terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A grande renúncia

A mãe de todas as renúncias aconteceu. Fidel Castro, 81, líder popular, famoso pelos seus discursos demorados, até 9 horas ou um pouco mais, que liderou a revolução armada que derrubou o regime de Fulgêncio Baptista, em 1º de janeiro de 1959, renunciou ao cargo de chefe de Estado e das Forças Armadas. A decisão foi comunicada por meio de um artigo publicado no jornal estatal "Granma" (http://www.granma.cu/espanol/2008/febrero/mar19/mensaje.html), ocorre cinco dias antes da nomeação, por parte do Parlamento Cubano, de um novo conselho de Estado que é presidido por ele.

A renúncia, tomada de forma madura, surge depois de estar afastado do exercício do poder há 19 meses, devido à doença que o levou a se submeter a
várias intervenções cirúrgicas, para ser operado aos intestinos deste advogado que nasceu numa abastada família de fazendeiros. A notícia teve grande impacto na grande mídia. Assombrou a muitos. Chegou a ofuscar a outra notícia da independência da província do Kosovo.

“Comunico que não aspirarei e nem aceitarei; repito, não aspirarei e nem aceitarei, os cargos de presidente do Conselho de Estado e comandante-em-chefe de Cuba". Até agora não apareceu ninguém para pedir-lhe para ficar, mas Fidel promete não abandonar os seus filhinhos. "Não me despeço de vocês. Desejo combater como um soldado das idéias”. Com essas palavras ele se retira da cena política, depois de 49 anos no comando de Cuba. A descida do poder de Castro, figura de costura do país, sinaliza o primeiro passo para a democratização, renovação política e econômica de Cuba.

O “Comandante en Jefe” e chefe da Revolução cubana, que nasceu em 13 de agosto de 1926, é amado por alguns e odiado por outros. Inspirou a vários jovens e várias gerações. Se de um lado é acusado de ter implantado a ditadura, tendo conduzido com mão de ferro a ilha, com eliminação (El paredon) e prisão de seus opositores, acusados de "crime de consciência", e ter privado o povo de bens de primeira necessidade, por outro lado, entrega país com um dos melhores sistemas programas de saúde do mundo e conseguiu erradicar o analfabetismo. Não negou o acesso à educação ao seu povo, como fazem os ditadores de carteirinha. Deixa uma sociedade não muito desigual. No desporto, Cuba é hoje uma potência olímpica.

No entanto, hoje, Cuba é um país em dificuldades financeiras e econômicas, principalmente, depois que o maná proveniente da antiga União da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) secou. A economia está fragilizada. Muitos apagões e problemas de abastecimentos. O que o país assiste são tentativas e fugas de muitos cubanos em direção aos Estados Unidos, sujeitando-se a morrer em embarcaçoes rudimentares, deserções de atletas e músicos de delegações oficiais. Atualmente o país sobrevive do turismo, do níquel e de doações de petróleo que recebe da Venezuela, de Hugo Chaves.

A renúncia do Comandante, que já visitou e enviou tropa, professores e médicos a Angola, deve facilitar as negociações com os Estados Unidos da América, União Européia e muitos outros países. Dias melhores virão para Cuba? Depende. Depende se os Estados Unidos vão atrapalhar mais ou ajudar e quais as medidas que o novo governo adotará.

Entretanto, o momento está aberto para mudanças. Esperamos que nossos "hermanos" aproveitem essa oportunidade para corrigir o que não deu certo e consolidar tudo que deu certo (seus ativos). Esse é o caso do índices sociais. Cuba precisa abrir sua economia para o capital estrangeiro. Quem sabe Cuba venha implantar o sistema chinês de desenvolvimento: abertura econômica, com controle do Estado?

Pelo menos, Fidel Alejandro Castro Rúz, mito vivo, dono da farda verde-oliva, que escapou de mais de 600 planos de assassiná-lo, agora terá a oportunidade ímpar de maratonistas na permanência no poder, a de aprovar o seu sucessor, ainda em vida. O mais provável sucessor é o também veterano Raúl Castro, 76 anos. Se for confirmado o seu irmão, as mudanças, com certeza, serão lentas, por se tratar de uma extensão dele, embora não prometa ser um reinado longo.

Em relação a Fidel, salvador do socialismo, é muito difícil saber o que a história dirá dele, se o condenará ou absolverá, mas uma coisa é certa: ao contrário de muitos chefes de Estados, em nenhum momento se ajoelhou para pedir bençãos aos Estados Unidos. Pagou caro por isso. Os Estados Unidos impuseram embargo contra Cuba, que por sinal ajudou a fortalecer Fidel Castro no poder.

Só estamos em fevereiro, dia 19. Não sei o que o vem pela frente, mas se depender daquilo que aconteceu até hoje, o ano promete mudanças.

Em Angola, é o ano das eleições legislativas de mudanças depois da realização das primeiras, há 17 anos. O ano começou com um fato inédito: a renúncia do governador de Luanda, Job Capapinha. No país onde as pessoas só pedem nomeações, essa notícia foi assombrosa. E parece que Capapinha inspirou o comandante Fidel Castro a seguir o mesmo caminho, já que ele acompanha bem as notícias de Angola.

Aliás, recentemente, o "grande Fidel", encontrou-se com o presidente angolano, que já está 29 anos no poder. A renúncia, que não é o fim, mas o início de uma outra fase superior, deve ter constado da agenda do encontro. – E aí, compañero, quando usted renuncia? Uma pergunta que fica no ar: onde anda o anjo da renúncia que prega "hay que renunciar, y perder el orgulho", e quem será o próximo a renunciar? Meus amigos, o sonho Fidel acabou. Agora é a realidade.

3 comentários:

  1. E quano é que vamos ter eleições? Será que não vão ser adiadas? E em caso de não adiamento não será, legitimamente, consideradas não legais? Reformulando, se o acórdão do Tribunal Supremo não for acatado pela CNE, relativamente à Diáspora, não poderá esta impugnar as eleições?
    Várias questões que aqui ficam.
    Kandandu
    Eugénio Almeida

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  2. KOTA Eugênio, o problema de Angola é um caso sério. O seu blogue Pululu é muito legal. Gosto muito

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  3. Senhor Cangue,

    Você me parece alguém que fala muito e pouco pensa em fazer. Lendo os seus artigos, a impressão que tenho é a de que o senhor sofre alguma frustração. Tome cuidado para não perder o rumo, meu amigo.

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