sexta-feira, 7 de março de 2008

Telenovela é o "Crack" da nossa sociedade (II)

Leia a I parte primeiro


Se as telenovelas afetam o bolso das mulheres, no homem, considerado o mais prático, a deformação é pior: afeta o cérebro, ou seja o embrutece e o emburrece. A mulher é mais versátil nesse sentido.

Enquanto assiste à telenovela, pelo menos aproveita bordar, conversa com a amiga, presta atenção no filho que está engatinhando, ainda consegue prestar atenção na panela de pressão que está na cozinha. Nesse caso, o cérebro ainda consegue estar em atividade. Nós homens ou fazemos uma coisa ou fazemos outra. Os estudos recentes de neurolinguística mostram que se o homem telemaníaco sofrer um acidente que lesione o seu cérebro, ele terá mais dificuldades de recuperação. As chapadas que o homem recebe são mais impiedosas. Lamentavelmente, de vez enquanto encontramos homens comentando cenas de novelas em locais de trabalho... A preocupação é maior com a possibilidade da novela puder ser exibida em telemóvel em tempo real. Agora não será mais preciso sair da Ilha.

Uma situação que foge à vista daqueles que assistem telenovelas é a questão do negro. Nos países que produzem novelas, via de regra, o cidadão negro é de baixo poder aquisitivo. Ao contrário dos filmes norte-americanos, da terra de Condoleezza Rice - Secretária de Estado, nessas telenovelas, o trabalho de nível inferior como cozinheira e o da empregada doméstica são sempre destinado à mulher negra. Muitas vezes o negro é retratado como ser passivo e acomodado. Quando participa, aparece em posição subalterna, ocorre no lugar da tragédia, faz papel de motorista ou de escravo. Isso reforça a imagem negativa do negro construída pelo branco através dessa representação. Se levarmos os fatos históricos veremos que essa atitude desrespeita a dignidade e agride a sua auto-estima, principalmente para crianças negras que acabam, imitando, por exemplo, padrões de beleza alheios. Elas terão dificuldades em aceitar suas qualidades. Isso sublinarmente reforça o pensamento segundo o qual, para ultrapassar a linha de cor precisa partir para casamento inter-racial.

Assim, um país africano, soberano, como Angola, por exemplo, pátria minha, com altos índices de analfabetismo e desemprego, onde pessoas ficam anos a fio tentando emprego e não conseguem, ou quando conseguem, seus salários são metade de seus colegas estrangeiros, quando, ao invés de investir na educação, saúde, saneamento básico etc. investe nessa cultura inútil está, nada mais, a reforçar e fortalecer a discriminação racial tanto do nosso quanto do país de origem da telenovela. Isso contradiz a carta das Nações Unidas, de Kofi Annan. Será que isso é o fim do mundo?

Por outro lado, Angola ao aderir à essa organização está a promover a formação de uma cultura de consumo e criar uma geração de consumistas, ao invés de uma nação mais justa, igualitária e fraterna. Por ventura foi para isso que combatemos aos portugueses? Ao entrarmos nessa organização amantes de telenovelas as coisas começaram a funcionar às avessas. Perdemos completamente a pedra angular da moralidade e, mais terrível ainda, nos tornamos uma sociedade sem capacidade de reação. Tenho uma leve sensação de que no nosso país tudo termina em “novela”, sendo a maior o processo eleitoral que chega a hipnotizar a oposição, a menos que o salvador da pátria, o Bush, cumpra sua promessa. Até quando a oposição vai ficar de boca aberta?

As telenovelas querem reconstruir a torre de babel. Estão mutilando o futuro de muitas pessoas. A sexualidade e erotização abordada na TV é doentia e excessiva e exibida em horários inadequados para jovens e crianças. Quantos pais já não se envergonharam ao serem obrigados a assistir junto de seus filhos cenas “apimentadas” e optaram em fingir que nada viram? Outros temas são mal abordados como traições, homossexualismo, mentiras etc. A sociedade está a criar uma geração dos filhos de Nietzsche. Deus está “morto” (só que Alá está vivo) agora tudo é permitido: faltar respeito aos pais, demolindo os valores impostos pela tradição e acabar com a instituição chamada “família”. O figurino do momento é ter uma geração de políticos, profissionais, estudantes, donas de casas egoístas, orgulhosos, arrogantes, seduzidos pela moda, pela conta bancária e seguem um modelo de conduta de burguês rumo aos povos que seguem o mesmo caminho. A inveja, delação, ciúme, perseguição, agressividade e humilhação estão quase sempre presentes. Que chatice. Deus nos acuda.

A primeira novela brasileira se chamou: “a sua vida me pertence”. E é isso que acontece quando a pessoa a ela se entrega de corpo e alma. Não é mais a pessoa que vive, mas a novela vive na pessoa. A novela passa a ser a sua senhora do destino.

Há outros aspectos de telenovelas que não vou discutir neste artigo, até porque já me alonguei muito e também são mais polêmicos, como, mensagens subliminares de passagem de ideologias e processos manipulatórios da mente do telespectador e da destruição de princípios cristãos. Vale lembrar que os princípios são imutáveis, enquanto que os métodos nós os adaptamos. Talvez isso explique a proliferação de igrejas que pregam a teologia da prosperidade e outras como o islamismo. A população está em acentuada e contínua perda do poder aquisitivo. Para a nossa população só a educação irá libertá-las.

Numa formulação de síntese, a televisão pública deve primar por conteúdo prioritariamente educativo. Em relação às novelas, se é para continuar a trilhar nesse caminho, cada país deveria então produzir suas, com base na realidade concreta (gravada nos musseques), que retratem a realidade específica, estreladas e exaltem também valores do negro e analisem a administração pública, os interesses econômicos e privados, a política e os problemas sociais.

E nós os outros, é preciso que cada pessoa tenha noção de sua própria identidade e seus alvos pessoais. Multipliquemos os prazeres lendo jornal e livros e cerrar fileiras em torna da família, a célula “mater” da nossa sociedade, do qual participamos e recebemos herança genética, principalmente, a moral. Dela depende a nossa personalidade.

Finalmente, o dia em que a cúpula que dirige as televisões públicas começar a sentir vergonha teremos um bom começo. Parece que o lema que reina nos donos do mundo da televisão, é: “a programação que aliena não se mexe”, parafraseando o Dr. Waldemar Essuvi Tadeu, pesquisador e conhecedor também de futebol. O Sonho meu é que o angolano comece a usar a cabeça. Devemos começar a apelar para a cabeçada de vez em quando, sem medo de manchar nossas páginas de vida, contra esse programa crack da humanidade, cujo efeito é rápido e provoca aos nossos filhos, irmãs, pais, sociedade, destrói irreversivelmente o cérebro humano e “mata-razo” a “nostra terra” e o resto “se dane”. Talvez só assim seremos craques mundiais, ou seja, os melhores do mundo. Fica, portanto, decretado que a telenovela é o “crack” da nossa sociedade.

«Telenovela é o "Crack" da nossa sociedade (II)»
Feliciano J. R. Cangüe
em 08 de agosto de 2006
Fonte:
Club-k.net Reproduzido pelo Mazungue.com




Para ler primeira parte clique



1. Telenovelas influenciam conduta de menores, reconhece o
Ministro da Educação


2. Telenovelas, a desgraça nos hospitais de Luanda

3. Novelas brasileiras causam danos na Língua portuguesa

Um comentário:

  1. Olá Feliciano, como vai?

    Vamos publicar um especial no patífúndio sobre a influência brasileira, positiva e negativa, nos países de língua portuguesa nesta semana. Uma das abordagens nossas, sem dúvida, será a novela.

    Achei muito interessante e importante esta sua série de artigos sobre o assunto. Podemos publicá-la no patifúndio?

    Um abraço do Brasil.

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