domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ponto de vista sobre o turismo angolano

Global Voices
Publicado originalmente por
Clara Onofre, 14/12/2008
Traduzido por
claraonofre· Veja o post original

Angola é como toda a gente sabe um país bonito. Com uma área total de cerca de 1.246.700 km2, este país encerra paisagens diversas que passam pelas belezas naturais das praias de água morna de Benguela, pela densa e rica floresta do Maiombe em Cabinda ou pelo lendário deserto do Namibe, único lugar do mundo onde cresce a bela e peculiar welwitschia mirabilis. Welwitschia Mirabilis, foto do usuário do flickr calips96 usada sob licensa da Creative Commons.


Apesar destes cartões postais, Angola ainda não é destino turístico. Existem parcas infraestruturas para acolher devidamente quem queira vir apenas passear. No entanto, a reconstrução acelerada que se faz sentir um pouco por toda a parte, indica-nos que para lá se caminha. De acordo com o o ministro da Hotelaria e Turismo Jorge Alicerces Valentim, “com a paz, Angola tornar-se-á um destino turístico por excelência graças ao ecoturismo, à riqueza da sua cultura tradicional, as suas belissímas praias de águas quentes, as suas planícies, as suas montanhas que rasgam os céus de África. O actual clima de segurança que Angola apresenta faz dela uma região onde os investidores estrangeiros visitam com muito entusiasmo, porque estão esperançosos em encontrar oportunidades de investimento na construção, nos transportes, nas obras públicas, na saúde, nas comunicações, nas infraestruturas hoteleiras e turísticas e em várias áreas de serviços”.

Enquanto isso, estrangeiros e angolanos aproveitam as belezas deslumbrantes que Angola tem para oferecer. Spindola, blogger brasileiro, escreve no seu blog o encanto que sentiu ao conhecer a bonita província da Huíla:

A Huíla é com certeza, entre as províncias que visitei, a que tem melhor estrutura. Além disso o Lubango é uma cidade linda, conhecida pelos seus moradores como a Europa de África. O frio durante o dia e principalmente à noite, dá o ar aconchegante a esse lugar. O Lubango é famoso não só pelo seu clima como também pela serra da Leba. Faltam-me palavras para descrever tamanha beleza. É com certeza dos lugares mais lindos que tive a oportunidade de conhecer. A estrada da serra visa ligar o Namibe à Huíla. Dizem que antes da estrada era necessário dar um contorno muito grande. A obra foi realizada por uma mulher, uma inglesa. Fico imaginando como deve ter sido essa aventura. Como se não bastasse a estrada que é uma beleza estonteante, no mesmo local uma cachoeira maravilhosa. O barulho das águas preenche aquele lugar como se fosse uma música. Um frio gostoso da serra dá um ar todo romântico. As nuvens que se formam no local ficam abaixo do seu olhar, parece que estamos acima do céu. Por trás das nuvens de fim de tarde, o sol projectava uma luz. Não consigo achar definição melhor para essa luz que “ a imagem de Deus”. Todo visitante ou morador de Angola deveria conhecer o Lubango. Realmente vale muito a pena o passeio”.

“Lubango, a Africa européia”, foto de Spindola




“Serra da Leba”, foto Spindola


Passear por esta Angola misteriosa de baobás e acácias rubras, é de facto maravilhoso, mas conforme já aqui foi escrito, o país não está preparado para receber turistas. As estradas esburacadas, a falta de bons hotéis, a presença de alojamento nas cidades pequenas e de restaurantes torna tudo mais complicado. Viajar para determinadas cidades torna-se por vezes uma dor de cabeça. Peter do blog Hotel Luanda descreveu a sua viagem feita pelas terras de Malange com destino às imponentes Quedas de Kalandula:

Deixamos cedo a cidade de Malange rumo às Quedas de Kalandula. O percurso fez-se em constante deslumbramento por entre buracos de estrada e muitas paragens para contemplar e gravar tantas imagens de rara e enorme beleza. O enorme capim cortado pelas águas de um rio que serpenteia pela planície e que sob ela passa várias várias vezes e pelas sanzalas junto à estrada, onde nascem mais olhares de crianças por cada carro que passa. Chegamos enfim a Kalandula, uma pequena e acolhedora povoação situada no alto de um planalto, imponente como uma rainha que do seu trono observa suas terras ao longe. Conserva ainda algumas marcas do colonialismo nas casas, igrejas e costumes da terra que tem simpatia como sinónimo. Chegamos logo depois às Quedas de Kalandula. As segundas maiores quedas de água de todo o continente africano, com cerca de 100 metros de vertiginosa altura. Vistámos também Pungo Andongo. Uma povoação escondida no seio das pedras altas que nos faz logo pensar que foram as próprias rochas que nasceram em sua volta, como uma muralha para a proteger do resto do mundo. Três ou quatro casas, uma igreja em ruínas, um posto médico e uma escola renovada…quase como uma miragem impossível…como é possível existir vida ali? Mas existe. Compreendi que ainda se pode encontrar em Angola a harmonia entre o homem e a natureza”.
Kalandula Waterfall, photo by Hotel Luanda blog




De acordo com o blog África Minha, este ano foi inaugurada na província de Malange uma unidade hoteleira de luxo composta por 28 quartos, 4 suites executivas, 4 presidenciais e uma piscina. É o primeiro hotel do género daquela região do país. Assim como Malange foi “premiada” com um hotel de luxo, outras províncias terão o mesmo privilégio, através da construção de resorts, residenciais e outras casas do género.

Por ser um campo inexplorado, o turismo em Angola é alvo de atenção por parte de empresários estrangeiros, nomeadamente portugueses. Mas a já conhecida dificuldade na obtenção de vistos torna estes projectos de construção uma tarefa árdua de concretizar. Feliciano J. R. Cangue faz uma análise interessante no seu blog:

“Em todo o mundo o turismo é um sector da economia que se devidamente explorado, pode gerar novos postos de trabalho e assumir uma grande participação na renda nacional. O nosso país que hoje possui cerca de 80% da sua mão de obra activa na informalidade, pode atrair esse fluxo para o país. Para tal, o mercado turístico precisa desenvolver projectos que o impulsionem e potencializem o mercado turístico. Isso pode resultar em desenvolvimento económico e postos de trabalho. O turismo em muitas situações, ajuda a fixar o homem no campo, principalmente no momento em que presenciamos o êxodo rural. No nosso caso específico, sempre que ouço falar de turismo, fala-se normalmente da construção de hotéis. É verdade que a situação é crítica nessa área devido à guerra que o país passou. Precisamos investir de forma intensa na divulgação e fidelização do cliente. Isso envolve um bom atendimento ao turista. Para tal, pessoas que moram em locais turísticos precisam ser treinadas para desenvolvam espírito hospitaleiro recebendo os turistas com o máximo de boa vontade, presteza e simpatia e porque não aprender os principais termos que lhes permitam estabelecer a comunicação com turistas. Além disso, precisam preservar (livrar do mal) e conservar (manter) os locais turísticos como: as nossas florestas tropicais, formações rochosas extraordinárias, rios, lagos, quedas de água, parques nacionais, montanhas, grutas, praias, etc. Os profissionais da área precisam agir de uma forma inovadora, não deixando que apenas o ministro do turismo se debata sozinho. O sector precisa oferecer a prestação de serviços e atendimento de alta qualidade aos turistas. As embaixadas e consulados precisam também facilitar a concessão de vistos de turista. Precisamos sair do amadorismo. Temos tudo para sermos o maior paraíso turístico africano”.

O turismo angolano tem estado a evoluir positivamente, os resultados alcançados e os dados estatísticos mostram-nos esta realidade. O blog Angola Xyami traz os números da evolução do turismo na última década, e espera que “o turismo em Angola ganhe novas perspectivas e que possamos ultrapassar os 87,4 mil turistas que recebemos no ano de 2007″:

"O ano de 1999 registou um movimento de 45,5 mil turistas, em 2000 de 50,7 mil e em 2001 de 67,4 mil. Em termos relativos, esta evolução revela um aumento de 11,42% entre 1999 e 2000 e 32,9% de 2000 a 2001, mas entre 2002 e 2006, o movimento chegou a mais de 55 por cento. Do ponto de vista das principais regiões emissoras de turistas para Angola, a Europa continua a ser a maior com um total de 30,8 mil turistas em 2000, representando 61% do total geral das chegadas às fronteiras. Em 2001, passou para 38,2 mil turistas, representando 76,4%, dados que sofreram alteração de mais 10% até Setembro de 2007.

Para obter mais detalhes sobre a situação actual do turismo em Angola, visite o site da Embaixada de Angola em Portugal. Para ver mais fotos, visite o blog Angola em Fotos.


Publicado originalmente por Clara Onofre, Versão para impressão

Fonte: Global Voices (leia sempre o original e veja as fotos) http://pt.globalvoicesonline.org/2008/12/14/angola-um-pais-com-imenso-potencial-turistico-nao-explorado/

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