quarta-feira, 12 de março de 2008

Revista Kuia é o meu novo espaço

A partir deste ano, para além de espaços tradicionais, o prezado leitor poderá também encontrar os meus escritos na “Revista Kuia”. Isso me honra muito. A minha responsabilidade aumenta muito.

A Revista Kuia, que na minha língua materna poderia ser traduzida como “Revista jóia”, “Revista maravilhosa”, “Revista gostosa” assim por diante, não sei se é o mesmo sentido que tiveram os que conceberam esse nome, veio suprir uma grande lacuna, que é a de levar as informações culturais ao povo, homens de negócios etc. a preço acessível.


Abracei esta causa nobre. Acredito que este é um passo importante para se acabar com o atraso mental, males sociais, injustiças, a falta de informações e cultura que se verifica em nossa sociedade. A RK, que se preocupa com o cidadão, também disponibiliza uma versão eletrônica http://www.revistakuia.net/. Nela, qualquer um pode adicionar fotos, vídeos, música, pode comentar, criticar e elogiar.

Isso é um grande diferencial. Na prática, como as coisas acontecem hoje? Normalmente, as revistas tradicionais são caras. Quando o cidadão consegue economizar algumas pratas e, com muito custo, compra uma delas, não entende nada daquilo que lá está escrito. Quando consegue entender alguma coisa, fica lendo coisas de senso comum, mesmas bajulações; só vê as mesmas caras, ou seja, são revistas de fachada. Existem só para promover pessoas que interessam ao sistema dominante. Só mostram os donos do poder, da riqueza e dos famosos. Nada acrescentam no desenvolvimento intelectual, na sua capacidade crítica. Isso leva pessoas a desanimarem e achando que em todos os lugares as coisas funcionam da mesma maneira.

A minha participação na revista limitar-se-á em levar notícias culturais, numa linguagem simples e objetiva. Procuraremos falar, essencialmente, de angolanos que, lutando honestamente, não se envolveram em esquemas de corrupção, venceram na vida tendo feito ou não o “on job training”. Procuraremos mostrar que é possível vencer na vida sem atropelar a ninguém, nem se apoderar do patrimônio público, muito menos se perpetuar no poder a todo custo e artifícios, mesmo que os céus caiam.

Em linhas gerais, não iremos falar de política. De política o povo já está cheio. Se tivéssemos que falar da política, teríamos que falar daqueles artifícios que os homens do poder fazem que acabam levando a muitos a perderem autonomia de pensamento, ou seja, acabam levando pessoas a praticar coisas que não fazem parte de suas intenções ou formação moral. Muitas pessoas acabam pensando e falando como os outros querem. Teríamos que falar da decomposição a que estamos assistindo das instituições de forma vergonhosa. Isso sem falar de chantagens políticas.


Em vez disso, é bem mais interessante fazermos uma análise histórica do momento em que o homem está vivendo, principalmente com o advento do chamado “pós-modernismo”. O mundo mudou. Foram muitas transformações que o homem experimentou e que vieram para ficar. Essas transformações não trouxeram manual de instrução. É aí que muitos tropeçam e levam grandes tombos.

Por exemplo, o momento é de consumo. Quando digo de consumo, entenda-se de supérfluos e não de investimentos. Até porque há produtos que são essenciais. Isso é que move o nosso mundo. No entanto, a palavra poupar foi substituída pelo ardor de consumir. O que vemos hoje é a cultura de oferta do consumo como possibilidade de felicidade. O homem atual só pensa no hoje e no futuro. É imediatista. O passado foi esquecido e, muitas vezes, acaba repetindo os mesmos erros do passado.

Na prática, paramos de pensar. A televisão, este poderoso instrumento de aculturação, pensa por nós. A TV, que mistura a verdade e a mentira, que difunde padrões sofisticados, que serve como instrumento de manipulação e desviar a atenção de problemas vitais, é ela que diz tudo que precisamos. Dita todas as regras. Toda ideologia que favorece a classe dominante. E isso é bom para aqueles que estão mamando nas tetas do poder. O resultado disso é que estamos perdendo a nossa identidade, os mitos e princípios. O ser humano está perdendo a sua essência.

Isso tem fim? A cada dia, novas modas são lançadas. Novos modelos são criados, só para não nos darem tempo de pensarmos um pouco. Muitos se lançam de corpo e alma nessas aventuras. O resultado tem sido desastroso. Se analisarmos com calma, poucos ou mais ninguém compra mais um veículo, por exemplo, pelas suas qualidades técnicas, ano de fabricação, mas pela marcas, seus signos na publicidade os quais compõem uma imagem de status.

Na política, os referenciais foram perdidos. Caiu na lama. Está tudo apodrecido. A política, hoje, é sinônimo de levar vantagem, de lucros fáceis, de apoderar-se do céu e da terra e não aquele caráter de centro da vida, do zelo com o trato de coisas públicas. O pessoal aproveita tirar a barriga da miséria fazendo política, sem o menor escrúpulo e o povo é obrigado a bater palmas. O político mesmo possuindo 99 ovelhas, prefere fazer a festa com a única ovelha do pobrezinho.


Política é, infelizmente, um negócio que rende muito, dá muito lucro, para o chefe do clã, seus familiares e amigos leais. Só ouvimos falar de corrupção, egoísmo e barbárie. A cada dia que passa as coisas só pioram. Pior mesmo é acreditar dirigentes dessa natureza são modelos a ser seguidos.

O pós-moderno também se manifesta pela presença exagerada do uso de drogas, que vem tomando formas e proporções assustadoras, como uma forma de compensar a dispersão de mitos, fragmentação de conceitos, as alterações na vida moral, desenvolvendo no usuário a plenitude e aplacam momentaneamente o vazio. Muitos países africanos vivem uma crise sem precedente devido a essa droga. Poderíamos citar Guiné-Bissau, Nigéria, entre outros.

No Brasil, até bem pouco tempo, africanos que eram detidos, por exemplo, no aeroporto internacional do Rio de Janeiro por tráfico de entorpecentes eram, essencialmente, nigerianos. Agora essa desgraça já envolve nossos compatriotas, para nossa tristeza. Muitos jovens estão indo para ruína ou perdem suas preciosas vidas. Triste é ver que são filhos de um país rico, mas com vocação de pobreza.

Nessa conjuntura, o povo precisa se preparar para que saiba criar estratégias que lhe interessa, começando pela leitura edificante, que leve o indivíduo a refletir um pouco. Estudos mostram que existe uma estreita relação entre leitura, pensamento, criatividade e, consequentemente, a atuação de cada um na sociedade, opondo-se à reprodutibilidade.

Esse é um dos primeiros passos para sairmos da miséria. A miséria gera o atraso inclusive o do exercício da cidadania plena. Procuraremos mostrar exemplos de angolanos que deram certo. Angolanos valorosos, insubstituíveis. Precisamos acreditar que lutando, honestamente, é o caminho mais seguro, certo, correto e as pessoas devem apostar nessa possibilidade. Ou seja, falaremos, essencialmente, de educação e cultura. Vai kuiar.

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