril. A descolonização é que foi muito mal conduzida. As Forças Armadas Portuguesas – que representavam o Estado português na ainda colónia – não acautelaram minimamente a vida desta gente. Pela documentação que consultei, verifiquei que os vários altos-comissários de Angola pediam, repetidamente, tropas especiais, porque aquilo estava num caos. Mas de Lisboa nunca lhas enviaram. O livro fala de Luanda em 1975. Lembro-me de estar no quintal, e de repente ver o céu cor-de-laranja e de sentir a terra a tremer. Dos bombardeamentos. Íamos todos os dias apanhar as balas ao quintal. Na esquina de minha casa não havia semáforos, mas sim guerrilheiros. Quando eles paravam de atirar, podia-se passar.

Que idade tinha?

17-18 anos. Eu vim para Lisboa em Junho de 75, um mês antes do meu pai desaparecer. E quando cheguei aos 50 anos pensei que seria altura de escrever um livro sobre o que vivi lá, mas dei-me conta que não sabia nada daquela terra. Durante dois anos, li livros compulsivamente. E escrevi a história do meu pai, mas quando cheguei à parte do desaparecimento dele, decidi mergulhar nos arquivos, onde descobri estas histórias inéditas.

Lembra-se do dia em que ele desapareceu (a 16 de Julho de 1975)?

Lembro.

Como é que recebeu essa notícia?

Eu estava em casa de umas pessoas amigas, porque viemos de Angola à pressa e não tínhamos onde ficar. Foi uma dessas pessoas que me deu a notícia.

O que é que lhe disse?

“O teu pai desapareceu.” Desapareceu!? “O teu pai desapareceu!” E eu dei a interpretação de uma miúda de 17 anos: desapareceu? Como? O que é que isso quer dizer?

Teve irmãos e a sua mãe para a ajudarem a fazer essa interpretação?

Claro. Mas nunca mais se soube nada do meu pai. As informações que tivemos, ao longo do tempo, foram sempre contraditórias. Eu não sei que motivos poderia haver para o seu desaparecimento. Possivelmente, não era da mesma cor do MPLA. O que deve ter acontecido a muita gente que vem nessa lista.

É verdade que a maioria dos presos era acusada de pertencer à UNITA ou à FNLA ou de manter contactos com os seus dirigentes?

Foi o que conclui da documentação que consultei.

O seu pai era empresário em Luanda, como era a vida dele? Tinha ligações políticas?

Não, ele era uma pessoa muito discreta. Não falava de política.

Era um homem influente?

Conhecia muita gente, foi para Angola muito cedo. Com 18 anos.

Ele emigrou com o objectivo de enriquecer?

Não. Ele tinha sessenta e tal anos quando tudo aconteceu e considerava aquela a sua terra. Amava-a profundamente, como muitos outros portugueses. Não queria vir. Dizia que morria lá.

O que a leva a crer que tivesse sido raptado?

Pelo que descobri nos arquivos, as pessoas eram raptadas porque lhes cobiçavam o carro, os bens, ou porque não eram da cor política. Por variadíssimas razões. Acho que quiseram correr com os brancos de Angola que estavam lá radicados há mais tempo.

Acredita que no caso dele foi por lhe cobiçarem os bens?

Não sei. Houve casos tão absurdos que qualquer coisa pode ter servido de pretexto.

A sua família seguiu alguma estratégia para o encontrar?

Através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com cunhas a ministros e cartas à Presidência da República.

Cunhas?

Sim, para nos receberem. Eles não recebiam os familiares destas pessoas, porque lhes era um assunto incómodo. Lembro-me de ter ido uma vez com a minha mãe falar com o ministro Melo Antunes.

Das denuncias feitas pelos familiares dos portugueses desaparecidos, desde o MNE, à Presidência da República, à Cruz Vermelha, quais destes organismos oficiais intercederam realmente a favor dos desaparecidos?

Certamente que se empenharam, mas pouco resultou. Uma coisa não fizeram: denunciar a situação à comunidade internacional.

Politicamente, Portugal estava interessado em questionar?

Não. Aliás, todos estes portugueses me contaram como havia instruções rigorosas para não falarem à Imprensa. E esta é a primeira vez que eles contam a história. Eu encontrei-os porque lhes queria mostrar a fotografia do meu pai. Pensava que, se eles foram presos antes da independência, e como o meu pai desapareceu nessa altura, se tivesse sido preso, ter-se-iam encontrado. Só que, de facto, pelo que se percebe, havia várias hierarquias de presos e prisões e uns nunca viam os outros.

E nunca ninguém viu o seu pai?

Há manuscritos que dizem que sim, mas eu pergunto-me: ‘serão verdadeiros?’

Faz ideia sobre como é que ele terá morrido?

Há a hipótese de ter sido fuzilado, como foram outros portugueses, nomeadamente, durante o 27 de Maio de 1977. As prisões em Angola, não tinham a lista dos que entravam, só dos que saiam. E isso vem reconhecido por um diplomata português, num telegrama. Não sabemos quantos ficaram pelo caminho...

Só em 1999 conseguiram obter a certidão de óbito dele. Porquê tão tarde?

Como não há corpo, a morte tem que ser presumida. E têm que passar esses anos para ser oficializada.

A sua família viveu sempre com algum sentimento de injustiça, de impunidade?

Evidentemente.

Fala no seu livro, 'en passant', do calvário da sua mãe por não saber do paradeiro dele. Como foram vividos estes momentos?

Com muita dor. Houve um ano em que recebemos um telegrama a dizer que ele estava bem e deveria regressar a Portugal no Natal. Mas os anos passaram e nada aconteceu. E a partir de uma dada altura, ele já teria uma certa idade, deixámos de pensar nesses termos...

O que aconteceu aos prisioneiros após a independência?

Só falei com alguns, mas o livro refere os tormentos por que passaram muitos outros.

Como é que foram tratados estes prisioneiros?

Está aí tudo no livro. Eu acho que eles eram tratados pior que animais. Passavam fome, frio, não tinham sol, sofriam torturas inenarráveis. Não havia médicos, muitos morreram. Acusados sem julgamento. Este é o pedaço da nossa História Contemporânea que falta contar. O que se passou foi escandaloso.

Quando fala de escândalo refere-se à forma como os portugueses foram deixados lá pelo Governo português?

Sim e de como foi a própria descolonização.

O livro fala de ligações da polícia portuguesa e das Forças Armadas portuguesas com o MPLA. Qual era o interesse?

Achavam talvez que fosse legitimo que o MPLA tivesse o poder. Mas, de facto, Portugal assinou acordos com os três movimentos. E quem fazia parte dos outros movimentos não podia ter sido marginalizado.

Era uma traição à pátria...

Claro que sim. Então, deixam-se compatriotas num sítio quando se sai de lá para sempre, sabendo que eles ficam naquelas condições? Porque eles sabiam o que se passava.

Conte-me o que descobriu sobre os movimentos clandestinos dos partidos políticos angolanos antes da Independência?

O que mais me chocou foi a Polícia Judiciária, muitos meses antes da independência, ter agentes seus a trabalhar com seguranças do MPLA – o que legitimava as prisões. E outra das coisas que me impressionou, foi saber que a PJ – que não tem nada a ver com esta de cá – era quem seleccionava os presos portugueses que eles deixavam embarcar.

O MPLA apresentou diversos presos como criminosos que fariam oposição ao processo de descolonização e de Independência de Angola. Fez-se propaganda com eles?

Fez-se: o MPLA deu uma conferência de imprensa, quatro dias após a independência, exibindo-os como mercenários. Não era verdade para todos. O próprio MPLA reconheceu que os aprisionara e não os tinha entregue às autoridades portuguesas, que era o que lhe competia.

Nenhum deles nunca foi julgado, pois não?

Não, nenhum.

Qual foi a história que conta no livro que mais a impressionou?

A da médica, porque ela desmentiu um boato: a imprensa do MPLA publicou uma notícia a dizer que tinham sido encontrados órgãos humanos numa das delegações da FNLA. Isso era mentira, porque tinham roubado esses órgãos do teatro anatómico da maternidade de Luanda, onde essa médica trabalhava. Foi ela que desmentiu o boato contra a FNLA. E isso levou a que a tivessem raptado. Ela é uma das desaparecidas. É preciso explicar o porquê.

O MPLA tinha ecos na Imprensa portuguesa?

Tinha. Portugal vivia em 1975 o Verão Quente, o PREC, as esquerdas estavam todas em alvoroço. Foi neste cenário que tudo aconteceu. Independentemente disso, abandonaram lá portugueses.

Escreveu um livro ao estilo de reportagem. Pretende que fossem os sobreviventes das prisões clandestinas em Angola a contarem o que se passou?

Quis dar voz a quem ainda não a teve. Por isso ponho as pessoas a falar à vontade. Mas há muita gente que não quer.

É traumatizante não é?

Claro que sim.

Sente esse trauma?

Agora libertei-me dele. Mas, durante muitos anos, foi um grande peso que senti na alma.

Procurou a ajuda de algum psicólogo ou psiquiatra?

O que mais me ajudou foi conversar com pessoas que passaram por situações semelhantes. Foi este livro.

De certa forma, sente que está a fazer justiça ao publicar o livro?

Nunca se poderá fazer justiça a toda esta injustiça. É demasiado grande. Mas acho que temos que começar a abrir os ficheiros secretos da descolonização. E ainda há muitos.

Sabe se algum familiar destes desaparecidos, ou dos presos, alguma vez apresentou um processo judicial contra o Estado português?

Acho que vontade não faltou.

O que é que estes Ficheiros Secretos pretendem principalmente denunciar do processo de descolonização?

Pretendem contar histórias ainda desconhecidas. De cidadãos portugueses que foram abandonados e de decisões políticas e militares que se revelaram desastrosas. Está tudo documentado.

O que é que descobriu?

As autoridades portuguesas estiveram lá, na última etapa, como se não estivessem. Se formos ver o que se passou, eles fizeram muito pouco pelos portugueses que lá estavam e que sempre lá estiveram. Viam-nos quase como se não fôssemos portugueses, mas como os brancos que “se meteram” com os movimentos. Tiveram o mérito da ponte aérea – com muita ajuda estrangeira. Angola foi abandonada, com portugueses dentro. E as coisas têm que ter dignidade. Admiro os países que trazem para a pátria os seus mortos de guerra e lhe conferem essa dignidade. Em Portugal é o contrário. Ainda temos corpos de soldados portugueses da I Guerra Mundial na Europa e ainda há corpos de soldados portugueses nas ex-colónias africanas. O Estado português não dignifica os seus mortos. E portanto não se dignifica a si próprio.

PERFIL

Leonor Figueiredo, de 52 anos, foi jornalista do Correio da Manhã e depois, 21 anos, do ‘DN’, título onde tencionava publicar o trabalho que deu origem a este livro.

FICHA DO LIVRO ‘FICHEIROS SECRETOS DA DESCOLONIZAÇÃO EM ANGOLA’, DA AUTORIA DE LEONOR FIGUEIREDO

Edições Alêtheia, 16€ (à venda nas livrarias a partir de 7 de Agosto)

Durante mais de 30 anos, a jornalista Leonor Figueiredo procurou pistas sobre o desaparecimento do pai em Angola, em Julho de 1975. Nos arquivos do Estado, descobriu mais de 250 portugueses que foram ‘esquecidos’ propositadamente. Encontrou cinco antigos presos em Luanda, na esperança de que conhecessem o seu pai. Resultado: pouco escreveu sobre o pai mas recolheu para este livro arrepiantes testemunhos da prisão e do abandono na ex-colónia.

AS PÁGINAS DA MEMÓRIA ANGOLANA: PRÉ-PUBLICAÇÃO

O JORNALISTA GEORGES LECOFF TESTEMUNHA O SOFRIMENTO DAS FAMÍLIAS DOS PRESOS

'Dia 9 de Novembro de 1975. Era um domingo de fim de Primavera, e o jornalista Georges Lecoff dava uma volta por Luanda. Foi à fortaleza de São Miguel, ainda com sinais da presença de alguns funcionários e tropas portugueses que «há várias semanas» tinham a impressão de que já não faziam «nada» em Angola. Foi então que assistiu à presença de várias mulheres que choravam, pedindo aos militares portugueses para salvarem das prisões do MPLA «um pai, um marido ou um filho, sem nada conseguirem, além de boas palavras». O jornalista lembrava-se de que «algumas dezenas» de portugueses tinham sido encarcerados «sem que o exército português tivesse interferido»'

UMA MÉDICA ENTRE OS VIVOS E OS MORTOS

'«(...) A minha mãe tinha estado a trabalhar na maternidade até às quatro ou cinco da manhã. Por isso, quando lhe foram bater à porta, ela veio abri-la em pijama. Eu só acordei quando ouvi o barulho da discussão. Venho à porta e vejo três negros à civil, a discutir com ela. Durou uns dois minutos. Estavam no patamar das escadas do prédio. Diziam: ‘A senhora vem, vem… já lhe disse que vem!’ Agarraram nela e levaram-na. Eu tinha 13 anos, não tive capacidade de reacção. Tenho o filme na minha cabeça. A minha mãe foi raptada, sem nenhuma dúvida. Agarraram nela, levaram--na, de camisa de noite e robe. Nem sequer a deixaram vestir-se. Meteram-na num jipe e foram embora. Agarraram-na e levaram-na. Foi assim…»' (...) '«O que nos foi dito é que terá sido levada para a Praça de Touros, em Luanda, e morta dois ou três dias depois de raptada.»'

LUÍS GUERREIRA PEREIRA, DETIDO EM FINAIS DE JULHO DE 1975

'«Sofri muito no dia seguinte. Bateram--me bastante, torturaram-me diversas vezes. Fisicamente, três ou quatro vezes, mas psicologicamente muitas. A partir daí a minha detenção foi muito acidentada, porque eu não sabia o que me iam fazer a seguir. Levaram-me para quatro ou cinco sítios diferentes. Tiravam-me o adesivo dos olhos e o capuz, e de repente eu estava numa casa de banho. Nunca via o exterior. Na mesma época passei por quinze ou dezasseis, para não exagerar, cubículos diferentes: pequenas áreas, cozinhas, casas de banho… Levaram-me para a Praça de Touros, em Luanda, poucos dias depois, para ser abatido e enterrado. Eu ouvira dizer na FNLA que eles matavam ali as pessoas e enterravam-nas na arena. Lembro-me de estar lá, com as mãos amarradas atrás das costas, com adesivo nos olhos e um saco na cabeça. No corredor de acesso à arena, encostaram-me à parede e a caliça saltava e picava com os disparos que eles faziam à volta do meu corpo. Aquilo foi encenado, eu não era para ser fuzilado. Mas só vim a sabê-lo depois. Fiquei lá umas duas horas.»'

OS PRESOS TINHAM CONDIÇÕES 'RAZOÁVEIS', SEGUNDO O REPRESENTANTE DO MNE

Em Dezembro de 1975, informou Lisboa da presença «no Campo da Sapu de quinze presos acusados envolvimento FNLA antes independência». Dizia o representante português que as suas condições eram «razoáveis». «Alguns vêm trabalhar cidade, outros trabalham próprio campo. Não têm sido maltratados. Dizem não recear julgamento pois muitas acusações feitas seriam fantasia. Alimentação é muito fraca (...). Principal queixa que têm é incerteza sua situação: desde há três semanas que lhes dizem quase diariamente que vão ser libertados, o que não se verificou até agora.»'

'CECÍLIA EFRATI: UMA NOIVA QUASE ETERNA'

'Desaparecer é diferente. Quando se vê um corpo, dói, mas depois fazemos o luto. Com um desaparecimento, passamos por fases incríveis, mas não esquecemos. Três meses antes de o Jorge desaparecer tínhamos perdido o nosso bebé. Entrei, então, numa fase má, da qual muita coisa ficou nublada na minha memória.' (...) 'Fiquei em Angola, na esperança de encontrar um rasto do Jorge. Em 1976, vim conhecer Portugal, e regressei. Mas, em finais de 1978, deixei Angola.' (...) 'Só muitos anos depois, quando fiquei grávida do meu filho mais velho, do novo casamento, sonhei pela primeira vez com o Jorge. Nesse sonho, contámos tudo um ao outro. Ele até pôs a mão na minha barriga. Tive a sensação de que esta criança vinha puxar-me de novo para a vida. A partir daí, comecei a pôr uma pedra sobre o passado. Mas a dor fica sempre num canto do coração.'

HOMEM DISCRETO E EMPRESÁRIO

Em 1928, aos 18 anos, João Cândido Figueiredo (na foto ao lado) partiu para Angola. Tornou-se empresário em Luanda. Era um homem discreto que não falava de política. Desapareceu em Julho, o mês mais crítico de 1975. A família, que já tinha fugido para Portugal, nunca mais ouviu a sua voz; nunca mais o viu. Seguiu-se um calvário indescritível para desvendar o seu estranho desaparecimento. A sua mulher meteu cunhas a ministros, chegou à fala com Melo Antunes, mas foi tudo em vão.

'VERGONHA DE SER PORTUGUÊS'

Leonor Figueiredo foi jornalista do Correio da Manhã até ao final da década de 80. A 25 de Maio de 1987 publicou um artigo (ao lado) com as revelações de Américo Pires Afonso, ex-detido nas prisões clandestinas de Angola. 'Eu vivia aterrorizado com os gritos nocturnos dos presos das celas vizinhas. A prisão de Catete era composta por várias galerias e subterrâneos onde as pessoas desapareciam e nunca mais eram vistas. Todas as noites havia tortura de presos do processo Kamanga, relacionado com o tráfico de diamantes. Chegavam às celas todos partidos e cheios de sangue', relatou ele à jornalista. 'Portugal teve um comportamento de abandono total. Será que o petróleo tem mais valor do que os portugueses que estavam em Angola? Eu tenho vergonha de ser português', confessou Américo.

Bruno Contreiras Mateus

CORREIO DA MANHÃ(Lisboa) – 26.07.2009 / Moçambique para todos

terça-feira, 28 de julho de 2009

Amizades e parcerias por intermédio do blog


Não imaginava que através deste blog fosse reencontrar a muitos amigos e familiares. Praticamente toda semana recebo pelo menos um novo pedido de amizade, consulta, solicitação de um artigo anterior ou um familiar que é encontrado. Muitas dessas amizades vão muito bem, obrigado. Muitas vezes andando pelos quatro cantos do mundo, com frequência encontro leitores assíduos deste blog.

Entre as parcerias firmadas destaco aqui a colaboração no periódico
O Patifúndio (Revista cultural da lusofonia), mesmo que incipiente, e mais recentemente surgiu a possibilidade de parceria com o Zwela Angola, além de outros espaços tradicionais.

Por outro lado, recebo muitas fotos para que sejam publicadas neste blog. Não são publicadas as sensacionalistas como as que estão circulando recentemente pela internet com o título: "DENUNCIA! NO LUBANGO XYZ COMEM UM CIDADÃO!

O fato pode até não ter ocorrido no Lubango, mas é dificil acreditar que aquela sequência de 49 fotos apresentadas sejam uma montagem. Aqui fica uma sugestão para abertura de um blog com essa temática.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

As instituições devem estar acima dos indivíduos


Barack Obama chama à pedra as elites africanas

No decurso da sua estada no Ghana, barack Oba-ma fez uma observação que terá sacudido as peias das velhas hierarquias africanas, sobretudo as que se situam a sul do deserto do Sara. Foi quan-do, entre muitos dos seus reparos, afirmou nomeadamente que o futuro de África deveria assentar mais na construção de instituições fortes do que em indivíduos poderosos. É indiscutível que o presidente americano está coberto de razão e, por esta altura, há por certo muitos líderes africanos a entreolharem-se, completamente embaraçados. E nisso se incluem os angolanos porque a carapuça também lhes serve.

Com a mesma linguagem franca e directa com que conquistou os eleitores americanos, no fundo o que Barack Obama quis dizer é que os países africanos estão no estádio em que estão porque os indivíduos têm mais poder do que as instituições. A pretexto de uma cultura idiossincrásica que releva a figura do Chefe, na verdade os líderes políticos africanos têm tirado o máximo proveito disso. Desvirtuando as constituições, atribuem-se a si próprios poderes que nem os tribunais e os parla-mentos, por exemplo, possuem.

A fragilização das instituições em detrimento dos indivíduos constitui-se assim numa inversão de lógica que tem conduzido às situações nefastas que todos conhe-cemos. Os países africanos vivem com as eleições permanentemente «penduradas», pois o ciclo eleitoral é aleatório e obedece a interesses individuais das elites políticas. Isto traz os cidadãos em inquietude constante. Não é o que acontece em paragens com democracias consolidadas. Aí as instituições são fortes e, deste ponto de vista, os cidadãos podem dormir tranqui-los com o dia seguinte, sem preocupações existenciais com quem for eleito, pois este tem de operar em estrita conformidade com os marcos institucionais. A estabilidade é garantida de antemão pelas instituições que são transversais às lideranças políticas.

Na realidade, os resultados em África têm sido ainda mais ca-tastróficos, quando as nações do continente entram em perigosos contra-ciclos mal acontece o de-saparecimento físico dos líderes. É isso que apesar da aparente-mente divertida e inofensiva má-xima «debruyez-vous», pregada por Mobutu Sesse Seko, o antigo Zaire esteve à beira de um total esfarelamento. Assente na figura de Hophouet-Boigny, a Costa do Marfim entrou numa espiral de conflito que a levou a perder o epíteto de «Suíça de África» logo que o velho chefe de estado desapareceu. Até ao momento, no Gabão, a morte de Omar Bongo continua a ser uma indecifrável incógnita para o seu futuro.

Todos os recados contidos no reparo de Barack Obama são também válidos para o nosso país. Angola não é inocente. Basta ver o que está a suceder com o ante-projecto constitucional do MPLA, claramente uma proposta que visa dar pro-visão aos interesses de um restrito núcleo de indivíduos, em detrimento das instituições do país, tribunais, parlamentos, governo, etc., etc. É essa mesma lógica que determina a febril onda de comissões ad hoc em que se mergulhou, de sorte que é possível conjecturar-se que nem mesmo a Presidência da República saberá quantas exis-tem e quantas já foram extintas. Não há como deixar de concluir que o Presidente da República criou ao seu redor uma equipa que se sobrepõe às instituições existentes.

De resto, quem é que dita o adiamento das eleições neste país? Não são as instituições – Assembleia Nacional ou Comissão Nacional de Eleições. É a vontade de um indivíduo a sobrepor-se a tudo o resto. Não é por acaso que o país está ansioso por saber se José Eduardo dos Santos concorrerá ou não, e se não quem será o seu sucessor. É porque os indivíduos é que são determinantes na equação do país, quando o acento tónico devia ser colocado nas instituições.

Ora, quando se diz em Angola que José Eduardo é o garante da estabilidade, também se está, implicitamente, a admitir a validade do reverso. Ou seja, que sem ele o caos instalar-se-ia irreversivel-mente no país. Não é verdade e tudo isso só confirma, em suma, o acerto do exercício que o Semanário Angolense vem efectuando há umas edições, alertando que o facto de o poder em Angola estar quase totalmente concentrado nas mãos do titular da Presidência da República, encerra mais perversidades que virtudes. Por essa razão igualmente, e na esteira do «sermão» feito aos africanos por Barack Obama, este jornal dedica um dossier ao assunto, trazendo ao de cima alguns dos aspectos que estão em íntima correlação com ele. ■

Algumas interrogações

Quem é que dita o adiamento das eleições? Não são as instituições – Assembleia Nacional ou CNE. É a vontade de um individuo que é determinante.

Comissões ad hoc que se sobrepõem às instituições existentes (Provavelmente nem a própria Presidência da República hoje saberá quantas existem, quantas já foram extintas, etc).

O PR criou em seu redor uma equipa que se sobrepõe às instituições existentes.

Por que é que o país está ansioso por saber se JES concorre ou não e se não quem será o seu sucessor? Porque os indivíduos é que são determinantes

Fonte. Semanario angolense (25 de Julho de 2009)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Partidos de oposição não têm vez...









Muita da inércia da nossa Oposição também vem da «fábrica» do Mpla


Profusamente abordada na última edição deste jornal, a letargia da Oposição política em Angola é algo que de facto brada aos céus. Mas é de elementar justi-ça acrescentar que muita dessa inércia também tem a mão do próprio MPla.

Na realidade, na incipiente democracia angolana, o jogo político não tem sido nobre, ou simplesmente normal. Tem sido sistematicamente pervertido e enviesado pelo partido no poder, que não se tem eximido de recorrer a artifícios e manobras, para não apenas reduzir o campo de manobra, como até mesmo asfixiar os adversários políticos.

Veja-se, por exemplo, as frequentes dissensões inter-nas que acometem os partidos opositores, com a Unita incluída. Há que reconhecer que é um esforço que os tem privado de tempo e energia para se dedi-carem a fazer oposição política como deve ser. Aparentemente, tal fenómeno pode ser atribuído sobretudo às debilidades organizativas evidenciadas por esses partidos, mas na verdade também é fomentado de fora para dentro por acção do pró-prio MPla.

É difícil de entender que mi-litantes de partidos de diminu-ta dimensão – como são quase todos eles, com direcções que segundo o anedotário político nacional caberiam inteirinhas num «starlet» – vivam perma-nentemente à bulha uns com os outros, e o ambiente numa or-ganização política como o MPla seja de «eterna pacatez» entre os milhões de adeptos que diz ter, todos como um rebanho vergado a voz de um só pastor. É qualquer coisa de inimaginá-vel mesmo à luz de um elemen-tar cálculo de probabilidades. Daí que faça todo o sentido concluir que as lutas intestinas que têm assolado os partidos da oposição em Angola sejam de-liberadamente induzidas pelo próprio MPla.

O cenário produzido pelas últimas eleições foi qualquer coisa de «kafkiano» e digno de desafiar teorias no âmbito da politologia, não apenas pelo «score» abismal que houve en-tre vencedores e derrotados. Do dia para a noite, por exemplo, praticamente vimos o PadePa desaparecer do firmamento político, uma formação política que, no quadro dos partidos emergentes, era somente a que indiscutivelmente possuía maior capacidade mobilizado-ra, sobretudo nos meios juvenis dos super-populosos subúrbios de Luanda.

Carlos Leitão, o líder inquestionável da organização, passou a confrontar-se com um adversário interno saído do nada, o secretário-geral Silva Cardoso. E no culminar de um processo jurídico mirabolante, Leitão foi expelido do partido, que ficou às rédeas de Silva Cardoso.

Agora, feito o balanço dos estragos provocados pelo «tufão» que passou sobre essa formação de jovens turcos da Precol, vemos que dele pratica-mente nada resta. Carlos leitão foi remetido às boxes, não sendo crível que tão cedo venha a estar refeito da pancada que levou, enquanto Silva Cardoso, que reclamou de forma espa-ventosa a liderança do PadePa, sumiu literalmente do mapa. E com ele, desapareceu também a própria organização, que nou-tros tempos seguramente não teria deixado passar em branco, sem se fazer ouvir, a onda de demolições e outras arbitrarie-dades que o Estado tem promo-vido.

É mais ou menos consabido, nos círculos políticos nacionais, que foram os tentáculos do partido no poder que vergaram a Frente para a Democracia (FpD), uma formação que mesmo não estando vocacionada para seduzir e galvanizar as grandes «massas», tinha porém suficiente bagagem intelectual para despertar as franjas de eleitores politicamente mais esclarecidos da grande urbe luandense, muitos dos quais se têm revelado nitidamente desencantados com os rumos trilhados pelo país sob a batuta do MPla.

Ainda visivelmente aturdida pelo fracasso das legislativas do ano passado (está entre os partidos extintos por não terem conseguido transpor a fasquia de meio ponto percentual dos votos escrutinados), a FpD prepara a sua «rentrée» política sob nova designação, mas já se sabe que não será fácil essa empreitada.

Prosseguindo, porém, há que dizer que é anterior à realização das últimas eleições legislativas a cruzada levada a cabo pelo «regime» para implodir os outros partidos ou, ao menos, levá-los a um completo desgaste e erosão das suas estruturas e principais figuras. Falamos, por exemplo, do opúsculo sofrido pelo PdP-Ana depois da desaparição do seu líder-fundador, Mfulumpinga Landu Victor.

A sua morte mantém-se como um dos grandes enigmas forenses deste país, mas o argumento político como um provável leit-motiv que estará na esteira do caso continua a não ser descartado. Ou, pelo menos, continua a alimentar certos «detectives» do universo político angolano, inconformados com o fac-to das autoridades policiais do país não terem até hoje, passados cinco anos, avançado uma explicação verosímil para a morte de «Stinger», alcunha por que também era conhecido o fun-dador do PdP-Ana. É iniludível que essa formação nunca mais foi a mesma com a saída de cena de «Stinger». Sediangani Mbimbi, o sucessor, não consegue fazer-lhe a vez, além de que se nota igualmen-te um claro «vazio» na actuação da própria oposição no Parlamento, tribuna em que Mfu-lumpinga tinha frequentes intervenções enér-gicas contra o «sistema», sendo deste ponto de vista o político que estava na dianteira da «frente norte», isto é, entre os bacongo.

Aliás, também se tem conjecturado que Mfulumpinga era nos últimos tempos de vida uma espécie de «factor x» para a reanimação das organizações políticas desta matriz étnica (por sinal, a maioria no país), enfraquecidas com a erosão sofrida pela Fnla, que é fruto não apenas das actuais lutas intestinas que a têm sacudido, como também das sucessivas san-grias que se foi abatendo sobre a sua lideran-ça, à medida que os seus principais dirigentes foram saltando do barco na esteira do chama-do «processo de clemência».

Modus operandi ancorado no intelligence e na media

Ao recensearmos os méto-dos de esvaziamento dos adversários políticos, con-cluímos que persiste uma velha prática do «modus operandi» do MPla: o envolvimento das estruturas de inteligência e segurança do Estado para apoiar actividades de natureza político-partidárias. De facto, há indícios de que tal prática não terá sido desmantelada (para usar uma co-nhecida terminologia «aparatchick») com o advento do multipartidarismo no país, tendo, antes pelo contrário, conhecido uma maior sofisticação.

Continua a haver levantamentos de «intelilligence» que servem para apoiar decisões políticas do partido maioritário. Cidadãos, partidos políti-cos, organizações sindicais e da socie-dade civil têm sido sistematicamente vigiados pela máquina securitária do Estado, que está fortemente atrelada ao MPla.
Se isso foi um procedimento tolerável e compreensível em ambiente de guerra civil com a Unita no passado (quando a organização de Savimbi tinha a sua própria secreta, a BRinde), tal já não é minimamente inaceitável em tempos que devem ser de aprofunda-mento da democracia.

Além dos serviços de inteligência, muito do «modus operandi» do maior partido angolano também continua solidamente atrelado aos meios de comunicação social públicos, que servem de caixa de ressonância da sua propaganda, ao mesmo tempo que procuram reduzir ao máximo o espaço de intervenção às organizações políticas da oposição.

Entre vários exemplos, recorde-mos somente as denúncias do jornalista e pivô da TPa Ernesto Bartolomeu e do núcleo do Sindicato dos Jornalistas Angolanos na Rna. Em tempos, no Jornal de Angola chegou a haver uma directiva para as matérias referentes às actividades da Oposição não serem acompanhadas de fotos dos políticos de tais partidos.

Assinale-se, finalmente, a partidarização das instituições do Estado, onde os cargos e carreiras estão via de regra condicionados à filiação no MPla, em conformidade com o princípio sectário dos «jobs for the boys». Isso tem inibido sobremaneira os jovens quadros do país de ingressar nos partidos da oposição. Nenhum líder de topo destes partidos encontra espaço para uma carreira nas instituições do Estado ou nas grandes empresas públicas. As excepções apenas confirmam a regra...

O Ême, «lui même»...

Enfim, as práticas que caracterizam actualmente o MPla contêm em si mesmas as sementes que não só reduzem o espaço de manobra dos partidos opositores, como também constituem um entrave para o avanço da construção democrática no país.

Basta ver que a maior força política tem um projecto de renovação do seu quadro dirigente que nem por isso tem significado maior abertura e democraticidade inter-na. Bem analisado, muitos dos princípios estalinistas que imperavam no passado permanecem como traves mestras das suas actuais estruturas.

Falou-se muito em injecção de sangue novo na sua bancada parlamentar, mas bem analisada a mudança foi apenas cosmética. Ainda há lá incrustado algum conser-vadorismo ao nível de prática e funcionamento. Os jovens que ingressam hoje no partido não o fazem tendo na mira ideais e valores fundados no bem colectivo, mas única e exclusivamente para singrar em termos individuais.

O que se passa é que todos os sectores do partido resignaram-se aos ditames de um núcleo dominante que proclama que se cerrem fileiras em torno da figura do Chefe. No fundo, este é o maior compromisso do MPlados dias de hoje. Lui même...

Fonte: Semanario angolense (Ano VI - Edição n. º 325, 18 a 25 de Julho de 2009)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A construção da democracia



Por João Melo
Deputado do MPLA e jornalista

Tenho afirmado muitas vezes, em diferentes ocasiões, que a cultura autoritária é ainda muita forte em Angola, por razões históricas e objectivas. O caldo autoritário nacional provém de três raízes: a cultura autocrática “tradicional” (ou seja, rural), o colonial-fascismo e o modelo marxista-leninista adoptado nos primeiros 16 anos de independência.

Esse problema não tem partidos: atravessa horizontalmente toda a sociedade; a rigor, começa no interior dos lares.

A construção da democracia angolana tem de ser entendida, pois, como um processo. Afinal, e parafraseando o mais do que manjado aforismo, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Uma corrida de obstáculos – eis a imagem que me ocorre para representar esse processo. Precise-se: uma corrida de fundo.

A seguir, procurarei abordar, de maneira aleatória e resumida, seis obstáculos que, na minha opinião, é preciso superar para a edificação de uma genuína e responsável cultura democrática em Angola.

O primeiro é a tendência para a pessoalização. Isso tem dois aspectos: por um lado, toda e qualquer crítica é considerada pelos visados (ou pelos seus próximos) como um ataque pessoal; por outro lado, muitas críticas possuem, realmente, uma motivação pessoal, que roça muitas vezes o preconceito boçal (em regra, quando os seus autores são incapazes de formular argumentos a favor das suas teses).

O segundo é a teoria da conspiração. Há ainda muita gente que vive no clima pré-anos 90 do século passado e vê “inimigos” em todo o lado. Destacam-se, entre nós, certos consultores de comunicação mandados vir do estrangeiro e que, nos seus relatórios semanais, levantam hipóteses estapafúrdias acerca de “conspirações” que só existem na sua cabeça.

O facciosismo é o terceiro obstáculo. De facto, ainda é excessivamente frequente ajuizar e valorizar as opiniões conforme a “cor”, em especial partidária, mas não só (também de grupo, por exemplo), dos seus autores. A opinião dos “nossos” é considerada sempre válida, enquanto a dos “outros” é desqualificada ab limine.

Uma variante do facciosismo é o corporativismo. Esse é o quarto obstáculo a ultrapassar para a construção de uma verdadeira cultura democrática entre nós. Os jornalistas de carteirinha que me desculpem, mas essa classe – que tem um papel crucial na edificação da democracia em qualquer sociedade – é uma das mais afectadas pelo espírito corporativista.

O quinto obstáculo é a dependência dos cidadãos, individualmente ou organizados, das macro-estruturas sociais (Estado, partidos, etc.). Isso merece um estudo sociológico aprofundado, que, como é óbvio, não cabe aqui. Mencionarei apenas, entre as várias causas dessa dependência, a estrutura salarial predominante quer no Estado quer em muitas empresas (salário de base reduzido, compensado com subsídios e regalias), assim como a relação clientelar entre a maioria das empresas e o Estado.

Esses dois factores – sem esquecer, claro, as cumplicidades e jogos de interesses, que, como em qualquer outra sociedade, também existem entre nós – limitam a autonomia e a capacidade crítica dos cidadãos, incluindo a desse importante segmento da sociedade civil, que são os empresários. Por isso, a reacção de alguns deles às recentes medidas económicas do governo pode ser vista como um sinal de que, contrariando os mais cépticos, a construção da democracia em Angola está a avançar.

Enfim, o sexto obstáculo que não posso deixar de referir é o recurso ao anonimato para proferir e defender opiniões. Na maioria dos casos, isso serve apenas para acobertar ataques soezes e mesquinhos, intrigas, insultos, calúnias e difamações, ou seja, verdadeiras agressões que, em nome da democracia, a pervertem completamente ou mesmo impossibilitam". (...)

Fonte: Angola24horas


Angola deve construir a democracia o mais rápido possível. Não devemos "processar" a tudo. Angolanização é um processo... Agora a demoracia também é um processo. Lendo artigos de opinião de muitas pessoas é interessante ver a mudança de visão. Na época da formação da lista para deputados e eleições muitos viam "inimigos" em tudo que não fosse da situação. Para todos efeitos vale a aquela máxima: "triste não é mudar de idéias, mas é não ter iédias para mudar".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Presidente da BP-Angola diz que angolanização é um processo: "devagar vai-se longe"


Presidente da BP em Angola, que acha que angolanizar não é quantificar mas qualificar, afirma que a angolanização é um processo e vai levar o seu tempo.”

Sempre que se fala em angolanização, invariavelmente, a BP é a primeira a ser lembrada. Poderia até ser uma boa referência. No entanto, normalmente é lembrada como exemplo de uma empresa onde a angolanização é um processo que está com um pé “na casca da banana e outro na cova”, embora seja uma, talvez a única, que possui no seu topo um angolano.

Na semana passada, atraves da entrevista concedida ao “Novo Jornal”, de 10 de Julho de 2009, o Presidente da BP, José Gonçalves Martis Patrício (55), jornalista de profissão, fazendo o papel de bombeiro, saiu novamente em defesa da empresa que representa. Uma resenha de suas idéias sobre o processo de angolanização é apresentada a seguir.

O executivo José Patrício começou por afirmar que a "angolanização na indústria petrolífera é um processo e vai levar seu tempo". Por outras palavras: a angolanização não se resolve por “decretos cosméticos. Necessita de uma refundação”, assim diria o presidente Raúl Castro de Cuba. Tudo porque a angolanização, segundo Patrício, entrevistado a partir da cidade do Cubal, não pode ser vista exatamente como na construção civil, ou outros setores. Para Patrício, a indústria petrolífera é extremamente sofisticada e exigente do ponto de vista tecnológico. Necessita de investimentos avultadíssimos e de risco elevado.

Por isso, continua o executivo José Patrício, os jovens quadros da nossa pátria, que têm na indústria petrolífera o seu “El dorado” em termos de carreira profissional, mesmo depois da licenciatura e especialização são submetidos a programas intensivos de treinamento (On the Job Training) para se familiarizarem com todas as ferramentas e processos da indústria. Dessa maneira angolanizar é sim “qualificar”, não podendo, portanto, ser medido pelo número de quadros que deixam a empresa. Vale aqui lembrar que, em média, a percentagem de angolanos que deixa a BP é de 5% no universo de 500 funcionários.

Ao comentar sobre a concorrência no setor, o ex-Secretário para a Informação do Presidente de Angola, que diz não ter uma visão redutora nem fantasista sobre a angolanização, acha que o problema de concorrência é desequilibrada porque o angolano com três a cinco anos de trabalho no setor têm que competir com expatriados de 15, 20 ou 25 anos de experiência.

Entretanto, o ex-embaixador angolano em Portugal, Estados Unidos e junto da Organização das Nações Unidas está convencido de que os técnicos da BP com cinco anos de serviço, que têm dificuldades de concorrer com expatriados, depois de programas de formação e desenvolvimento das suas competências ainda assim tornam-se tão competitivos no mercado que passam a ser assediados pela concorrência direta, pelas prestadoras de serviço e outros setores públicos e privados da economia nacional, como é, provavelmente, o caso de José Bento ex-funcionário de recursos humanos da BP, por 8 anos, que hoje é quadro de referência do BDA (Banco de Desenvolvimento Angolano), com salário maior daquele que recebia na BP, além de uma viatura de serviço.

Vale recordar que o decreto 20/80 definiu os niveis de angolanização a alcançar até 1990, sob pena de sanções. Se 29 anos depois ainda não temos angolanos capazes, com experiência de 15, 20 ou 25 anos, isso sugere que não há transmissão de conhecimento, os angolanos são transferidos constantemente de seus postos para que não tenham tempo suficiente de obter experiência, são dispensados antes de atingirem experiência necessária, como aconteceu com Tânia Correia dispensada depois de 12 anos na BP ou desenvolvem atividades simples, como por exemplo o de atribuir a um economista o trabalho de scanear (digitalizar) mil apólices de seguros, como aconteceu com Mário Cumandala.

Finalmente, “a principal figura da petrolífera inglesa” que opera em Angola, deu a mão à palmatória quando afirmou que “a concorrência obriga a que se olhe com mais rigor para outras componentes, como pacotes de benefícios e as medidas de atração e retenção de quadros, de modo a que a empresa seja competitiva no domínio de recursos humanos”. Caso contrário a empresa continuará perdendo brilhantes profissionais como ocorreu com a perda de Almeida e Filipe Pelágio, só para citar casos exaustivamente noticiados.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Malária cerebral mata cinco crianças por dia em Luanda



A falta do tratamento de água e dormir sem o mosquiteiro devem ser as principais razões da morte de pelo menos cinco crianças, diariamente, com malária cerebral no Hospital pediátrico de Luanda.

Em um mês, a partir de 13 de maio de 2009, foram registradas a morte de 116 crianças com idades compreendidas entre dois a 12 anos.

A doença ainda não tem vacinas.

Entre os principais fatores que levam a que crianças apanhem malária, segundo alguns profissionais da saúde, são: "diminuição da imunidade e o falcíparum, um dos quatro parasitas que causam a malária cerebral".

terça-feira, 14 de julho de 2009

Citotec ameaça mulheres no Cazenga (Luanda)


O fenómeno não e novo, mas nunca antes foi alvo de tanta atenção pela classe médica e pela própria sociedade. Em termos numéricos são pouco claras as cifras de mulheres apanhadas numa grave complicação (quando não conhecem a morte) depois de um aborto mal feito, até por que nem todos os casos chegam ao conhecimento do público.

Desta vez, o relato vem do município do Cazenga. À semelhança do que ocorre em muitas localidades do país, o uso indiscriminado do Citotec, fármaco destinado ao combate à dor do estômago ou gastrite, por jovens e senhoras grávidas, tem preocupado os profissionais de saúde naquele município de Luanda. Para ilustrar, por dia acorrem para a maternidade do Hospital Geral dos Cajueiros, em média, de cinco a dez mulheres com abortos em curso.

O Citotec aumenta a produção de muco gástrico e produz contracções uterinas. Fármaco usado no tratamento e prevenção da úlcera estomacal, a sua inalação pode causar contracções a mulheres grávidas, ao ponto mesmo provocar de um parto prematuro.

Segundo Anita Costa, chefe da maternidade dos Cajueiros, em média registam-se naquela unidade hospitalar entre trinta a vinte pacientes com abortos em curso. «São meninas e senhoras que usam o Citotec (misocrostrol) de forma voluntária, tendo apenas suspeita de gravidez. Outras fazem recurso a centros médicos privados sem condições de higiene e não autorizados para o exercício de medicina ou mesmo a elementos sem qualificação. Em consequência disso, muitas jovens ficam sem possibilidade de procriar no futuro, mas outras têm um destino mais trágico: a morte», disse a nossa interlocutora.

«Temos feito um trabalho intenso com estas jovens, mais muitas vezes sem sucesso, pois elas protegem esses supostos profissionais ou mesmos os postos médicos onde iniciam os abortos», revelou Anita Costa.Fazendo recurso à máxima que diz que se deve cortar o mal pela raiz, Anita Costa defende a proibição da venda livre deste fármaco devido aos seus efeitos nefastos e ao aproveitamento indevido de que é alvo.

O Hospital dos Cajueiros, em parceria com a Ong Pathifinder Internacional e Médicos Peruanos, desenvolvem um programa de assistência a mulheres grávidas, em especial às que tiveram aborto. Conhecido como AMeU, esse programa tem como objectivo primário salvar a vida das mulheres. «Dependendo do seu estado clínico, se a mulher tiver o colo uterino fechado realizase de imediato uma ecografia de emergência; se revelar aborto retido, nós imediatamente fazemos o AMeU, que é um procedimento indolor, de fácil manuseamento e pode ser feito por parteiras treinadas aqui no nosso hospital», afirmou aquela responsável hospitalar.

O sindroma pós-abortivo

Após o aborto, a mulher pode desencadear uma série de comportamentos do foro psicológico, como o remorso e o sentimento de culpa. Um estudo do Royal College of Psychiatrists, associação de psiquiatras britânicos e irlandeses, considerou que o aborto induzido pode trazer distúrbios clínicos severos para a mulher e que essa informação deve ser passada para a mesma, antes da opção pelo aborto. E, por cá, como é feito este tratamento? Foi a questão levantada pelo Semanário Angolense, indagando Anita Costa, responsável pela maternidade do Hospital dos Cajueiros, para mais pormenores a respeito da utilização do AMeU.

Semanário Angolense - Que tratamento é feito no pós-aborto?

Anita Costa - Em princípio, o AMeU permite um atendimento humanizado e a parteira deve realizar posteriormente o aconselhamento pré-procedimento e outros pós-AMeU, incluindo o planeamento familiar, para evitar a gravidez num período de seis meses. A enfermeira deve ser paciente e prestável tendo em conta a necessária empatia com a paciente, pois uma mulher que aborta tem sempre um sentimento de perda. Assim, torna-se importante a realização do planeamento familiar para épocas posteriores.

Semanário Angolense - A utilização do AMeU está a diminuir o índice de mortalidade entre as mulheres?

Anita Costa - Em grande medida. Às mulheres que vêm aos nossos centros com os primeiros sintomas temos feito tudo para evitar mortes. Recomendamos que as senhoras procurem as nossas unidades sanitárias para realizar o planeamento familiar, pois o aborto não o substitui, apenas prejudica a saúde materna. O AMeu é feito quando a mulher tem um aborto incompleto ou aborto retido com uma gravidez igual ou inferior a doze semanas, não sendo aconselhado para um período superior a doze semanas ou a abortos complicados (como um aborto infectado ou sético). Chama-se, no entanto, também a responsabilidade das autoridades sanitárias, para exercerem maior controlo do mercado farmacêutico, na medida em que a comercialização de fármacos como o Citotec estejam sujeitos à recomendação medica.

Fonte: Semanário Angolense (11 a 18 de Julho/2009)

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segunda-feira, 13 de julho de 2009

O poder do poder - Ismael Mateus


Por Ismael Mateus
Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009

“Por que razão JES quer continuar no poder? É difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder, ele ainda tenha objectivos por realizar”


O Presidente José Eduardo dos Santos participou como convidado especial na reunião dos mais poderosos estadistas do mundo.

Foi um convite especial que – tenhamos os pés bem assentes na terra - não faz de Angola uma potencia, mas dá-lhe uma visibilidade mundial por bons motivos e, sobretudo, representa um reconheci-mento internacional que José Eduardo dos Santos nunca teve.

Agora sim, depois da participação no G8 como reconhe-cimento internacional, o Presidente da República poderia usar a mesma expressão que usou em Agosto de 2002, em Washington, quando afirmou que se sentia como um capitão de barco que depois da tempestade tinha conseguido levar a nau a um porto seguro.

Do ponto de vista nacional esse marco foi de 2002, ano em que terminou a guerra, a 2008, ano das eleições.

Internacionalmente JES tem credibilidade e respeito dos parceiros regionais, mas nunca teve um reconhecimen-to de presença mundial, apesar de, ao longo dos seus 30 anos de poder, ter sempre procurado, sem sucesso, tal êxito internacional. O esforço de guerra, a gran-de propaganda política e ainda os imensos erros na estratégia de comunicação fizeram sem-pre muito «ruído» a uma imagem de JES como estadista de dimensão extra-nacional. Em finais dos anos 80 e princípios dos anos 90 fizeram-se os pri-meiros grandes ensaios. Os acordos tripartidos, a retirada dos cubanos e os acordos de Bicesse tiveram condimentos «à ocidente» que permitiriam que JES se passeasse pela cena mundial. Nada ocorreu para além de tímidas entrevistas na imprensa portuguesa. Vieram o Papa Joao II e as eleições e novamente a guerra. Mesmo com o sucesso do fim da guerra em Angola, JES não viu nenhum reconhecimento público internacional de grande expressão. Não recebeu prémios mundiais de paz nem diplomas de mérito de dimensão global. Por essa assinalável circunstância, tornaram-se imperdíveis três iniciativas muito divulgadas na época. Primeiro, a associação de intelectuais do Cazenga e depois Riquinho anunciaram a candidatura de JES ao Prémio Nobel da Paz. Depois foi criado um movimento de apoio à candidatura.

Desde 2002, o nosso país vem protagonizando um crescimento surpreendente. No triénio 2005-2007, Angola cresceu em média 20,1% ao ano, a segunda taxa mais elevada entre os 172 que integram a lista de um dos relatórios de 2008 do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao mesmo tempo consolidou a sua posição estratégica no continente, influenciando com a sua experiencia de paz a situação em países como a Cote D`Ivore, RDC, Zimbabwe, Guiné Bissau, São Tomé e Republica Centro Africana. Depois de Bongo, recentemente falecido, JES tornou-se no mais antigo presidente da África Central e Austral. É o mais velho chefe de Estado, mesmo que em idade seja mais novo que Mugabe e que Dennis Sassou Nguesso. Acresce-se também uma maior agressividade diplomática que nos últimos 24 meses possibilitaram o estreitamento de relações com os EUA, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, para além da liderança da OPEP. O Papa voltou a Angola (agora Bento XVI) mas, desta vez, para transmitir ao mundo não uma Angola amedrontada e ajoelhada em preces, como em 1992, mas um país novo, sorridente, confiante na paz. A imagem de JES como Presidente dos angolanos saiu também a ganhar e muito.

L`Aquila é a recompensa por tudo isso. É um reconhecimento do G8 pela influência crescente de Angola na vida africana e mundial. Por isso é que é justo reconhecer a assinatura de JES em tudo isso.

Também é por tudo isso que temos dificuldades em perceber por que razão JES quer continuar no poder. Dito de outro modo, por que razão alguém que conquista tudo isso e deixa o seu nome inscrito em tantos momentos da nossa história necessita ainda de se manter no poder?

Por várias vezes dissemos que não acreditámos que JES se candidate, mas os sinais que nos chegam deixam entender que estamos errados. A ver vamos. Seja como for, é difícil perceber que depois de atingida esta estatura politica, depois de trinta anos de poder JES ainda tenha objectivos por realizar.

Internamente, JES não conseguirá atingir os 82% do MPLA, que, queira-se ou não, é a referência. O desgaste do MPLA é maior, sobrando para o seu líder e a imagem de JES já não é tão imaculada como antigamente. Hoje muita gente o responsabiliza directamente pelo estado das coisas. Portanto, se concorrer ganha, mas ganha com menos do que o MPLA e fá-lo-á com muito menos eleitores também. Mesmo os níveis de crescimento tenderão a baixar e mais tarde a fixarem-se.

Internacionalmente, quem vier jamais será o primeiro nestes palcos nem terá as mesmas dificuldades como abrir Angola ao mundo. Então para onde corre JES? A caminho dos 70 anos, trinta dos quais no poder, JES ainda tem necessidade de correr atrás de quê?

Não dá mesmo para entender senão com aquela frase conhecida: «é esse o poder do poder»


Semanario angolense, 11 a 18 de Julho/2009, Ano VI - Edição n. º 324

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Angolanização da BP é diferente


Alguém precisa avisar à BP de que a angolanização é admitir e não demitir angolano

Angolanização é a denominação dada à política que obriga empresas estrangeiras que operam en Angola, principalmente as petrolíferas, a empregarem angolanos em todas as categorias e posições.

Essa não se trata de uma política que fomenta a xenofobia. É uma política do governo angolano baixada por intermédio de um decreto-lei. Ela enfatiza que “nos atos de contratação, as empresas devem dar preferência à mão-de-obra angolana. A contratação de mão-de-obra estrangeira só será feita desde que seja comprovado que não existe, no mercado nacional de trabalho, cidadãos com qualificação e experiência exigida. Mesmo assim, essa contratação deverá contar com aprovação do Ministério dos Petróleos”.

Trabalhar com o pessoal nacional, na verdade, é o que já ocorre em diversos países e praticada por muitas empresas: “na Itália com italianos, na Indonésia com indonésios e, naturalmente, em Angola com angolanos”. Essa é uma forma de criar oportunidades de uma integração real e efetiva além da melhor distribuição de renda e desenvolver o mercado nacional.

Uma das dificuldades que as empresas têm encontrado é a baixa qualificação da mão-de-obra nacional, embora o decreto 20/82 estabelece que “todas as companhias que exploram petróleo em Angola devem colaborar com a formação técnica de angolanos para atuarem no sector”. Atualmente muitas dessas empresas promovem “Fóruns de Recrutamento” em diversos países com vista ao recrutamento de quadros angolanos lá radicados.

Em termos gerais, Angola, em poucos anos, conseguiu estabelecer-se como um pais viável em termos de exploração de petróleo em águas rasas e profundas dentro da região e na própria OPEP.

No entanto, o maior desafio que o país enfrenta é angolanização do sector. Um desses exemplos é o que ocorre na petrolífera britânica British Petroleum (BP) onde angolanização caminha a passos de caranguenjo. A fuga de angolanos que essa empresa registra já foi tema de reportagens como a feita recentemente pelo Semanário Angolense.

As notícias provenientes da BP nos últimos dois anos são desanimadoras. No ano passado, por exemplo, a petrolífera perdeu 25 trabalhadores, todos insatisfeitos com políticas da empresa em termos de remuneração e benefícios.

Os números do primeiro trimestre de 2009 já ultrapassam as taxas de 5% do ano passado num universo de quase 500 trabalhadores nacionais. Este ano começou com vários trabalhadores abandonando a empresa ou insatisfeitos e entre eles destaca-se grandes quadros como o Jurista Mário Figueiredo que a empresa mandou para Aberdeen, na Escócia por mais de dois anos. Agora que regressou nota-se que o seu trabalho está sendo menosprezado pelos expatriados.

Os recursos humanos, com a saída de o José Bento actualmente quadro de referencia no BDA (Banco de Desenvolvimento Angolano), sofreram o primeiro desfalque. A empresa tentou “oferecer-lhe” um outro posto depois que apresentou a demissão. Entretanto, este quadro negou categoricamente. O outro que acabou de apresentar a sua carta de demissão é o Senhor Jorge Fortes. Ele foi, junto com José Bento, um dos grandes pilares desse Departamento.

Vale aqui lembrar o nome da Senhora Tânia Correia, que construiu uma carreira invejável de 12 anos na BP. Hoje não se sabe qual o sentimento que ela nutre da empresa depois de mais de uma década de serviço.

Na área Comercial, jovens que poderiam se transformar em líderes do futuro simplesmente foram dispensados. Esse é o caso Kumba de Almeida, Filipe Pelágio e Mário Cumandala.

Tudo que se pode constatar é que ainda há mais trabalhadores com malas já feitas incluisive no Departamento do próprio presidente da empresa. Todos estes quadros têm uma coisa em comum: estão cansados dos maus tratos nas mãos dos expatriados que a empresa tem demais, e, principalmente, a falta de responsabilidades reais que lhes são delegadas, sem salários e benefícios dignos. Além disso, eles vêm seus esforços e inteligência menosprezados (no fim do ano), constituindo-se em falta de motivação para permanecer nesta companhia.

Nem todos que estão saindo estão simplesmente arrumando as malas a procura de verdes pastos. Alguns estão dispostos a ver a BP nas Barras do Tribunal de Trabalho. É o caso de Mário Cumandala que há 5 anos a empresa recrutou nos Estados Unidos e que foi forçado a demitir-se da BP em Maio deste ano. O Economista já constituiu um advogado e o caso deve ir a tribunal no dia 4 de Agosto, quando as duas partes (BP e ele) deverão estar frente a frente. Como se não bastasse à mutilação de sua carreira, a BP tentou recrutar (aliciar) seu advogado com uma oferta de emprego para ingressar no Departamento jurídico. Isso sugere o desespero da Petrolífera que agora também parece perder sua integridade ética.

Outro aspecto que mostra que a angolanização na BP vai mal é o que ocorre nos recursos humanos. Por exemplo, Jorge Fortes foi por muito tempo o homem que implementou os pacotes de benefícios. Hoje, entretanto, os mesmo se tornaram repugnantes aos trabalhadores. Jorge Fortes implementou tudo seguindo a orientação dos expatriados. Ele foi o Director do recrutamento o ano passado, e agora esta fora, sinal mais do que claro de que as coisas estão indo de mal a pior.

Ainda, José Bento, o arquitecto dos sistemas de processamento de salários da BP, abandonou a companhia depois de 8 anos de carreira. Hoje no BDA não só é um quadro respeitado como viaja pelas províncias a implementar políticas dos recursos humanos do Banco, e com salário melhor que a BP pagava além de uma viatura de serviço.

Atualmente, os recursos humanos da BP são liderados por um angolano, o Sr. Paulo Pizarro, homem capaz e com muita experiência. Na verdade, este homem substituiu um expatriado americano para o qual reportavam todos os “team leaders” do Departamento. Assim que a pasta passou ao comando do angolano, os outros 3 expatriados do “team” deixaram de reportam ao Senhor Paulo. Passaram a fazê-lo a nova Vice-Presidente dos Recursos Humanos que está baseada em Londres. Tudo isso sob o olhar silencioso de José Patrício que sua única missão devia ser angolanizar a empresa. Julgando por este estado de coisas, a BP não vai atingir as metas de angolanização tão cedo como as outras empresas do setor.

Publicado em: Angola24horas.com

Por que a TAAG cancela tanto vôos no trecho Luanda – São Paulo?




Não faz muito tempo que a TAAG inaugurou a linha Luanda a São Paulo. Passado o entusiasmo inicial, agora começam a surgir dúvidas sobre a viabilidade dessa linha, principalmente quando a companhia de bandeira nacional está conseguindo sair da lista negra para sobrevoar o espaço aéreo europeu.

Tudo porque se registra, com freqüência, o cancelamento de vôos nesse trecho. Inicialmente, três vôos semanais estavam previstos entre Luanda e São Paulo (segunda, quarta e sábado).

Uma pergunta que se pode fazer é a seguinte: os cancelamentos devem-se ao reduzido número de passageiros ou por questões técnicas?

Tenho um amigo que prefere usar a South African Airlines (SAA) (São Paulo – Johanesburgo – Luanda) devido, segundo ele, à boa educação e excelente atendimento de jovens comissários de bordo e elevado quilos que essa companhia permite, hoje 60 kg (duas bagagens de 30 kg).

Além disso, cada passageiro pode levar mais 6 volumes de 30 kg cada, pagando os míseros US$ 100,00 (cem dólares) adicionais por cada um deles.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Preferia vir ao mundo como um Cão holandês


Devido a muitas solicitações, reproduzo aqui o artigo de Opinião: "Prefería vir ao mundo como um Cão holandês"




Por Osvaldo S. Rodrigues
em 12 de Julho de 2007 - 03:00

Holanda - Muita das vezes ao reflectir sobre a vida, imaginei uma situação hipotética, aonde eu tería a escolha de vir ao mundo como um ser humano ou então um Cão Holandês. Depois de tanta reflexão, cheguei a conclusão, que prefería sem duvida, vir ao mundo como um Cão holandês.

Como um ser humano angolano, eu nascería, provavelmente no Rocha Pinto, ou Palanca – um dos bairros mais pobres de Luanda; Como Cão holandês, eu nascería em HAIA, ou então em Roterdão – uma das grandes cidades da Europa.

Como ser humano angolano, a minha nascença sería encarada com muita tristeza – mais uma boca para alimentar, mais um bebé que vai chorar a noite toda e poderá, até, ter lombrigas, sarna, sarampo, tuberculose, etc. Como Cão holandês, porém, a minha nascença sería encarada com muita alegría; o meu dono levar-me- ía ao parque; ao me vêr, toda a gente iría sorrír-se.

Como ser humano angolano, a minha infancía sería toda cheia de miséria; em nossa casa, a refeição diária sería Funji com feijão, arroz com feijão, ou então, arroz com peixe frito. Como cão holandês, tería biscoitos, cereiais e, em certos casos, até frangos inteiros.

Como ser humano angolano, eu mal iría a escola, provavelmente acabaría mesmo ser um menino de rua. Como Cão holandês, quando o meu dono fosse passar férias, me deixaría em hoteis especiais só para cães, com musica, programas de televisão, etc’s.



Como ser humano angolano eu sería insultado, desrespeitado, tratado da pior forma possível, sofrería todo tipo de discriminação, e até podería mesmo ser morto. Como cão holandês, porém, eu tería todos os direitos; mesmo o meu dono iria para a cadeia se me tratasse mal. Nas campanhas politicas, ninguém se atrevería de insultar-me; até tería partido que me defenda, “de partij van dieren” (o partido dos animais).

Como ser humano angolano, eu nunca podería ter uma namorada fora do meu circuíto – isto é, dos pobres. Como cão holandês, a escolha de cadelas prontas a me satisfazer sería quase infiníta; cadelas vindas do brasil, Argentina, Alemanha, Moçambique e até de Benguela também, estaríam mais do que prontas para ser “abençoadas" por mim.

Como ser humano angolano tería sempre que continuar a sonhar, e até o simples gesto de beber água podería me levar á morte.

“Deus, por favor, na proxima vida, que eu venha para a terra não como angolano, mas sim, como cão holandês, porque também não precisarei de ter visto para ir a qualquer lugar”.

* Osvaldo S. Rodrigues/ Readaptado.
Fonte: http://blog.comunidades.net/osvaldo/index.php
/ Club-K

segunda-feira, 6 de julho de 2009

CAN 2010 - Força Angola no campeonato africano de Futebol




O Campeonato Africano das Nações de Futebol, edição 2010, (CAN 2010) vai disputar-se entre 10 e 31 de Janeiro de 2010, em Angola.

As cidades sedes serão: Cabinda, Luanda, Benguela e Lubango.

O povo angola angolano deseja sucessos aos "Palancas Negras", a nossa seleção.



























Site oficial:
http://www.can-angola2010.com/

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Tudo sobre Michael Jackson


Michael Jackson (1958-2009)

Textos, imagens, vídeos e Acervo Digital VEJA descrevem a história de sucessos e escândalos do rei do pop. Notícia e repercussão.

http://veja.abril.com.br/variedades/michael-jackson-1958-2009/