segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Pensamento do Velho para uma nova Angola


Por Amândio Vaz Velho
Amandio.Velho@mail.telepac.pt

Caras Amigas e Caros Amigos de Angola:

No passado dia 21 de Outubro, publiquei no Jornal de Angola um suplemento especial de 16 páginas com o título “Ciência, Liderança e Espiritualidade: Uma Abordagem Integral Para o Desenvolvimento de Angola”. Decidi agora tornar público o suplemento – aqui anexo –, dado que eventualmente algumas pessoas não terão tido acesso ao jornal.

Sintam-se livre para reencaminharem o suplemento pela vossa lista de contactos. Por favor, adicionem sempre o meu endereço a lista de envio.

Se desejarem partilhar qualquer reflexão comigo, terei todo o gosto em receber as vossas mensagens. Votos de uma leitura agradável.

"Bocas"

Ter Angola no Coração é ter o coração cheio de amor. Amor por todos os Angolanos – mas mesmo todos. Amor por toda Angola, em toda a sua beleza.

Temos que assegurar plena liberdade, mas esperando responsabilidade de todos. Temos que estimular e tolerar a diversidade, mas esperando a colaboração de todos na concretização dos grandes desígnios nacionais.

O desenvolvimento de Angola deve envolver quatro aspectos fundamentais: infra-estruturas, instituições, consciência e cultura. Um país só se desenvolve integralmente se evoluir, simultaneamente, nas infra-estruturas que suportam a vida das pessoas, nas instituições que gerem a sociedade, na consciência individual dos seus cidadãos e na cultura nacional do seu povo.

A população Angolana está hoje distribuída pelos lugares “errados”. E o principal “erro” chama-se Luanda, cidade que concentra cerca de 30% da população do país. A solução é levar o grosso do investimento público para fora de Luanda. A população segue o dinheiro.

Se Luanda tiver efectivamente cinco milhões de habitantes, será o 50.º maior aglomerado populacional do mundo. Estará a frente de cidades como Washington, Roma ou Berlim. Dos 100 maiores aglomerados urbanos do mundo, 84 albergam menos de 15% da população dos países e só quatro é que albergam mais de 30%.

Luanda tem população a mais, tendo em conta a população de Angola. A solução de fundo não é investir e construir à altura de cinco milhões de pessoas. É reduzir drasticamente a população, atraindo-a para outras zonas do país. A solução estrutural para Luanda está fora de Luanda.

O país deve envolver-se num grande esforço de ordenamento do território. Isto para que os investimentos em infra-estruturas não agravem o actual desordenamento. O desenvolvimento deve ser policêntrico.

Reduzir a população de Luanda dos actuais cinco milhões para os três milhões; fazer crescer a população de cidades como Malange e Huambo para os 1,5 milhões; fazer crescer a população de cidades como o Soyo e Luena para os 750 mil habitantes.

As sedes de todas as empresas petrolíferas, a começar pela Sonangol, seriam transferidas para o Soyo. As sedes de todas as empresas diamantíferas, a começar pela Endiama, seriam transferidas para Malange.

Poderá ajudar uma nova cidade que hospede o poder central, promovendo maior eficiência no funcionamento dos órgãos de soberania e da administração central do Estado. Mas deve situar-se longe de Luanda e deve ser uma cidade da ordem dos 375 mil habitantes. Não acredito que sejamos capazes de construir de raiz uma cidade de um milhão de habitantes.

Quando a via rápida entre Viana e Luanda estiver pronta, todos vão chegar mais rápido. Quem vem trabalhar e quem vem roubar. A estrada é uma coisa. Não tem consciência. Quem tem consciência são as pessoas. A par do desenvolvimento das coisas temos de cuidar do desenvolvimento das consciências.

Quer a Noruega, quer a Nigéria, têm muito petróleo. O Desafio para Angola nos próximos 20 anos é usar o petróleo para aproximar-se da Noruega e afastar-se da Nigéria no Índice de Desenvolvimento Humano.

O que Angola mais precisa é de uma injecção muito forte de uma “vitamina” chamada CCR: Carácter, Competência e Responsabilização. É preciso um número infinito de biliões de dólares para preencher um vazio de CCR.

Sem instituições desenvolvidas, mesmo com dinheiro, os resultados ao nível das infra-estruturas não aparecem, são lentos ou custam muito mais do que deveriam custar.

Quem precisa de uma mota não se safa colocando um motor numa bicicleta. Investimento em infra-estruturas sem instituições desenvolvidas é colocar um motor numa bicicleta.

Frequentemente, fala-se da “nossa cultura” como se fosse somente um acervo de tesouros. Não é assim. Há tesouros, mas também há venenos. Devemos concebê-la como uma dimensão da nossa existência colectiva que é viva. Que evoluiu, não visivelmente todos os dias, mas há espaços de anos ou de décadas.

Um líder tem de ser uma mulher ou um homem genuinamente interessado na felicidade dos outros, que os engaja através da nobreza do propósito, da integridade dos seus valores, do seu carácter e do calor que coloca nos seus relacionamentos. Como disse Madre Teresa de Calcutá: “Não se fazem coisas grandes. Só coisas pequenas com um grande amor".

A evolução espiritual também é uma das linhas do desenvolvimento de Angola.

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