quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

As fotos da obra heróica

“Eles são angolanos com muito orgulho com muito amor”







Acabei de ver a reportagem fotográfica das manifestação angolana em Paris. Como habitualmente faço, passei à leitura dos comentários. A Comentarista Rosa Simões acredita que as fotos foram feitas de mesmas pessoas que, simplesmente, ficaram mudando de lugar. João Preto acha que foi um fracasso.

Já o grande Domingos Laurino acredita que, ainda que fosse um a participar da manifestação, o mais importante é a mensagem passada. O iluminado Osvaldo Rodrigues considera de “heróis” os manifestantes. Os comentários prosseguem. Neste momento são 29 comentários.

A primeira coisa que me veio à mente foi o Pareto (1848-1923), um economista italiano que formulou uma lei que ficou famosa e hoje leva o seu nome. Segundo a Lei de Pareto, 20% das pessoas de um país, concentram 80% das riquezas (Em Angola não se aplica essa lei). Ainda segundo essa lei, 20% dos funcionários são responsáveis por 80% da produção de uma empresa. Um bom empresário atento facilmente pode constatar que 80% do faturamento de sua empresa provem de 20% de seus clientes.

Dessa forma, a pátria angolana deve cantar o feito heróico de “20%” de seus valorosos filhos que, no dia 19 de maio de 2007, sabiamente organizados em torno de sua vanguarda o “Colectivo Angolano de França”, na Praça dos Direitos Humanos, despidos de cores partidárias, mesmo em perigo, mas sem temor, ousados e com coragem, marcharam, pelejaram, gritaram, cantaram, dançaram (vi os batuques na foto) e empunharam bem alto os cartazes e fizeram brilhar nos céus das terras do velho continente os ideais de Ekuikui, Nzinga-Mbandi, Mandume, Mutuyakevela, Ngola Kanini, Hamavoko, Nzinga Akuvu, Muantiava e outros.

Os nossos avôs tomaram suas foices como armas, resistiram heroicamente contra a dominação portuguesa, para que nós vivêssemos num país livre, justo, democrático, com melhor distribuição das riquezas nacionais, próspero e, onde se respeita ao cidadão.

Os nossos heróis também honraram e foram leais à memória de nossos incansáveis pais, da geração 50, que aqui os represento na figura de Mário Coelho Pinto de Andrade. Além disso, também honraram os ideais daqueles que, em 1961, pegaram nas catanas quebraram as algemas e, posteriormente, pegaram em armas para acabar com a exploração do homem pelo homem e com as cabritagens (comer no pau em que está amarrado).

Os angolanos de bem devem se orgulhar e regozijar desses odisséus. Eles enfrentaram, com ardor e sem timidez, grandes distâncias para lá estar. Ninguém se mostrou de coração fraco. Eles nos fizeram acreditar que ainda há esperança de uma Angola melhor. Eles deram um grito que se fez ouvir em todos os cantos da terra e nos fizeram despertar do sono. Ninguém estava lá para pedir esmola, para que pareça impossível arrumar recursos para tal, (vendo as fotos, nem esmolas eles precisam) mas contra a política do apartheid, esse velho costume de classificar pessoas.

Dessa forma, os nossos campeões, humildemente, se apresentaram para o jogo. Enfrentar os poderosos não é fácil. É uma luta renhida e muito desigual. Do outro lado há Petrodólares e indivíduos mergulhados na corrupção e politicagem, que primam pela postura autoritária, antidemocrática.

É lamentável que precisemos gritar para que sejamos reconhecidos como angolanos. A minha experiência mostra que não há prova maior de amor que este de, mesmo estarmos fora, muitas vezes com o nível de vida que muito dificilmente levaríamos no nosso próprio país, estarmos dispostos a fazer o nosso melhor por esta terra chamada Angola. Angola é de todos nós. Cada um de nós tem uma contribuição a dar para a prosperidade do nosso país. Não há necessidade de selecionar quem é mais angolano ou não para votar.

Os nossos irmãos escreveram uma página heróica que o tempo não será capaz de apagar. Os “20%” que lá estiveram, pode parecer que foram poucos, foram a bordo do cavalo de tróia. Eles foram valentes e lutaram por todos nós.

A luta deles é a mesma dos 20% dos destemidos operários da empresa “xx”. Eu trabalhava nessa empresa. Certo dia, em assembléia, os funcionários resolveram fazer greve. No dia marcado para greve só apareceram cerca de 20% dos funcionários. A empresa foi cruel com eles. Fotografou os grevistas e demitiu quase todos. Os que não foram demitidos, em solidariedade dos demitidos, também pediram demissão. A empresa ficou sem saída. Acabou readmitindo a todos e aumentou o salário (Note que a empresa aumentou o salário antes negado).

O problema maior é que ninguém daqueles que se recusaram fazer a greve, mas ninguém, teve a humildade de ir ao setor de contabilidade recusar o aumento. Os outros arriscaram, enquanto isso os 80% ficaram criticando aos grevistas: essa greve é um fracasso, até o fulano fazer greve? São menos de 20 apoiantes fazendo greve, assim por diante. Os críticos ficaram no ar condicionado a rir dos outros. Depois do aumento, eu gostaria muito ver um, (estou dizendo um) daqueles “espertos” chegar no financeiro e dizer (vou repetir): eu não fiz greve porque fiquei com medo de ser demitido, ou dizer que concordava com o salário, ou dizer que é vergonhoso uma pessoa de seu “status” fazer greve, no Trocadero, no Parvis des Droits de L'Homme (Praça dos direitos do Homem)? etc. Os “espertos” ficaram calados até mesmo quando houve aumento do salário.

Assim, eu não me preocupo com os 80% dessa gente que só quer levar vantagens do trabalho dos 20%. Eu tenho a certeza de que agora estamos em condições de escrevermos a “odisséia angolana”. O que vi, são fotos da dignidade, de pessoas que não trocam a honradez pela honraria. Vi cartazes com escrituras: “não à insegurança pública em Angola; as escolas e hospitais para os nossos filhos; Angola unida, Angola para todos; Eleições livres e democráticas em Angola; luta conta a miséria, opá, apareceu um pastor? não. Olha aí, o Martin Luther King está vivo. Há muito que não me arrepio como ter visto essas fotos. Por isso que que digo: eu, esses manifestantes e você leitor que acompanha o club-k, somos angolanos como muito orgulho, com muito amor. Chega de ficarmos a repetir a canção do exílio de Gonçalves Dias “minha terra tem palmeiras, onde canta o sabia, não permita Deus que eu morra na terra dos outros” ou por que não falar de Neto: “havemos de votar”. God bless you.






















































































































































































«As fotos da obra heróica»
por Feliciano José Ricardo Cangue
em 23 de Maio de 2007 - 12:15
Fonte:
Club-k.net

Fonte das fotos: club-k.net

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