quarta-feira, 2 de abril de 2008

O grande conflito da pós-modernidade


Vivemos um momento histórico delicado. Muitos o chamam de pós-moderno, mas alguns preferem chamá-lo de “modernidade líquida” ou “hipermodernidade”. Não importa o nome que receba. O importante é que se trata de um novo momento problemático, de impasses, de tensões sociais, desigualdades, exclusão social, problemas ambientais, desemprego, fome e da globalização, ou seja, muito difícil.

Nenhuma cultura permanece inflexível e com os mesmos padrões o tempo todo. Entretanto, vivemos num mundo que se transforma muito rapidamente. O momento histórico privilegia um consumismo de status, produzindo a falsa idéia de estados de bem-estar.
O homem procura nas coisas a felicidade, poder, fama e riqueza. Muitos valores culturais, bons e ruins, construídos e mantidos pela sociedade estão sendo desestruturados, ou melhor, destruídos. Isso vem gerando angústias, medos, doenças mentais, inseguranças, prazer e desprazer. Tudo mostra que estas transformações, que ocorrem aceleradamente, não são passageiras. Chegaram para ficar.

Por meio da tecnologia eletrônica, a pós-modernidade se faz sentir em todas as áreas. A televisão e outros meios de comunicação nos bombardeiam com novas informações e diversas mudanças. O homem vem se desfazendo de mitos. O vazio de mitos vem levando o homem a perder a sua essência e o ponto de partida e chegada, levando à crise de valores. Os princípios não estão mais vinculados de seus mitos e suas crenças. Não mais os princípios regem o mundo, mas as regras que regem a razão.

Uma das características da pós-modernidade, que vive ao mesmo tempo no mundo concreto e místico, é o avanço da medicina. Proporciona uma vida mais prolongada e melhora a qualidade de vida. Isso ocorre num momento em que o ser humano encontra-se fragilizado devido às constantes ameaças na vida do homem, de doenças, vírus, bactérias etc. além de constantes ameaças clonagem humana.

Ainda, registra-se também o avanço da ciência, de uma forma geral. O homem passou a acreditar naquilo que se pode medir e provar estatisticamente.

A pós-modernidade, que tem como ponto de referência o presente e o futuro, não crendo que pode aprender com o passado, nivela todas as verdades universais (cosmovisão) de forma que nenhuma seja mais verdadeira que a outra. Daí surge o primeiro choque com o cristianismo, embora seja contra discurso preconceituoso e ofensivo.
Assim, hoje, todos os discursos são "válidos". Para os antigos socialistas, por exemplo, descobiram que o capitalismo não é tão ruim assim, e nem o socialismo tão bom assim. Dessa maneira, aqueles que ontem pregaram o socialismo, hoje transformaram-se em capitalistas cruéis. Nenhum partido é tão bom assim e nenhum é tão ruim assim. Ninguém é insubstituível. O homem não pode conhecer nada em algum sentido absoluto, assim por diante.

Ainda, não há mais os ideais revolucionários. A idéia de transformação radical da sociedade por meio de uma revolução foi transformada em movimentos de terror e perseguição. Caracteriza-se também a aceleração nas mudanças de valores até então não vivenciados.

Na economia, ocorre um consumo desenfreado, fora dos padrões de vida, como saída para o desconforto e possibilidade de felicidade. A idéia de poupar foi substituída pelo ardor de consumir. Os desejos, principalmente das mulheres e jovens, superaram os níveis de rendimentos. Para estimular o conforto de consumidor entraram em ação os cartões de créditos que, se fossem bem usados, até que seriam uma boa idéia e créditos bancários com juros pornográficos.

A cada dia, novos padrões, modelos ou produtos são criados para substituírem os anteriores. Pessoas são pagas só para inventarem e ditarem novas modas passageiras, fúteis e sem importância. A perspectiva do capitalista é o lucro cada vez maior. Em nome do faturamento crescente atropela valores éticos. A mídia manipula, através de propagandas, produzindo um efeito intencional de consumo pela mensagem que oferece. Poucos conseguem distinguir os efeitos ocultos nesses processos manipuladores. Pessoas sonham com o êxtase com que a mídia acena. A mídia valoriza a formação dos consumidores em detrimento aos comportamentos e valores. Pessoas recorrem ao que gostariam de ser. Esquecem-se do que realmente necessitam. O resultado disso são os altos níveis de endividamentos. Isso vem promovendo ao aumento da desonestidade e violência, comprometendo a qualidade de vida de muitas pessoas.

Na política, todos os valores foram para lama. Não há mais políticos com ideologia capaz de inflamar multidões.
Não se fazem mais che-guevaras como antigamente. Na verdade, cada um busca na política vantagens. O que presenciamos hoje, está longe de valores e de postura política. As pessoas que querem ser ricas buscam fazer a política. Aquelas que querem ser pobres, mas honestas, buscam os estudos. Ou seja, o profissional de "sucesso" é o político, preferencialmente, com baixa escolaridade. Assim, seguindo o princípio de inércia, os políticos de carteirinha, depois de 5 anos no poder, não têm mais, na manga, grandes idéias que possam tirar seus países dos atoleiros em que se encontram.

Na arte, há uma perda de definições e de limites. Assim, qualquer um pode tornar-se artista. Na música, está difícil ser original e autêntico. A melodia parece ter sido trocada pela simples e pura exploração comercial. No cinema, surgem estilo indecifrável. Tem-se uma cultura de múltiplos estilos. São filmes combinados numa furiosa multiplicidade de vozes descontextualizadas.

Na escola, professores e alunos vivem se aturando. Cada um joga toda responsabilidade de aprendizado no outro. O aluno quer passar de ano e receber o diploma, preferencialmente, sem estudar. Depois, prefere fazer o pós-médio ou a pós-graduação para corrigir a deficiência. Vemos professores sem motivação. Une-se, assim, o útil ao agradável. Resultado é este: o professor finge que dá aula e o professor finge que aprende. No final o aluno passa e sai dizendo que o professor é muito bom. O “saber” virou uma exposição em relação ao sujeito que sabe. É por isso que temos muitas pessoas que se “auto-doutoram”. O teste é simples. Basta perguntar a alguém o nome, sem o menor escrúpulo dirá: "o meu nome é doutor fulano".

No campo sentimental, pessoas fazem do amor o centro de tudo. A felicidade depende somente do outro. Coloca-se toda satisfação no amor e em ser amado. Isso gera relacionamentos ardorosos, perigosos e doentios, uma vez que se baseia no amor como único objeto possível para obtenção de felicidade. Ama-se hoje, odeia-se amanhã. Vivemos em época de casamentos descartáveis, com prazo de início e fim. É comum a notícias do divórcio chegar antes do convite de casamento. Período marcado pelo aumento de poligamias e poliandrias (mulher com vários maridos). Talvez explique o fato do islamismo ter superado o cristianismo (1,3 bilhão) há poucos dias.

O drama não pára por aí. Por todos os lados vemos febres de erotização desenfreada. Isso tem incentivando crianças a se relacionarem sexualmente cada vez mais cedo. Um dos resultados dessa conduta é o elevado número de adolescentes (as catorzinhas) grávidas, a propagação de doenças sexualmente transmissíveis e a banalização do casamento. Mudanças também ocorreram na terceira idade. Com o surgimento do viagra, mulheres com idade de 70 a 80 anos vêm sendo contaminados pelo vírus da AIDS (SIDA) por seus parceiros. É uma realidade dura!

Um dos sintomas instalados como saída existencial são as drogas. Pessoas buscam, cada vez mais, o que os entorpecentes têm a oferecer. Quanto mais desesperada for a pessoa mais consumo de drogas faz, esquecendo-se de que a substância tóxica é uma falsa saída. Muitas pessoas acabam se afundando mais. É uma maneira ineficiente de aliviar a angústia. Esse problema é mais acentuado na periferia onde moram jovens pobres. Por isso, muitos jovens têm perdido suas vidas muito cedo, deixando mais dor e saudades aos seus familiares e amigos.

Há também uma outra ameaça que ocorre no consumo abusivo de bebidas alcoólicas e medicamentos. Muitos governos, infelizmente, investem cada vez mais em fábricas de bebidas, em alguns casos inauguradas pelo próprio Presidente da República, Primeio-Ministro ou mesmo Ministros.

Finalmente, a condição pós-moderna aponta para uma falta de integração. O homem acabou perdendo sua individualidade. Isso produz um homem vazio, mais violento e mais invejoso. Homem que sofre mais. Assim, o ser humano sente-se ameaçado diante da relação com os outros. A defesa imediata é o isolamento voluntário como tentativa de não sofrer e ser dependente, por exemplo, da TV. É comum encontrarmos pessoas que mais sentem a falta da televisão, quando apresenta algum defeito ou se ausenta, e não de um filho que se ausentou, por exemplo. Isso mostra que muitos não conseguem viver na situação pós-moderna. Coitados de nós!

Notas:
1. F.J. Fontana. O mal-estar do pós-moderno. Curitiba:UFPR (2003), 41p.
2. Pós-Modernismo: Transição ou originalidade? 3. Mike Featherstone - Moderno e pós-moderno: definições e interpretações http://justarte.no.sapo.pt/tese_do_pos_modernismo2.doc
3. M. Featherstone - Moderno e pós-moderno: definições e interpretações http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/mike.html
4. G.DeMar. Defindo Pós-Modernismo. http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/def-posmodernismo_demar.pdf


Feliciano J.R.Cangüe
Revista Kuia
Foto: Wikipedia. org

2 comentários:

  1. Parabéns pelo BLOG!!!!
    Gostei e já o marquei como um do favoritos.
    Eu venho do www.maisangola.wordpress.com e centro-me mais em angola.
    O SEU BLOG ESTÁ NA LINHA DO PENSAMENTO ELABORADO ENÃO DA INFORMAÇÃO PURA E SIMPLES.
    PARABÉNS.
    Até breve
    PAlves

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  2. Prezado PAlves, visitei o seu blog. Fiquei encantado com o que vi. Muito conteúdo enriquecedor. Você ganhou um novo leitor. Sucessos. Ja acresceneti oo MaisAngola na lista dos meus favoritos também. www.maisangola.wordpress.com

    Sucessos

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