segunda-feira, 30 de junho de 2008

Estudante malha "Lusíada" angolana

Nós angolanos já desenvolvemos o nosso "jeitinho" heroíco que poderia ser batizado de "angolíada", que já atacou algumas instituições. Como funciona?


A «Lusíadas» é como a «Malhação»

Caro Director

É com grande estima que vos escrevo! Sou estudante da Universidade Lusíada de Angola e quero por meio deste e-mail divulgar as péssimas condições de estudo a que os alunos dessa instituição estão sujeitos.

No passado mês de Maio, a direcção da Universidade reuniu-se com os estudantes de todos os cursos para ouvi-los, mas as reclamações eram tantas que ela resolveu silenciá-los e dar por finda a reunião sem mais conversa.

Os estudantes chegam a pagar até 360 USD, tornando a Lusíada na Universidade mais cara de Angola, sem contar com as multas, que crescem avultadamente. E no fim do ano são surpreendidos com multas e propinas em atraso que não se sabe de onde saíram e também obrigados a repetir cadeiras porque as suas notas simplesmente «desapareceram», por incrível que pareça!

Numa Universidade que deveria ser a melhor das privadas, na qual estudam maioritariamente filhos e filhas de figuras públicas no país, os estudantes são obrigados a dividir os computadores, por o seu número ser inferior ao de cada turma e também porque a maioria deles não funciona, dividindo-se nesse caso um computador por 4 a 5 estudantes.

As aulas de informática e de autocad têm sido um verdadeiro inferno, não só pela rarefacção dos computadores, mas também pela falta de condições técnicas para que os professores possam explicar de modo que todos os alunos possam usufruir dos seus ensinamentos, sendo portanto uma turma de 30 alunos obrigada a visualisar a tal explicação no monitor do computador portátil do professor, o que, como é óbvio, nem todos os alunos conseguem visualizar. O pior é que o professor aconselha aos alunos a levarem as aulas os seus computadores, mas, como sabem, nem todos têm a possibilidade de adquirir um portátil e ainda querem que tenhamos boas notas enquanto temos um ensino retardado e deficiente.

Também é visível a falta de turmas para albergar o grande número de estudantes e somos obrigados a passar dias e semanas a fio sem aulas, além de que o desaparecimento inexplicável de alguns professores sem reposição leva-nos a passar o dia sem aulas.

É inconcebível para um estudante que vive a quilómetros de distância da Universidade e que para nela chegar tenha que enfrentar o engarrafamento, acordar muito cedo, apanhar o táxi e chegar à Universidade para passar o dia nos corredores, por não ter aulas, devido à falta de professores.

Há ainda uma estória muito curiosa de uma professora que diz que não nos pode dar aulas à segunda-feira às 7 e 30 porque vive distante e tem preguiça de acordar cedo. Desde que arrancou o ano lectivo 2008/2009 no mês de Março, ainda só tivemos três aulas com a referida professora, sem contar que a última aula foi dada num sábado.

Existem cursos não reconhecidos que estão a ser leccionados na Universidade Lusíadas, como é o caso do curso de Arquitectura, do qual ao fim do presente ano lectivo sairá a primeira leva de licenciados «SEM DIPLOMAS», o que fez com que 80% dos alunos do referido curso desistissem e rumassem para outras Universidades. A associação dos estudantes da referida Universidade não se faz sentir, ninguém sabe dela, nem onde localizá-la.

A Universidade já tem fama de «relaxada», «preferida dos riquinhos», «malhação» outros nomes feios, mas a sua direcção nada faz para que as pessoas tenham uma outra imagem dela e dos seus estudantes.

Houve ainda uma tentativa de greve mas que fora frustrada porque os chamados «filhos de papai» ou de «bossangas» não estão interessados em mudar a situação na Universidade, por gostarem da «boa vida» que a universidade, na sua óptica, oferece. «Greve?! Abaixo-assinado?! Para quê?! Eu sou filho do fulano e gosto dessa vida. Não me interessa se há aulas ou não», teve a coragem de assim dizer um desses filhinhos de papai.

Mas, existe um bom número de estudantes sacrificados, que valorizam o suado dinheiro dos pais ou parentes com que pagam as propinas e compram o material didáctico que estão dispostos a mudar a situação que se vive na Universidade Lusíadas, para que consigam terminar com êxito os seus cursos. É para isso que lá estão. E não para brincadeiras.

Para terminar, conto-vos uma cena bastante caricata que ocorreu no dia 13 de Junho no parque de estacionamento da Universidade, onde cinco viaturas iam a sair e no mesmo instante uma outra entrava. A entrada do parque não possui sequer dimensões suficientes para que entrem e saiam duas viaturas ao mesmo tempo. Imaginem cinco. Os seis carros permaneceram parados aproximadamente uma hora, porque o sexto individuo - professor do 2.º ano do curso de Arquitectura - que por não ter mais carros atrás de si deveria recuar para possibilitar a passagem das outras cinco viaturas e posteriormente da sua, recusou-se a tal. Desceu do seu carro no momento em que o Sr. Rui Mingas entrava para a Universidade e deparou-se com tal situação. Ambos foram-se embora, deixando os outros motoristas, que eram alunos, a xixilar, até que o tal professor regressou e resolveu retirar o seu carro, pondo-se assim fim a um caso simples, mas por arrogância demorou mais de uma hora para ser solucionado.

No fundo, a Lusíada é uma universidade de «pequeno porte», pois de «grande» só tem o «nome». Cumprimos com as nossas obrigações, pelo que o mínimo que a universidade tem de fazer é oferecer aos seus alunos condições de ensino dignas de «ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS»!

Extraído do Semanário Angolense

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