sexta-feira, 25 de abril de 2008

Ninguém escuta o clamor dos vivos


Sejamos realistas. Você, que é vivo, sabe o que é o “obvio”? Veja bem. Se eu disser: “o jogo entre Angola e Camarões terminou zero a zero”, o quê que é o óbvio? Que houve empate, ou seja, ninguém venceu a partida. Se disser que o Fulano está voltando do enterro do Sicrano. O óbvio é que o Sicrano morreu. Não é mesmo? É muito simples! Agora, há coisas que parecem ser óbvias, mas não são. Se eu disser, por exemplo que “o João é angolano”. Isso quer dizer que ele nasceu em Angola? Não necessariamente. Por exemplo, Pierre Falconi, lembram dele? O ministro conselheiro junto da embaixada de Angola na UNESCO, o empresário francês de armas, possui nacionalidade angolana, mas não nasceu em Angola.

Nas eleições deste ano, ao redor do mundo, está a dar o óbvio. Vou apenas citar dois países. No Zimbábue Robert Mugabe está com a cara inchada até hoje. Ainda não absorveu a derrota. No Paraguai, o povo destronou o partido Colorado, que governou o país por 61 anos, ao eleger o ex-bispo Fernando Lugo para assumir a presidência da República. O partido que governou 61 anos, possui ou não possui experiência? Pela lógica diríamos que sim? Então, por que o povo deu basta? Isso mostra que estar muito tempo no poder não significa, necessariamente, ter experiência.

Em nossos dias possuir experiência ajuda, mas não é tudo. Aliás, depende de que tipo de experiência. O mundo não mudou por causa de pessoas com experiências, mas por causa de pessoas com idéias inovadoras. Imaginem que encontrássemos, hoje, uma pessoa que tivesse experiência na fabricação de máquinas de datilografia. O que isso acrescentaria em nossas vidas? Nada! Há experiências boas e outras ruins. Assim a palavras “experiência” é um "falso cognato".

Por que digo isso? O nosso país está se preparando para as eleições legislativas, marcadas para o próximo mês de setembro. A partir de agora seremos bombardeados com falsos “óbvios”. Se alguém disser: “nenhum partido em Angola é capaz de realizar tanto como o nosso em tão pouco tempo. Só o nosso partido possui experiência. Só o nosso partido é capaz de dar felicidade ao povo angolano”. A única coisa óbvia é que quem diz uma bobagem dessa é um espertalhão que tem problemas na cabeça. Precisa procurar imediatamente um psicólogo, um psiquiatra ou um kimbanda. Como pode afirmar que nenhum outro partido possui experiência? Com base em quê? Que metodologia usou? Está chamando os outros de burros?

Isso é comportamento da pessoa, que se passa por esperta, mas que, no fundo, tem medo de enfrentar a entrevista de emprego; de homens que só possuem experiência de mandar e não de obedecer ordens. Na verdade, quando dizem que têm experiência, estão querendo dizer o contrário. Estão querendo dizer que não têm experiência de ficar do lado do povo; do lado da realidade. Sabe daquele político que manda fechar as ruas da cidade às 8 horas em todos os locais por onde passará à 14h. Você acha que político oportunista desse se interessa pelo povo? São lobos travestidos com pele de ovelha. Como as pessoas se deixar enganar com essas conversas?

Um caso muito conhecido de que "experiência" não traz felicidade ocorreu no Brasil. Lula passou de ex-metalúrgico para a Presidência de República. Fez um bom governo, e foi reeleito. Hoje, discute-se a possibilidade de um terceiro mandato. O que Lula fez? Em vez de ficar na capital, engravatado, no ar condicionado, esperando ficar no comando de negociatas, vai onde o povo está, apresenta propostas para seus problemas, recebe sugestões, enfim.

Por que tanta necessidade de convencer ao povo de que sabem governar? Não consigo entender muito isso. Alguns saem para todos os lugares, sem escrúpulos entram em igrejas, lugar santo, só para dizerem que sabem administrar. Que desespero! Será que eles acham que o povo é tão tapado assim, que não sabe discernir aquele que governa daquele que finge que governa? O indivíduo vai a Igreja fugindo do político para ter encontro com Deus. Quando menos espera, lá está de novo o político entrando com cara de de coitado. Alguém já ouviu Pelé, Ronaldo ou um grande jogador dizer: “eu jogo muito". Não precisa, porque as pessoas vêem. Eles deixam que as próprias cheguem a essas conclusões. No futebol não se engana a ninguém.

Esse desespero faz-me lembrar muito uma pessoa chata. Você sabe como reconhecer uma pessoa chata? É simples. Sempre que vai falar, começa dizendo: “é CHATO falar isso, mas eu gostaria que me ajudasse”. Como reconhecer se o indivíduo não sabe administração? É simples. Só fala em administração. É impressionante como esse povo só pensa no poder pelo poder. Só pensam em manobrar. Já estão a ficar muito malandros.

O que esses homens estão começando a fazer seria o mesmo que alguém que se casa, com sua esposa é claro, e depois de algum tempo começa a se gabar, aos amigos, de que conseguiu engravidá-la. Isso é o óbvio. Até um lelê de cabeça consegue essa façanha. Entretanto, o casamento se faz de detalhes. É ai que os loucos tropeçam. O homem precisa amar, mandar flores, ligar algumas vezes ao dia para esposa, interessar-se por ela, não esquecer o dia do aniversário dela, o dia do casamento, fazer uma surpresa uma vez a outra, sair ao jantar a sós... São tantos cuidados que se o indivíduo só pensar neles acaba até não se casando.

Agora pergunto: que dia você foi consultado por algum político para saber de suas necessidades e suas opiniões? Você sabe o que quer dizer "orçamento participativo", aquele orçamento que qualquer cidadão dá o seu palpite de como pode ser investido? Que dia você conversou, pelo menos, com um político desses que estão no poder? Isso é que seria experiência de um político. A empatia com o povo, e não fugí-lo andando com mil seguranças. Estou sendo claro?

Por que um político que constrói um chafariz sai se gabando que fez muito? Isso é o óbvio. Isso é obrigação do governante. Governar então é para fazer o quê? Até porque não é ele que faz. Ele contrata uma empresa especializada. O correto seria ele mostrar as marcas de calos na sua mão. Mandar fazer até um sapateiro consegue. O problema é que quando escolhem, escolhem empresas erradas. Dois meses depois de terminada a obra, começa a aparecer rachaduras em tudo. Isso acontece antes mesmo do último a participar da cerimônia de inauguração ter saído do local. O mais impressionante é que, muitas vezes, a mesma obra é inaugurada até seis vezes. Inauguram a compra do terreno. Depois inauguram o lançamento da primeira pedra fundamental e isso vai num processo infinito.

Em verdade, em verdade vos digo amigos que ninguém vos engane. Antes das eleições virão falsos políticos. Nós só podemos comparar duas coisas. No nosso caso, para sabermos se eles sabem ou não, façamos como os outros países estão fazendo: mandar os enganadores no banco, para descansar um pouco. Numa democracia, cada um tem o direito de votar no partido que quiser. Nós não podemos ser sacos de pancadas de cínicos.

Na prática, o que todo mundo está ver são farsas. Destruição de valores em nossos olhos. Vivemos numa época em que os honestos são humilhados. Só os corruptos sobem na vida; essa gente que não faz nada, só fala, ainda instiga o povo à intolerância.

O resultado está aí: o povo admira aqueles que roubam. Só vemos festivais de roubalheira nacional. Já estamos cansados em sermos assaltados por políticos. Basta do horror da desesperança. Basta de pessoas que odeia administrar; que não respeitam os 14 milhões de angolanos. Aliás, hoje, temos 140 famílias em ilhas de riquezas e 14 milhões no mar da miséria.

Tudo que queremos ouvir são propostas concretas para tirarmos o país do atoleiro em que se contra. Como resolver problemas de falta de escolas, desemprego, doenças, saneamento básico, como criar políticas para o regresso de quadros angolanos no estrangeiro. Esse é o caso de 150 médicos que se encontram em Portugal, enquanto país está na Unidade de tratamento intensivo. Isso é deve dar voto.

Em setembro, portanto, vamos botar essa gente, que mais está preocupada com o passado, para descansar um pouco. Será até bom para que eles conheçam o outro lado da vida, já que não escutam o clamor dos vivos. Será que eles acham que nasceram só para mandar? Temos que tirar as vendas dos olhos. Chegou a hora de Angola entrar na trilha do desenvolvimento. Afinal de contas, qual é o óbvio de uma eleição? O óbvio da eleição é a mudança. Mudanças. Chegou a vez do povo dar o seu grito de liberdade. É a única linguagem que eles entendem. O que fazer?

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